Psicologa Organizacional

9 de maio de 2015

O NASCIMENTO DA FILOSOFIA



O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

Segundo os historiadores, a filosofia tem data e local de nascimento: século V a.C. em Atenas, Grécia Antiga. Considerase também o surgimento, no século anterior, século VI a.C., das cosmologias, teorias sobre a ordenação da natureza que investigam a origem e o princípio de todas as coisas. Os cosmólogos não eram atenienses, mas gregos, em sua maioria, provindos da expansão geográfica da Grécia na Antiguidade.
Ao determinar a data e o local de origem da filosofia, os historiadores buscam fornecer um entendimento específico desse tipo de conhecimento que o torna diferente da religião, por sua característica política e antropocêntrica. Esse sentido de filosofia, portanto, não se confunde com a utilização da palavra em sentido amplo ou vago, como “filosofia de vida” ou “filosofia do trabalho”.
Por outro lado, não é difícil perceber associações com outras culturas e religiões, quando estudamos os problemas que orientaram as primeiras teorias na filosofia. Vemos, com isso, um problema de interpretação em relação à origem, que se estendeu ao longo dos séculos e que se tornou motivo de debate na primeira parte do século passado.
Alguns estudos demonstram a assimilação de conhecimentos científicos, como a astronomia e a matemática, provenientes do Oriente: Egito e Mesopotâmia. Essa “importação” de conhecimentos ocorreu devido à expansão marítima grega, que ocorria em função do comércio e da colonização grega na Ásia Menor e Sul da Itália.
Várias teorias em relação ao surgimento foram comprovadas ou reprovadas, em alguns casos em função de descobertas arqueológicas, no século passado (XX), de documentos até então desconhecidos, ou mesmo de documentos já conhecidos e que, relidos com o suporte dos novos meios tecnológicos, revelaram textos sobre textos, isto é, palimpsestos, no reaproveitamento do material utilizado nos manuscritos: o papiro.

Antes mesmo da descoberta do Papiro de Derveni, alguns historiadores do período atribuíam elevada importância à relação entre mito, religião e filosofia, inovando a interpretação que datava desde o período helênico, com Diógenes Laércio, na obra Vida e doutrina dos filósofos, século II, que afirmava uma clara distinção entre razão (Filosofia) e mito (narrativas sobre divindades e seus feitos). Estudos mais aprofundados demonstraram existir um tipo de conhecimento organizador da realidade nas narrativas fabulosas do mito. Essa estrutura racional do mito, segundo Francis M. Cornford, em Principium Sapientiae. As origens do pensamento grego, obra publicada em 1952, estaria presente nas primeiras cosmologias, procurando comprovar o vínculo entre mito, religião e filosofia.
Chauí (2002) dialoga com importantes historiadores da filosofia as teses extremistas (mito ou razão; influência oriental ou originalidade ocidental) sobre a origem da filosofia e encontram um meio termo nos seguintes aspectos:

Em relação ao mito
Houve, no mito, uma aproximação de deuses e homens, seja pelo caráter antropomórfico dos deuses, seja pela divinização dos homens que mantinham um estreito vínculo com as divindades por meio da narrativa do poeta-aedo, das sacerdotisas e pela prática de sacrifícios. Reconhece-se nessas narrativas uma organização racional que busca explicar a origem do mundo e a organização social.

Em relação à invenção grega
O que os gregos nos séculos VI e V a.C. inventaram, além do que incorporaram de outras culturas, diz respeito à transformação de aspectos práticos da vida em conhecimento racional, abstrato e universal. Esses conhecimentos provêm da prática comercial e marítima, da invenção da moeda, do calendário e, principalmente, da organização política da cidade organizada por leis e instituições públicas. A democracia é uma forma inédita de organização política que não se baseava mais no poder tradicional do patriarca (do chefe de família, da tribo ou do rei), aliado ao poder sacerdotal.

Em relação à razão
Os gregos inventam uma forma laica de discursar, relacionada à prática e à organização dos negócios públicos, isto é, à política. Essa fala dessacralizada busca organizar sistematicamente seu pensamento em função de um princípio universal: o conceito, a ideia, a lei, o axioma.
Os primeiros filósofos ou filósofos pré-socráticos, embora não estivessem com suas indagações voltadas exclusivamente para o contexto da pólis ateniense e para os problemas éticos e morais, exercitaram o desprendimento da explicação religiosa dogmática e elaboraram teorias sobre o surgimento do universo e de como este se organiza.
Como você pode notar, o mito também explica o surgimento do mundo em suas narrativas. São Teogonias, isto é, narrativas sobre como as divindades ou deuses (Théos) foram gerados (“gonia” vem de genos, em grego, geração, gênese).
Essa geração, como a dos humanos, era entendida como procriação e, por isso, os seres (a Terra, o Céu) e as divindades copulam e geram outros seres. A explicação para tudo o que existe é de ordem sobrenatural. Igualmente, as cosmologias procuram por uma explicação para o surgimento da ordem na natureza e no mundo, e, mesmo que ainda utilizem, às vezes, o vocabulário, o mito, a causa nomeada é de ordem racional.
Antes de reconhecermos os princípios encontrados para a explicação do cosmos, vamos ver quais são as preocupações gerais dos pré-socráticos, conforme Mondolfo (1971), em O pensamento antigo
Qual é a origem de todas as coisas?
Como um único princípio pode dar origem à multiplicidade das coisas?
Como o imutável pode dar origem ao mutável?
Como o múltiplo retorna ao múltiplo?

Esse mesmo autor nomeia as seguintes características, algumas mais evidentes, outras menos, nas teorias dos pré- socráticos:
Trata-se de uma cosmologia enquanto explicação sobre a ordem presente do mundo em vista de sua origem ou causa, forma, transformação, repetição e término;
A phýsis (natureza, “brotação”), palavra traduzida por natureza, é o fundo imortal e perene de onde tudo brota e para onde tudo regressa. Ela é a qualidade primordial da origem e constituição de todos os seres.
A manifestação invisível da phýsis, com as mesmas características, mas só alcançável pelo pensamento, é a arkhé (princípio, começo, ponto de partida, princípio organizador do cosmos);
Há uma preocupação marcante com o devir ou vira-ser.
O movimento kínesis (movimento, ação) ou movimento de transformação dos seres ocupa papel central nas teorias, bem como seu contrário: o repouso e a estabilidade dos seres;

Há distinção entre “aparência” e “essência”, principalmente nos pensamentos de Heráclito e Parmênides. À primeira se relaciona a dóxa (opinião) e à segunda, a essência.

Agora que você já tem ideia de quais são as preocupações e características das cosmologias pré-socráticas, vamos estudar cada uma delas!


Fonte: Educação, história e sociedade : módulo 1 : Filosofia e  Educação, volume 2 / Elaboração de conteúdo: Carla  Milani Damião. – [Ilhéus, BA] : UAB/UESC, [2009].  1 v. (várias paginações).

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