Psicologa Organizacional

9 de março de 2015

Jovens e Mercado de Trabalho: Realidade e Perspectivas





Hoje no Brasil temos uma população de jovens que, na maioria das vezes, encontra-se despreparada para o mercado de trabalho. Tal afirmação pode ser feita ao analisarmos a qualidade do ensino do país: as escolas não são preparadas para lidar com o tema trabalho. Os alunos saem do Ensino Médio sem ter contato com experiências que poderiam colaborar com a decisão sobre sua carreira como, por exemplo, palestras de profissionais de diversas áreas que poderiam apresentar-lhes novas profissões, ou atividades voltadas a orientação vocacional, sem isso, acabam se matriculando em cursos técnicos ou de graduação os quais nem mesmo conhecem, escolhem através do queouvem falar”.

O jovem consegue perceber a necessidade de colocação no mercado de trabalho, porém não se dá conta da importância de se realizar pessoal e profissionalmente e não procuram atender as exigências do mercado se qualificando com cursos extracurriculares. Mais um fator negativo resultado da falta de orientação desses jovens durante a fase escolar.

Normalmente, para eles, o foco da necessidade de trabalho se volta a satisfação de alguns desejos, principalmente os de bens duráveis como celulares, calçados e vestimentas. Na sociedade em que vivemos, de acordo com Einloft, Silva e Miranda (2010) “Quanto mais se consome, mais importante uma pessoa se torna” (p. 106). Seria uma forma de se sentirem incluídos em grupos sociais, que antes não tinham acesso.

Na intenção de preparar esses jovens e conscientizá-los sobre a importância da preparação para o trabalho, foi criada a lei 10.097/2000, chamada Lei da Aprendizagem, que determina que todas as empresas de médio e grande porte contratem um número X de aprendizes equivalente a 5% até 15% do quadro total de funcionários. Tal lei se destina a capacitar esses jovens no que se refere ao trabalho e a aprendizagem de modo geral, com conteúdos diversos. Ao mesmo tempo em que estes estudam, eles atuam dentro das empresas, a ideia é capacitá-los para exercerem funções administrativas, além de incentivá-los a buscarem qualificação, tanto em cursos técnicos quanto em faculdades.

2. Lei 10.097/ 2000 - Lei da Aprendizagem
A lei utiliza como base os critérios estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ao que se refere o trabalho para menores de idade para determinar que jovens com idade entre 14 e 18 anos possam fazer parte do programa, assim como menciona o cap. V, art. 65, parágrafo único do ECA: “Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários”. Vale ressaltar que ainda de acordo com o ECA no cap. V art. 67, parágrafos I ao IV é vedado trabalho:

I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte;

II - perigoso, insalubre ou penoso;

III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;

IV - realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola.  (ECA, 1990):
A Lei 10.097 estabelece que o jovem seja contratado para uma jornada de seis horas diárias, sendo parte dessas horas destinadas à oficina de capacitação que deve ser ministrada por uma entidade autorizada pelo Ministério do Trabalho e por instrutores capacitados para as diversas aulas voltadas principalmente a área administrativa, como por exemplo, aulas de comportamento organizacional, ética e cidadania, sustentabilidade, matemática e conteúdos voltados ao trabalho do auxiliar administrativo.

Para colocar em prática tal formação são necessários três autores de grande importância: Jovem – Empresa –Entidade Formadora.

O jovem que participa das oficinas deve ter entre 14 e 24 anos, não necessariamente precisa estar matriculado, mas se não estiver, precisa ter concluído o ensino médio. Durante as oficinas é realizado um trabalho de conscientização da importância de qualificação com o intuito de inserir este jovem no ensino técnico ou superior.

Quanto a empresa, esta deve estar ciente de que a aprendizagem para fins de que se cumpra esta lei é mais importante que a própria prática, sendo assim em dias de capacitação o jovem deve frequentar a instituição formadora e cumprir carga horária de trabalho, porém com conteúdos teóricos e atividades extra classe, como visitas e vivencias em empresas, instituições de ensino e visitas em projetos, sempre focando  o conteúdo programático disposto no cronograma elaborado pelo Ministério do trabalho.

