Repercussão da Traição
na Vida da Mulher
O presente estudo tem como tema: a repercussão da traição
na vida da mulher. Trata-se de um trabalho que busca compreender como essas
mulheres lidam com a traição de seus companheiros ou maridos, uma vez que, ela
traz diversas consequências psicológicas e sociais. Neste sentido, salienta-se
que o desenvolvimento do projeto de pesquisa teve proposta, como
problematização, a seguinte questão: Qual
a repercussão da traição na vida de mulheres que possuíam relacionamento
amoroso?
Ressalta-se, que a definição pelo tema tem como objetivo
geral verificar a repercussão da traição na vida de mulheres que possuíam
relacionamento amoroso e como objetivos específicos, identificar os sentimentos
vivenciados pelas mulheres após a separação; verificar os motivos apresentados
às mulheres para a traição; também, analisar as decisões tomadas pelas mulheres
para a vida a partir da ocorrência da traição e avaliar a recorrência da
traição nos relacionamentos amorosos das mulheres.
Justifica-se a escolha do tema, pelo fato de muitas
mulheres terem vivenciado situações que envolvam traição. Pasini (2010, p.11)
ressalta que: “Para muitos, a traição começa como um modo de evasão da vida
cotidiana, da areia movediça dos hábitos e das frustrações de cada dia”. Essas
situações deixam marcas na vida das mulheres, pois se trata de traições vindas
de seus parceiros, que resultam em sentimentos e emoções diferenciadas. Ainda
conforme Pasini (2010, p.8) “Uma coisa é certa. As mulheres de hoje, são mais
fortes e seguras, mais afirmativas até no amor, mesmo quando são traídas”.
Atualmente inúmeros casais, por um motivo ou outro, se separam depois de um
tempo de convivência, muitas vezes, alguns casais continuam a viverem
juntos, já outros não suportam o peso da traição e se separam.
2. Fundamentação Teórica
Nesta etapa apresenta-se uma breve revisão da literatura,
que consta, os dados, as ideias e os entendimentos de autores sobre o nosso
tema, trazendo informações literárias e também, em alguns trechos, o nosso
entendimento à respeito do que a literatura especializada expõe.
2.1. A Representação da Mulher no Casamento
Desde a antiguidade as mulheres desempenham papéis
diferenciados dentro do ciclo familiar, destacando-se na prestação de serviços
para garantir o bem estar de sua família, baseados na bondade, fraternidade e
respeito, deixando suas necessidades e vontades pessoais de lado.
Conforme Del Priore; Bassanezi (2006 p. 237) “A
distribuição de papéis [...] revela a crescente santificação da mulher como
mãe, através do sofrimento, enquanto todos os deveres do pai apontam na direção
de ganhar dinheiro para o sustento da família”.
Percebe-se que, desde a antiguidade a mulher é criada para
ser esposa e mãe. Sendo assim, esses papéis exigem dela esforços físicos e
psíquicos consideravelmente maiores e isso acaba sendo desgastante. No entanto,
é possível compreender porque em vários momentos a mulher pensa mais nos outros
e menos em si, pois está preocupada em desempenhar suas funções da melhor
maneira possível.
Ainda, Del Priore; Bassanezi (2006, p. 237) relatam que
“pode-se sentir, por parte da mulher o cultivo da domesticidade e dos deveres
de ser esposa. Toda a fragilidade e, ao mesmo tempo, fortaleza de mãe é
sublinhada”. A mulher por muito tempo foi submetida ao papel de boa esposa e
ótima mãe, a sociedade exigia dela estar desempenhando as funções que
estivessem dentro dos padrões culturais da época. Atualmente, muitas coisas
mudaram: a mais visível é que as mulheres conquistaram mais poder de decisão e,
finalmente, o direito de desejar. (PASINI, 2010).
Para complementar Alves (2000, p. 237):
[...]
Isto significa existir um descontentamento com o passado, uma análise
depreciativa de como as mulheres eram criadas, sua submissão, dos limites
estreitos impostos ao seu movimento dentro dos grupos sociais e às
possibilidades de escolha profissional. A mulher que, agora, mantém atividades
fora do lar, mas ainda é a responsável pelo bom andamento da casa, dos filhos e
do bem-estar do marido. É como se um caldeirão estivesse no fogo, pronto para
entrar em ebulição a qualquer momento [...].
Mesmo com as transformações que vêm acontecendo há décadas,
o papel da mulher na família ainda baseia-se em cuidar dos outros, esse cuidar
exige dela uma energia física e psíquica, trazendo ao mesmo tempo, um cansaço
físico e emocional, consequentemente, torna-se necessário um olhar diferenciado
para essas mulheres que deixam muitas vezes, de cuidar de si para cuidar dos
outros, afinal, amor próprio é fundamental para uma boa saúde mental.
2.2. Relacionamentos Afetivo-Conjugais
O casamento, na versão hiper-romântica, aquela do ‘felizes
para sempre’, é uma instituição mutante, pelo simples fato de que o ser humano
é um ‘eterno incompleto’ e faz parte de um universo em constante transformação.
Neste sentido, a satisfação conjugal total não existe, sempre haverá alguma
questão particular que, de certa forma, faz parte de uma utopia criada pelo
nosso psiquismo. Os tempos mudaram e, por isso, o casamento também mudou.
(MATARAZZO, 2004, p. 29).
Segundo Matarazzo (2004, p. 30) “Aqueles que tentam
preservar os relacionamentos buscam uma conciliação entre o desejo de liberdade
e o fantasma da traição. Querem substituir um contrato sufocante por um mais
flexível isso contribui para o estabelecimento de uniões passageiras
[...]”. Ainda destaca o mesmo autor (2004, p. 70) que:
Para
muitos essa é, de fato, a verdade atual das relações entre os sexos. Mais
cedo ou mais tarde, as desilusões, as feridas emocionais, tendem a
estabelecer os limites. Não importa o quão bem sucedido seja o ato de enganar,
as relações fortuitas costumam ser perigosas e exigem um estado de alerta
permanente.
Sabe-se que, em muitos casos os relacionamentos podem ser
considerados uma farsa, pois em diferentes momentos a pessoa que trai, acaba
por demonstrar sua traição de diferentes maneiras, mesmo que inconscientemente.
Já a pessoa que está sendo traída, receberá essas informações, mas as reações
perante esse fato serão expressas de diversas formas, muitos mesmo sabendo que
estão sendo traídas (os) ou que traem não fazem nada a respeito, negando assim
o conflito com seu parceiro.
Os relacionamentos íntimos tem centralidade na vida adulta
e a qualidade dos mesmos tem implicações não só na saúde mental, mas também na
saúde física, psicológica e na vida profissional de homens e mulheres, ou seja,
os relacionamentos afetivo-conjugais influenciam em nossa qualidade de vida
(NORGREN et al. 2008).
Norgren et al. (2004, p.2) ainda ressalta que:
Satisfação
conjugal é, sem dúvida, um conceito subjetivo, implicando em ter as próprias
necessidades e desejos satisfeitos, assim como corresponder, em maior ou menor
escala, ao que o outro espera, definindo um dar e receber recíproco e
espontâneo. Relaciona-se com sensações e sentimentos de bem-estar,
contentamento, companheirismo, afeição e segurança, fatores que propiciam
intimidade no relacionamento, decorrendo da congruência entre as expectativas e
aspirações que os cônjuges têm em comparação à realidade vivenciada no
casamento.
Para o bom andamento da relação, é importante que o casal
consiga satisfazer suas necessidades, físicas e emocionais, dentre elas o sexo,
ou seja, quando o casal encontra-se em crise por algum motivo estes acabam
apresentando dificuldades em se relacionar. Em muitas situações são as crises
que fazem com que o casal se distancie, buscando a satisfação pessoal e sexual
fora do relacionamento, configurando assim, uma traição ou infidelidade por
parte de um dos parceiros.
2.3. Traição
A discussão acerca da traição nos relacionamentos é um tema
que suscita diferentes opiniões da população no geral. No campo da produção de
conhecimento, alguns autores escrevem sobre o tema, a fim de contribuir para a
elucidação de diferentes questões referentes há infidelidade e traição.
A traição significa a renúncia ao conforto das seguranças
do cotidiano, aos “braços maternos simbólicos”, que reencontramos, no parceiro
e em outras pessoas importantes da nossa vida (PASINI, 2010, p. 32).
Ainda destaca Pasini (2010 p. 32) que “a traição situa-se
na sombra que cada um de nós leva consigo, ou seja, naquele lugar da alma, onde
conservamos as nossas partes íntimas e secretas, e onde está oculta uma grande
quantidade de energia”. Portanto conforme Maldonado (2007, p. 153):
A
traição nem sempre acontece porque o relacionamento está insatisfatório: há
pessoas que, para fortalecer sua autoestima, precisam sempre espalhar o spray
da sedução; há também os que traem para não se sentir aprisionados num único
relacionamento, querem a porta de saída sempre aberta para outras
possibilidades.
Assim, a infidelidade torna-se a consequência natural de
uma personalidade em construção (PASINI, 2010, p. 32). No entanto, a traição
ainda é vista como um tabu na sociedade, muitos casais passam por situações de
infidelidade, mas não tomam atitude, pois o fato de terem que se enfrentar,
poderá gerar conflitos e implicar no término de seus relacionamentos amorosos e
isso faz com que seus sentimentos se tornem negativos e se não forem
adequadamente trabalhados trarão consequências na vida pessoal e social do
indivíduo.
Segundo Matarazzo (2004, p.67) “Há autores que veem a
fidelidade absoluta como uma utopia e, segundo eles, todos nós, de tempos em
tempos, manifestamos o desejo de trair. Quem acredita ser totalmente fiel,
tanto em suas fantasias quanto em seus desejos, em geral está se auto –
enganando”. Ainda conforme Matarazzo (2004, p. 63):
As
infidelidades são sucessiva neste mundo confuso de desordens amorosas, O
contraponto disso são aqueles que trocam a quantidade de envolvimentos pela
qualidade, procuram colocar uma certa ordem e aceitam uma única união, só que
essa tem que ser “perfeita”.
Nos relacionamentos a traição não é algo desejado pelo
casal, mas que muitas vezes acontece, esse fato pode gerar consequências ou até
fortalecer a relação. Tudo isso depende de como é vista (representação) a
traição na vida dessas pessoas, pois em alguns casos ela pode fazer com que o
casal se separe, sendo que um ou até os dois não aceitem ser traídos pelo seu
parceiro (a). Já em outra situação este mesmo ato pode gerar algo positivo,
pois de alguma maneira servirá como base para um recomeço do relacionamento.
