Os
Benefícios do Acompanhamento Psicológico em Mulheres Mastectomizadas devido ao
Câncer de Mama
O câncer de mama é uma doença que ainda hoje, é capaz de
desencadear diferentes tipos de sentimentos, questionamentos e debates.
Trata-se de uma condição que afeta milhares de mulheres em todo o mundo, e que
apesar dos avanços técnicos, científicos e operacionais no campo da Medicina,
ainda possui elevadas taxas de mortalidade. Diante disso, ser diagnosticada com
o câncer de mama e ter que se submeter aos diversos tipos de tratamento,
incluindo a mastectomia (intervenção cirúrgica), pode desencadear consequências
negativas para o psicológico e para o fisiológico dessas mulheres.
Nesse contexto, o presente artigo teve por objetivo
compreender os benefícios que o acompanhamento psicológico é capaz de
proporcionar às pacientes submetidas à mastectomia decorrente de um câncer de
mama. Para isso, utilizou-se como metodologia uma revisão de literatura, sendo
utilizados onze artigos, pesquisados na base de dados do Scielo, compreendidos
entre 1993 e 2008. Este material, a partir de um processo de investigação,
análise, síntese e interpretação de dados, possibilitou o fornecimento dos
subsídios necessários para que o objetivo do artigo fosse alcançado.
Inicialmente, foi realizada uma breve abordagem sobre a
patologia. O câncer de mama é uma doença que ocorre devido à proliferação
desordenada de células neste órgão, que por sua vez, levam ao desenvolvimento
de nódulos e que podem migrar para diversos sítios de implantação no organismo
(metástase). Tais nódulos são possíveis de serem identificados através do
auto-exame da mama. Com isso, este procedimento deve ser incentivado e
propagado, pois a detecção precoce do câncer de mama, melhoram o prognóstico da
doença e aumentam as possibilidades de cura.
Após esta abordagem, discutiu-se sobre as formas de
tratamento e suas possíveis consequências para a mulher. Nem sempre a
intervenção cirúrgica é necessária, sendo nesses casos o tratamento feito por
outros meios, como, por exemplo, através da radioterapia e/ou quimioterapia.
Entretanto, quando se faz preciso, a mastectomia é capaz de desencadear
preocupações, medos, insegurança e descontentamento nestas pacientes, pois
muitas questionam sua identidade feminina e sua aceitação social após a
cirurgia.
Tais sentimentos negativos podem evoluir para quadros de
ansiedade grave e até mesmo depressão. Além disso, estudos apontam que
problemas psicológicos podem reduzir a responsividade do sistema imunológico,
além de possibilitar um aumento na taxa de não adesão ao tratamento.
Assim, fez-se necessário a realização de uma discussão
sobre a importância do acompanhamento psicológico nas pacientes submetidas à
mastectomia. Esse tipo de acompanhamento é capaz de facilitar a compreensão da
mulher sobre a situação em que está submetida, possibilitando o desenvolvimento
de estratégias que a ajude a enfrentar seus conflitos e as situações
estressantes vivenciadas durante o tratamento contra o câncer. Além disso, é
extremamente importante que nesse processo exista uma integração e uma
participação ativa dos familiares e da equipe de saúde envolvida na
terapêutica, pois assim a paciente se sentirá acolhida e isso irá influenciar
de forma benéfica todos os aspectos do seu adoecimento, de forma global e
humanizada.
2. Desenvolvimento
2.1 O câncer de mama
O câncer de mama ou carcinoma mamário, de acordo com
Andrade e Duarte (2003), pode ser definido como o “resultado de multiplicações
desordenadas de determinadas células que se reproduzem em grande velocidade,
desencadeando o aparecimento de tumores ou neoplasias malignas”. De acordo com
estes mesmos autores, tal doença pode vir a afetar tecidos vizinhos e provocar
metástases. Afirmam ainda que este tipo de câncer aparece sob forma de nódulos
e, na maioria das vezes, podem ser identificados pelas próprias mulheres, por
meio da prática do autoexame.
Os cânceres ou neoplasias malignas vêm assumindo um papel
cada vez mais relevante entre as doenças que acometem a população feminina,
representando, no Brasil e no mundo, importante causa de morte entre as mulheres
adultas. O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e
o primeiro entre as mulheres (SILVA, 2008).
