Falar
de uma maneira geral das contribuições das abordagens fenomenológicas,
humanistas e existenciais à psicoterapia é uma atividade complexa, tal a
diversidade de teorias advindas dessas. Este texto buscará falar apenas de
maneira superficial destas filosofias e apresentará a base de sua contribuição
à psicoterapia.
A
psicoterapia moderna começou a ser praticada na forma da psicanálise. Freud, médico neurologista, traz sua
influência médica para seu método e buscando, pelo menos no início, a cura das
neuroses através da fala. Logo após, a psicanálise apresentou várias
dissidências, Adler, Jung, Ferenzci, etc, e a perspectiva psicanalítica foi
ampliada.
Paralelo
à psicanálise, desenvolvia-se o Behaviorismo, criado por Watson e desenvolvido
por Skinner. O behaviorismo se caracterizou pelo estudo do ser humano através
do seu comportamento. Então, enquanto a psicanálise buscava entender o homem
pela via do inconsciente, o behaviorismo o buscava por meio de comportamentos
e, logo, começou a ensaiar sua prática clínica.
No
mesmo período, surgem as filosofias fenomenológicas e existenciais. Primeiro,
Husserl propunha a volta ao fenômeno como ele aparece e, depois, Heidegger que
busca aplicar a fenomenologia à existência. Influenciado pela fenomenologia,
surge, no século XX, o movimento existencialista [01] na Europa, tendo como
grandes expoentes Sartre e Camus, que enfatizavam a liberdade, angústia e o
absurdo da existência humana.
Essa
filosofia adentrou o campo da psicologia. Sartre propôs a psicanálise
existencial, que teria como base a busca pelo projeto original de cada homem, e
Heidegger ajudou a desenvolver a Danseinsanálise, que tem como base sua
filosofia. A filosofia existencial focava sua crítica à psicanálise, afirmando
que esta negava ou limitava a característica essencial do homem, sua liberdade.
Portanto,
para o campo da psicoterapia, tal filosofia trouxe a visão do homem como livre
e, logo, responsável por suas escolhas e, em um nível mais profundo, criar a si
mesmo. Com isso, se afastou de qualquer tentativa de enquadramento do ser
humano.
As psicoterapias de base fenomenológicas,
humanistas e existenciais buscam entender o homem através de si mesmo, das suas
angústias, sentimentos, motivações e sentidos que atribuem a sua vida. Trazem,
no cerne de sua filosofia, a ideia de um homem construtor de sua história dentro
de suas possibilidades e nunca determinado a priori.
Logo,
o terapeuta, que tem tais filosofias como suas bases teóricas, não se prende na
busca de explicações casuísticas para o comportamento do cliente e sim, em uma
atuação libertária, que vá contribuir para que o cliente recrie seu modo de
ser.
Para
tal, estas abordagens têm um grande foco na relação terapeuta-cliente.
Diferentemente da Psicanálise e Terapia Cognitivo-Comportamental, a relação
terapêutica é vista como um encontro existencial entre duas pessoas, com o
terapeuta estando disponível emocionalmente e autêntico para estar com o
cliente, uma relação EU-TU e não EU-ISSO.
Os
termos EU-TU e EU-ISSO veem da filosofia dialógica de Buber [02]. Para entender
bem a diferença da relação proposta nesse modo de psicoterapia, é interessante
falar, mesmo que rapidamente, da filosofia de Buber, que é muito evocada por
psicólogos humanistas e existenciais. Buber dividia as relações entre pessoas
em dois tipos; EU-TU e o EU-ISSO. Na relação dialógica EU-ISSO, o ser humano
usa o outro ser humano como um instrumento para chegar a determinado fim e, na
relação EU-TU, a própria relação é o fim, como o homem se relacionado
dialogicamente com Outra, tendo base à inclusão da totalidade, mutualidade e
alteridade.
Por
fim, é importante ressaltar que existem importantes diferenças entre a
filosofia humanista e a filosofia existencial. Ainda, é amplo o corpo de
terapias que tem como base ou se denominam; humanista, existencial ou
humanista-existencial, ex; Abordagem Centrada na Pessoa, Gestalt-Terapia,
Danseinsanálise, Terapia Vivencial, Psicanálise Existencial, entre outras, cada
uma tendo características próprias e também havendo divergências importantes
entre elas, tanto na prática, como na própria leitura que fazem das filosofias.
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