A traição pode ser algo bom como pode ser algo ruim,
depende de como está esta pessoa no momento em que ela ocorre. Sua autoestima vai
influenciar na sua decisão, como também vai delimitar suas atitudes perante
esta situação.
2.4. A Psicologia no Contexto da Traição
Destaca Blow; Hartnett et al. ( 2005 apud VIEGAS; MOREIRA,
2013, p.2 ) que: “A investigação e a prática clínica têm mostrado que a
infidelidade é uma das experiências mais difíceis, complexas e exigentes para
os casais, e constitui uma das razões mais apontadas para a procura de terapia
de casal e para o divórcio”.
É importante estudar o que leva as pessoas a considerar um comportamento
como sendo ou não infidelidade, e esta como mais ou menos grave. (PASINI,
2010). Uma pessoa que tem o histórico de autoestima baixa, complexos de
inferioridade, vai agir de maneira diferente do que outra que está com sua
autoestima elevada. Pode-se levar em conta que existem vários atos que podem
ser considerados como traição, dependendo do contexto que cada pessoa foi
criada e o que ela considera como certo ou errado.
Neste sentido, menciona Schade; Sandberg (2012 apud VIEGAS;
MOREIRA, 2013, p.2) que:
A
partilha de intimidade sexual e/ou emocional com um terceiro elemento é sentida
como uma quebra do compromisso e da confiança entre os parceiros. A conjugação
entre investimento amoroso e julgamentos de traição abala a estabilidade e a
segurança que estão na base do compromisso.
Torna-se importante ressaltar que, as pessoas têm
percepções diferentes a respeito da traição ou da infidelidade, isso depende de
como as mesmas tiveram suas experiências pessoais, de como foram suas vivências
em grupo ou individual, portanto, todos temos diferentes opiniões, vivemos em
contextos diferentes e consequentemente nossas ideologias e nossas maneiras de
agir e de pensar são diferentes, nesse contexto deve-se levar em conta o porquê
da dificuldade ou facilidade de determinada pessoa lidar com a traição.
3. Metodologia
De acordo com as características e objetivos acerca do tema
de pesquisa escolhido, optou-se pelo método de pesquisa qualitativa, pois este
é o mais apropriado aos objetivos no presente estudo. Conforme Bardin (2000, p.
21) análise qualitativa é a presença ou a ausência de uma dada característica
de conteúdo ou de um conjunto de características num determinado fragmento de
mensagem que é tomado em consideração.
A amostra constituiu-se por quatro mulheres na faixa etária
entre vinte e cinquenta anos de idade. Como critério de escolha das
participantes foi considerado a acessibilidade e conveniência, sendo que, essas
mulheres já tenham passado por situações de traição em relacionamentos que
tenham durado no mínimo um ano.
Para a coleta de dados: utilizou-se como instrumento o
gravador e o questionário, como a técnica a entrevista semiestruturada. Segundo
Bardin (2011, p. 93): “Entrevistas semi diretivas (também chamadas com plano,
com guia, com esquema, focalizadas, semiestruturadas) mais curtas e mais
fáceis: seja qual for o caso, devem ser registradas e integralmente
transcritas”. Desta maneira, foi organizada a partir de um roteiro previamente
elaborado, a qual estava composta de questões relacionadas aos objetivos da
pesquisa e alguns dados pessoais dos participantes. As entrevistas foram
realizadas com cada participante separadamente, a fim de possibilitar aos
indivíduos uma maior liberdade para expressarem seus sentimentos, emoções e
relatos espontâneos da sua experiência. A aplicação das entrevistas aconteceu
nos meses de julho/agosto de 2014.
Ao entrar em contato (por telefone) com as participantes
foi explicado para as mesmas o objetivo da pesquisa, do que se tratava e para
qual fim seria utilizada. Após, os esclarecimentos, (pessoalmente) foi
apresentado o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), onde consta a
autorização e assinatura, explicitando que a participação delas foi sigilosa e
voluntária, sem custos financeiros para as entrevistadas.
As entrevistas foram gravadas, posteriormente transcritas e
por questões éticas utilizou-se nomes fictícios para garantir os seus direitos.
A partir das entrevistas realizadas foi analisado o material obtido de acordo
com a Análise de Conteúdo. Segundo Bardin (2000, p. 42):
Um
conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos,
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores
(quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção, recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Diante do exposto, foram abordados os temas predominantes
nas falas das participantes e analisadas com base nos conteúdos evocados por
cada participante.
4. Apresentação e Análise dos Dados
Neste item será apresentada a discussão dos resultados.
Inicialmente, será abordado o perfil das quatro participantes, para que assim
possibilite um melhor entendimento do contexto pessoal da vida de cada uma
delas. Lembrando que, utilizamos de nomes fictícios para não comprometer a
identidade das entrevistadas.
a.
BÁRBARA tem
48 (quarenta e oito) anos de idade, no momento está em uma união estável,
cursou até a oitava série do ensino fundamental, atualmente trabalha como
vendedora, embora já esteja aposentada. Sendo que, Bárbara reside com sua filha
e seu atual parceiro no município de Guaraciaba-SC.
b.