O
Instituto Nacional do Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde responsável,
entre outras ações, pela prevenção dos mais variados tipos de câncer, admite
que a maioria das ações dirigidas para o controle do câncer de mama são
voltadas para a sua detecção precoce. São três as ações de saúde consideradas
fundamentais para o diagnóstico precoce do câncer de mama: a) auto-exame das mamas,
realizado de forma adequada; b) exame clínico das mamas, feito por um
profissional especializado e; c) mamografia. Essas ações podem contribuir para
que, no surgimento de um tumor maligno, o tratamento apropriado não requeira
uma intervenção cirúrgica agressiva para o corpo feminino (INSTITUTO NACIONAL
DO CÂNCER, 2000).
O prognóstico do câncer de mama é bom, caso o diagnóstico e
tratamento seja realizado precocemente e de forma oportuna. Nesse contexto, “o
principal fator que dificulta o tratamento o estágio avançado em que a doença é
descoberta. Em nosso país, a maioria dos casos são diagnosticados em estágios
avançados, correspondendo acerca de 60% dos diagnósticos, por isso o número de
mastectomias realizadas no Brasil é considerado alto” (MAKLUF, DIAS e BARRA,
2006).
2.2 O tratamento e suas consequências
A
mastectomia é o tratamento primário no câncer de mama. Trata-se de uma
intervenção cirúrgica que pode ser restrita ao tumor, atingir tecidos
circundantes ou até a retirada da mama, dos linfonodos da região axilar e de
ambos os músculos peitorais. A mais frequente, em torno de 57% das intervenções
realizadas, é a mastectomia radical modificada, aquela que remove toda a mama
juntamente com os linfonodos axilares. Tratamentos complementares geralmente
são necessários, como a radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia. O
prognóstico e a escolha do tratamento são embasados na idade da paciente,
estágio da doença, características do tumor primário, níveis de receptores de
estrógeno e de progesterona, medidas de capacidade proliferativa do tumor,
situação da menopausa e saúde geral da mulher (MALZYNER, CAPONERO e DONATO,
2000).
A cirurgia que promove a remoção da massa tumoral (a
mastectomia nesse caso), apesar de frequente, nem sempre é um procedimento necessário.
Este recurso pode levar a uma mutilação (parcial ou total) da mama. Assim, de
acordo com Rossi e Silva (2003), “esse procedimento altamente invasivo traz
repercussões emocionais importantes, danificando não somente a integridade
física, como também alterando a imagem psíquica que a mulher tem de si mesma e
de sua sexualidade”.
Silva (2008) complementa, afirmando que, “pelas suas
características, o tratamento traz repercussões importantes no que se refere à
identidade feminina”. Isso ocorre devido ao fato de que além da remoção da mama
de forma total ou parcial, os tratamentos complementares podem desencadear
outros efeitos, como, por exemplo, a perda dos cabelos, alterações no ciclo
menstrual, e até mesmo uma possível infertilidade. Todos estes fatores
contribuem com a fragilização crescente do sentimento de identidade na mulher.
A
partir do diagnóstico confirmado, a paciente vê sua vida tomar um rumo
diferente do que poderia imaginar, já que o câncer pode acarretar alterações
significativas nas diversas esferas da vida como trabalho, família e lazer.
Dessa forma, acaba trazendo implicações em seu cotidiano e nas relações com as
pessoas do seu contexto social (VENÂNCIO, 2004).
Sales et al (2001) ao realizarem pesquisas à cerca da
qualidade de vida de mulheres tratadas contra o câncer de mama, associando este
tratamento ao funcionamento social, “evidenciam que as mudanças no trabalho,
lazer, relações familiares e sociais dessas mulheres são provocadas mais por
problemas psicológicos do que físicos”.
2.3 O acompanhamento psicológico
Diante das alterações emocionais e psicológicas vivenciadas
pelas mulheres submetidas à mastectomia, o acompanhamento psicológico pode
funcionar como um potente e benéfico recurso terapêutico.
De acordo com Gimenez (1997), “o psicólogo atuante na área
de psicologia oncológica visa manter o bem-estar psicológico do paciente,
identificando e compreendendo os fatores emocionais que intervêm na sua saúde”.
Além disso, de acordo com esses mesmos autores pode-se definir também como
possíveis objetivos para o trabalho desses profissionais: “prevenir e reduzir
os sintomas emocionais e físicos causados pelo câncer e seus tratamentos, levar
o paciente a compreender o significado da experiência do adoecer,
possibilitando assim re-significações desse processo”.