A instituição formadora, assim como a empresa pode se responsabilizar pela contratação desse jovem. Tudo o que se refere ao cumprimento desta lei fica sob responsabilidade da instituição formadora. Para isso é necessário que esta esteja devidamente cadastrada no Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA) da cidade de origem. Também devem possuir estrutura física adequada para que se mantenha a qualidade do processo de formação desses jovens, além de terem profissionais capacitados para o desenvolvimento das aulas.

Mesmo com esta lei, a inserção desses jovens no mercado de trabalho não é facilitada, algumas empresas ainda preferem trabalhar em desacordo com o que imposto não contratando a cota especifica de aprendizes de acordo com número de funcionários existentes em suas empresas, talvez não percebam a importância de tal trabalho na vida pessoal e profissional desses jovens, sendo assim, e não apenas por este motivo, ainda notamos um grande número de jovens desempregados e em alguns casos sem visão de futuro profissional.

2.1 Jovens e Desemprego

O desemprego, atinge cerca de 4 milhões de jovens, conforme destacam os dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

O índice de jovens brasileiros desempregados ainda é alto quando comparado a outros países. A falta de trabalho, de acordo com Guilland e Monteiro, (2010) “...restringe os sonhos dos jovens de se realizarem como sujeitos e faz com que eles deixem de ver o trabalho como algo que possa nortear sua vida positivamente” (p. 145).

Tal afirmação além de ter seu inicio na discussão sobre o impacto do trabalho na vida do jovem, também remete a uma reflexão sobre a fase que esses jovens estão passando, ou seja, já não podem ser considerados como crianças, pois conseguem de certa forma fazer suas escolhas e nem adultos, pois ainda não possuem autonomia total para a tomada de decisões, sendo assim, questionamentos a respeito do que não são podem surgir, fazendo com que pensamentos negativos sobre sua capacidade de lidar com essas questões possam surgir. (GUILLANT e MONTEIRO, 2010)

Uma das formas de fazer com que estes jovens tenham mais clareza sobre suas capacidades, seria um processo gradativo e continuo de capacitação, algo que não parasse tendo em vista a aprendizagem e o ganho de experiência. Pensando dessa forma, podemos citar Moraes e Andrade (2010) que dizem: “Entre todos os espaços da atividade humana, provavelmente aquele em que a demanda por mais e melhores resultados de aprendizagem se faz mais clara é o ambiente de trabalho”.

Quando pensamos em tal citação, a lei da aprendizagem fica ainda mais clara, o objetivo dela é esse, aprender com o trabalho e dele tirar não somente o sustento, mas sim conhecimento e experiências que garantam aprendizagem para a vida pessoal e profissional, por isso, a preocupação com a inserção desses jovens no mercado de trabalho.

O trabalho simboliza a conquista de um lugar na sociedade, então podemos pensar no desemprego como a falta deste lugar e muitas vezes visto como desocupação e marginalização do individuo. Guiland e Monteiro, (2010, p. 148) enfatizam essa situação explicando que:

Nesse sentido, ficar desempregado pode significar não só uma suspensão da estabilidade econômica, mas ainda a exposição do indivíduo - seja perante si, seja ante a sociedade - o que pode afetar sobremaneira a sua saúde mental. Afinal, para o jovem, essa situação aparece como uma sobreposição desse não lugar.
...

Entretanto, sabemos que a realidade de nosso país quanto à  empregabilidade de jovens não é das melhores. Nesse caso, além de preparar esses jovens para a iniciação profissional, também é de grande importância trabalhar com eles a realidade e a competitividade do mundo do trabalho o qual eles vão enfrentar com o intuito de formar jovens conscientes e cada vez mais direcionados profissionalmente.

Como sugestão, seria ideal que outros estudos como este fossem realizados, com o intuito de verificar a efetividade da aplicação dessa lei, uma vez que até o momento, nada sobre o tema voltado a Lei da Aprendizagem foi encontrado em publicações científicas.



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