Situações Precursoras da Gravidez na Adolescência
1. Introdução
Este trabalho pretende abordar um tema atual no mundo das
sociedades modernas, muitas vezes sendo visto pelas próprias famílias como um
problema social – a gravidez na adolescência. Ocorre, com isso, a união de dois
fatores muito importantes, a travessia do período da adolescência e a
inevitável vivência de uma gravidez, trazendo implicações, muitas vezes grandes
desequilíbrios, pois a maternidade em si, exige reajustes importantes na vida da
mulher, tanto em alterações corpóreas, como da inevitável mudança de
identidade. É por isso, que a união de gravidez e adolescência pode provocar
crises da adolescência e puxando mais uma, a da gravidez, sabendo-se que a
mulher fica mais frágil nesta época.
Foi feita uma revisão bibliográfica, através de
dissertações de vários autores renomados com o tema de gravidez na
adolescência. Nas leituras e pesquisas críticas de diversas obras, foram feitas
anotações, incluindo questionamentos e as respectivas respostas, foi observado
que o presente título é infindável e apenas haverá mudanças nas gerações, mas
as problemáticas oriundas da gravidez na adolescência continuarão. Os objetivos
deste trabalho é buscar melhores entendimentos sobre a gravidez na adolescência,
em quais contextos ocorre e quais suas consequências, tanto materiais como
mentais, para a mãe, filho e famílias.
2. Gravidez na Adolescência
Nas décadas de 70 e 80, verificou-se um acentuado aumento
da incidência de relações sexuais entre os jovens e, hoje em dia, a primeira
liberação sexual e a segunda a liberação feminina. Mas a educação sexual
explícita foi esquecida ou preferencialmente silenciada. A maioria dos jovens
tem sido preparada para a vida sexual adulta pela ignorância, auto formação, e pela
troca de experiências no seu grupo de pares, igualmente (mal) formados.
Baracho (2007, p.63), afirma a gravidez cada vez mais
precoce:
As
liberações sexuais dos anos 60, associadas à maior segurança oferecida pelos
anticoncepcionais orais, trouxeram mudanças radicais no comportamento sexual
dos jovens. Desde então, a atividade sexual é mais frequente e cada vez mais
precoce. Além disso, o erótico transmitido aos jovens através da mídia e o
menor controle da família e da escola contribuem de forma marcante para a
gravidez na adolescência.
Para Içami Tiba (2005, p.78), “O adolescente tem conhecimentos suficientes,
mas acredita em mitos como não há perigo de engravidar na primeira relação
amorosa”.
Existem hoje, disponíveis, múltiplas fontes de informação/educação
sexual. A mídia é uma fonte importante de informação para os jovens, mas
bombardeiam a geração de rapazes e moças com imagens de corpos perfeitos, com
sucessos, passando mensagens pouco realistas que podem provocar angústias
enquanto negligenciam a comunicação e o apego, provocando, muitas vezes, o que
por hora chamamos de “doença do século” a depressão.
Estamos perante uma realidade simultaneamente permitida e
negada, dado que nem os pais, nem o sistema educativo, nem o sistema de saúde
oferecem condições a estes jovens para que vivam uma sexualidade sem risco
(implementando uma verdadeira educação sexual e oferecendo apoio técnico),
apesar de vários programas do governo, tentativas no mínimo frustrantes. A
adolescência e a juventude convertem-se em grupos de risco, em dois grandes
sentidos: a possibilidade de terem experiências sexuais inadequadas; pelos
riscos de gravidez não planejada e pelos riscos de contágio de doenças
sexualmente transmissíveis.
Ao contrário de algumas culturas, podemos citar a cigana,
nas sociedades ocidentais a gravidez na adolescência é vista como um grave
problema. Qualquer gravidez extra-matrimonial é quase sempre motivo de
marginalização e estigma social. Porém, enquanto as sociedades ditas primitivas
encorajam precocemente o processo de autonomia e independência, na nossa
sociedade a tendência é para prolongar cada vez mais a dependência econômica
dos filhos em relação aos pais. Há ainda uma alta percentagem de mulheres
jovens que engravidam sem desejarem, embora difícil de estimar devido à prática
dos abortos clandestinos e porque, por motivos culturais, esta realidade tende
a ser ocultada.
3. Gravidezes na Adolescência e seus Principais Fatores
Os adolescentes são bombardeados continuamente com
mensagens e modelos de comportamento sexual, ora irresponsáveis ora nada
saudáveis. A
família e o sistema educativo lhes negam a formação e os serviços que precisam
para poder decidir de forma responsável sobre a sua sexualidade. Isto faz com que
os jovens se encontrem indefesos perante a poderosa “falta de educação” sexual
que se desenvolve sistematicamente nos meios de comunicação social.