Em sua atuação, o psicólogo deve estar atento também aos
distúrbios psicopatológicos, como depressão e ansiedade graves. Sua prática é
exercida em todas as etapas do tratamento, habilitando o paciente a
confrontar-se com o diagnóstico e com as dificuldades dos tratamentos
decorrentes, ajudando a desenvolver estratégias adaptativas para enfrentar as
situações estressantes (VENÂNCIO, 2004).
No
acompanhamento psicológico, num espaço de acolhimento e escuta o terapeuta deve
sempre trabalhar com a realidade. Quanto mais informado o paciente estiver de
sua doença, maior será a sua capacidade de enfrentar o adoecer e mais confiança
terá na equipe que participa de sua recuperação. Pacientes bem informados
reagem melhor ao tratamento. Dessa forma, o psicólogo deve preocupar-se em
falar numa linguagem acessível ao paciente e sempre checar se as informações e
orientações dadas pela equipe foram efetivamente compreendida (SALES, et al,
2001).
Martins (1997) afirma que “é imprescindível incluir a
família na terapêutica aplicada às mulheres mastectomizadas, já que são
personagens fundamentais no auxílio aos pacientes para o enfrentamento da
doença”. Quando a paciente recebe o suporte afetivo e psicológico de seus
familiares, eles podem se constituir como importantes aliados na recuperação do
paciente, assim como também podem auxiliar no trabalho da equipe de saúde.
Nesse contexto, Venâncio (2004) acrescenta dizendo
que “a interação entre todos os profissionais envolvidos no tratamento do
câncer de mama é fundamental para a conquista de um bom resultado, já que a
atuação passa a ser global, envolvendo todos os aspectos implicados no
adoecimento”.
A
literatura especializada mostra que pacientes submetidos ao acompanhamento
psicológico durante o tratamento do câncer de mama, incluindo a mastectomia,
obtêm ganhos significativos, tais como: melhora do estado geral de saúde;
melhora da qualidade de vida, melhor tolerância aos efeitos adversos da
terapêutica oncológica (quimio/ radioterapia e cirurgia) e melhor comunicação
entre paciente, família e equipe (LEAL, 1993).
Para Carvalho (1996), um trabalho psicoterápico realizado
de forma eficaz, possibilita como outro benefício, “a participação mais ativa e
positiva da paciente durante o tratamento, resultando numa melhor adesão, evitando
assim, o abandono do mesmo”. O mesmo autor ainda complementa dizendo que,
“estudos evidenciam que quando a paciente encontra-se mais participativa
durante o tratamento, há menor probabilidade do surgimento de intercorrências
clínicas e psicológicas no mesmo”.
Podemos afirmar ainda, que não são apenas os pacientes e
familiares das mulheres mastectomizadas que se beneficiam com o atendimento
psicológico. As instituições de saúde também lucram, já que a ampliação do
âmbito da assistência resulta na diminuição do uso de serviços médicos em
geral, reduzindo o tempo de hospitalização, consequentemente caindo os custos
hospitalares (VENÂNCIO, 2004).
3. Conclusão
A partir do levantamento de vários artigos, foi possível
constatar que os benefícios do acompanhamento psicológico às mulheres
submetidas à mastectomia, decorrente do câncer de mama, são diversos e de
extrema relevância para o sucesso terapêutico.
O cuidado com os aspectos emocionais e psicológicos deste
grupo de pacientes é necessário, não apenas no momento da confirmação do
diagnóstico, mas também durante e após o tratamento. Isso se justifica,
principalmente, pelo fato de que, as alterações nos aspectos citados são
capazes de desencadear problemas físicos e biológicos que podem influenciar
negativamente a evolução e o tratamento da doença.
Vale acrescentar ainda, que é imprescindível, desde a vida
acadêmica até as práticas laborais aplicadas, o reconhecimento da importância
do trabalho interdisciplinar. A atuação conjunta entre os diversos profissionais,
como por exemplo, entre médicos enfermeiros e psicólogos, é extremamente
positivo, pois possibilita a realização de um tratamento holístico, voltado
para todos os aspectos da vida da paciente em questão.
Portanto, o desenvolvimento deste trabalho foi extremamente
enriquecedor não apenas para nossa formação acadêmica, mas também para nossas
futuras atividades profissionais, pois permitiu reconhecer que os aspectos que
vão além do orgânico e do bioquímico, precisam de uma atenção mais especial e
direcionada, não apenas na oncologia, mas nas diversas práticas em saúde.
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