A ética é primordial
para que a atuação do profissional psicólogo seja íntegra, pautada no respeito
ao sujeito humano, dos pacientes, e outros profissionais envolvidos na área.
Segundo o Código de Ética Profissional do Psicólogo, toda profissão define-se a
partir de um corpo de práticas que busca atender demandas sociais, norteados
por elevados padrões técnicos e pela existência de normas éticas que garantam a
adequada relação de cada profissional com seus pares e com a sociedade como um
todo. O objetivo da ética é de fomentar a autorreflexão de cada indivíduo sobre
a sua conduta profissional e responsabilizá-lo pelas suas ações.
Para iniciar a
análise, verificamos que o interesse pelo estudo sobre Religião no ambiente
Acadêmico é crescente, embora não seja muito comum esta abordagem nos grandes
Centros Universitários.
De acordo com a
pesquisa feita por PAIVA G.J et.al. no artigo Psicologia
da Religião no Brasil: a produção em periódicos e livros. Verifica-se,
na população universitária e no público em geral, grande interesse pelo
tratamento psicológico do fenômeno religioso. Não é claro, contudo, o móvel
desse interesse nem mesmo no meio universitário. Tem-se verificado com
frequência que estudantes de Psicologia e de outras áreas recorrem à disciplina
PR (Psicologia Religiosa) para resolverem problemas pessoais, levantados pelo
encontro da religião que trouxeram da família com a perspectiva acadêmica,
sobretudo psicológica. O conteúdo curricular das disciplinas de Psicologia, de
modo geral, não inclui referência à religião, de modo que a PR é procurada,
pelos estudantes, como um recurso para a superação do desconforto resultante do
desencontro entre religião e ciência psicológica.
É notável que a
curiosidade e o desconforto das pessoas sobre este assunto muitas vezes
concentra-se dentro da sala de aula, na construção de referência, por ser
bastante discutido, mas pouco fundamentado. É importante salientar que há o
crescimento de acadêmicos que cursam Psicologia vinculada a diversas religiões.
Mas de onde que surge todo este questionamento? Por que duas áreas tão
diferentes podem confundir as pessoas se não houver um bom discernimento?
Tudo começa com um
mesmo foco: o homem – o comportamento do homem no meio em que vive. Este é o
principal ponto em comum entre a Psicologia e religião. Somos construídos de
acordo com as nossas crenças e tudo começa quando acreditamos em algo que possa
nos fortalecer de alguma forma. A partir daí agrupam-se pessoas que
compartilham a mesma ideia e procuram seguir as mesmas crenças, neste caso,
religiosas. De outro lado, a ciência também é construída por crenças, de
experimentos que levaram a inúmeras consequências prováveis, aumentando a
credibilidade, e assim foram fortalecidos pelo povo.
As pessoas passaram a
ter duas formas eficazes para encontrar respostas para algum problema:
Acreditar em algo maior para manter viva a esperança e a vontade de permanecer
vivo de acordo com o mundo subjetivo de cada um. O estudo da Religião preza
pelo equilíbrio e a paz de espírito de qualquer ser humano assim como a
Psicologia enquanto ciência preza pelo bem estar físico e mental do indivíduo.
Deste modo as duas práticas se complementam.
A Psicologia e
Religião é um assunto que trás diversas opiniões sobre a mesma questão. De
acordo com o artigo de PAIVA G.J. Psicologia e Espiritualidade. Congresso
de Psicologia Unifil Universidade de São Paulo . “Se,
com efeito, a realização do potencial humano, a auto-realização, for entendida
como desabrochar na pessoa do que de melhor existe em sua capacidade, que
inclui a comunhão com o outro e com o universo, é lícito reconhecer nesse
empenho uma libertação do aqui-e-agora, do imediato, do concreto material, em
direção a uma totalidade maior, eventualmente cósmica. Isso corresponde ao que
contemporaneamente se denomina por espiritualidade. Outra posição, ligada ao
‘movimento de conscientização’, é apresentada por Lucy Bregman, da Universidade
Temple. Bregman (2001) sustenta, teórica e empiricamente, que a psicologia tem
recursos próprios, não opostos os recursos religiosos mais independentes deles,
para lidar com a preparação para a morte com o luto dos sobreviventes. Para
ela, a psicologia tem espiritualidade, porque a morte desvela para quem parte e
para quem fica dimensões do self e do universo, que escapam
aos limites do aqui-e-agora.
A espiritualidade da
psicologia na morte se expressa pela tristeza, pelo desgosto, pelo medo, pela
raiva e pelo sentimento de ultraje frente à perda pessoal e social; se expressa
também pela consciência de que a morte faz parte do ciclo da vida e ‘nos une
com os outros seres vivos num ecossistema que opera com harmonia, senão com
finalidade e [...] benevolência (p.327)’. Considera-se essas formas de
espiritualidade oriundas da psique humana, enquanto exigência intrínseca de
auto-realização, que inclui a comunhão com o outro, e enquanto reage às
frustrações que atingem a auto-realização.”
