Dificuldades
de Aprendizagem: Um Olhar Pedagógico e Psicológico sob a Perspectiva de
Ensino/Aprendizagem
1. Introdução
Somos seres singulares e com subjetividades distintas,
principalmente no que se refere ao modo de compreender, pensar e expressar
algo. Cada um de nós, temos um tempo de processamento de informação
diversificado, e este fator é concomitantemente alterado quando englobamos
aspectos ambientais, emocionais e afetivos do indivíduo em formação.
Sabe-se que o ensino de forma geral ainda deixa a desejar,
e que muitas vezes perante a falta de estímulos e motivação
"adequados" para os professores, esse quadro fica ainda mais
agravante, pois eles refletem sua baixa autoestima na sala de aula. Não podemos
esquecer o velho sistema de ensino que também é outro fator que, ao invés de
contribuir plenamente com esse processo de ensino/aprendizagem, se contradiz no
momento em que impõe regras incongruentes na área educacional, de que, por
exemplo, mediante certa faixa etária não se pode reprovar.
Pode-se compreender então que muitos discentes são
aprovados sem atingirem a meta necessária, tendo que adequar-se a outra série
e, deste modo, abarcando suas dificuldades na aprendizagem. É muito comum
encontrarmos um grande percentual de casos semelhantes a esse e que são
rotulados como preguiçosos, desleixados, com déficit de atenção, dentre outras
nomenclaturas pertinentes.
Como diz Visca (1987), "os vínculos afetivos que o
indivíduo fixar com o objeto da aprendizagem, possibilita impedimentos ou
possibilidades". Complementando o pensamento do autor anteriormente
citado, Kaplan (1990) enfatiza que: "a aprendizagem pode ser definida como
mudança no comportamento que resulta tanto da prática quanto da
experiência". Em outras palavras, fazendo a ponte de entendimento perante
as definições de aprendizagem ditas acima, salienta-se que este desenvolvimento
ocorre independentemente da faixa etária da pessoa e está estritamente
relacionada com as vivências diárias, seja ela positiva ou negativa, pela qual
perpassa.
É importante a equipe pedagógica juntamente com o
professor, ficarem atentos com as crianças principalmente na fase de
alfabetização, pois é neste período que se identifica possíveis problemas
relacionados à dificuldade ou distúrbio de aprendizagem. Em comentário a essa
questão o autor aponta que
A
dificuldade de aprendizagem pode ser caracterizada sobre duas perspectivas:
dificuldade de aprendizagem decorrente de desordens neurológicas que interferem
na percepção, integração, ou até de informação, caracterizando-se no aluno e na
realização escolar; dificuldades de aprendizagem relacionada na aprendizagem
que reflete numa incapacidade na leitura, escrita, desenvolvimento de cálculos
para aquisição de aptidões sociais (PILETTE, 2002).
Como já comentado, é na escola que grande maioria dos casos
são detectados. Por isso, torna-se primordial que assim que diagnosticado os
primeiros sinais da dificuldade e/ou distúrbio, a escola juntamente com os pais
formem uma parceria ainda mais findada com o objetivo de buscar auxílio
profissional adequado, seja ele o psicopedagogo, psicólogo, neurologista,
médico, entre outros, para melhores orientações a respeito das metodologias ou
possíveis tratamentos.
Em breves palavras, ressalta-se que a dificuldade é
distinta do distúrbio de aprendizagem. Isto interfere na definição de ambos e
no processo relacionado à dinâmica educacional que cada discente necessitará,
caso apresente aspectos congruentes a este fator. É preciso, mesmo que haja
ainda uma defasagem estrutural escolar, mediante várias facetas, que sejam
identificados com mais atenção na educação infantil, os primeiros
comportamentos que levem a suspeita da problemática neste trabalho abordada,
pois quanto mais cedo se "descobre", melhores resultados poderão ser
atingidos com as orientações assertivas, tendo como subsídio para tal
procedimento, a escola, a família e a equipe de profissionais específicos que
darão o apoio mediante o quadro apresentado.
2. Dificuldades de Aprendizagem: Um olhar pedagógico e psicológico sob a perspectiva de
ensino/aprendizagem
Embora tenham ocorrido muitas mudanças nos últimos tempos
em termos de avanços tecnológicos dentre outros, podemos ainda pontuar um dos
problemas pelo qual infelizmente ainda perpassa-se na atualidade, que é a falta
de informações básicas a respeito da distinção do que é dificuldade e distúrbio
de aprendizagem. Em muitos casos, até mesmo a própria escola não consegue
identificar nos primeiros anos do educando tal problemática, pois às vezes não
possui capacitação para lidar com esse tipo de situação no âmbito educacional.