BEATRIZ tem
46 (quarenta e seis) anos de idade, no momento está divorciada, ela cursou até
a quarta série do ensino fundamental, trabalha como empregada doméstica em
diversas residências. Beatriz reside atualmente no município de Guaraciaba-SC,
possui três filhos, uma mulher e dois homens, porém reside com seus dois filhos
homens.
c.
BIANCA tem
24 (vinte e quatro) anos de idade, trabalha como vendedora, está cursando
ciências contábeis. Atualmente reside em Guaraciaba – SC, mora com sua mãe e seu
irmão. Bianca está em um relacionamento sério com um novo parceiro há mais de 1
(um) ano.
d.
BRUNA Tem
23 (vinte e três) anos de idade, atualmente reside em Anchieta-SC, onde mora
com seu atual parceiro (marido). Bruna tem um filho de 2 (dois) anos e está grávida
de um menino. Possui nível superior completo em assistência social, porém,
atualmente trabalha em sua própria empresa no munícipio.
A partir da análise realizada do perfil das entrevistadas,
percebeu-se que, haveria necessidade de apresentar e desenvolver os dados
coletados em forma de categorias, para que assim, possibilitasse a discussão
dos pontos mais importantes que foram identificados no decorrer da análise. A
seguir apresentaremos as categorias abordadas: Relacionamento e convivência;
Condicionantes de traição e Projeções para a vida a partir da traição;
4.1. Relacionamento e Convivência
Com relação à primeira categoria, pode-se observar que, nas
relações amorosas, podem ocorrer dificuldades nos relacionamentos e
convivências com os parceiros, sendo que, muitas dessas dificuldades estão
relacionadas com a atribuição de papéis que são culturalmente estabelecidos
pela sociedade. Desta forma, Buckner (2013, p. 19) relata que: “O casamento era
a escola da abnegação em tudo, devemos aprender a sofrer em silêncio”.
A seguir veremos algumas colocações da entrevistada a
respeito deste assunto:
Nunca
trair um ao outro, quem morrer primeiro o outro fica sozinho, não poderá casar
mais. Mas não deu muito certo. Viver juntos até ser velhinhos (Beatriz).
Conforme o relato de Beatriz percebe-se que, ela acreditava
que seu relacionamento/casamento deveria ser eterno, portanto ela não cogitava
a hipótese de viver sozinha, o isso dificultou a vida pessoal dela. Embora ela
não tenha relatado percebemos que prevalecem sentimentos de solidão e medo do
desconhecido, pois foi algo surpreendente e inesperado, houve uma perda muito
significativa para ela, pois sua expectativa de viver um “conto de fadas”
terminou sem um final feliz.
Algumas mulheres escolhem seus parceiros e ficam com eles,
se não para sempre, por um bom tempo. Essa decisão de trocar de parceiros não é
uma decisão simples. Para Schnebly
(1994, p.13): “[...] ninguém gosta de sentir-se desamparado
e dependente”, pois, o medo e a insegurança prevalecem em vários momentos na
vida das mulheres [...].
[...]
Tipo foi um relacionamento que começou bem, mas depois foi se acostumando de um
jeito errado, desagradável, foi indo, foi indo (Bianca).
Os
primeiros cinco anos foram bons, depois começou o ciúme, muito ciúme, maus
tratos, ele não me respeitava mais, não tinha mais confiança, casamento sem
sucesso, dai ficamos juntos até onde deu (Beatriz).
Estas participantes relataram que inicialmente os
relacionamentos eram bons, mas com o passar do tempo se tornaram difíceis.
Diferente de Bianca e Beatriz as participantes a seguir, relataram que viviam
“bem” com seus parceiros, porém com o passar o tempo esse conceito foi se
modificando dentro do relacionamento afetivo.
Segundo Viegas e Moreira (2013, p.2): Não existem dúvidas
de que a ocorrência de julgamentos de infidelidade tem importantes
consequências negativas nas relações de casal.
A
gente vivia super bem, nunca brigava, ele era um homem alegre, a única coisa
que ele não era responsável, o problema dele é que ele era “galinha”, mas em
casa ele não era de brigar, ele era um homem bom para mim, mas ele queria ser
livre, e tinha um coração muito bom (Bárbara)
Às
vezes tranquilo, às vezes tumultuoso, às vezes bom, às vezes ruim, eu acho que
como todo o relacionamento, tinha a parte boa e tinha a parte ruim, lógico que,
logo antes da gente terminar o nosso relacionamento estava muito mais para ruim
do que para bom (Bruna)
Outro dado que foi enfatizado por Bárbara e Bruna diz
respeito, à uma relação onde tudo parecia ser “tranquilo”, porém, muitas vezes
durante a entrevista, ambas relataram que seus parceiros não eram tão bons
quanto elas diziam ser, ou seja, aparentemente há uma negação da verdadeira
realidade dos casos, pois como disse Bruna, “o
nosso relacionamento estava muito mais para ruim do que para bom”.
Segundo Ballone (2011, p.6):
O
universo psíquico humano sempre recorreu ao autoengano para alívio dos grandes
conflitos e complexos. Nessas situações de separação também se recorre ao
autoengano, na maioria das vezes inconscientemente. Deve ser enfatizado, mais
uma vez, que as pessoas deixadas e que se sentem “perplexas por terem sido pegas de surpresa”, na realidade
talvez não tenham observado bem os indícios do que estava para acontecer, tal
como uma espécie de negação de fatos que não se quer ver.
A seguir, a fala das participantes relata essa realidade.
