Aplicação da Musicoterapia em Tratamentos Psicológicos e
Clínicos
A música como uma forma de tratamento tem sua origem não
muito bem definida. Na antiguidade já foi muito utilizada em rituais de
eliminação ou banimento de espíritos que acreditavam residir nos corpos dos
enfermos. Em tal época todas as doenças eram tratadas de forma a ser uma
agressão a alma e não ao corpo. Porém, como forma estruturada surgiu apenas a
partir em 1950 nos Estados Unidos com o surgimento dos primeiros
musicoterapeutas.
A musicoterapia é uma ciência que tem como objetivo
realizar uma reabilitação neurológica a partir da interação do paciente com o
ritmo, melodia e harmonia de uma música, além de atividades psicomotoras que
possam ser desenvolvidas a partir destes princípios.
Já foi comprovada a efetividade terapêutica do uso destes
métodos para o tratamento de vários distúrbios neurológicos e psíquicos como:
Depressão, Transtorno bipolar, Esquizofrenia, dentre outros. Além disso, também
é utilizado com grande sucesso para reabilitação de pacientes que sofreram
lesões por acidente vascular cerebral, traumatismo crânio encefálico e
degeneração neurológica.
Porém, não é necessário estar enquadrado nas situações
acima para usufrui de benefícios dessa técnica. Já foi comprovado que a musicoterapia
pode gerenciar o estresse, melhorar a memória, a socialização e a cognição de
um indivíduo.
Uma vez observados esses aspectos o objetivo deste artigo
será fazer uma breve revisão sobre como a musicoterapia é vista sobre a ótica
da medicina e da psicologia. Para tal, foi realizada uma revisão da literatura
existente, com pesquisa realizada de Setembro a Novembro de 2015, nas bases de
dados Scielo e Google Acadêmico utilizando-se dos termos: Musicoterapia,
Distúrbio bipolar e musica Depressão e música, Esquizofrenia e música e
Neurociência e Música. A pesquisa foi realizada sem distinção de língua ou data
de publicação.
2. Desenvolvimento
2.1 A musicoterapia
utilizada em distúrbios psíquicos
A música é um elemento dinâmico que através do ritmo, do
timbre, da harmonia leva o indivíduo as mais variadas sensações físicas e
emocionais estimulando o pensamento, a reflexão, movimentação e pode despertar
tanto a agitação como trazer tranquilidade ou irritação. Por isso a musica pode
ser amplamente utilizada em tratamentos de ordem emocional ou mental como
pacientes com transtornos esquizofrênicos, depressão, bipolaridade, entre
outros.
De acordo com o estudo realizado por Costa e Vianna (1984)
a música tem o poder de invadir a interioridade do ser e de desobstruir canais
de comunicação, desde os níveis mais profundos, o que poderá ser de utilidade
no tratamento do esquizofrênico, preso em seu mundo particular.
Segundo Costa e Vianna (1984):
O
esquizofrênico, por meio da produção de sons organizados, começa a expressar
algo da realidade interna que constitui seu modelo de mundo, particular e por
isto aparentemente caótico, relacionando-se e comunicando-se através da
linguagem musical. Cabe ao terapeuta auxiliar o paciente a tornar explícitas
estas emoções e sentimentos, trazendo para a linguagem verbal o que estava
implícito tanto nas manifestações musicais quanto em seus comentários, o que
dará ao paciente uma ampliação de seu leque de alternativas e uma possibilidade
de modificação de seu modelo patológico.
Dentre estes distúrbios, o transtorno bipolar é uma doença
psiquiátrica que é caracterizada por episódios de alterações bruscas de humor.
Segundo Passoni (2006) a musicoterapia pode servir de ajuda para quem sofre
desse transtorno no que diz respeito à comunicação, socialização e
auto-expressão, pois se utiliza de uma abordagem não invasiva possibilitada
pela música, que acaba por fortalecer estas habilidades, podendo induzir uma
mudança de comportamento.
Para alguns autores a musicoterapia pode propiciar efeitos
benéficos ao paciente depressivo, induzindo uma sincronização de sentimentos
influenciada pela a música capaz de melhorar seu quadro clínico.