Já de acordo com o
artigo de ADAMI, A.R.; PASTOR G. Pastor e Psicólogo trabalhando
juntos.“Notamos assim, que os campos, a formação, as atividades e a
atuação são distintos, mas não opostos. Contudo, há um elemento comum que os
une e que deve ser o lugar do diálogo entre a Teologia e a Psicologia, é a visão de homem, a antropologia, já
que ambos, pastor e psicólogo, têm sua atenção voltada e dedicada para o ser
humano.”
De outro modo o
psiquiatra cristão brasileiro, Uriel Heckert, apresentou o trabalho Psiquiatria
e Cristianismo, no IX Congresso Mundial de Psiquiatria (1993), no qual
cita um outro psicólogo e pastor, o Dr. J. H. Ellens, que diz:
"'Vejo a teologia e a psicologia
como perspectivas ou pontos de referência diferentes, com diferentes universos
de discurso, lidando com o mesmo assunto. Interagem em quatro níveis na busca
pela verdade a respeito de seu objetivo: no nível teórico de suposições,
conceitos e definição de teoria, no de pesquisa metodológica, no de banco de
dados (que dados procurar, como procurar e como aparecem) e no nível de
experiência clínica. ' Para concluir: 'Seu tema comum é a condição humana.
Interseccionam-se, por isso, na antropologia que funciona ou se forma em todos
os níveis de intersecção acima citados. '”.
O problema começa
quando há conflitos de valores e de condutas do profissional Psicólogo dentro
das instituições religiosas. Em muitos casos, há profissionais contratados pelo
corpo administrativo desses espaços religiosos a fim de fornecer serviços
terapêuticos de psicologia camuflados por uma terminologia espiritual. Há
Psicólogos atuando em igrejas, templos, casas de reflexão espirituais, por
exemplo, usando a escuta clínica e abordagens psicoterápicas para tratar os
fiéis, e assim atraí-los com a finalidade de convertê-los usando a Psicologia
como ferramenta para tal. Esta atitude é
considerada uma enorme falta de ética. Quando o Psicólogo presta serviços
havendo um vínculo deste porte com as instituições religiosas, a intenção pode
ter esta triste finalidade.
Quando esta
prática é voltada para comunidade ao entorno, para fins de serviços sociais, e
que estas instituições religiosas sedem ou alugam seus espaços para atender
este público dentro de um setting
terapêutico adequado, percebe-se que este movimento está de acordo com as normas
éticas e morais segundo o código de Psicologia vigente. Por este motivo é
preciso ter muita atenção.
O fato de existirem Psicólogos adeptos
a diversas religiões sendo eles pastores, conselheiros, religiosos e ministros
atuando na área de Psicologia, não há indicadores de problemas. Cada indivíduo tem a sua liberdade
para escolher o que quiser, contudo, suas crenças não podem influenciar jamais
dentro das práticas Psicológicas.
A Psicologia é uma
ciência que está inserida em várias áreas e nos últimos anos cada vez mais no
ambiente religioso, mas não podem interferir os valores pessoais de cada
profissional, seus instrumentos, na fé e na fragilidade das pessoas assim como
usar técnicas psicoterápicas para atrair fiéis.
A situação contrária também acontece:
religiosos, pastores, conselheiros dentro da igreja, encontram maior
resistência para encaminhar assuntos psicológicos aos profissionais que atuam
na área. Muitos
tentam resolver possíveis problemas de cunho psicológico dos fieis fazendo
rezas e atitudes mais drásticas. Não que sejam menos eficazes, mas é preciso ter um
bom senso e encaminhar estes assuntos aos seus respectivos meios de ajuda,
quando necessário.
Considerações Finais
É importante não
desqualificar as práticas religiosas e psicológicas, pois estas têm grande
credibilidade dentro da sociedade contemporânea. Psicologia e Religião é
assunto bastante complexo, por isso é preciso uma educação adequada frisando a
ética para evitar condutas impróprias como as citadas acima. É preciso ter
atenção para que as duas áreas não invadam o espaço uma da outra.
A Psicologia e
Religião são complementares. Devem ser discutidas sempre para desmistificar
ideias preconceituosas sobre a Ciência e Religião. Debates, artigos e estudos
são os caminhos mais eficazes para quebrar tabus, para conscientizar as pessoas
que o respeito e a compreensão fazem cair por terra à ignorância que cultivamos
por vários anos. Só assim, poderemos exercer práticas justas e íntegras e com
muito mais transparência.
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