Psicologa Organizacional

28 de abril de 2016

Autoconhecimento



Autoconhecimento

Você se conhece?
Sabe por que se comporta da maneira como o faz?
Sabe o que deseja mudar na sua vida?
Sabe como mudar?

 

Desde a antiguidade, as pessoas se intrigam com o quanto conhecem da motivação do seu próprio comportamento, dos seus desejos e sonhos. A famosa exortação de Sócrates: “conhece-te a ti mesmo” traduz uma das mais antigas preocupações do homem, isto é, quanto às causas do seu próprio comportamento e do comportamento de outras pessoas. Pensadores, filósofos e pesquisadores a muito debatem o tema do que um indivíduo pode conhecer a respeito do seu próprio comportamento, ou seja, como produzir autoconhecimento e porque esse conhecimento seria relevante para as pessoas.

A Psicologia é uma área do conhecimento que busca encontrar a resposta para essa questão por meio do método científico. Ao longo dos anos, a observação sistemática do comportamento dos indivíduos tem demonstrado que as pessoas conhecem pouco a respeito do seu próprio comportamento. As pessoas acreditam que pelo fato de ter acesso privativo aos seus próprios pensamentos e sentimentos, também possuiriam um conhecimento profundo dos porquês do seu comportamento. Contudo, esse tipo de conclusão tem recebido pouco suporte dos dados obtidos no laboratório experimental, na clínica psicológica e nas observações cotidianas. Freud foi um dos primeiros pensadores a apontar o quanto da motivação humana permanece obscura à própria pessoa e sugeriu que tornar consciente essas motivações seria um passo importante para o estabelecimento de uma vida saudável.

Existem diferentes tipos de autoconhecimento. Segundo Skinner (2004/1974) uma pessoa pode saber que “está fazendo alguma coisa”, “que tende a fazer alguma coisa”, “que fez alguma coisa” ou “o porquê de ter feito alguma coisa”. Perceber o seu próprio comportamento pode ser muito útil ao tentar mudar esse mesmo comportamento. Quantas pessoas não entendem porque não conseguem: parar de beber ou usar outro tipo de droga, parar de brigar com o conjugue, estabelecer um relacionamento aprofundado com seus filhos, pais e amigos ou ter um emprego bem sucedido?

A Psicologia tem mostrado que o quanto uma pessoa conhece a respeito de si mesma é, em grande medida, fruto da interação com as demais pessoas. Descobrimos que somos bonitos ou feios, simpáticos ou tímidos, inteligentes, brilhantes ou não, pelo que as demais pessoas dizem a respeito do nosso comportamento. É nesse reconhecimento pelo outro, é no questionar e pelo olhar do outro que começamos a nos conhecer. Reflita, grande parte do que você acredita ser suas qualidades e aptidões não é fruto do que durante a sua vida as pessoas reconheceram em você? E de forma semelhante, grande parte do sofrimento humano também provém daquilo que não é reconhecido pelos demais: do que ignoramos a nosso próprio respeito ou do que não queremos reconhecer.

Autoconhecimento para mudar

A Psicologia tem também mostrado a relevância do autoconhecimento para a produção de mudanças desejadas no comportamento. Quando nos defrontamos com uma situação que não nos satisfaz, percebemos que é preciso mudar. Uma pessoa pode saber que seu casamento não está bem, que está infeliz no trabalho, que não sabe lidar com o comportamento dos filhos, que tem ataques de pânico, ansiedade ou outros medos. Muitas vezes a situação de sofrimento é clara, mas o que mudar, como mudar e em que sentido mudar, não o é.

Diante desse quadro, a psicoterapia é de grande relevância, uma vez que o psicólogo é um profissional especialmente treinado para identificar às causas do comportamento dos indivíduos. Por conseguinte, a terapia é um contexto privilegiado para o desenvolvimento do autoconhecimento, principalmente do tipo de autoconhecimento relevante para a produção das mudanças desejadas por uma pessoa, ou seja, um conhecimento do porque nós comportamos da maneira como o fazemos.

Afinal, por que precisamos nos conhecer para mudar? Porque mudar em qualquer direção não é eficiente, uma vez que na maioria das vezes não vai trazer resultados positivos em termos de qualidade de vida. Um indivíduo pode perceber que seu casamento não está trazendo mais satisfação e pode tentar mudar essa situação de inúmeras maneiras: arranjando um(a) amante, se afastando do cônjuge, bebendo, se separando, brigando, permanecendo deprimido ou efetivamente buscando o que não o satisfaz e em que medida seria possível mudar. Logo, se conhecer é um dos primeiros passos para uma mudança bem sucedida. Uma vez que nem sempre descobrir essas motivações e em que sentido mudar é fácil, a ajuda do psicólogo pode se tornar fundamental, especialmente porque a psicologia tem desenvolvido técnicas para aumentar o autoconhecimento e, após a identificação adequada do problema, de produção de mudanças efetivas.

A Psicoterapia Comportamental é uma abordagem que possui uma ampla base de conhecimento científico para os tratamentos que implementa. Nessa abordagem, o terapeuta busca estabelecer junto com o cliente objetivos de mudança. Para tanto, o terapeuta vai ajudar o cliente a reconhecer o problema, saber o que o causa e estabelecer uma meta de mudança. Ou seja, o trabalho de terapia envolve, em um primeiro momento, o desenvolvimento do autoconhecimento necessário para produzir a mudança desejada pelo cliente. Após o estabelecimento desse conhecimento, o terapeuta fornecerá a ajuda necessária para o cliente implementar a mudança.

Por esse motivo na terapia comportamental, as técnicas de auto-observação são fundamentais. Os terapeutas utilizam-se de registros, treinos de observação, escalas, questionários e a própria situação terapêutica como uma forma de aumentar o autoconhecimento e de implementação de mudanças. Esses registros são ainda fundamentais para avaliar a efetividade da terapia e dos tratamentos implementados. Eles são também uma forma do cliente aprender a manejar seu próprio comportamento, aprendendo a observar a si mesmo e como as condições em que ele vive o afetam.

 


Referência Bibliográfica


Skinner, B. F. (2004). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix (Trabalho original publicado em 1974).

 

Fonte:

16 de abril de 2016

Saúde Mental e Psicopatologias Relacionadas ao Ambiente de Trabalho


 
 
Saúde Mental e Psicopatologias Relacionadas ao Ambiente de Trabalho

 

A psicopatologia é um campo de conhecimento que se refere ao adoecimento psíquico do ser humano, o que se denomina historicamente doença ou transtorno mental. Diante das situações de trabalho no sistema prisional, esta pesquisa tem como objetivo identificar a existência (ou desencadeamento) de possíveis psicopatologias provenientes da profissão e das condições de trabalho do agente penitenciário (DALGALARRONDO, 2008). 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como a ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, psíquico e social. Do ponto de vista da saúde mental, o espaço de trabalho deve abarcar condições psicológicas e sociológicas benéficas que atuem de forma positiva no comportamento das pessoas (BERLIN E FLECK, 2005).

Para alguns teóricos, o trabalho é o fundamento da vida humana e da sociedade e constitui um espaço importante de relações interpessoais, fonte de realização pessoal, bem como desenvolvimento de habilidades. É um espaço privilegiado de socialização e de definição de identidades; portanto, a maneira de adoecer de um indivíduo provavelmente está diretamente ligada à maneira de viver deste dentro e fora do ambiente de trabalho (SILVA, 2010). 

Dentre as psicopatologias relacionadas ao trabalho destacam-se como principais os transtornos de stresse, síndrome de Burnout, síndrome do pânico. No campo laboral, o stress é um dos principais desencadeadores de sofrimento. O transtorno de stress pós-traumático e o transtorno de stress agudo vão se caracterizar pela presença de um estressor externo, como a exposição ou vivência de episódio traumático. A síndrome de Burnout caracteriza-se pelo esgotamento físico e emocional, insatisfação pessoal, passando a pessoa a apresentar comportamento agressivo e irritadiço (PEREIRA, 2010).

A síndrome do pânico, por sua vez, é um transtorno de ansiedade e diferencia-se das demais condições mentais pelos ataques inesperados e recorrentes, com crises acompanhadas de alguns sintomas específicos como medo, desconforto no peito, despersonalização, sensação de falta de ar, entre outros (MENEZES, 2004). 

Na visão dejouriana, o trabalho contém vários elementos que influenciam a concepção que o trabalhador tem de sua própria representação, que pode ser a razão para o sofrimento, e este, por sua vez, é capaz de desestabilizar a identidade, conduzindo para problemas psíquicos.

É comum que esses profissionais apresentem alto grau de stress e seus reflexos negativos físicos e psíquicos entre outros problemas, em função do dano psicológico e da mudança de convívio.  Apesar de estar associado a sensações de desconforto, o stress pode ter consequências negativas (ansiedade destrutiva, medo, tristeza e raiva.) ou positivas (equilíbrio, alegria, podendo haver momentos de ansiedade discreta, criativa) para o indivíduo, por isso é importante que cada sujeito encontre seu nível suportável de stress (SILVA, 2010).

Sendo assim, o tema deste trabalho justifica-se pela necessidade de estudos na área, já que esta profissão realiza um importante serviço público de alto risco, devido às pressões sofridas dentro e fora do ambiente de trabalho, como por exemplo, lidar diretamente com os apenados, além da superlotação carcerária, precárias condições de trabalho e risco de morte durante as rebeliões, dentre outros agentes estressores.

2. Desenvolvimento


Com base na teoria Dejouriana (2004), entende-se que o sofrimento patogênico do indivíduo surge quando a organização do trabalho entra em conflito com os desejos do sujeito, ou seja, com o funcionamento psíquico deste. A partir daí, são criadas as estratégias defensivas do homem, em relação ao ambiente, para se proteger. 

Dentre as estratégias defensivas utilizadas pelo indivíduo, destaca-se a ocultação da doença. O profissional procura encobrir seus sentimentos e angústias para que não pareça fragilizado, sobretudo diante da família e amigos. Das atitudes defensivas, salientam-se duas características existentes no comportamento do sujeito; a primeira diz respeito ao silêncio do corpo, como por exemplo, sua sexualidade; e a segunda diz respeito à relação existente entre doença e trabalho, ou seja, a vergonha de parar de trabalhar, principalmente se for do sexo masculino, que provavelmente sofrerá maior preconceito da sociedade (DEJOURS, 2012).

Dejours (2004) discute um novo conceito de saúde e considera três elementos fundamentais para a saúde do trabalhador. Sendo a fisiologia, ou seja, o funcionamento do corpo (análise do funcionamento do organismo, as regras que asseguram seu equilíbrio e sua sobrevivência), a psicossomática (relações que existem entre o que se passa na cabeça das pessoas e o funcionamento de seus corpos) e por fim, a psicopatologia do trabalho (adoecimento psíquico do ser humano, o que se denomina historicamente doença ou transtorno mental).

Sendo assim, a angústia frente aos problemas transforma-se em fuga, fazendo com que o trabalhador se distancie da coletividade social e siga em direção à decadência, como alcoolismo, violência e, consequentemente, o desprezo das pessoas e a depressão. Enfim, procuram saídas que podem levar ao risco de morte (DEJOURS, 2012).

Este profissional constitui-se como principal disciplinador no processo de ressocialização do detento através do contato direto e rotineiro com o mesmo. Deste modo, lhes são exigidas não só habilidades indispensáveis para o cumprimento de sua função, como também bom relacionamento dentro e fora do ambiente de trabalho, valores morais e éticos, além de uma estrutura psíquica muito consistente. Portanto, tendo o contato direto com os internos e sendo visto por estes como responsáveis pela custódia, estes profissionais estão expostos às situações geradoras de estresse, como por exemplo, intimidações, ameaças e agressões verbais.

Como o trabalho da unidade prisional é de 24 horas diárias, ou seja, é continuo, os funcionários estão sujeitos a horários atípicos de trabalho podendo sofrer as implicações como a redução das funções cognitivas, por causa da privação parcial ou total do sono. O trabalho noturno também é causador de transtornos fisiológicos relacionado com distúrbio do sono, que se somam a problemas de ordem social e afetiva, como as dificuldades enfrentadas na convivência em família, bem como nos círculos de amizade que ficam prejudicados em decorrência das atividades profissionais. Além destes problemas os agentes penitenciários sofrem o fenômeno da prisionização, pois se sabe que na prisão existem dois presos, o apenado e o funcionário, que em menor ou maior grau, adotam as transformações advindas do ambiente prisional, bem como suas dinâmicas.        

Para Dejours (2004), a necessidade e a insistência do ser humano em viver em um ambiente adverso é uma das principais consequências do sofrimento no trabalho. Por isso, identificar a raiz deste sofrimento e compreender a relação do trabalhador com este é de fundamental importância, pois para o autor, a primeira vítima do sistema não é o aparelho psíquico, mas sim, o corpo dócil e disciplinado, entregue às dificuldades inerentes à atividade laborativa. A partir dessa manipulação dos corpos e suas subjetividades e, por que não dizer, desses corpos subjetivos (Brito, 2012), o sofrimento é instalado.

Ao abordar a relação saúde mental-trabalho, devem-se considerar aspectos das condições de trabalho relacionados à organização e ao sofrimento mental, tais como o ambiente físico (temperatura, pressão, barulho), ambiente químico (poeira, fumaça, gases tóxicos), ambiente biológico (vírus, fungos, bactérias) e ainda as condições de higiene e segurança.

O Ministério da Saúde reconhece uma série de transtornos mentais, de personalidade e do comportamento relacionados ao trabalho, como por exemplo, delírio, transtornos cognitivos, estresse pós-traumático, neurose profissional, transtorno de vigília-sono, síndrome do esgotamento profissional (Burnout), síndrome do pânico, episódios depressivos e alcoolismo crônico. Porém, estudos sobre psicopatologia do trabalho mostram que o sofrimento no trabalho repercute não só na vida psíquica, ocorrendo assim uma desestruturação na saúde em todos os seus aspectos, como a doença mental e a doença somática (BRASIL, 2005).

“O sofrimento começa quando a relação homem-organização está bloqueada, quando o trabalhador usou o máximo de suas faculdades intelectuais, psicoafetivas, de aprendizagem e de adaptação” (DEJOURS, 2012). Portanto, o adoecimento dos profissionais depende da estrutura psíquica e mental do sujeito e da capacidade deste para suportar as pressões do trabalho. Este sofrimento é agravado pela insatisfação, medo e sentimento de incapacidade e inutilidade. O adoecimento no trabalho deve ser avaliado no contexto em que acontece, bem como deve ser pensado no sujeito que sofre, pois o sofrimento psíquico é anônimo e suportado individualmente.

Nessa perspectiva, as principais consequências, segundo Veigas (2007), da carga mental e psíquica são: fadiga, diminuição da produtividade, falta de ânimo e de otimismo (depressão) e atitudes negativas que podem levar à dependência de álcool ou de outra droga.   O autor afirma que a privação do sono devido ao trabalho noturno produz diminuição da capacidade em tarefas com exigência de rapidez, precisão, memorização. O estresse, distúrbios gastrointestinais e cardiovasculares, aumento de peso, irritabilidade e insônia são também consequências do trabalho noturno (VEIGAS, 2007).

Os agentes penitenciários tornam-se ainda passíveis de outra marca decorrente de psicopatologias do trabalho tais como: nervosismo, insônia, paranóia, estresse, depressão, dependências químicas. Sendo assim, os trabalhadores estão de acordo com a concepção de saúde, pois para a OMS, saúde não é apenas a ausência de doença, mas uma condição de completo bem-estar em todos os aspectos da vida humana (SILVEIRA, 2009).

3. Conclusão


Em vista do que foi apresentado, conclui-se que a atividade laboral é de grande relevância para a vida do indivíduo, sendo este um importante mediador das relações interpessoais. Por esse motivo, este ambiente, no qual as pessoas passam grande parte do seu tempo, deve ser tão saudável quanto o ambiente familiar.

De acordo com os dados apresentados, as condições do ambiente de trabalho são o principal causador do adoecimento psíquico desses profissionais. No entanto, percebemos certa incongruência entre o que dizem esses dados e o que mostram outras pesquisas, inclusive apresentadas ao longo deste trabalho. Pôde-se analisar que o adoecer dos profissionais está diretamente ligado ao medo e à insegurança, à atenção à profissão por parte do estado, no que diz respeito à prevenção e tratamento da saúde destes trabalhadores.  

Diante da condição de desamparo da profissão pelo poder público, no que diz respeito à saúde do trabalhador, torna-se de grande relevância criar estratégias junto aos órgãos competentes para a promoção de políticas públicas, prevenção da saúde e apoio aos acometidos de alterações psíquicas e possíveis transtornos de saúde mental.

Sendo assim, o tratamento psicológico é de grande relevância e poderá intervir nos aspectos relacionados ao bem-estar e saúde mental dos trabalhadores do sistema penitenciário que convivem diretamente com o perigo e que muitas vezes são mal vistos pela sociedade, bem como, ajudá-los a lidar em seu cotidiano tanto no ambiente de trabalho como nas relações familiar e social.

Vale salientar que no cenário do sistema prisional os apenados têm mais direitos e exigências do que o próprio funcionário, tais como assistência social e psicológica, professor, entre outras, pois o governo não oferece políticas públicas para fazer valer o direito do trabalhador, uma vez que este não tem ao menos o amparo à saúde mental, sendo que para este tratamento deve-se pagar ainda muito caro e muitas vezes o próprio plano de saúde não inclui o atendimento psiquiátrico e psicológico.

Dentre as políticas públicas necessárias para o trabalhador, deve-se pensar também em cursos de reciclagem profissional, para os trabalhadores expostos a muitas e distintas realidades como os agentes penitenciários, pois a profissão exige muito de suas habilidades e do desempenho da função, além de concurso para reposição dos profissionais demitidos ou afastados por motivos de doença e outros problemas.

Sobre o Autor:


Daiana Souza Andrade - Pós-Graduanda em Gestão do SUAS – Sistema Único de Assistência Social. Psicóloga Clínica e Centro de Atenção Psicossocial – CAPS I.