Escolher por
quais caminhos seguir e que decisões tomar é difícil em qualquer fase da
vida. Durante a juventude tomar decisões
e fazer escolhas são grandes tormentos, gerando dúvidas e conflitos. Quando o
assunto é a sexualidade as dúvidas parecem ser ainda maiores.
O
comportamento do jovem mudou nos últimos anos, a sexualidade é vista de maneira
bastante banalizada, assim como também os relacionamentos afetivos. A aparente
liberdade gera conflito, principalmente entre os jovens que estão vivendo um
momento de transição entre a adolescência e a vida adulta.
Seguir os
valores herdados da família, ou assumir o comportamento adotado pelo grupo?
Essa segundo Ana Cláudia Bortolozzi Maia, professora do departamento de
Psicologia da Unesp de Bauru é uma dúvida muito freqüente entre os jovens. Ela
ressalta que para se sentirem inseridos no grupo, os jovens adotam
comportamentos, como consumir bebidas alcoólicas e drogas ou assumir
determinados comportamentos sexuais, sem estarem de fato conscientes dessas
atitudes e, portanto, preparados para as possíveis conseqüências dessas
escolhas. É preciso refletir sempre os “porquês” das nossas atitudes, especialmente
quando elas exigem responsabilidades pessoais e sociais.
Atualmente,
os jovens estão iniciando a vida sexual mais cedo. A sexualidade tem sido
discutida de forma mais “aberta”, nos discursos pessoais, nos meios de comunicação,
na literatura e artes. Entretanto, segundo a professora Ana Cláudia, essa
aparente “liberdade sexual” não torna as pessoas mais “livres”, pois ainda há
bastante repressão e preconceito sobre o assunto. Além disso, as regras de como
devemos nos comportar sexualmente prevalecem em todos os discursos, o que torna
uma questão velada de repressão.
Ela cita a
questão da virgindade feminina, que antes era supervalorizada e hoje é vista
como um problema para muitas meninas. Muitas garotas iniciam a vida sexual de
forma precipitada, mais para responder a uma exigência do grupo do que a uma
escolha pessoal, o que as tornam menos propensas a assumir as responsabilidades
que uma vida sexual ativa requer. Ana Cláudia
explica que essa cobrança do grupo, também é vista como um tipo de repressão,
pois parece que hoje as pessoas perderam a possibilidade de assumir ‘ser’ ou
‘não ser’ virgem, diante da cobrança do grupo social. Outro exemplo diz
respeito às cobranças exigidas ao papel feminino. Atualmente, cobra-se da
mulher a entrada no mercado de trabalho, e por conseqüência isso pode resultar
em uma maior autonomia. Mas, apesar disso, ainda hoje é exigido também da mulher que ela se
case, tenha filhos e seja uma boa mãe.
Ter que se casar ou ter filhos parecem condições inerentes à felicidade
pessoal. A mulher que tem uma opção de vida diferente dessa é vista como
infeliz.
Outro
exemplo ainda, diz respeito aos relacionamentos amorosos. Na década de 80 surge
a expressão “ficar com”. Essa expressão representa uma nova condição de
relacionamento em que as pessoas irão manter contatos físicos e afetivos
durante um curto tempo, sem que isso signifique um vínculo duradouro. O “ficar
com”, apesar de aparentar uma grande liberdade sexual está repleto de regras.
Essas regras dependem do grupo social (idade, classe social e educacional) e
momento histórico. Ana Cláudia considera esse comportamento um avanço nas
relações afetivas, pois acredita que há uma maior possibilidade de escolher
parceiros e de experimentar as sensações prazerosas do toque com o outro, sem
que esse relacionamento necessariamente leve ao “casamento”. Isso, para ela, é
um fator importante no desenvolvimento afetivo do jovem. No entanto, alerta
para uma possível banalização das relações, quando jovens ficam com “usando o outro
como objeto”, o que muitas vezes pode provocar frustrações para
ambas as partes envolvidas.
O jovem do
século XXI é visto como livre, bem informado, “antenado” com os acontecimentos,
mas as pesquisas mostram que quando o
assunto é sexo há muitas dúvidas e conflitos. Desde dúvidas específicas
sobre questões biológicas, como as doenças sexualmente transmissíveis, até
conflitos sobre os valores e as atitudes que devem tomar em determinadas
situações.
Apesar de iniciarem a vida sexual mais
cedo, os jovens não têm informações e orientações suficientes. A mídia, salvo exceções, contribui
para a desinformação sobre sexo e a deturpação de valores. A superbanalização
de assuntos relacionados à sexualidade e das relações afetivas gera dúvidas e
atitudes precipitadas. Isso pode levar muitos jovens a se relacionarem de forma
conflituosa com os outros e também com a própria sexualidade.
Existe
muita preocupação por parte dos jovens em entrar em um padrão. Tanto meninas
quando meninos, ainda reproduzem o comportamento machista de anos atrás. Para a professora Ana Cláudia as garotas
ainda sonham com um “príncipe encantado” (que seja um bom partido: fiel e bem
sucedido na vida) e os garotos com uma “bela princesa” (que seja adequada aos
padrões de beleza física, com indícios de uma futura boa dona de casa e mãe de
família, mesmo que possa almejar o mercado de trabalho). Essas expectativas
retratam determinadas características, que só reproduzem a repressão e o
machismo, que atualmente se encontra mascarado. Os jovens, de maneira geral,
ainda se preocupam em seguir padrões de comportamento. Ana Cláudia ressalta que
ainda que sociedade imponha um certo tipo de comportamento sexual e afetivo
considerado normal, o que dever ser levado em conta é o bem estar de cada um.
Enfim, hoje existe uma aparente liberdade sexual. Ao mesmo
tempo em que as pessoas são, em comparações há anos anteriores, mais livres
para fazer escolhas no campo afetivo e sexual, ainda há muita cobrança por
parte da sociedade, e esta cobrança acaba sendo internalizada, e assim as
pessoas acabam assumindo comportamentos e valores adotados pela maioria.
Apesar da necessária
identificação com o grupo, para que nos reconheçamos no outro, todos nós temos
as nossas individualidades que devem ser respeitadas.
Devemos
refletir que nossas atitudes refletem nossa história pessoal de educação
sexual, repleta de valores e concepções. Parece arriscado assumir
comportamentos apenas para seguir os padrões, por considera-los certos, sem
refletir sobre eles. Seria melhor se vivêssemos de acordo com nossos valores,
mas sempre tendo consciência das
responsabilidades das escolhas que fazemos, não só durante a juventude, mas
ao longo de toda a vida. Você já pensou sobre isso?
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