De acordo com estudos, a “menarca”, primeira menstruação,
hoje chega aproximadamente com dez meses de antecedência, se levar em conta a
geração anterior, esquecemos que antigamente as mulheres menstruavam, ou seja,
possivelmente entravam em dias férteis aproximadamente 40 vezes em sua vida e
hoje em tempos de anticoncepcionais e métodos contraceptivos, menstruam por
volta de 400 vezes. Isso tudo e mais a questão higiênica das melhorias
sanitárias e de estilo de vida, seja socioeconômica e nutricional, podendo ter
nestes as causas do início precoce das relações sexuais, consequentemente
adiantando a idade em que a criança passa a ser adolescente e já pula uma fase
para se tornar mãe.
As atitudes individuais são condicionadas, seja pela
família como pela sociedade. Sendo a segunda, passando por profundas mudanças
em sua estrutura, tornou-se cada vez mais tolerante e permissiva em relação à
aceitação das relações sexuais na adolescência e antes do casamento, por vezes
até mesmo permitindo ou preferindo que tudo aconteça em seus lares e, também,
em relação à gravidez na adolescência. Os tabus desapareceram e a atividade
sexual disparou. A isto acresce uma forte pressão social exercida pelos meios
de comunicação, pelas amizades e por alguns membros adolescentes da própria
família (BARACHO, 2007).
Charboneau (1987), para as gerações anteriores, as relações
pré- conjugais eram consideradas como deslize ou uma “exceção”, mas hoje (nos
dias atuais) esta sendo considerada como algo natural e normal. É importante
que o adolescente tenha consciência das consequências que tal prática pode
acarretar e decidir se isso realmente irá ser importante, pois é algo que
pode influenciar sua vida inteira. O argumento usado para justificar tal
prática consiste na necessidade de se ter uma identidade. São movidos pelo
desejo do prazer e não por amor, “porque o amor nasce devagar, enquanto o
desejo que se torna cobiça estoura no começo da puberdade”.
Em certos casos uma atitude incorreta das mães que, para
evitarem a gravidez, acabam por se tornarem as principais fornecedoras de
contraceptivos para as suas filhas, ao invés de terem um diálogo aberto e
esclarecedor sobre sexualidade e métodos anticonceptivos. Esta prática banaliza
a sexualidade e deformam a consciência, consequências que aumentam a
vulnerabilidade das adolescentes não apenas a gravidez quanto a doenças
sexualmente transmissíveis.
A ausência da presença materna ou do bem cuidar materno
pode ser também um fator relevante, já que muitas destas adolescentes não têm
presente a tal membro. A isto, há que juntar que muitas delas concebem as
relações sexuais como forma de vingança ou castigo em relação aos pais.
As jovens que engravidam apresentam um perfil pessoal
caracterizado por rendimento escolar baixo ou já desistente, desinteresse pela
aprendizagem, ausência de aspirações profissionais, entre outros, os quais
podem perceber que sempre as levam ironicamente para um elo onde pessoas não as
podem aconselhar, o que em contra partida, para evitar a solidão, algumas
adolescentes creem que ter um filho satisfará as necessidades afetivas, que não
conseguiram alcançar em suas famílias. Outras, pelo contrário, acreditam que ter
um filho ajudará a “prender” o namorado, a sair de casa, a mostrar que já não é
uma criança ou até para provar que também pode ser mãe. Noutras circunstâncias,
o início das relações sexuais é mais um ato de rebeldia contra as normas
sociais estabelecidas. Outros fatores ligados ao início precoce das relações
sexuais estão a diminuição do prestígio e do valor familiar.
4. Repercussões da Gravidez na Adolescência
4.1 Nível físico e
psicológico
A gravidez é um período de grandes mudanças e para a
adolescente é ainda maior, pois tem que se tornar adulta mais depressa,
significando ter de abrir mão da infância. É na adolescência que ocorrem as
últimas e mais importantes transformações do corpo, sabemos que uma gravidez
entre os 12 e os 18 anos, mesmo com todas as tecnologias na área hospitalar, é
uma gestação considerada de risco, quanto mais baixa a faixa etária da
adolescente maior é a proporção de complicações obstétricas e maiores são os
níveis de mortalidade, tanto da criança quanto da mãe. Os riscos para o futuro
bebê são: a prematuridade, maior mortalidade, baixo peso à nascença, anomalias
no sistema nervoso central, dificuldade respiratória, hiperglicemia,
convulsões, entre outras.