Porque
ele nunca parava em casa, dizia que iria caçar pescar, mas ia atrás das
mulheres, não se importava com nós. Ele se preocupava só com ele, ele não
ficava nenhum final de semana em casa, saia de sexta de noite e voltava na
segunda-feira, dai a gente começava a discutir por causa disso e as amizades
dele era só “putaria” (Bárbara).
Traição,
mentira, muita mentira, mentira ao extremo. Ele mentiu sobre tudo [...].
(Bruna).
Como percebe-se, nesse contexto as entrevistadas citaram a falta
de confiança existente nos relacionamentos, ou seja, não havia um círculo
de confiança no relacionamento, sendo que, esses vínculos são essenciais para o
bom andamento de uma relação. Podemos identificar nas falas das participantes,
que mesmo apesar das discussões, traições, mentiras enfim, elas permaneceram
com seus parceiros por mais algum tempo, ou seja, mesmo passando por
dificuldades os casais continuaram juntos.
É interessante observar que Bianca relata as dificuldades
de se expressar/dialogar com seu parceiro, ou seja, a importância de conversar,
ser ouvida e compreendida por ele. No relato identificamos que ela se sentia
prejudicada por não conseguir conversar civilizadamente com ele,
consequentemente as dificuldades no relacionamento foram aumentando.
[...]
Tipo assim, quando tu queria conversar alguma coisa com ele, tu não conseguia
conversar, era só briga, eu puxava o assunto, ele me chamava de burra, boba,
idiota, tu está inventando coisas, está com minhoca na cabeça, ele falava. Às
vezes ele era bem ignorante sabe?[...] (Bianca).
As dificuldades são comuns nos primeiros anos de
relacionamento, por tratar-se de uma relação que até então são de pessoas
diferentes que não possuem uma ligação ainda estabelecida. Portanto, é
importante que se estabeleça vínculos afetivos, boa convivência, respeito,
aceitação das ideias do outro, para que assim, ambos estejam “abertos”
para conhecer e compartilhar das perspectivas do outro (AMARAL, 2010).
4.2. Condicionantes de Traição
Quando o casal decide manter um relacionamento, são
necessárias algumas mudanças na vida das pessoas em individual para conjugal.
Têm de se habituar a viver uma vida a dois, é preciso ser amigo, é preciso ser
“esposa e marido”.
Neste aspecto, buscou-se conhecer um pouco mais do que condicionou
a desestruturação do relacionamento, consequentemente levando à traição.
Motivo
nenhum, ele dizia que era mentira. Ah que ele se envolveu com ela e tinha pena
dela, que não conseguia sair fora. Ele era consciente do que fazia, mas mesmo
assim não mudava (Bárbara).
Sempre
dizia que queria se aparecer, fez bobeira e virou sério, não podia mais cair
fora e tinha que pagar pelo erro, assim que ele falava, achou que eu nunca iria
mandar ele embora de casa (Beatriz).
Entretanto, pode-se identificar que nos comentários citados
anteriormente, os companheiros das participantes não justificaram sua traição,
embora tenham falado sobre ela, relataram ter dificuldades em terminar com a
amante.
A descoberta da infidelidade representa quase sempre uma
séria crise relacional para o casal, ocorre à perda de uma perspectiva de
futuro e a sensação de não controle, que tornam a recuperação da relação
afetiva do casal muito incerta (VIEGAS; MOREIRA, 2013).
[...]
eu acabei descobrindo pela minha ex sogra, num momento de desespero, ela soube
que a gente tinha brigado, e me ligou chorando pedindo porque a gente tinha
brigado? ai eu falei, porque ele não colaborava, daí ela falou assim: ah tu tem
que ficar com ele, porque a menina de São Miguel não quer mais a criança, como
que ele ia criar uma criança sozinho? ela me falou isso. Aí o meu mundo acabou
(Bianca).
É interessante observar no discurso de Bianca, que embora
seu namorado não tenha relatado, ele mantinha um relacionamento extraconjugal,
do qual acabou engravidando a outra mulher. A forma pela qual Bianca descobriu
esta relação foi através de sua sogra, deixando claro que, ela precisava se
adaptar a essa nova vida e conviver com essa realidade.
Após essa descoberta, Bianca falou “Aí o meu mundo acabou”, isso lhe trouxe
muita dor e sofrimento. Entretanto, percebemos que os sentimentos que
permaneceram em Bianca, eram de medo, solidão, insegurança e raiva, pois essa
estabilidade que ela acreditava ter acabou gerando diversos conflitos pessoais.
Meu
Deus, na verdade quem me contou foi uma ex. cunhada e uma amiga minha, eu já
desconfiava, elas viram ela no carro com ele e me contaram, na verdade todos
sabiam só eu que não sabia. Ele era um homem bom, mas tinha esse defeito de não
parar em casa. Ele correu atrás de mim, mas eu não quis mais. A gente
casou novos, sei lá (Bárbara).
Primeiro
eu já desconfiava, a gente sente que está diferente, depois por meio de amigos,
depois eu mesma descobri. (Beatriz).
Com relação aos relatos das entrevistadas, percebe-se que,
a infidelidade de seus parceiros foi exposta para outras pessoas, tanto que
estas pessoas contaram para elas. Embora ambas tenham relatado já estarem
desconfiadas da traição, pois havia indícios de que algo estava acontecendo.
