A Linguagem do corpo e a Comunicação nas Organizações
Introdução
A
fala é só mais uma das formas de expressão do humano, porque há muitos outros
meios de manifestação além da palavra. No Século XX, pesquisadores como
Charcot, Freud e, posteriormente, Reich começaram a valorizar o não dito. Se é
não dito, como é possível acessá-lo? Atentando-se ao conteúdo onírico dos
sonhos, aos gestos, às expressões faciais, às posturas corporais entre outras
formas.
Charcot
(1892, apud FREUD, 1973), ao examinar suas pacientes despidas, pretendia
verificar a relação da patologia com a anatomia. Embora não encontrasse o que
procurava, sua investigação levou-o a perceber que o corpo de suas pacientes
expressava sintomas psíquicos.
Freud
(1996), por sua vez, foi
o primeiro a explorar, em 1888, o potencial terapêutico da linguagem corporal.
Em um de seus comentários sobre o caso Dora,4 diz: “quem tem
olhos para ver e ouvidos para ouvir pode convencer-se de que nenhum mortal pode
guardar um segredo. Se seus hábitos permanecem silenciosos ele conversa com a
ponta dos dedos; a revelação transpira dele por todos os poros (FREUD, 1996, p.
72)”.
É
com Reich (2009) que a linguagem corporal ganha força e passa a se constituir
em uma importante vertente da psicoterapia. Ele colocou como elemento central
de sua análise do caráter a observação dos aspectos não verbais, como o tom de
voz, a movimentação do paciente, as posturas adotadas por eles, a expressão do
olhar e a mímica corporal.
A
leitura corporal é o nome que se cunhou no âmbito da psicoterapia para designar
o campo de estudos e práticas que tratam da utilização de outros elementos além
do que é expresso pelo conteúdo das palavras dos pacientes.
O
esforço, neste artigo, é mostrar a importância e as potencialidades da
linguagem não verbal no processo de comunicação, ou seja, na prática das
relações entre os indivíduos no ambiente de trabalho. No âmbito das
organizações, que contribuição poderia advir da leitura da linguagem corporal –
linguagem não verbal – para o desenvolvimento das relações interpessoais e,
como consequência, para a eficácia do trabalho?
A
cada dia percebe-se mais o valor dado pelas empresas àqueles indivíduos que têm
maior capacidade de relacionamento interpessoal. É comum nas entrevistas de
seleção a utilização de dinâmicas e técnicas que envolvam a interação entre os
indivíduos. Nessas entrevistas, observa-se que o mais importante não é o que se
fala, mas como se fala, ou seja, as expressões não verbais.
Para
alcançar êxito em seu propósito, o artigo foi estruturado tendo em vista a
importância da linguagem não verbal na comunicação interna das organizações. Ao
se fazer isto, o olhar da Psicologia adquiriu relevância no entendimento das
dificuldades e vantagens dessa modalidade de linguagem. Por fim, são
apresentados alguns aspectos acerca do uso da linguagem corporal nas relações
internas das organizações.
Não
se ambicionou neste artigo captar e mostrar todo o universo da comunicação não
verbal nas relações, em especial, de trabalho, mas apenas projetar alguns de
seus ângulos e algumas de suas facetas, de maneira a tangenciar as necessidades
imediatas daqueles que se preocupam com a temática em questão – a linguagem não
verbal no interior das organizações.
A linguagem Não Verbal
e Sua Importância na Comunicação
A
linguagem em qualquer uma de suas modalidades é fator essencial nas relações
interpessoais e grupais. É a linguagem que viabiliza a transmissão e a recepção
de mensagens. No entanto, quando se fala em linguagem, normalmente pensa-se na
linguagem verbal, ou seja, nas palavras, sejam elas escritas ou faladas.
Comumente, se esquece que há também outra forma de linguagem presente em nossas
relações com o outro e com o mundo – a linguagem não verbal, que pode estar
expressa nos sons, nos gestos, nas expressões faciais, na motricidade corpórea,
na arte, nos símbolos com significação conotativa, entre outras situações.
O
desenvolvimento de altas tecnologias midiáticas tem facilitado a emissão e
recepção de mensagens; no entanto, o contato pessoal tem ficado em segundo
plano. Internet,
intranet, portais corporativos são instrumentos importantes na comunicação
entre as pessoas, mas não suprem a necessidade de encontros presenciais. Ao
contrário, ampliam essa necessidade (Wolton, 2010, p. 34).
