Transtorno de Ansiedade Generalizada: uma Abordagem
Farmacológica e Psicoterapêutica
Na sociedade moderna, a introdução de novas tecnologias,
bem como a velocidade de informações e o ritmo de trabalho, fez com que as
pessoas modificassem seu estilo de vida para que pudessem se adaptar a um novo
contexto social. Devido a exigências como essa, as pessoas começaram a
desenvolver várias patologias relacionadas ao estresse, ansiedade e fobia.
Os transtornos de ansiedade constituem um grupo com maior
prevalência dentro dos transtornos psiquiátricos. Esse grupo inclui fobias
específicas, agorafobia, transtorno do pânico, de ansiedade generalizada, de
ansiedade social, obsessivo-compulsivo, de estresse pós-traumático e de
estresse agudo (NETO; GAUER; FURTADO, 2013).
O objetivo desse estudo é conceituar, detalhar e discutir
sobre o Transtorno de Ansiedade Generalizada e para isso foi realizada uma
revisão bibliográfica onde se buscou nos bancos de dados da Scielo, Medline,
Bireme, assim como em livros, estudos que descrevessem sobre o assunto. Os
artigos selecionados foram publicados na língua portuguesa no período entre
1995 e 2013 e todos apresentaram dados relevantes e foram incluídos nesta
revisão.
O tema foi dividido e subdividido no desenvolvimento em:
prevalência e incidência, comorbidades, etiologia, sintomas, diagnóstico e
possíveis tratamentos. Essa divisão teve o intuito de obter uma melhor clareza
na leitura e compressão do tema abordado.
2. Desenvolvimento
2.1 Conceito de Ansiedade
Ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo,
apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de
perigo, de algo desconhecido ou estranho (ANA et al., 2000). Constitui-se como
resposta a uma possível ameaça desconhecida, vaga. Pode-se afirmar que a
impossibilidade do ser humano em dar sentido a determinadas situações é, de
longe, o maior gerador de ansiedade possível de vivenciar. Estar ansioso não é
algo incomum, é preciso saber identificar e diagnosticar quando esse estado
deixa de ser fisiológico, se tornando transtornos psiquiátricos.
2.2 Conceito de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
Antes da publicação da revisão da terceira edição do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III-R), a conceituação do
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) não era definida. Em DSM-III-R e
DSM-IV foi definido então que TAG é a preocupação crônica e excessiva, assim
como a expectativa apreensiva do futuro, sendo um estado prolongado de
ansiedade, flutuante que não chega a crises de pânico ou a fobias, não tendo
motivo justificável (CRAIGHEAD; MIKLOWITZ, 2008; CASTILLO et al., 2000).
Segundo Clark e Beck (2012) o transtorno de ansiedade
generalizada é um estado persistente de ansiedade envolvendo preocupação
crônica, excessiva e invasiva que é acompanhada por sintomas físicos ou mentais
de ansiedade que causa sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento
diário.
2.3 Prevalência e Incidência
Os quadros psiquiátricos mais comuns tanto em crianças
quanto em adultos, são os transtornos ansiosos. Estima-se que, durante a vida,
a prevalência desses é de 9% para as crianças e 15% para os adultos. A
estimativa é crescente e alarmante devido ao alto índice de ocupação
intelectual, carga-horária de trabalho e/ou estudo, assim como a pressão
proporcionada por esses, desde muito cedo (GREBB; KAPLAN; SADOCK, 2011; BUENO;
FILHO; NARDI, 1996; NETO, 1995).
Sobre a população em geral, a incidência de desenvolver o
TAG é de cerca de 4 a
6%, sendo esse, o provável transtorno psiquiátrico que mais aflinge as pessoas.
A proporção de mulheres para cada homem afetado é de 2 para 1. Mas, segundo
Benjamin e Virginia (2008),a razão de mulheres para homens que recebem
tratamento hospitalar para o transtorno é de 1 para 1.