Na Coletânea de Leis e Resoluções (2009, p. 187), esclarece
a gravidez na adolescência é considerada de alto risco:
O
comportamento reprodutivo das mulheres brasileiras vem mudando nos últimos
anos, com o aumento da participação das mulheres mais jovens no padrão da
fecundidade do país. Chama a atenção o aumento da proporção de mães com idades
abaixo de 20 anos. Este aumento é verificado tanto na faixa de 15 a 19 anos de idade como na
de 10 a
14 anos de idade da mãe. A gravidez na adolescência é considerada de alto
risco, com taxas elevadas de mortalidade materna e infantil.
Normalmente as novas mulheres, ficam com uma estatura
definitiva inferior às que amadurecem mais tarde, com todos os sofrimentos e
alegrias advindos de uma gravidez. O desequilíbrio nutritivo pode manifestar-se
por emagrecimento ou obesidade, o que ocorre na maior parte dos casos,
ocasionando também a depressão pós-parto.
Bolsanello, A., Bolsanello, M. (1996, p.403), esclarece
que: “O fato é que a gravidez
inesperada costuma deixar marcas irreparáveis nas grávidas adolescentes”. Ao descobrir
que está grávida sem planejamento, a mesma entra em pânico, algumas garotas tem
a esperança de estarem enganadas com a tal situação, a maioria das jovens se
abre com sua melhor amiga, uma professora, as reações são bem variadas. Quanto
mais cedo se descobrir a gravidez mais fácil será de controlar as emoções, o
pânico e de tomar decisões (COATES 1994).
A
instabilidade psicológica e insegurança podem conduzi-la a estados de ansiedade
e depressão para os quais contribuem o afastamento dos amigos e a relação
instável com o namorado e com a família (PEIXOTO, 2004).
Podemos considerar que as adolescentes grávidas têm que
enfrentar graves e grandes crises: os problemas e conflitos de identidade,
dependência, autonomia e autocontrole que todo o adolescente tem; a crise de
aceitação a rápidas mudanças corporais acentuadas pela gravidez, sobretudo por
se tratar de uma idade em que o aspecto fisco é tão importante e desafiador; e
finalmente, a dificuldade em aceitar o papel de mãe precisamente no momento em
que começava a poder chamar-se "mulheres", mais que outra coisa pelo
seu desenvolvimento físico, bem como em alguns casos aceitar o papel de esposa.
De acordo com Charbonneau (1987), As alternativas a serem
tomadas pela adolescente grávida são três escolhas para a tal gestação, ou aborta,
que é doloroso, ou ela será mãe solteira, condição detestável que ela carregará
durante toda a sua existência, ou fará um casamento dificultoso que será
frustrante para os dois. Como resultado destas crises a adolescente
sente-se frustrada, desamparada e com baixa autoestima, com manifestações de
ansiedade, depressão e hostilidade, sendo a taxa de suicídio relativamente alta
nesta populações.
4.2 Nível social e familiar
Acarretam vários problemas, nomeadamente a exclusão, com a
consequente pressão que a adolescente sente na escola e a imposição do
casamento. A maior parte dos adolescentes não possui educação sexual, dado que
provêm de matrizes familiares desestruturadas, onde os problemas a nível
emocional são uma constante, aliados ainda a fracos recursos socioeconômicos.
Com a
gravidez muitas adolescentes deixam a escola, ou após o nascimento do filho, são
muitos fatores precursores que levam a jovem abandonar os estudos, são eles; os
cuidados a serem tomados a respeito da criança fazem a adolescente não ter
tempo para estudar, o preconceito dos colegas da escola, depressão, falta de
interesse, a proibição do marido, entre outros (PEIXOTO, 2004).
A
adolescente grávida vive um desajustamento a nível social suscitando
sentimentos entre; vergonha e culpa, medo e insegurança, face aos
comportamentos dos familiares, amigos e da própria sociedade. Todos estes
aspectos levam a adolescente a não procurar desenvolver projetos de vida para
si e para o seu bebê. O
abandono escolar provoca uma obtenção precoce de uma ocupação profissional,
cuja remuneração é baixa e com fracas possibilidades de satisfação profissional. Por vezes, a
adolescente depende de ajuda econômica da família, do estado, enfim de outras
instituições que possa lhe dar o que realmente precisa. As mães adolescentes
que continuam a viver sobre tutela dos pais, têm índices mais elevados de
estudos, porque possuem possibilidades de completá-los, devido ao suporte para
sustentar o seu filho.