A
linguagem não verbal pode ser reveladora das relações de comunicação entre os
indivíduos. O corpo fala,
expõe “verdades”, reforça ideias, favorece ou dificulta o entendimento; enfim,
dá ênfase à comunicação. Assim, a linguagem muitas vezes se constitui como
instrumento de poder/controle.
O
cinema mudo é uma forte demonstração da importância da linguagem corporal. Quem
não se lembra de Tempos
Modernos,
de Carlitos? As relações de poder e controle são explicitadas em cada cena, a
insatisfação com o trabalho, a rotina, a automação do sujeito.
As
organizações são constituídas de pessoas, e cada vez mais sua efetividade é
atravessada pelas relações fortalecidas entre os indivíduos. Assim, a
comunicação não verbal pode constituir-se em uma das formas para a construção
de relacionamentos mais saudáveis e coesos. Somos de tal maneira marcados por
essa linguagem que até hoje a utilizamos em nossas relações pessoais e de
trabalho. Poder-se-ia, então, perguntar o que leva à valorização da comunicação
verbal em detrimento da gestual?
Pode-se
arriscar a atribuir essa dicotomia entre linguagem verbal e gestual ao
pensamento cartesiano, que separa corpo e alma – res
cogitans / res extensa. Na atualidade, parece ser importante resgatar a linguagem
gestual porque assim podemos retomar o homem como um ser indivisível, uma
totalidade – corpo e alma como parte da mesma realidade.
Desta
forma, a linguagem não verbal assume papel importante na eficaz relação entre
as pessoas. Inclusive, das boas relações entre o público interno de uma
organização depende o grau de seu “sucesso” de mercado. O aprimoramento da
comunicação interna tem estreita relação com o conhecimento, a compreensão e o
cuidado com essa forma de linguagem um pouco esquecida.
A Comunicação e a
Linguagem Corporal
Mesmo
com o desenvolvimento de todo o seu aparato biológico, o homem mantém alguns
gestos que o caracterizam como ser humano, o que ele não deixou de ser. Prova
disto é a existência de expressões universais, como a manifestação da tristeza,
da alegria, da felicidade, da raiva e do medo através de seus gestos
(HOCKENBURY; HOCKENBURY, 2003). Dessa forma, a todo instante o “corpo fala” de
forma consciente e inconsciente, e isto tem passado despercebido nos
relacionamentos internos das organizações, gerando muitas vezes conflitos.
Segundo
Weil e Tompakow (1982), pode-se comparar
características de animais, que eram símbolos para culturas antigas, a
características posturais e gestuais humanas que trazem significados emocionais
e psicológicos do homem como sujeito. Esses autores, a partir de suas
pesquisas, delimitaram três instâncias representadas no corpo: a vida
vegetativa – sono, fome, sexo – localizada no abdômen; a vida emocional,
localizada no tórax, e a vida intelectual, localizada na cabeça. Seus estudos
mostram que a projeção excessiva ou retração dessas regiões, bem como o
posicionamento equilibrado, expressa como o
sujeito se sente em determinadas circunstâncias e pode assinalar o modo de ser
desse sujeito. Para esses estudiosos, o individuo que mantém o tórax em
projeção anterior exacerbada, possui um ego inflamado, ou seja, tende ao
egocentrismo.
Os
autores destacam a necessidade de se observar o olhar, o sorriso e o
posicionamento dos membros, das mãos e dos pés, porque essas posturas e
expressões corporais estão carregadas de significado. Pode-se depreender daí
que essas formas de expressão corporal podem ajudar na realização de uma
leitura da comunicação intrapessoal, interpessoal e intergrupal. Os
pesquisadores constataram que os gestos ou as posições vistos isoladamente não
necessariamente possuem uma significação clara e padronizada. Faz-se necessário
avaliar a harmonia dos pequenos gestos e movimentos: dos lábios durante um
sorriso; das expressões da região ocular; a direção para onde apontam joelhos;
a forma como pés e mãos se posicionam, se estão flexionados ou em movimento, e
também a inclinação do tronco.
Para o
entendimento das relações entre as pessoas, deve-se tentar analisar o que a
linguagem corporal está dizendo, considerando-se que cada indivíduo é um ser
único diante de situações novas que se apresentam. Isso, de certa forma, ficou um pouco
esquecido, porque o uso das palavras fez que a atenção fosse focada na
linguagem verbal, ficando despercebido muito do que o corpo diz.
Diante
dessas ponderações, vê-se que a leitura da linguagem corporal traz informações
de como o individuo interage frente aos estímulos oriundos do meio em que se
encontra, levando-se em conta que os estímulos partem da situação vivenciada
pelas pessoas que estão em interação, e que cada sujeito os interpreta de
maneira única.