É possível que o TAG se inicie em qualquer idade, tendo
maior frequência na segunda década de vida, justamente a fase da vida que tende
a ser mais conturbada para os jovens entre 20 e 30 anos (CRAIGHEAD; MIKLOWITZ,
2008; CASTILLO et al., 2000).
2.4 Comorbidades
O estudo das comorbidades auxilia na investigação da
etiologia e possivelmente melhora o prognóstico do transtorno, de forma que
tanto no campo psiquiátrico, como no psicoterapêutico, ele auxiliará na
realização de diagnósticos mais precisos e intervenções mais eficazes (MENEZES
et al., 2007)
De acordo com Benjamim e Virginia (2008), o transtorno de
ansiedade generalizada é provavelmente o que coexiste com mais frequência com
outro transtorno mental, em sua maioria fobia social, fobia específica,
transtorno do pânico ou transtorno depressivo; é possível que 50 a 90% dos pacientes com
esse diagnóstico tenham outra condição mental.
Até 25% das pessoas com TAG eventualmente experimentam
transtorno do pânico e uma alta porcentagem tem chance de desenvolver
transtorno depressivo maior. Outros transtornos comuns associados incluem
transtorno distímico e transtornos relacionados ao uso de substâncias (SADOCK,
2008).
2.5 Etiologia
A causa do TAG não está amplamente conhecida. Acredita-se
que fatores psicossociais e biológicos estão envolvidos e operam em conjunto,
na maioria das vezes, sendo um não excludente do outro.
2.5.1 Fatores psicossociais
Os fatores psicossociais são explicados pela má
interpretação da realidade por parte dos portadores de TAG, isso se justifica
pela seletividade da atenção a detalhes negativos do ambiente.
As duas principais escolas de pensamentos sobre fatores
psicossociais responsáveis pelo desenvolvimento de TAG são a
cognitiva-comportamental e a psicanalítica (SADOCK, 2008).
Para a escola cognitivo-comportamental, os pacientes que
sofrem desse transtorno respondem errado aos perigos que percebem; já a escola
psicanalista, acredita na hipótese que a ansiedade gira em torno de conflitos
inconscientes não bem resolvidos.
2.5.2 Fatores biológicos
Baseando-se nos fatores biológicos, as hipóteses giram em
torno de anormalidades neuroquímicas no paciente portador de TAG, que envolve
os sistemas GABA, noradrenérgico e serotoninégico.
Uma desregulação do receptor regulatório GABAa é observada
em pacientes com TAG e vem sendo envolvido nas hipóteses sobre sua etiologia.
Como suporte para esta teoria está o fato de que os sintomas são tratados de
modo eficaz com facilitadores de GABAa, como os benzodiazepínicos e
barbitúricos (NETO; GAUER; FURTADO, 2013).
Segundo Benjamin e Virgínia (2008), outras áreas que têm
sido, por hipótese, envolvidas no TAG são os gânglios da base, sistema límbico
e o córtex frontal. Percebe-se que a taxa metabólica apresenta-se inferior nos
gânglios da base e substância branca em pacientes com esse transtorno.
2.6 Sintomas
O que diferencia o TAG dos outros transtornos é a
preocupação excessiva e contínua com coisas pequenas, banais, já que os demais
se dão por crises pontuais, por motivos específicos (BARLOW; DURAND, 2008).
O estado do transtorno gera sintomas somáticos que
comprometem significantemente o indivíduo no que diz respeito ao social,
ocupacional e que na maioria das vezes acentua o sofrimento.
Os principais sintomas no TAG, podem ser divididos em três
subgrupos: tensão motora, hiperatividade autonômica e vigilância cognitiva. O
primeiro é caracterizado por dores, tremores, cefaleia tensional e inquietação;
os sintomas de hiperatividade autonômicos são sudorese excessiva, palpitações,
vertigens e, comumente, sensações de asfixia. Já o último, o paciente se mostra
impaciente, com lapsos de memória, insônia, com sentimento de incapacidade e
apresentando problemas ao tentar se concentrar. Vale salientar, que os
portadores desse transtorno são bastante pessimistas em relação a acontecimentos
futuros, estando sempre apreensivo e preocupado com outras pessoas e também
quanto consigo mesmo (GREBB; KAPLAN; SADOCK, 2011; FILHO; BUENO; NARDI, 1996;
NETO, 1995).