Fife; Weeks; Gambescia (2008 apud VIEGAS; MOREIRA,
2013, p.2) complementa que:
Não
existem dúvidas de que a ocorrência de julgamentos de infidelidade tem
importantes consequências negativas nas relações de casal. [...] a partilha de
intimidade sexual e/ou emocional com um terceiro elemento é sentida como uma
quebra do compromisso e da confiança entre os parceiros.
Geralmente, relacionamentos conflituosos envolvem brigas e
discussões, principalmente quando se fala na questão afetiva do casal, são
diversos os problemas que surgem na relação e consequentemente eles trazem
outros problemas, um deles, é quando as pessoas ignoram fatos que ocorrem,
tentando negar algo que está prestes a “destruir” a rotina do casal, pois eles
querem se proteger de algo que na verdade já não traz mais a tranquilidade e a
segurança que trazia anteriormente.
Veem-se algumas mudanças que ocorreram na relação das
participantes, após um tempo de convivência:
Que
ele mudou bastante, me maltratava e tudo o que ele fazia acusava que era eu,
sempre mentindo (Beatriz).
Só o
fato dele não ficar em casa já chega! (Bárbara).
Quando um dos parceiros recorre à infidelidade, ele está
retratando algo que de fato pode estar “faltando” na relação do casal, ou seja,
quando existe uma relação conflituosa pode ocorrer essa desestruturação que
leva a busca de uma satisfação fora do relacionamento. Neste mesmo contexto, é
importante ressaltar que, existem mudanças perceptíveis no relacionamento e na
convivência do casal, essas mudanças podem gerar discórdias e desconfianças.
A constatação da traição causa um grande sofrimento e
desestrutura a pessoa, pois, de certa forma, perde-se o sentimento de “posse”
da outra pessoa, que era sua garantia. Isso pode produzir desencanto,
desilusão, desapontamento e decepção (BALLONE, 2011, p.2).
Eu
acho que ninguém fica feliz né, eu me senti na época um trapo humano, eu me
senti muito triste, fiquei muito magoada [...] (Bruna).
Era
chato, eu sentia muita raiva dele, eu só queria que ele sumisse da minha frente
(Bianca).
Ah,
ah, ah Deus, me senti sem chão, muito triste, meu Deus, eu sei lá, quem me
segurou foi minha filha, foi muito triste da forma que foi, ele ficava por ai
ao público com ela e nós nem separados estávamos, sei que para mim meu mundo
acabou (Bárbara).
Fiquei
louca, muito magoada, deu Depressão, me internei, tentei me suicidar, vontade
de matar, de sumir, bastante vergonha, me escondia de todos, não queria
ver ninguém, não sai de casa por um bom tempo (Beatriz).
As entrevistadas de uma forma geral registram que, os
sentimentos que surgem são negativos, trazem desconforto, sofrimento e falta de
confiança, que está interligada com a ausência e a falta de participação do
parceiro na vida delas, assim, criando uma “barreira” no relacionamento dos
dois. Como se pode perceber, foi difícil para elas aceitar a perda da “pessoa
amada”, por exemplo, Beatriz relatou “tentei
me suicidar, vontade de matar, de sumir”, esse sentimento de perda
leva a uma vivência de um luto, que surge pela perda de uma pessoa ou um objeto
amado, não necessariamente pela morte de algo ou alguém, pois, quanto mais
apego a pessoa tem mais ela irá sofrer pela perda desse relacionamento.
Ressalta Beaumont (2011, p.61) que, “algumas vezes a
rejeição e a traição ferem tão fundo que aparentemente a única forma de aliviar
a dor é destruir a pessoa que nos traiu”.
Sentimento
de tristeza, desprezo, sabe lá, nem sei. Pior que isso não tem. Eu pensava que
se ele tivesse morrido não seria tão triste, ele aprontava na minha frente e eu
não podia fazer nada (Bárbara).
Além
de raiva... Tristeza, eu ficava deprimida, me achava um lixo sabe, me sentia
isolada, sozinha e o pior de tudo que eu não tinha ninguém para contar
(Bianca).
Pereira (2013, p. 21) comenta que “[...] a compulsão de
destino, na qual as pessoas se colocam ativamente nas mesmas situações
desprazerosas. Elas sentem-se vítimas de uma espécie de destino maligno. Vivem
como se fossem condenadas a um castigo repetitivo [...]”. Como relatou Bárbara
“ele aprontava na minha frente e eu não
podia fazer nada”, ou seja, a participante se colocou como incapaz
frente a esse acontecimento, quando na verdade ela poderia sim ter feito algo
com relação á infidelidade.
Veem-se pelas afirmações das participantes com relação à
repetição da infidelidade de seus parceiros.
Se
fosse uma vez eu tinha perdoado, mas depois não deu mais. Perdoei três vezes depois
não deu mais. Fomos até para a delegacia, ele não pode se aproximar de mim
(Beatriz).
Boa
pergunta. Não foi a única vez. Eu tenho certeza de duas e fora o que os outros
falam. Pode ser que ele teve mais, mas eu não sabia (Bárbara).
Aquelas
que eu sei, são quatro vezes ou cinco (Bianca).