No
ambiente de trabalho, além das singularidades pessoais, há situações
conflituosas, tensas, em que interesses pessoais podem gerar ansiedade,
descontentamento, receio, enfim, um intricado conjunto de fatores difíceis de
se identificar somente por meio da palavra. Em uma reunião, em que
profissionais dos mais diversos níveis hierárquicos discutem problemáticas
comuns, porém conflituosas, é possível identificar, através da linguagem
corporal, quem verdadeiramente está aborrecido, contrariado, satisfeito, na
defesa ou no ataque.
Em
uma reunião agitada, um participante que tem o ritmo da respiração aumentado
encontra-se tenso e fortemente emocionado, ao passo que um participante que
suspira frequentemente, encontra-se ansioso e angustiado. Os olhos brilhantes e
elevados vão denotar alegria e satisfação, enquanto que olhos opacos e baixos
denotam tristeza e insatisfação;
até mesmo, a posição das
sobrancelhas se abaixadas ou levantadas, demonstram respectivamente,
concentração e surpresa.
Através
das manifestações corporais também se pode perceber se há interesse em relação
a algum assunto ou pessoa. Neste caso, vê-se o corpo inclinar-se e o olhar
direcionar-se para o objeto. Nos apertos de mão, tão comuns em nossa cultura, é
possível ler a segurança ou a insegurança do individuo. O aperto de mão firme
demonstra o quanto a pessoa está segura, sem receios. Nas mãos espalmadas para
cima há indicação de abertura e aceitação. Esses são alguns exemplos dentre as
infinitas possibilidades de leitura dos significados da linguagem do corpo.
A
prática da leitura da linguagem corporal nas relações interpessoais pode
facilitar o entendimento de mensagens transmitidas, pois, através dela, é
possível vislumbrarem-se aspectos inconscientes, embutidos e não verbalizados.
A Linguagem Corporal e
a Psicologia
A
Psicologia, em seu início como disciplina acadêmica, deu importância capital à
linguagem corporal. A partir dos trabalhos de Charcot, Freud, em sua obra Histeria, de 1888,
descreveu inúmeros sintomas físicos de pacientes neuróticos. Segundo Freud
(1996), a neurose caracteriza-se pela apresentação de sintomas físicos e
alterações psíquicas, no entanto, sem qualquer alteração orgânica que
justifique o aparecimento desses sintomas. Há, ai, uma relação psíquica que
leva à formação desses sintomas. E mais, o autor observou, nessa relação, uma
ligação entre a neurose e as frustrações sexuais. Alguns dos sintomas físicos
descritos são: anestesia da pele, de músculos, nervos, dos órgãos dos sentidos;
paralisias, afasias, contraturas musculares, distúrbios de visão e outros
sentidos; os distúrbios psíquicos manifestam-se na forma de alterações na
“associação de idéias, [...] inibição da atividade da vontade, [...] exagero e
repressão dos sentimentos” (FREUD, 1996, p. 85).
Reich
(2009), discípulo de Freud, em sua obra A
Analise do Caráter, traz uma detalhada relação entre o comportamento, as
características psíquicas, e os padrões posturais do individuo. Ele acredita
que o organismo humano é perpassado por um tipo de energia psicofísica, embora
seu mestre defenda a existência dessa energia apenas no nível psíquico. Segundo
Reich (apud REIS; MAGALHÃES; GONÇALVES, 1984) essa energia bem
direcionada impediria a formação de sintomas neuróticos, evitando a formação da
chamada couraça muscular do caráter.
Caráter,
em Reich, tem sentido objetivo e denota como a pessoa se apresenta frente à
vida através de uma estrutura de comportamento recorrente e não percebida por
ela mesma. O autor classificou os tipos de caracteres em dois, o caráter
genital e o caráter neurótico, e subdividiu o caráter neurótico em alguns
tipos.
Cruz
(1997) nos traz uma diferenciação entre o modo de ser dos dois tipos de caráter
no ambiente de trabalho. O individuo com carácter genital tem prazer em exercer
sua atividade, centrando-se, sem se preocupar com as atividades alheias,
enquanto que o carácter neurótico não deseja muitas responsabilidades, é
impaciente e almeja ser chefe rapidamente.
