Segundo a OMS, a
depressão é o principal problema de saúde entre adolescentes.
Já está em fase de
teste um exame laboratorial para diagnosticar a depressão. O recurso será
especialmente útil para constatar a doença em adolescentes que, algumas vezes,
não têm os sintomas levados a sério pela família, porque os sinais que dão são
confundidos com alterações de comportamento comuns nessa fase.
"A ausência de
comprovação do diagnóstico por meio de um exame laboratorial faz com que muita
gente não entenda a depressão como uma doença do cérebro", diz o
psiquiatra Miguel Angelo Boarati, coordenador do Programa de Transtornos
Afetivos na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas da USP (Universidade de São Paulo). "Por desconhecimento ou
preconceito, as pessoas julgam que jovens deprimidos têm falta de vontade de
melhorar ou não querem reagir."
A descoberta de um
exame capaz de diagnosticar a depressão foi anunciada em setembro de 2014 por
um grupo de pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos.
Segundo o estudo, publicado no periódico especializado "Translational
Psychiatry", é possível identificar a doença por meio de marcadores
biológicos encontrados no sangue. Foram examinados 64 voluntários e os
resultados foram promissores. Agora, os autores se preparam para uma segunda
fase de testes: a ideia é validar o achado com uma população maior de
pacientes.
Muitos portadores de
depressão enfrentam preconceito dentro da própria família, segundo Silvana
Martani, psicóloga do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, e
organizadora do livro "Manual Teen" (Editora Wak). "É muito
comum que o adolescente deprimido ouça frases do tipo: 'você está chorando de
barriga cheia' ou 'você não tem problemas, não tem motivos para estar
triste'", fala a especialista.
Doença
mais frequente na adolescência
Desvalorizar o
sofrimento do adolescente é a pior atitude que a família pode adotar. "A depressão,
como qualquer outra doença, deve ser tratada com seriedade, nenhuma queixa
persistente pode ser desvalorizada", afirma a psicóloga
Silvana.
De acordo com um
relatório divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em maio de 2014, a depressão é o principal problema de saúde
entre os adolescentes, fator diretamente relacionado ao suicídio, uma das
três maiores causas de morte na faixa etária de dez a 19 anos, juntamente com
acidentes de trânsito e o vírus da Aids.
"Dois terços dos
suicídios são cometidos por adolescentes que estavam clinicamente deprimidos",
diz a psicóloga Luiza de Lima Braga, que pesquisou o comportamento suicida em
adolescentes em seu trabalho de mestrado pela UFRGS (Universidade Federal do
Rio Grande do Sul).
O suicídio pode ser a
consequência mais grave de um quadro depressivo não tratado adequadamente, mas
não é a única. "A depressão na
infância e na adolescência é duradoura e afeta múltiplas funções, causando
significativos danos psicossociais", declara Luiza.
"Segundo um estudo
americano (o "Los Angeles Epidemiologic Catchment Area Project"), 25%
dos adultos com depressão relataram o primeiro episódio da doença antes dos 18
anos", afirma a psiquiatra Sônia Maria Motta Palma, professora da
Universidade de Santo Amaro e uma das autoras do "Manual de Atenção à
Saúde do Adolescente", da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. Por isso, diante de alterações de
comportamento e sinais de depressão, os pais devem investigar o que está
ocorrendo e, se necessário, buscar ajuda médica e psicológica.
Envolvimento
da família
O tratamento da
depressão na adolescência é, em geral, multidisciplinar. "As melhores opções de conduta associam o
uso de antidepressivos, receitados por um psiquiatra, com apoio psicoterápico e
acompanhamento à família. Orientar a escola também é importante, para que o jovem
não tenha perdas acadêmicas durante o tratamento", diz César de
Moraes, especialista em psiquiatria infantil e professor da PUC (Pontifícia
Universidade Católica) de Campinas.
Nem todos os casos
requerem medicação, mas é fundamental o envolvimento dos familiares. "Os
pais devem acompanhar de perto o tratamento, seguir as orientações dadas pelos
profissionais envolvidos, não julgar ou criticar o filho por estar deprimido e,
se necessário, realizar mudanças no ambiente familiar", diz o psiquiatra
Miguel Angelo Boarati.
Segundo o Boarati, os
conflitos em família, as cobranças por desempenho em múltiplas tarefas e a
falta de diálogo em casa podem ser gatilhos que desencadeiam a depressão nos
adolescentes.
Sinais
da depressão
Vários comportamentos
relacionados à depressão podem ocorrer em algum momento da adolescência. Por
isso, os especialistas esclarecem que é preciso considerar a intensidade e a
frequência desses sinais e analisá-los dentro de um contexto mais amplo,
avaliando o estado geral do adolescente. Saiba mais sobre eles a seguir.
1
- Humor depressivo
O adolescente parece
não sentir alegria ou prazer de viver. Mostra-se melancólico, entediado,
indisposto e sem esperança. Tem baixa autoestima e pode apresentar crises de
choro sem razão aparente.
2
– Apatia
Às vezes, é confundida
com preguiça. O adolescente demonstra falta de energia, cansaço frequente e
perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas.
3
- Isolamento social
Os adolescentes
deprimidos tendem a se isolar de amigos e familiares.
4 - Irritabilidade e
instabilidade
Mau humor, descontrole
emocional e explosões de raiva podem fazer parte do quadro depressivo.
5
- Alteração do ritmo de sono
O adolescente pode
dormir mais ou menos do que de costume. Também são comuns episódios de insônia.
6
- Alteração no apetite
Perder a vontade de
comer é o mais frequente, mas pode haver, também, aumento de apetite, sobretudo
por alimentos doces. Perda ou ganho de peso significativo em pouco tempo podem
estar associados.
7
- Dificuldade de concentração
Frequentemente está
associada à queda no rendimento escolar. Em alguns casos, o jovem depressivo
abandona os estudos.
8
- Uso de drogas
Muitas vezes,
resultante de tentativas de automedicação para alívio do sofrimento causado
pela doença.
9
– Automutilação
Em situações de extremo
sofrimento, alguns adolescentes podem adotar um comportamento autodestrutivo,
cortando-se ou queimando-se. Provocar dor física é uma forma de tentar tirar o foco da
dor emocional.
10
- Comportamento de risco
O flerte com o perigo
pode ser uma forma de combater a apatia. Andar distraidamente no meio de
avenidas movimentadas, praticar esportes radicais sem cuidados de segurança ou
mesmo fazer sexo sem proteção podem ser formas de buscar emoções fortes.
11
- Pensamentos suicidas
São comuns ideias
mórbidas e tentativas de suicídio.
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