Outro dado a ser enfatizado nos relatos das participantes,
dizem respeito à suportabilidade de eventos ruins. Muitas vezes estes fatos
ocorriam por determinado tempo na vida delas, esses eventos de infidelidade e
de maus tratos físicos e psicológicos vinham ocorrendo há algum tempo. Neste
sentido, compreende-se porque foi tão difícil a quebra desses vínculos com seus
parceiros, pois essas mulheres estavam de certa forma, vivendo e revivendo
situações que traziam prazer e desprazer. No entanto, as participantes depois
de certo tempo conseguiram “abandonar” esse sofrimento, essa “repetição”,
buscando novas perspectivas para suas vidas.
Contudo, apesar dos aspectos negativos, nem todas as
influências para a vida dessas mulheres são ruins. É preciso passar pelo
processo da dor e da perda, porque, é necessário que a pessoa conviva com esses
momentos ruins, para que, ela consiga se recuperar, se esse processo não for
vivido esse sofrimento vai prevalecer e reaparecer futuramente na vida
dessas mulheres, impossibilitando uma recuperação “saudável”.
4.3. Projeções para a Vida a Partir da Traição
Quando a pessoa tem sua autoestima elevada, será menos
conflituosa a decisão de romper com seu parceiro. Mas, dependendo de como a
pessoa se encontra psicologicamente, será mais difícil aceitar que tudo chegou
ao fim e suas reações podem ser limitadas, pois suas perceptivas de futuro
estão relacionadas com o fracasso e com a falta de confiança em si para superar
qualquer evento. Para confirmar tal afirmação Ballone (2011, p.4) relata que:
“O ego da pessoa com baixa autoestima pode ter necessidades do se afirmar
‘sobre o outro’ ou, igualmente ruim, pode estimular a pessoa a testar sua
capacidade de sedução sobre outras pessoas [...]”.
A seguir algumas mudanças que ocorreram na vida das
participantes após a descoberta de um evento de infidelidade:
Na
última traição eu decidi largar dele, pensei assim, chega não quero isso para
mim, e sai de casa fui morar com minhas amigas (Bianca).
Deixar
dele não quis mais ele, não compensa não vale a pena você está com alguém que
mente para você, que te trai, uma pessoa que é falsa. A partir disso eu passei
a ser muito mais desconfiada. Eu tive muita, tenho ainda, muita dificuldade em
confiar nas pessoas em algumas pessoas, eu sou muito desconfiada [...] (Bruna).
Ainda sobre a decisão da separação Buckner (2013, p. 28)
relata que: “há casais que passam a vida inteira ameaçando ir embora e morrem
sem se separar, de mãos dadas”. A decisão da separação vinda das participantes,
foi um evento que veio se prolongando com o passar do tempo e dos
acontecimentos, percebe-se que, nos relatos das mesmas ficou claro que além das
traições conjugais, haviam outros problemas relacionados com afetividade,
confiança e respeito.
Conforme Silva (2008, p.3):
Deve
considerar que, por mais que pareça que o motivo de uma separação seja um
evento único, dificilmente o será. Uma separação é resultado de uma sequência
de acontecimentos que vêm desde a escolha do parceiro (e seus motivos),
passando pelos mais diversos acontecimentos do dia-a-dia, podendo chegar a
algum evento mais específico. Esses eventos ao longo do relacionamento vão
desgastando aos poucos e tornam os parceiros menos afetuosos e mais propensos à
violência.
Também, pode-se dizer que o casal sofre alterações em seu
relacionamento, muitas são negativas e que vem ocorrendo com mais frequência
com o passar do tempo, isso prejudica o relacionamento à dois, quando um dos
cônjuges não está satisfeito com a relação, ele muitas vezes busca se auto
satisfazer em outra relação. Assim sendo, os condicionantes de traição vão além
de motivos internos, sofrem influências do ambiente em que vivem, ou seja, se
há problemas de convivência ou problemas financeiros que afetam o casal, um dos
parceiros poderá buscar “preencher” esse espaço que existe na relação com outra
pessoa.
Não é tarefa fácil aceitar os motivos pelos quais as
pessoas traem. Para isso visualiza- se algumas opiniões das entrevistadas a
seguir:
Não
sei. Talvez a pessoa esteja descontente, talvez seja uma forma de escape da
pessoa, eu não sei o que se passa na cabeça da pessoa, tem pessoas que
simplesmente precisam trair sem justificativa, simplesmente traem, vai saber
por quê? Eu acho que é muito de pessoa para pessoa, cada pessoa tem uma visão e
se faz porque pensa de algum jeito, não sei qual não entendo (Bruna).
(silêncio)
Eu só sei que não tem explicação, se você está com a pessoa para que trair? Não
é necessário sair com outra pessoa, para se auto satisfazer (Bianca).
Porque
elas não têm sentimentos, acredito, eles agem pela razão e não pelo coração.
Não tem sentimento de amor com a pessoa [...] (Bárbara).
Conforme o relato de Bruna, Bianca e Bárbara fica exposto á
dificuldade em compreender os motivos da traição de seus parceiros. Embora elas
tenham relatado que as pessoas podem trair para se auto satisfazer ou por
estarem infelizes, ainda acreditam que depende da individualidade de cada um, “Eu acho que é muito de pessoa para pessoa, cada pessoa
tem uma visão”. Já para Bárbara as pessoas traem por egoísmo e
falta de sentimentos pelos outros.
Neste aspecto, Ballone (2011, p.4) comenta que “[...] surge
uma necessidade em se convencer ser desejável. O comportamento para testar tais
necessidades favorece a vulnerabilidade à traição”.