Alguns Subtipos e
Características do Caráter Neurótico
O
caráter histérico, em mulheres, explicita a sensualidade no modo de falar,
olhar e andar; nos homens, observa-se, além dessa sensualidade, também um toque
feminino no comportamento e na maneira de tratar. Esse tipo é inconstante em
seu posicionamento e muda facilmente de opinião. Já o individuo de carácter
compulsivo apresenta um bloqueio afetivo, avareza, autocontrole, preocupação
com a ordem e rigidez muscular crônica, sobretudo na região pélvica, na face e
no ombro; sua expressão facial é estática, similar a uma “máscara”. O caráter
fálico-narcisista apresenta segurança, vigor, mas com agressividade, certa
arrogância e é dominador, provocador, demonstrando frieza e reserva;
fisicamente é do tipo atlético, atraente e apresenta certa adaptabilidade, o
que lhe possibilita o alcance de cargos de comando (REIS, MAGALHÃES e
GONÇALVES, 1984).
A
partir da analise e das considerações de Reich (2009), pode-se perceber o
quanto é vasta a questão do uso da linguagem não verbal e seus possíveis
desdobramentos. Esse conhecimento, em especial, pelos psicólogos alocados nos
setores de Recursos Humanos, pode ajudar no entendimento das dificuldades de
relacionamento interno nas organizações. Inclusive, parece ser importante o
desenvolvimento de políticas de desenvolvimento humano a fim de que essas
intervenções facilitem e ampliem a compreensão entre as pessoas.
Portanto,
em Reich (2009), o elemento central da sua teoria é a observação da linguagem
não verbal. Segundo esse autor, deve-se estar atento aos gestos, ao tom da voz,
às movimentações corporais, às expressões dos olhos e às alterações na face
quando a pessoa fala. Isso não significa que a linguagem verbal deixe de ocupar
lugar central nas manifestações humanas, mas que todas as expressões gestuais
são determinantes na compreensão da fala a que estão associadas.
Assim,
entre os fatores a serem observados e avaliados durante um processo de
recrutamento e seleção é a expressão não verbal. Durante esse processo, deve-se
observar as manifestações não verbais, com o objetivo de avaliar a congruência
entre estas e a verbalização. Ocampo e Arzeno (1981) enfatizam a importância de
se fazer a leitura do não verbal, para se acessar o conteúdo latente no
individuo. Apesar de o processo de recrutamento e seleção ser diferenciado em
vários aspectos nos mais diversos tipos de organizações, é possível asseverar
que as empresas poderiam tirar melhor proveito e selecionar mais acertadamente
seus candidatos, se se utilizassem dos recursos que a Psicologia lhes oferece.
São
muitos os autores que abordam a temática da linguagem não verbal na Psicologia.
Apesar de darem ênfase à Psicodinâmica com objetivos psicoterapêuticos, o
conhecimento que eles trazem pode ser utilizado pelas organizações como
instrumento útil para melhorar as relações interpessoais.
Nas
organizações, como mostra Torquato (1992), os colaboradores apresentam diversas
personalidades e estilos, não importando o cargo e a atividade que ocupam. Em
qualquer situação, ocorrem mudanças comportamentais inesperadas. Por vezes,
veem-se chefes coléricos e inseguros, resistentes, assim como colaboradores
instáveis, que não se posicionam e mudam de comportamento em diferentes
situações. Há em qualquer nível e função aqueles centralizadores por
excelência, ou passivos em demasia e muitos outros comportamentos.
Tendo
em vista as observações aqui efetuadas, nota-se que nas relações de trabalho
surgem dificuldades que são percebidas nas peculiaridades do comportamento de
cada individuo. As peculiaridades, se assim se pode chamar os comportamentos
inadequados às situações, não deixam, por vezes, de impactar o outro e,
consequentemente, o grupo. A comunicação não é restrita aos movimentos internos
de divulgação de informações, organizados pelos profissionais da área de
comunicação ou pelos colaboradores das mais diversas áreas de formação. Ela é
inerente ao individuo em suas relações, quer sejam de trabalho
ou não. E a linguagem não verbal é uma das muitas formas de expressão das
diferenças.
Pode-se,
então, dizer que a leitura da linguagem corporal constitui um facilitador na
compreensão do outro e das mensagens que inconscientemente ele transmite. No
entanto, os diversos meios de comunicação virtuais, que agilizam e ampliam a
capacidade de transmissão das mensagens, muitas vezes, são usados como únicos
meios de comunicação. Ainda, felizmente, a comunicação entre os indivíduos
também se dá através da palavra e dos gestos. Assim, as organizações podem ser
despertadas por ações que visem à integração entre os colaboradores, que
promovam o contato humano e possibilitem a sensibilização necessária ao
exercício da leitura da linguagem corporal. Para tal, pode-se utilizar, por
exemplo, das práticas clínicas de terapias corporais, de maneira adaptada ao
meio organizacional, ou simplesmente promover atividades que promovam o contato
humano, para levar aos colaboradores informações a respeito do uso da linguagem
não verbal.