Peixoto (2004, p.1089), O adolescente, será prejudicado no
plano profissional como:
A
maioria das adolescentes do nível social menos favorecido que engravida não
completou o ensino fundamental, o que limita sua possibilidade de emprego
futuro às atividades braçais e de menor remuneração. O parceiro geralmente está
em condições escolar semelhante e também interrompe seus estudos pra trabalhar
e colaborar com as despesas advindas da nova situação. Os planos profissionais
para o futuro se tornam inviáveis, pois o ingresso precoce no mercado de
trabalho inviabiliza a formação profissional mais especializada. Entretanto, a
não realização dos planos profissionais para o futuro não significa que,
obrigatoriamente, não vencerão as primeiras dificuldades e conseguirão se
emancipar economicamente; isso pode ocorrer, mas em condições precárias.
A adolescente tem o futuro profissional mais prejudicado que o homem, pois interrompe os estudos, não ingressa no mercado, acomodando-se na situação de dependente dos pais ou do parceiro.
A adolescente tem o futuro profissional mais prejudicado que o homem, pois interrompe os estudos, não ingressa no mercado, acomodando-se na situação de dependente dos pais ou do parceiro.
A maternidade precoce leva certo ar de estigma destas
jovens, a causa desta censura acontece na maioria das ocasiões porque esta
situação ocorre muitas vezes em subgrupos específicos, nomeadamente em
contextos sociais caracterizados por fracos recursos econômicos.
Segundo Coates (1994, p. 21) esclarece que: “Os dois podem
estar desempregados e descobrir que o esforço de ficarem juntos 24 horas por
dia é maior do que esperavam”. Igualmente resultado da maternidade precoce é a
imposição de um compromisso, o casamento. A união com o parceiro, quando
ocorre, é instável e imatura. Este por sua vez, pela própria imaturidade e pela
ausência de um vínculo afetivo com frequência abandona a mãe e o filho.
O acontecimento de uma gravidez, associado a todas as
pressões a nível psicossocial que uma adolescente tem de enfrentar conduz por
vezes, à tomada de decisões no sentido de continuar ou não essa gravidez,
contudo, podemos observar que por vezes o recurso ao aborto surge como a
solução mais viável. Esta solução de interrupção da gravidez através do aborto
varia do nível socioeconômico da adolescente. As adolescentes provenientes de
meios sociais desfavorecidos possuem uma taxa mais baixa de abortos em
comparação com as de estratos mais elevados.
Contudo, na maioria dos casos, os pais deixam transparecer
uma posição de desapontamento, vergonha e até mesmo agressividade, isto pode
levar adolescente a pôr-se à parte. No caso de famílias desestruturadas a
gravidez pode agravar a falta de estrutura. Os pais da adolescente grávida são
subitamente transformados em avós, em muitos casos terão que ser eles a assumir
parcial ou integralmente a responsabilidade pelo neto.
No início da gestação, a jovem deixa de conviver com os
amigos, pois sua atenção se volta para o namorado e seus próprios pais diante
do fato, as adolescentes começam a se afastar dos amigos e do circulo de
amizades (PEIXOTO, 2004).
A adolescente grávida precisa de todo o apoio familiar,
pois as mudanças físicas, psicológicas e sociais da adolescência, aliadas a uma
gravidez precoce e à aproximação do parto desencadeiam na adolescente
necessidade de afeto e apoio.
5.Conclusão
A
desinformação e a fragilidade da educação sexual são fatores relevantes na
gravidez precoce. Ter um filho requer desejo tanto do pai quanto da mãe,
além de muita consciência, responsabilidade e um amplo planejamento, quando
isso não acontece a iminência de acontecerem problemas é muito grande. Na
procura de uma identidade e de um reconhecimento com o mundo exterior, os
jovens descobrem a sexualidade, o envolvimento, a revelação e muitas vezes com
atitudes e comportamentos que geram consequências, por vezes imprevistas ou
indesejadas. É neste âmbito que surge a gravidez, que vem como uma barreira no
desenvolvimento normal dos jovens, das meninas em particular; podendo acarretar
implicações que isso causará para sua saúde física, emocional e social. As
repercussões são muitas, como o fator social, aceitação em geral, evasão
escolar, aborto, estatura física que esta em desenvolvimento, e as dificuldades
para sobreviver, a maioria não têm uma definição profissional. Em relação à
família, acarreta transtornos principalmente no aspecto emocional, e a fase de
adaptação da adolescência e ainda a gravidez sem planejamento.
Após a execução deste estudo com o auxílio da pesquisa
literária realizada para este fim, considera-se que os objetivos propostos no
início do trabalho foram alcançados, contudo as épocas mudam e com elas a forma
de pensar e analisar as situações que surgem em cada geração, portanto é
necessário que apesar da modernidade e da evolução de costumes entre jovens; os pais e responsáveis procurem aproximar se
de seus filhos, dialogar e criar laços de amizade para que essa cumplicidade
livre-os de atos impensados e de suas consequências.
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