2.7 Diagnóstico
Os instrumentos padronizados mais amplamente utilizados
para a obtenção do diagnóstico do Transtorno da Ansiedade Generalizada são:
CIDI5 (Composite International Diagnostic Interview) e SCID6 (Structured
Clinical Interview for DSMIII-R), sendo ambos baseados em entrevistas diretas
ao paciente. Entretanto, sua utilização na prática clínica é limitada pela
necessidade de um treinamento extensivo dos utilizadores e pela longa duração
das entrevistas (de 1h30 à 3h).
Existe também, outro instrumento para diagnóstico, que por
meio de estudos, apresenta-se válido para tal: o MINI. Esse foi desenvolvido
por pesquisadores do Hospital Pitié-Salpêtrière de Paris e da Universidade da
Flórida. O MINI é um questionário breve (15-30 minutos), compatível com os
critérios do DSM-III-R10/IV11 e da CID-1012 (versões distintas), que pode ser utilizado
por clínicos após um treinamento rápido (de 1h a 3h).
2.8 Tratamento
O TAG produz um impacto negativo considerável na qualidade
de vida, com prejuízo na atividade social e baixo índice de satisfação. Quando
não tratado, está associado ao aumento de utilização de serviços de saúde e
aumento das taxas de morbidade e mortalidade.
O tratamento de escolha é a associação de psicoterapia e
psicofármacos (FURTADO; GAUER; NETO, 2013). O uso dos medicamentos visa à
remissão ou o alívio parcial dos sintomas permitindo que o paciente melhore seu
desempenho tanto na vida social quanto laboral.
2.8.1 Tratamento farmacológico
Nos últimos anos, tem-se assistido a um grande avanço no
tratamento farmacológico dos transtornos de ansiedade. Particularmente em
relação ao transtorno de ansiedade generalizada, até a poucos anos, a única
alternativa eram os benzodiazepínicos (BZD) (ANDREATINI; FILHO; LACERDA, 2001).
As três opções de medicamentos a serem consideradas nesse
emprego são a buspirona, os benzodiazepínicos e os inibidores da recaptação de
serotonina (ISRSs) (SADOCK, 2008). Um fator importante na escolha do
ansiolítico é a presença de comorbidades que serão bem avaliadas pelo médico e
após será prescrita a medicação necessária (ANDREATINI; FILHO; LACERDA, 2001).
2.8.2 Tratamento com psicoterapia
Atualmente a psicoterapia em uma abordagem
cognitivo-comportamental se mostra mais eficaz no tratamento. A terapia
cognitivo-comportamental consiste basicamente em provocar uma mudança na
maneira alterada de perceber e raciocinar sobre o ambiente e especificamente
sobre o que causa a ansiedade (terapia cognitiva) e mudanças no comportamento
(terapia comportamental) (ANA et al., 2000).
Segundo Clark e Beck, a meta central da terapia cognitiva
para TAG é a redução da frequência, intensidade e duração de episódios de
preocupação que levariam a uma diminuição associada nos pensamentos intrusivos
ansiosos automáticos e na ansiedade generalizada
3. Conclusão
Observa-se que a alta prevalência do Transtorno de
Ansiedade Generalizada (TAG) na sociedade moderna, tem impactado negativamente
na qualidade de vida das pessoas e também nas atividades laborais. O
diagnóstico correto se faz necessário para que se tenha uma abordagem completa
e uma intervenção precoce a esses pacientes. Muitos avanços foram observados
nos últimos anos em relação ao tratamento dessa patologia, sendo de extrema
importância o acompanhamento psicoterapêutico juntamente com o farmacológico
para que se tenha bons resultados e uma remissão total da sintomatologia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário