O objetivo deste artigo é fazer uma
introdução da compreensão dos sonhos dentro da psicologia, trazendo o mais
fundamental dos importantes autores do campo. Para, no final, criar uma
possível síntese do essencial de suas contribuições para a atualidade.
Em 1900, Freud escreveu seu livro “A
Interpretação dos Sonhos”. De início, a vendagem do livro foi baixa, e o meio
científico se manteve em silêncio sobre os pressupostos ali contidos. Porém,
mais adiante seu livro se tornou um clássico, despertando o interesse da
comunidade científica e filosófica.
O que Freud postulou era que os
sonhos são a melhor via de acesso ao inconsciente, pois, nestes, ocorre a
realização dos desejos mais secretos dos indivíduos, aqueles que ele não admite
e, muitas vezes, nem sequer sabe que os têm.
Isso ocorre, porque, durante os sonhos, a censura que impomos ao
inconsciente (o que impede que ele se torne consciente) é reduzida e, por isso,
conseguimos de maneira onírica realizar tais desejos. O conteúdo bizarro dos
sonhos ocorre em função de duas censura. A primeira que, mesmo durante o sono,
a censura está reduzida, porém ainda existente e depois, ao despertar,
produzimos uma segunda censura que impede que reproduzamos com exatidão o
conteúdo do sonho.
Logo, com o crescimento do interesse
na psicanálise e, especificamente, nos sonhos, novas teorias surgiram. Outra
importante teoria sobre os sonhos surgiu de umas das primeiras dissidências da
psicanálise, do suíço Carl Jung. Assim como Freud, Jung considerava os sonhos
uma via para chegar ao inconsciente, porém, em sua teoria, Jung considerava a
existência do inconsciente coletivo, que é inato e permeado por arquétipos
comuns aos seres humanos e formam
símbolos. Logo, para Jung, os sonhos tinham uma função de comunicação
com o sonhador, pois, neles, ocorriam a manifestação desses símbolos que
representavam a vida do sonhador. Assim, também, os sonhos tinham uma função
compensatória, pois, neles, apresentavam-se os aspectos negligenciados pela
vida do indivíduo.
O existencialismo [01] teve grande
influência na psicologia no meado do século XX. Seguindo essa influência, aspectos da
experiência consciente do sujeito ganharam importância nas novas teorias sobre
o sonho, como no caso da teoria da Gestalt-Terapia, de Fritz Perls. Para Perls,
os sonhos traziam uma mensagem sobre o que estava faltando na vida do sonhador,
situações inacabadas que necessitavam de serem resolvidas.
Outro psiquiatra que estudou a fundo
os sonhos, seguindo a filosofia existencial, mas precisamente do filosofo alemão
Martin Heidegger, foi o suíço Medard Boss. Para Boss, o sonho é uma
continuidade do modo de ser no mundo do sujeito desperto. A importância do
sonho está em trazer à tona aspectos que a pessoa pode ter deixado de lado
quando acordado. Numa análise dos sonhos nessa perspectiva, o analista não deve
ser ater somente ao conteúdo do sonho, mas, também, principalmente, como o
sonhador responde a este conteúdo, quais os sentimentos envolvidos. Nesse
movimento, a pessoa em análise, com ajuda do analista, compreenderá sua relação
com os aspectos sonhados.
O psiquiatra existencial americano
Irvin Yalom não rejeita o constructo do inconsciente e a interpretação dos
sonhos, porém considera que nunca é possível interpretar os sonhos na
totalidade. Assumindo a noção da presença de importantes conteúdos existenciais
no sonho, ele sugere, como terapeuta, que se faça o uso pragmático dos sonhos,
concentrando-se nos aspectos mais importantes deles e compreendendo o momento
vivido pelo cliente na terapia.
A neurociência atual também vem se
debruçando em estudos sobre os sonhos e trouxe importantes contribuições. O
reconhecido neurocientista brasileiro, Sidarta Ribeiro, conclui de seus estudos
que os sonhos são restos diurnos. Segundo ele, se temos sonhos abstratos, não temos
problemas sérios, pois pequenos problemas viram um amontoado, porém, se temos
um problema sério, ele aparece no sonho de maneira bastante clara. A evolução
dos estudos das ondas cerebrais, durante o sono, mostrou que “o sistema nervoso
adormecido reativa-se de maneira a repetir os padrões da atividade da vigília”
(RIBEIRO, 2003). Sidarta Ribeiro ainda coloca que o crescimento dos estudos
bases neuronais poderá dizer se a base da contribuição de Freud e Jung sobre os
significados dos enredos dos sonhos está correta ou não.
Portanto, vendo evolução da
compreensão do sonho dentro da psicologia, adentrando os modernos estudos da
neurociência, a despeito das diferenças do concebimento das diferentes
abordagens, nota-se que elas têm em comum; considerar que os sonhos trazem
importantes mensagens existenciais, muitas vezes desconhecidas ou
desvalorizadas pelo sonhador. Além disso, é mister perceber que cada sonho tem
um significado específico para cada sonhador, não existindo um significado
geral que possa ser aplicado a determinado sonho. Logo, sendo o sonhador, o
único capaz de explorar, analisar e encontrar uma possível compreensão para seu
sonho e ao terapeuta cabe ajudá-lo nesta atividade.
Fonte:
https://psicologado.com/atuacao/psicologia-clinica/a-compreensao-dos-sonhos?utm_source=boletim&utm_medium=e-mail&utm_content=titulo_artigo&utm_campaign=psicologado_artigos&email=acimarleyfreitas@gmail.com
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