Eu
acho que a separação é a coisa mais triste, a pessoa vai para o fundo do poço,
desestrutura uma pessoa, deixa as marcas, coisa bem triste. Em primeiro lugar
acaba, tanto emocionalmente, como financeiramente, ali você segue um plano do
futuro, daí quando desmorona você não sabe o que fazer, ainda mais quando tem
filhos, porque envolve eles (Bárbara).
A
pior coisa que uma mulher pode sentir é muito difícil (Beatriz).
Como se pode perceber, a pessoa traída ou “substituída” se
mobiliza pela frustração da perda, da mentira, pela deslealdade do parceiro e,
também, pelo constrangimento familiar e social. Os sentimentos que a
infidelidade mais desperta nas pessoas traídas, são de mágoa, contrariedade,
raiva, arrependimento, ânsia de vingança ou revanche. É comum, nessas situações
que os sentimentos se choquem um com o outro, havendo uma mistura de emoções e
a pessoa experimenta diferentes sensações e frustrações (BALLONE, 2011 p.2).
(silêncio)
A primeira vez que ele me traiu, tipo eu nunca contei isso para ninguém, porque
eu sei que é errado, mas... A primeira vez eu dei o troco, eu trai ele também,
e me arrependo disso, só que ele não sabe, e nunca desconfiou, porque apesar de
ele sempre me chamar de burra, eu não fui nem um pouco burra (Bianca).
Não pode-se deixar de ressaltar que esta participante
relatou já ter traído seu parceiro, mesmo considerando a traição um ato ruim e
errado, ela decidiu trair para dar o “troco”, ou seja, decidiu trair porque foi
traída. Essa decisão que partiu de Bianca retrata o desejo que ela tinha de se
vingar, mas ao mesmo tempo é um reflexo do que ela queria provar para si mesma
ser desejável, que ela também tinha a capacidade de trair, de ser desejada por
outro ser que não seu parceiro, ou seja, ela mostrou para si mesma ser capaz.
5. Considerações Finais
Esta pesquisa teve como propósito compreender a dinâmica
que envolve temas sobre as vivências humanas, bem como os relacionamentos, a
traição na vida das mulheres, as relações afetivas envolvidas, também os
sentimentos presentes no momento da descoberta da traição, e as diversas
consequências para a vida. A pesquisa realizada junto às mulheres demonstra
que, a traição causa um grande impacto na vida das pessoas, sendo que, existem
sentimentos negativos como, raiva, desprezo, solidão, medo, insegurança entre
outros. Desta forma, quando o vínculo afetivo entre o casal se quebra por algum
motivo, acarreta sequelas na relação e na vida pessoal de cada um.
O presente estudo possibilitou compreender o porquê da
recorrência de eventos de infidelidade na vida dessas mulheres. Como foi
verificado há a presença da compulsão em aceitar eventos negativos, isso está
relacionado com o perfil particular de cada uma, com os aspectos culturais,
ambientais, econômicos e a maneira como foram criadas.
As participantes demonstraram que apesar de todas as
dificuldades enfrentadas durante o período de traição, elas conseguiram
terminar os seus relacionamentos, e assim consequentemente romperam uma relação
que já vinha se deteriorando com o tempo.
Além disso, as entrevistadas vivenciaram as traições de
maneiras distintas, inclusive as decisões que tomaram a partir desse evento
foram diferenciadas, para algumas a decisão da quebra do vinculo foi imediata,
já para outras a decisão envolvia filhos e situações socioeconômica, isso levou
elas a tolerar a infidelidade e a convivência com o parceiro por um
período maior.
Atualmente, elas conseguem falar e relembrar o acontecido,
como um evento do passado que trouxe novas perspectivas para a vida delas.
Contudo, esse acontecimento ainda traz a tona sentimentos que precisam ser
trabalhados para que haja uma “superação” e “aceitação” da perda que se
ocorreu. Percebe-se que uma das participantes ainda está bem “fragilizada”,
inclusive ela recorreu á tentativa de suicídio após descobrir que seu parceiro
estava lhe traindo.
No entanto pensa-se que este estudo poderia ser estendido a
uma população ainda maior, realizar este trabalho com ambos os sexos,
possibilitaria, uma compreensão maior referente à traição em aspectos
diferentes de cada gênero, para que assim se verifique os motivos que cada um
utiliza para justificar sua traição.
Porém, não se pode deixar de ressaltar, que as traições
trazem consequências negativas para as relações, mas em alguns casos elas podem
ser encaradas como um evento positivo,
desde que o casal se possibilite compreender a dinâmica da
relação conjugal/afetiva, levando a infidelidade como uma barreira a ser
quebrada, com o objetivo de superar esse evento traumático, trazendo a tona
sentimentos que estavam “adormecidos” na relação.
Conclui-se que, a vida dessas pessoas é repleta de
sentimentos negativos, mas com a busca de um tratamento psicológico que,
engloba também, a resiliência de cada indivíduo, poderá haver um alívio das
tensões, medos e angústias relacionadas à infidelidade, principalmente no que
se refere às participantes que relataram serem “injustas” com seus atuais
parceiros em decorrência da traição que sofreram nos relacionamentos
anteriores.
“O homem pode amar o seu semelhante até o ponto de morrer
por ele; mas não o ama tanto que trabalhe em seu favor” (Pierre Proudhon).
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