Levamos em consideração que a família por sua vez, apesar
de ser a principal referência na constituição do ser, também na maioria dos
casos não consegue diagnosticar se a criança têm ou não o distúrbio e/ou a
dificuldade de aprendizagem. Giurlane (2004) afirma que a influência familiar é
significativa tanto sobre os problemas de comportamento como sobre as
dificuldades no aprendizado acadêmico. Em virtude do que foi mencionado,
vejamos o que Smith fala sobre esse contexto:
O
desenvolvimento individual das crianças também é maciçamente influenciado por
sua família, pela escola e pelo ambiente da comunidade. Embora supostamente as
dificuldades de aprendizagem tenham uma base biológica, com frequência é o
ambiente da criança que determina a gravidade do impacto da dificuldade. [...]
Embora as dificuldades de aprendizagem sejam consideradas condições
permanentes, elas podem ser drasticamente melhoradas, fazendo mudanças em casa
e no programa educacional da criança (p. 20 e 21, 2001).
Podemos complementar o discurso enfatizado, relevando a
hipótese de quando o diagnóstico é feito tardiamente ou quando não se é
realizado os procedimentos adequados, a criança sofrerá consequências mais
severas, porém nada impede que essas "dificuldades de aprendizagem"
sejam sanadas.
Correia e Martins (2005) cita que: "numa perspectiva
educacional, as dificuldades de aprendizagem refletem uma incapacidade ou
impedimento para a aprendizagem da leitura, escrita ou cálculo para aquisição
de aptidões sociais". Aproveitando fio da meada da concepção dos autores
anteriormente ressaltados, vale destacar que todo distúrbio de aprendizagem
acarreta consequentemente a dificuldade de aprendizagem, pois está ligado a
fatores neurológicos, genéticos, etc., porém nem toda dificuldade de
aprendizagem pode ser considerada um distúrbio. A dificuldade pode está sendo
ocasionado por aspectos ambientais, sociais, familiares, biológicos, culturais,
dentre outros. Acerca do tema em apreço, contemplemos a seguinte
definição, que abrange de modo mais "concreto" o que fora abordado
até o momento:
Distúrbio
de Aprendizagem (DA) como um grupo heterogêneo de transtornos que se manifesta
por dificuldades significativas na aquisição e uso da escrita, fala, leitura,
raciocínio ou habilidade matemática. Estes transtornos são intrínsecos ao
indivíduo, supondo-se ocorrerem devido à disfunção do sistema nervoso central,
e que podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as
dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas de auto-regulação,
percepção e interação social, mas não constituem, por si só um distúrbio da
aprendizagem. Podem ocorrer concomitantemente com outras condições
incapacitantes ou com influências, extrínsecas porém não são o resultado dessa
condição (HAMMILL, 1988/1991).
Através das rápidas pinceladas descritas sobre os fatores e
as distinções que englobam as dificuldades e o distúrbio de aprendizagem,
co-relacionaremos neste momento a "teoria" com a prática, por
intermédio de duas entrevistas realizadas na qual serão relatadas a seguir.
Vale apena frisar que os trechos são algumas informações relevantes das
entrevistas e que por questões de sigilo, os nomes das profissionais serão substituídos
por siglas fictícias.
J. S. é professora de História e está atuando há 20 anos na
área. Através de suas experiências, diz que a maior causa das
dificuldades de aprendizagem geralmente se dá pela falta de interesse e
mal comportamento de alguns alunos e pela ausência de acompanhamento adequado
dos pais na carreira estudantil de seus filhos. Já em contrapartida, para
G. M. que está atuando no ramo de educação infantil há 7 anos, realça em seus
relatos experienciais, que compreende as causas da dificuldades de aprendizagem
como um desafio, que pode superar com os próprios esforços. Sabendo das
dificuldades que todos discentes passam independente se estudam na rede pública
ou privada, é interessante e primordial distinguir se este problema está sendo
gerado por algum motivo de base emocional/afetiva ou se tem resquícios de
origem biológica/orgânica ou neurológica.
Destacando e interligando esta vertente, questionamos as
professoras, se o distúrbio é distinto da dificuldade de aprendizagem. Para J.
