A Importância da Assistência Psicológica no Pré e Pós Operatório
de Pacientes Submetidos à Cirurgia Bariátrica
A obesidade pode ser definida, de forma simplificada, como
uma doença caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, sendo
consequência de balanço energético positivo e que acarreta repercussões à saúde
com perda importante não só na qualidade como na quantidade de vida (MENDONÇA;
ANJOS, 2004).
Para reduzir este acúmulo de gordura, obesos mórbidos
buscam a cirurgia bariátrica a fim de melhorar a qualidade de vida e a própria
autoestima. No entanto, é necessário acompanhamento do profissional terapeuta
antes, durante e após a cirurgia, pois esses pacientes ficam vulneráveis a
distúrbios psíquicos e alimentares. A psicoterapia também reintroduz os
indivíduos na sociedade, visto que eram marginalizados pelo preconceito, pelas
piadas e pelo padrão físico imposto no cotidiano.
O papel do terapeuta foi trabalhado no artigo dividido em
dois momentos: pré-operatório e pós-operatório, e, se mostra de extrema
relevância nestes períodos.
Em alguns casos, na obesidade mórbida, pode ser observada a
alimentação como objeto adicto. O indivíduo que não se desenvolve
emocionalmente de forma adequada apresenta dificuldades em lidar com suas
angústias, medos e decepções, e, com a intenção de inibir esses sentimentos
negativos, abusa na comida. O alimento passa a ser visto como algo que gere
prazer e um remédio para o psíquico, atingindo um nível de compulsão que
ultrapassa a real necessidade da quantidade ingerida. É aqui que se faz
necessário a psicoterapia no período pré-operatório, visando mostrar ao
paciente que seus problemas e sentimentos que o fazem alimentar excessivamente
não se resolverão com a cirurgia. Ele precisará aprender a lidar com o que lhe aflige
sem descontar na alimentação, já que sua massa corporal poderá ser reduzida,
mas se repetir as mesmas atitudes pode engordar outra vez.
Os obesos se veem fora do padrão físico imposto pela
sociedade e comumente são vítimas de preconceito e piadas reproduzidas em
ambientes que frequentam, fazendo com que haja retraimento social, e, cabe ao
terapeuta a introdução deste paciente na sociedade novamente, permitindo-lhe o
desenvolvimento da autoconfiança que fora perdida.
O paciente, inicialmente, é direcionado ao tratamento
clínico baseado em aumento de atividade física combinada a dietas hipocalóricas
e uso de medicações, porém, muitas vezes essa tentativa não obtém sucesso em
pacientes obesos grau III, sendo a cirurgia bariátrica considerada a abordagem mais
eficaz até o momento.
A cirurgia bariátrica é realizada visando restringir
significativamente a quantidade de alimento ingerido, combinado a desabsorção
de nutrientes e, dessa maneira, ela acaba por interferir apenas no lado
metabólico da patologia (AKAMINEI; ILIASII, 2013).
O terapeuta possui papel fundamental no período
pré-operatório, pois ele é responsável por analisar o comportamento do paciente
e o que o levou à obesidade, esclarecer a necessidade de mudanças nos hábitos
alimentares e explicar a possibilidade de surgimento de distúrbios psíquicos
recorrente dessa restrição alimentar, compreender o motivo pela qual o
indivíduo engordou e auxiliar na tomada de decisão a respeito da operação.
Juntamente a esse terapeuta, deve-se estar presente uma equipe multidisciplinar
composta por cirurgião, endocrinologista e nutricionista, segundo as diretrizes
decretadas pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica e Metabólica. Esta equipe é responsável, principalmente, por auxiliar
o paciente psicologicamente, visto que os danos psíquicos pré e pós-operatórios
podem ser severos, como o desenvolvimento de depressão.
No período pós-operatório, a psicoterapia é necessária para
ensinar ao paciente a lidar com as novas mudanças metabólicas, físicas e
psíquicas. Com a redução do estômago, a alimentação se torna uma tarefa muito
difícil já que são sentidos muitos desconfortos, logo, os alimentos devem ser
líquidos ou pastosos e em pequenas quantidades.
De acordo com (JR.; CHAIM; TURATO, 2009), a obesidade
vivida por todos como um grande problema, é também, no fundo, uma resposta para
todos problemas e o fato de abdicar de diferentes alimentos que antes davam
prazer ao paciente impede que ocorra todo o sistema defensivo em torno da
alimentação. Isso obriga o indivíduo a lidar com suas mágoas e angústias
por outros meios, o que nem sempre é possível, e, caso essa pessoa não seja bem
auxiliada, inicia-se os problemas psíquicos.
(JR.; CHAIM; TURATO, 2009) ainda afirma que a primeira
reação da maioria dos pacientes é sentirem-se vitoriosos ao conseguirem
reverter a condição anterior de sobrepeso, pensam como se todo os problemas
tivessem sido resolvidos na cirurgia, condição essa reforçada pela mudança
drástica do corpo no primeiro momento, compensando qualquer sofrimento. Porém,
com o passar do tempo, caso o indivíduo não tenha passado por um eficiente
auxilio terapêutico, a ameaça de que o peso pode voltar se impõe e o sintoma
“obesidade” que foi impedido pela cirurgia pode começar a aparecer em novas
vias de expressão sendo elas a depressiva e a compulsiva.
A via depressiva pode apresentar sintomas iniciais como
angústia e sensação de vazio e evoluir para transtornos depressivos manifestos.
Por outro lado, a via compulsiva pode levar o paciente de volta ao encontro com
o excesso alimentar, passando a ingerir sorvetes, leite condensado e chocolate
que são alimentos digeridos facilmente, não causando incômodo gastrointestinal
e, a partir desse momento, começa o “temido” aumento de peso que, se não
revertido, pode levar o indivíduo novamente ao quadro de obesidade (JR.; CHAIM;
TURATO, 2009).
Portanto, é de extrema importância a ação conjunta da
equipe multidisciplinar e, principalmente, o trabalho terapêutico em pacientes
que pretendem aderir à cirurgia bariátrica para reverter o quadro de obesidade.
Este profissional é responsável por auxiliar na manutenção do equilíbrio
psíquico e reintrodução social dos pacientes nos momentos pré e pós-cirúrgico.
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