Gaiarsa
(1982), autor brasileiro neoreichiano, destaca que o inconsciente não é
invisível e está exposto o tempo todo através da linguagem não verbal. O autor
enfatiza que é possível conhecê-lo sem que o indivíduo faça uso da palavra.
Segundo Gaiarsa (1982), é necessário exercitar “o ver” o outro através da
observação de seus gestos, de seu modo de falar, de sua respiração, de sua
postura corporal, de seu olhar, em um esforço interpretativo sobre o observado.
O exercício de “ver” não se restringe apenas ao ato de decorar padrões e
teorias sobre a linguagem não verbal, mas também abrange o exercício prático do
contato humano. "Os olhos conversam tanto quanto as línguas que
utilizamos, com a vantagem de que o dialeto ocular, embora não precise de
dicionário, é entendido no mundo todo" (Emerson apud REGO; ALBERTINI,
2010, p. 108).
O
que se vê é tão importante quanto o que se ouve, porque os gestos despertam
respostas imediatas dos interlocutores, pois as expressões e os movimentos dos
outros exercem grande influencia em nossa vida. Se houvesse o hábito de
observar as pessoas enquanto falam e se, enquanto falam, o ouvinte prestasse
atenção também no que vê, os diálogos seriam mais interativos (GAIARSA, 1984).
Segundo
Gaiarsa (1982), quando ocorre a contenção de uma emoção, seja raiva, medo ou
amor, ou ainda alguma frustração, o sujeito contrai de maneira ampla os
músculos, o que resulta num rebaixamento das sobrancelhas e dos cantos da boca,
fechamento da laringe e manutenção constante da tensão. Para tal, o sujeito
detém sua atenção nisso,
distraindo-se. A maneira de movimentar-se é contida e reduzida, assim como a
respiração. Assim, no ambiente de trabalho, é possível, através do exercício
constante de atenção em nosso interlocutor, identificar os pontos fortes e
frágeis da relação de comunicação. Esse processo nada mais é do que troca e
intercâmbio de ideias, informações, afetos, dentre outros.
Conforme
Gaiarsa (1982), Reich considera que o exercício de “ver”, a atenção e o
interesse no outro é essencial e deve-se avaliar tanto as informações verbais
quanto as não verbais. Para Reich, segundo Boadella (1985), a expressão
corporal de uma pessoa corresponde a sua atitude mental. Por isso,
inter-relacionar expressão corporal e atitude mental se torna importante na
comunicação humana.
Através
das expressões corporais, entra-se em contato com o mundo, na vida cotidiana e,
sobretudo, nas relações de trabalho, quando, muitas vezes, se estabelecem
diálogos com indivíduos ou com grupos. Se não se sabe usar corretamente a
postura como recurso de comunicação, pode-se transmitir o que não se deseja e,
ao mesmo tempo, captar reações diferentes das que se gostaria de receber.
Ao
se dirigir a alguém, pode-se reforçar a comunicação usando-se a postura e os
gestos adequados ao conteúdo da mensagem objeto do dialogo que se pretende
estabelecer. Ficar com ombros encolhidos, lábios apertados, olhando para outras
direções ou mesmo batendo na mesa com os dedos são atitudes que podem denotar
falta de interesse. Ao contrário, quando se olha nos olhos do interlocutor e
apertar-lhe a mão, demonstra-se, com esses gestos, real interesse.
Desta
forma, é possível afirmar que gestores e colaboradores não podem se esquivar da
importância da linguagem corporal e de seus efeitos sobre as pessoas com as
quais se entra em contato. A linguagem do corpo revela muito do que pensamos,
do que sentimos, do que idealizamos e de nossas expectativas. Portanto, o corpo
é, antes de tudo, um centro de informações. Segundo Gaiarsa (1984, p. 9)
“aquilo que de mim eu menos conheço é o meu principal veículo de comunicação”.
O autor enfatiza que um “observador atento consegue ver no outro quase tudo
aquilo que o outro está escondendo – conscientemente ou não. Assim tudo aquilo
que não é dito pela palavra pode ser encontrado
no tom de voz, na expressão do rosto, na forma do gesto ou na atitude do
indivíduo” (Gaiarsa, 1984, p. 9).
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