S.: “-Não, dificuldades surgem no decorrer do processo em estudo, onde pode
aparecer algumas dificuldades que são sanadas. Enquanto distúrbios são
características específicas que o aluno apresenta”. Mas, para G. M.: “- Não,
quando o aluno tem dificuldade, o professor pode ajudar. Mas quando é um
distúrbio precisa também da ajuda de outras pessoas.” Em comentário a esta
questão referida, Mazer et. Al sugere
que:
Uma
criança que apresenta dificuldade de aprendizagem, provavelmente, já passou por
diversas cadeias de circunstâncias desfavoráveis para o seu
desenvolvimento e essa dificuldade, se persistir, também acarretará novos
prejuízos psicossociais, que, por sua vez, também contribuirão para a
manutenção ou intensificação dos problemas de aprendizagem” (p. 15, 2009)
Cabe neste instante, também verificar os esclarecimentos de
Vallet (1977), que em seu dizer expressivo, menciona que “o termo distúrbio de
aprender tem sido usado para indicar uma perturbação ou falha na aquisição e
utilização de informações ou na habilidade para solução de problemas”. Vimos
através das reflexões teóricas expostas nas citações, a contextualização mais
específica de cada resposta dada pelas docentes quando se referiram as
divergências de dificuldades e/ou distúrbio de aprendizagem. Em outro ponto da
entrevista, quando focado sobre a compreensão acerca do fracasso escolar e/ou
problemas de aprendizagem, os relatos foram bem contraditórios com olhares
peculiares a respeito. Para J. S.: “- o problema da aprendizagem ou
fracasso escolar pode ser compreendido através de vários fatores, depende
da visão de quem conceitua, porém o maior está na família". Na perspectiva
de G. M., ela diz que: “- vejo o fracasso escolar como espelho que
reflete em situação da escola causando a dificuldade de aprendizagem. Se a
gestão pedagógica não procurar ajuda adequada, isto tenderá a crescer e causar
outros problemas.” Ciasca (p. 29, 2003), traça o seguinte esclarecimento:
Ensinar
e aprender são processos lentos, individuais e estruturados, quando não se
completam por alguma falha interna ou externa surgem os distúrbios e as
dificuldades de aprendizagem, levando a criança não só à desmotivação quanto ao
desgaste e à reprovação, transformando-a num rótulo dentro da escola,
"perturbando" pais e professores que buscam, a partir daí, de
classificá-las e, se possível, encontrar uma solução objetiva para o quadro.
Assim, o processo de avaliação e intervenção deve ser considerado com
preocupação, levando-se em consideração esses e outros fatores importantes para
se resolver o problema do não aprender na escola.
Por todos os argumentos apresentados, torna-se nítido os
pontos discrepantes perante as entrevistas. Porém, vale lembrar que a diferença
entre o tempo de atuação e formação das professoras varia em média 13 anos.
Isto já é um detalhe a ser destacado, pois mostra a necessidade dos
profissionais da educação irem em busca de novas especializações e não se
prender as "mesmices" que absolveu em sua graduação.
Nos dias atuais, é considerável ter uma visão mais ampla e
sistêmica dos fatos, principalmente quando se trata da área educacional. Posta
assim a questão, refletimos sobre os métodos de ensino, sobre as concepções
emocionais, psíquicas e afetivas, interpessoais, estrutura econômica e
familiar, dentre outros exemplos que tanto o professor, aluno, pai/mãe,
perpassam. Em razão disso, é de suma relevância a procura de
conhecimentos/informações confiáveis além de profissionais adequados e
capacitados, para conseguir diferenciar e possivelmente diagnosticar a
problemática causadora do fracasso escolar nas crianças em seus primeiros anos
como discentes, corroborando da melhor forma cabível em seu processo de
desenvolvimento escolar e pessoal.
3. Metodologia
O presente trabalho foi desenvolvido a partir de uma
entrevista desenvolvida pelas acadêmicas e aplicada com duas profissionais da
área escolar. Foram realizadas pesquisas em artigos e outros referenciais,
estudo de caso mediante as informações obtidas (na entrevista) sobre as
dificuldades no contexto escolar e consequentemente, a integração discursiva
entre a teoria e a prática, quanto aos temas abordados nas aulas da atual
disciplina.
4. Conclusão
Em vista dos resultados obtidos da entrevista, ficou
evidente que é necessário a atualização constante dos profissionais da área da
educação, para capacitar-se melhor mediante situações de alunos que apresentam
dificuldades e/ou distúrbios da aprendizagem.
Em outra interface da problemática, percebe-se através dos
relatos e de pesquisas que, quando o profissional da educação identifica o
distúrbio e/ou a dificuldade de aprendizagem juntamente com a família e não
buscam informações adequadas, esse quadro pode resultar em rotulações,
exclusões sociais, evasões escolares, dentre outros aspectos que afetam de
forma significativa seu desempenho intelectual, emocional e psíquico.
Em virtude das considerações supracitadas, chega-se a uma
análise sucinta de que estamos constantemente expostos a estímulos que nos
levam a atualizar nossos conhecimentos. Ou seja, o processo de aprendizagem é
contínuo, individual, acumulativo e integrativo. Nesse sentido, deve-se dizer
que as diferenças singulares levam algumas pessoas a serem mais lentas no
desenvolvimento de aprendizagem, enquanto outras nem tanto. Por esta razão é
importante salientar o quão importante e perspicaz os profissionais da área
escolar e as famílias passarem a ter conhecimentos de pelo menos alguns dos
detalhes que distinguem se a criança têm problemas de adquirir novos saberes, e
também quando detectado, onde de fato se enquadram, em termos de possuírem ou
não, evidências características de dificuldades e/ou de distúrbios de
aprendizagem, para então a criança ser encaminhada aos profissionais cabíveis a
situação que se encontra.
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