De acordo com Silva, Zanini e Pereira (entre 1996 e 2015):
Acredita-se
que a musicoterapia tem condição de ajudar o paciente a entrar em contato com
suas emoções, sentimentos e expressá-los através de músicas, instrumentos,
sons, corpo ou qualquer outra forma que venha facilitar essa liberação de
sentimentos. Quando o paciente expõe seus sentimentos, a carga fica mais leve,
a culpa diminui, as relações interpessoais melhoram, as músicas alegres emergem
com mais facilidade e, consequentemente, os sintomas da depressão diminuem,
causando menor sofrimento. Logo, seu corpo, sua alma e sua psique cantam e
dançam, enfim, agradecidos, pois o musicoterapeuta considera as
potencialidades, aceitando que cada pessoa é ímpar, singular e subjetiva!
2.2 A musicoterapia aplicada
à clínica médica
Para a medicina a musicoterapia tem uma ação ainda pouco
estudada, porém com algum sucesso terapêutico. Além dos distúrbios
psicomotores, já existem estudos que comprovam como a música pode afetar a
amamentação de um recém-nascido, diminuindo a ansiedade materna e levando a
continuidade da amamentação natural por um período mais longo (ARNON, 2011),
bem como estimular um melhor desenvolvimento do recém-nascido devido às
alterações que a música causa em frequência cardíaca e respiratória, saturação
de oxigênio, pressão arterial e temperatura corporal (SILVA et al.,2013).
Alguns cientistas atribuem o efeito terapêutico da
musicoterapia a atividade de neurônios espelhos. ”Os neurônios espelho, quando
ativados pela observação de uma ação, permitem que o significado da mesma seja
compreendido automaticamente (de modo pré-atencional) que pode ou não ser
seguida por etapas conscientes que permitem uma compreensão mais abrangente dos
eventos através de mecanismos cognitivos mais sofisticados“ (LAMEIRA,
GAWRYSZEWSKI e PEREIRA, 2006). Ou seja, a partir da percepção de um estimulo
estes neurônios são ativados de forma reflexa, de forma que o corpo se prepare
para realizar uma resposta condizente. Este estímulo pode ser de qualquer
natureza, inclusive musical.
Outra ideia é a de que a música induziria ações de
plasticidade sináptica, ou seja, a capacidade de um neurônio criar novas
conexões em função do ambiente. A música é uma ferramenta capaz de causar essas
alterações neurais se tornando possíveis de serem benéfica psiquicamente e
cognitivamente. Já existe um estudo que comprova que músicos profissionais têm
um desempenho cognitivo e motor superior devido a plasticidade sináptica
(RAGERT et al, 2004), da mesma
forma a musicoterapia poderia ser utilizada como forma terapêutica para doenças
como o autismo.
Uma teoria não exclui a outra e autores como Piazzetta
(2014) trazem ambas as opções para explicar o sucesso terapêutico da
musicoterapia no tratamento de diversas enfermidades. De fato é esta interação
com a música e às vezes a interação social que vem desta atividade que
proporciona o estímulo necessário para amenizar um problema e melhorar a
qualidade de vida do sujeito.
É importante ressaltar que o efeito adquirido da
musicoterapia não só depende de estar recebendo o estimulo musical, vai variar
em relação ao tipo de estímulo em relação à amplitude, ritmo e frequência
(SILVA et al.,2013), além da
qualidade do profissional para selecionar a atividade necessária para o
tratamento e saber conduzi-la com êxito.
3. Conclusão
A partir do levantamento de vários artigos, foi possível
constatar que os benefícios da musicoterapia para pacientes com distúrbios
psicológicos e na clínica médica, são diversos e de extrema relevância para o
sucesso terapêutico.
Associada a outros tipos de tratamento a musicoterapia é
capaz de intensificar o efeito terapêutico e até mesmo melhorar a qualidade de
vida de um indivíduo. A atuação conjunta entre os diversos profissionais, entre
médicos, psicólogos e musicoterapeutas, é extremamente positiva, pois
possibilita a realização de um tratamento holístico, voltado para todos os aspectos
da vida da paciente em questão.
Portanto, o desenvolvimento deste trabalho foi extremamente
enriquecedor não apenas para nossa formação acadêmica, mas também para nossas
futuras atividades profissionais, pois permitiu reconhecer que os aspectos que
vão além do orgânico e do bioquímico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário