Psicologa Organizacional

22 de novembro de 2016

É hora de restaurar o Altar de Deus


 
 
É hora de restaurar o Altar de Deus

 

Texto: Gn. 8.20; 12.7; 26.24-25; 35.2-3 Esdras 3.2-3.

 

O livro de Esdras e Neemias falam de restauração.

Restauração é um dos temas básicos da Bíblia.

Em Jesus, Deus restaurou a criação caída.

Na sua primeira vinda a igreja gloriosa foi iniciada.

Mas logo entraram declínio e apostasia, e por isso precisamos novamente de restauração antes da segunda vinda de Cristo.

Se temos uma visão do plano de Deus, procuraremos fazer parte do processo de restauração que ele está realizando hoje.

 

A passagem de Esdras 3.1-6 fala de um elemento primordial da restauração: o altar.

 

As coisas de Deus são organizadas; nada é por acaso.

1. A primeira coisa que os filhos de Israel foram dirigidos a fazer foi levantar o altar.

 

Do nosso ponto de vista, as coisas deveriam ser diferentes.

 

1. Primeiro levantaríamos os muros para nos proteger dos inimigos, depois faríamos a casa, e por último o altar.

 

Mas na ordem de Deus construíram primeiro o altar, depois lançaram os alicerces da casa e a edificaram (com dificuldade e uma interrupção de 16 anos) e finalmente na geração seguinte é que levantaram os muros.

·     Vemos que a obra de restauração requer paciência.

 

1. O altar, então, deve ser levantado antes de construir a casa, pois será uma proteção melhor contra os inimigos do que os muros.

2. Depois do altar, poderemos construir a casa, formar a cidade e estabelecer o reino.

 

Vejamos o passos destes homens de fé:

 

1. Elias -  A obra principal de Elias (considerado o profeta da restauração) foi restaurar o altar do Senhor (1 Rs 18.30), o lugar da adoração.

 

2. Nóe - Depois do dilúvio a primeira coisa que Noé fez foi levantar um altar ao Senhor – para começar tudo de novo (Gn 8.20).

 

O que é restaurar o altar? O que significa restaurar o altar?

 

Vejamos a letra das músicas:

 

1. Na música; “Estou aqui mais uma vez”  - “...POR ISSO ESTOU AQUI, ENTREGO MINHA VIDA EM TEU ALTAR...”

 

2. Na música: “Poder da Oração” -  “EU CREIO NO PODER DA BRASA VIVA NO ALTAR INCENSO MISTURADO A ORAÇÃO”

 

 

3. Na música: “Eu me arrependo”  “ENTREGO MINHA VIDA EM TEU ALTAR

 

 

O que é a restauração do altar?

 

1. O altar é o local de morte.

2. É ali que nossa vida é colocada como um sacrifício para Deus.

3. No altar nós morremos para as nossas próprias convicções, vontades, desejos, expectativas, etc...

4. No altar morremos para a nossa vida a fim de podermos viver uma nova vida para com Deus.

5. No altar tem fim o velho homem.

1)                O desejo do coração do Eterno é que, após termos um verdadeiro encontro com Ele, possamos verdadeiramente morrer.

2)                Quando o sacrifício queimava, subia um cheiro que se desprendia da vítima! E é isso que o Eterno espera, que quando nossa vida for a ele oferecida, possamos liberar um cheiro suave a fim de agradarmos ao Senhor!

3)                Assim queimarás todo o carneiro sobre o altar; é um holocausto para o Senhor, cheiro suave; uma oferta queimada ao Senhor (Êx 29:18).

 

Ø A ação principal de Elias, o profeta que representa restauração, foi restaurar o altar do Senhor.

 

Ø A primeira iniciativa de Zorobabel, Neemias e Esdras ao voltarem da Babilônia para construir a casa de Deus foi levantar o altar.

 

Sem uma posição definida de ouvir a voz de Deus e depender inteiramente dela, nada de valor pode ser realizado na obra de Deus.

 

Aqui na terra Jesus vivia numa posição de total dependência em Deus. A base de sua vida era uma posição de incessante comunhão com Deus – e isso é o altar.

 

·     Deus restaura o homem da queda e do pecado, justificando-o, santificando-o e glorificando-o.

·     Ressuscita-o de entre os mortos. Dá-lhe corpo novo, revestido de incorruptibilidade e de imortalidade (1 Co 15.53). Torna-o igual a Jesus Cristo (Rm 8.29-30; 2 Co 3.18; Fp 3.20-21; 1 Jo 3.2).

 

O que significa restaurar o altar?

1. Significa restaurar a comunhão com Deus e com o seu povo, a Igreja.

2. Significa restaurar aquilo que um dia cremos (nossa doutrina), e vivemos (nossa prática), mas que por alguma razão abandonamos ao total desapreço.

3. Portanto a restauração do altar é uma recuperação daquilo que está esquecido, obscurecido.

 

A restauração repara nossa vida espiritual.

Ø Restaura o nosso fervor, nosso ânimo e nossa paixão pelo Senhor e pelas coisas do Reino.

 

Sendo assim:

A função principal da igreja hoje é expressar Deus ao mundo através de sua vida e ações.

Mas para isso ela necessita urgentemente ouvir a voz de Deus numa base contínua e permanente.

Como isto poderá acontecer? Através do altar.
 
De próprio punho
 
Acimarley Freitas

2 de novembro de 2016

Dedicação em Tempo Integral ao Trabalho X Vida Pessoal



Dedicação em Tempo Integral ao Trabalho X Vida Pessoal


 


O trabalho está intimamente relacionado à vida humana e o fato de o trabalho ser tão antigo quanto o homem já é conhecido por todos. Assim, este artigo trata da dedicação em tempo integral ao trabalho que pode ocasionar stress e prejudicar a vida pessoal de alguns profissionais.

O início do trabalho na vida do homem se deu na Pré-história, quando foi levado pela necessidade de satisfazer suas necessidades básicas, como a fome, e assegurar sua vida. O homem trabalhava para produzir o que consumia como roupas, moradia e alimentos. Posteriormente, veio a escravidão, a servidão, o contrato de trabalho e, finalmente, a Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, garantias que amenizam as preocupações dos trabalhadores. Tudo para assegurar à subsistência do trabalhador e sustento mínimo frente às necessidades de sua família, em meio ao sistema capitalismo selvagem, voltado à vida de consumo crescente.

O trabalho passou por diversas fases e épocas até chegar aos dias de hoje e ter seus direitos e deveres garantidos, porém, por vezes não respeitados, sugerindo até mesmo um retrocesso no tempo em relação ao trabalho.

As excessivas horas de trabalho que, com a tecnologia, ultrapassam as paredes das empresas, aprisionam as pessoas ao trabalho ainda que estejam em seu momento livre, de descanso, lazer e convívio social. As exigências, pressões, prazos e metas estão levando o indivíduo, muitas vezes, ao stress absoluto e ao comprometimento da sua vida pessoal, pois a pessoa não tem mais tempo para ela mesma, o trabalho a absorve como um todo, não permitindo qualquer atividade que não tenha relação com seu trabalho.

O trabalho parte do pressuposto básico da necessidade, da obrigação, manutenção da vida. No entanto, tem levado também ao sofrimento, o que se reflete nos dias de hoje, levando aos consultórios psicológicos inúmeros casos de adoecimento e stress por conta do excesso de trabalho por parte desses profissionais, que está acarretando problemas não só de saúde como também no meio social e familiar.

Antecipadamente, esclarece-se que o artigo não pretende exaurir a matéria nem tudo o que, diretamente ou não, relaciona-se com o trabalho, mas tende a situar a condição a que foi submetido o ser humano, trabalhador, no transcorrer da história. O objetivo deste artigo é tornar explícito o sofrimento que o excesso de trabalho pode causar no indivíduo e apontar as consequências para sua vida pessoal.

Esse stress que está instalado na rotina de vida das pessoas em relação às suas ocupações, não permite uma vida saudável, que flua de forma espontânea e livre. Nada é tão perturbador como não ser ou mesmo não se sentir livre.

A dedicação excessiva ao trabalho está prejudicando a qualidade da vida pessoal e a saúde das pessoas, esse excesso não permite a alimentação adequada, o descanso, o lazer, a sociabilidade e cuidados com a saúde. As exigências do trabalho que vão ao desencontro dos princípios básicos da vida saudável, das necessidades e expectativas pessoais, abrem espaço para o esgotamento físico e emocional.

Está sendo prejudicada severamente a alimentação das pessoas que, por vezes, não cumprem horário de almoço ou apenas conseguem se servir de fastfood, o que, acompanhado da falta de exercício físico, por falta de tempo e excessos de trabalhos, colocam em risco a saúde e a autoestima do indivíduo, que refletirá em todos os aspectos da sua vida. O pouco tempo livre e o convívio restrito com os amigos e familiares acabam agravando também na qualidade de vida, tornando-se um indivíduo sem descanso e sem lazer. Ninguém consegue viver bem somente à base de trabalho e mais trabalho.

O interesse da autora pelas pessoas e pelo seu bem-estar social justifica a escolha pelo tema do trabalho neste artigo, procurando saber como as pessoas se sentem em suas ocupações diárias. O trabalho está intimamente ligado ao ser humano e à manutenção da vida, a preocupação – que será tratada neste artigo - é de como as pessoas estão conciliando o trabalho e a vida pessoal.

O trabalho está relacionado com as novas configurações familiares e com a saúde pública. Porém, no dia a dia, pode-se perceber o stress na vida das pessoas, geralmente causado pela rotina de trabalho excessiva e os maus hábitos impostos por esta rotina.

Diante do que foi exposto até aqui, questiona-se: quais são as consequências que podem advir da dedicação excessiva ao trabalho? Esta dedicação pode causar tamanho stress que chegue a prejudicar a vida pessoal?

2. Histórico do Trabalho


2.1 Trabalho e Sobrevivência


Para Susseking, Maranhão e Vianna (1984), a história do trabalho é tão antiga quanto  o homem. No passado, o homem trabalhava para produzir o que lhe era necessário para viver, seja moradia, alimentos ou roupas. Ele caçava, pescava e lutava contra os animais e contra seu meio físico, tendo como instrumento as suas próprias mãos. A evolução desse homem primitivo se dá com a utilização de utensílios, armas e instrumentos de defesa.

Ao constituir as primeiras sociedades, ou povos, o trabalho era recompensado por mercadorias, como uma espécie de troca. Até então, era possível obter um trabalho através de uma simples conversa, sem exigir qualquer tipo de documentação ou comprovação de experiência anterior (SUSSEKING, MARANHÃO e VIANNA, 1984).

Com a introdução da pirâmide social, aos menos favorecidos foram atribuídos trabalhos sem remuneração, em regime de escravidão, quando sequer recebiam como recompensa moradia e alimentação para a sua subsistência. Prevaleciam os deveres do trabalhador, sem direito algum. A escravidão foi uma forma de trabalho, portanto faz parte da origem da história do trabalho, que por vezes, de forma lamentável, ainda se encontra nos dias de hoje, mas agora de forma obscura e ilegal. Sem dúvida a escravidão é a mais expressiva representação do trabalhador da Antiguidade (SUSSEKING, MARANHÃO e VIANNA, 1984).

A escravidão vai se transformando com o tempo em um sistema de servidão, no qual o trabalhador aos poucos, pessoaliza-se, passando a “existir” como sujeito de direitos. Essa condição de trabalho, com certeza, gera problemas aos trabalhadores até os dias de hoje. O trabalho parte do pressuposto básico da necessidade, da obrigação, manutenção da vida e do sofrimento, o que se reflete nos dias de hoje, levando ao consultório inúmeros casos de adoecimento e stress por conta do trabalho e seus excessos.

No período do feudalismo, que persistiu entre os séculos X ao XIII (SOIBELMAN,1981), a escravidão foi trocada pela servidão. Vianna (1991) enfatiza que o homem se submetia ao trabalho em benefício exclusivo do senhor da terra, sendo que da terra extraía em proveito próprio a habitação, a alimentação e o vestuário. Portanto, a servidão foi uma forma de escravidão, não precisamente na definição exata do termo, visto que a pessoa naquelas condições não tinha liberdade, estando sujeita a punições como a impossibilidade de ir e vir, mas recebia algo em troca pelo seu trabalho. Esta época caracterizou-se como um sistema mediador entre a escravidão e o trabalho livre (VIANNA, 1991).

O Feudalismo foi um sistema social, político e econômico marcado pela relação de dependência pessoal entre servos e senhores. O servo devia fidelidade ao seu senhor e recebia dele, em troca, proteção contra invasores, e retribuía com trabalho e taxas sobre o uso das acomodações que eram os moinhos, os celeiros e a terra (MOTA, 1997).

No século XVI, os feudos são submetidos ao governo central, devido ao surgimento do mercantilismo e à descentralização da terra como principal fonte geradora de riquezas. Nesta época, também surgem às primeiras cidades, com o aparecimento da corporação, que era um agrupamento de artesãos. O mestre era quem tinha sob controle o aprendiz, explorava economicamente o ramo da atividade. Segundo Vianna (1991), o mestre não era apenas o senhor da disciplina profissional, mas era também  o  senhor  pessoal  do  trabalhador. Melgar (1995, p. 50) sintetizou de forma adequada à condição do ser humano como trabalhador nesta época da história do trabalho: “o tipo de trabalho existente até a Revolução Industrial não era um trabalho livre, era um trabalho de escravos e servos, cuja ínfima condição social era condizente com o escasso ou quase nulo valor que se atribuía ao seu esforço”.

Dando continuidade à história do trabalho, a partir do século XIX, com a chegada da industrialização, veio o trabalho formal e foram definidas as tarefas e a remuneração. O período de crescimento industrial caracteriza-se pelo crescimento da produção, pelo êxodo rural e pela concentração de novas populações urbanas, mas, ainda assim, o indivíduo trabalhador não tinha seu bem-estar respeitado. A Revolução Industrial foi considerada um período de horror para o trabalhador, as condições de trabalho a que foram submetidos foram avaliadas como desumanas: a duração de trabalho chegava correntemente a 12, 14 ou até mesmo   16 horas por dia e havia o emprego de crianças na  produção  industrial, frequentemente, a partir dos sete anos, às vezes encontrando-se crianças ainda mais novas (DEJOURS, 1998).

Foram dadas as regras, mas elas não asseguraram, nessa época, condições de trabalho mais dignas e sensatas, embora este fosse o início para mudanças significativas que repercutem, nos dias de hoje, sendo apresentado, mesmo assim, o melhor cenário de trabalho até então. Dejours (1998) se refere a essa época falando dos baixos salários, que eram insuficientes para assegurar o sustento necessário. Os períodos de desempregos colocavam em risco a sobrevivência da família, as moradias se resumiam, na maioria das vezes, a pardieiros.

No século XX, veio o contrato de trabalho contendo regras que governam os deveres e direitos entre empregados e patrões, criaram-se as primeiras classes trabalhadoras com a categorização de cargos, funções, atribuições e salário (DEJOURS, 1998).

No Brasil, no Governo de Getúlio Vargas, foi instituída a maior legislação trabalhista do País: a Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, representada pela tão conhecida carteira de trabalho. A partir desta época o trabalhador brasileiro passou a ser respeitado pelos seus direitos, além de conquistar benefícios como férias, décimo terceiro salário, FGTS, aposentadoria, entre outras garantias para assegurar a subsistência do trabalhador e sustento mínimo frente às necessidades de sua família em meio ao sistema capitalista selvagem, voltado ao consumo crescente (DEJOURS, 1998).

Ainda nos dias de hoje, o trabalho, para a maioria dos homens é a única fonte de sustento e manutenção da família, continua atrelado à sobrevivência do homem e, por isso, o seu pagamento não pode ficar à mercê do jogo automático das leis de mercado, pelo contrário, deve ser regido de acordo com as regras da justiça e da equidade que, em caso adverso, ficariam profundamente lesadas, ainda que o contrato de trabalho tivesse sido livremente acertado por ambas as partes (DEJOURS, 1998).

As despesas e preocupações do trabalhador de fato mudaram, hoje existe um cuidado maior para com o plano de vida. As necessidades básicas são outras, evoluíram com a história do trabalho. Hoje há uma atenção maior, além da alimentação e moradia, é claro, para roupas, sapatos, escola para os filhos, lazer, esportes, entre outras. As tantas exigências que a  evolução do trabalho trouxe, e as necessidades consideradas básicas hoje em dia, fizeram também com que o ser humano voltasse ao tempo do trabalho sem descanso para que possa suprir suas sofisticadas necessidades básicas.

O trabalho, como vários autores referem, é um processo inerente ao homem e constitui a sua especificidade, pois responde às suas necessidades de vida cultural, social, estética, simbólica, lúdica e afetiva.

Para Lukäcs (1978), o trabalho não pode deixar de existir, a não ser que os seres humanos desapareçam ou se transmutem em outros seres. Quando se reflete sobre isso, com facilidade percebe-se que o trabalho é inseparável do homem.

Percebe-se, por todo o exposto, que as pessoas buscam melhores condições e posições sociais, hoje em dia o ser humano não trabalha mais apenas para a sua subsistência e de sua família e sim para o acúmulo de bens e riquezas. A evolução dos tempos levou as pessoas a querer e buscar mais dinheiro, mais conforto, segurança e estabilidade e o trabalho é a melhor forma de ganhar dinheiro e alcançar todas essas conquistas. As pessoas querem cargos e ocupações que as mantenham em níveis sociais almejados por todos. Para isso, precisam se vestir de forma adequada e ainda pagar contas que são, de acordo com seu estilo de vida, necessárias para sua manutenção.

Com todas essas mudanças sociais e históricas, a mulher se inseriu no mercado de trabalho, antes considerado um campo apenas masculino. E para dar conta das despesas do  lar, dos filhos e, acima de tudo, se sentir útil e valorizada, hoje, o trabalho em suas vidas é tão necessário para a sua realização pessoal quanto para a subsistência de sua família.

A história do trabalho no plano histórico da sua evolução e dos seres humanos contribuiu também para a mudança da sociedade como um todo, inclusive, para as novas configurações familiares.

2.2 Realização profissional X anulação pessoal


O trabalho não é só um meio de sobrevivência, é também um meio para a realização pessoal, pelo qual as pessoas se sentem úteis, capazes e respeitadas e, além de todas essas  boas sensações, é de onde ainda tiram o seu sustento.

Este artigo não está focado na diferença entre o “trabalho” e o “emprego”, mas é interessante observar que o “trabalho” parece estar mais ligado ao prazer de realizar algo e o termo “emprego” está mais ligado ao fato de ser preciso ganhar dinheiro para sobreviver.

A definição de Mário Sergio Cortella vem confirmar essa ideia de que emprego é fonte de renda e trabalho é fonte de vida.

Nosso trabalho é nossa obra, a noção grega de obra é poiesis, poesia, que nada mais é do que você elaborar. Tanto que não há estresse no trabalho, só cansaço. Cansaço representa um esforço muito grande e estresse representa um esforço sem sentido para o indivíduo. Cansaço se resolve descansando. Estresse só se resolve se ocorrer mudanças significativas (CORTELLA, 2011, p. 17).

Por vezes, esse excesso de trabalho a que as pessoas se submetem pode estar intimamente ligado ao prazer que o trabalho pode proporcionar. As pessoas trabalham para garantir seu sustento e conquistar sua independência financeira, mas também buscam reconhecimento, admiração e um modo de inserção social. E, em busca desse último, por vezes, exageram e permanecem em seus locais de trabalhos mais do que por dinheiro, mas pelo prazer da realização pessoal e inserção social.

A história do ser social e realizado só se torna real pelo trabalho; segundo Antunes (1995), é pelo processo do trabalho que se desenvolvem laços de cooperação social e o ato do trabalho, em si, faz a realização da pessoa.

Não é estranho nem raro ouvir as pessoas falarem que para a realização plena precisam de um trabalho legal, que buscam reconhecimento e liberdade para atuação. Então o trabalho está atrelado à realização pessoal, o ser humano não é um ser fragmentado por áreas da vida. Ele se realiza quando se vê como um todo, completo. O trabalho mostra-se como a constituição da realização do ser social, condição para sua existência, tornando-se o ponto de partida para a sua humanização (MARX, 1984).

Se por meio do trabalho o homem modifica a natureza, transforma sua condição de vida e se afirma homem, sabe-se que, por meio do trabalho, ele também é alienado, subjugado e dominado. São concepções que se afrontam e se encaixam quando falamos sobre a categoria trabalho,  é  um  fenômeno  contraditório  de  construção  e  desconstrução,  manutenção e transformação dos indivíduos e da sociedade. O trabalho pode ser visto como o atendimento das necessidades do indivíduo ou como o atendimento do modelo capitalista de produção como é imposto. Isso vai depender do lugar que o homem vê, do trabalho que tem e do seu nível de satisfação (FRANCO, 1991).

As pessoas podem sentir vergonha de assumir que gostam de seu trabalho e disfarçam com facilidade seu real sentimento por meio de um discurso pronto e conhecido socialmente: de que são muitas as contas e as responsabilidades que dependem do seu trabalho.

O trabalho influencia, ao longo do tempo, as aspirações e o estilo de vida, coloca-se entre as atividades mais relevantes e, de alguma maneira, firma-se como a principal fonte de significados na constituição da vida daqueles que o exercem em atividades formais ou informais (ZANELLI, 2010, p. 24).

Segundo Zanelli (2010), quando reflete sobre o campo profissional e o desenvolvimento do homem, afirma que a maioria das pessoas, por meio do trabalho, das organizações de trabalho e até mesmo das atividades informais ou o subemprego, são evidentemente influenciadas na estruturação e afirmação da sua identidade. Para o autor, a  real dificuldade é que os processos de socialização nos impulsionam para o trabalho quando, na verdade, não sabemos os seus significados e nem o seu poder, conhecimento esse indispensável para o desenvolvimento humano.

A ideia de trabalho na sociedade indica certa incompatibilidade com outros campos de nossas vidas. Para uns significa tortura e sofrimento, como o significado da história sugere. “A palavra ‘trabalho’ mostra, por si só, o conceito inicial. Do latim tripalium, era um instrumento composto de três paus que servia para torturar réus e segurar cavalos por ocasião de ferrar” (SOIBELMAN, 1981).

Para Cortella (2011), é uma grande bobagem o que as pessoas dizem sobre não misturar vida pessoal com trabalho, pois a profissão, a história da carreira, faz parte da vida pessoal, tudo se conecta na vida de uma pessoa. Na maioria das vezes, o trabalho é visto como as tarefas remuneradas, com vínculo legal que, quando mal remunerado, passa a ter inúmeros significados e não simplesmente o retorno financeiro que não está de acordo com as expectativas do trabalhador, mas também a falta de reconhecimento pelo esforço e dedicação, não favorecendo o desenvolvimento do indivíduo na comunidade de modo a prejudicá-la como um todo.

A íntima relação entre a vida profissional e a vida pessoal do indivíduo trabalhador mostra alguns fatores negativos causados pelas organizações de trabalho que vão repercutir dentro e fora da instituição de emprego. A falta de controle sobre aspectos importantes das atividades e baixa autonomia, que prejudicam a capacidade do indivíduo em enumerar as prioridades de seu trabalho diário, pensar no processo para realizá-lo e tomar decisões, são fatores que levam à exaustão do trabalhador, ao ceticismo e a pouca produtividade causada pelo cansaço físico e mental (ZANELLI, 2010).

Quando se pensa sobre a conciliação da carreira com a vida profissional, rapidamente chega-se a mediações equivalentes ao meio termo, o equilíbrio que se opõe ao excesso de horas de trabalho e ao depósito total da energia vital. Vendo desta forma, é evidente que o bem-estar encontra-se no meio termo, mas é exatamente ao tentar estabelecer esse equilíbrio que as pessoas se confundem e talvez uma razão importante para isto seja o fato de não reconhecerem realmente sua obra no que fazem e não saberem o significado daquele trabalho (ZANELLI, 2010).

Falando sobre o tempo em que se vive hoje e o atendimento das necessidades básicas, sabe-se que há muito para realizar, mas existem também leis que asseguram direitos que devem ser fiscalizados também pelo trabalhador. Um exemplo claro é que cumprido o horário de expediente, deve-se dedicar tempo às coisas que dão prazer e se desligar do ofício em vez de realizar horas extras.

Do ponto de vista de Cortella (2011), a família é crucial para esse equilíbrio do trabalhador com as outras exigências da vida, afinal para poder diminuir a carga de trabalho é necessário diminuir também o padrão de consumo. O ponto crucial dessa história é que a família perceba que para manter a condição privilegiada de vida, o trabalhador pode estar ficando triste,  angustiado e talvez não queira mais se sacrificar tanto.

As exigências das organizações de trabalho, as pressões e as cobranças diárias, acabam por intimidar o trabalhador que, por medo da grande concorrência do mercado de trabalho, praticamente se transforma em seu trabalho, não permitindo experimentar outras relações que não o liguem ao seu trabalho. Cortella (2011) não nos deixa esquecer que é um grande equívoco essa conversa de que não se leva trabalho para casa e não se mistura trabalho com vida pessoal, porque ninguém consegue ser uma pessoa aqui e outra lá, é uma pessoa inteira e levamos conosco tudo, de um lugar para o outro.

O trabalho se torna um perigo no seu excesso e no seu gasto de energia, porque se torna um hábito essa rotina de trabalho, sendo os hábitos do ser humano um dos maiores constituintes e responsáveis pelo nível de qualidade de vida (ZANELLI, 2010).

Precisa-se de tempo e de liberdade para viver com plenitude a vida, devemos e precisamos nos alimentar bem e fazer exercícios físicos, assim como ter momentos de lazer e cultura e, para tudo isso, temos que estar em equilíbrio e saber o sentido do que se faz, em todas as áreas da vida.

Adequar a alimentação e o exercício físico ao ritmo de trabalho já é uma mostra evidente de que tanto o aspecto pessoal como o profissional constituem a mesma vida da pessoa e, portanto é equivocada essa colocação de vida “essa” e vida “aquela”, pois é tudo uma vida só. “A atividade física contribui para o aumento da predisposição ao trabalho físico e mental, à diminuição do estresse, ao equilíbrio psicológico, a promoção da interação social, ao desenvolvimento da afetividade, a melhoria da integração social.” (ZANELLI, 2010, p.  33).

Para obter sucesso no trabalho não é necessário abandonar a vida pessoal, superar essa dependência do trabalho depende muito de cada indivíduo. As organizações de trabalho e todos os empregadores precisam ter um olhar mais humanizado para com o trabalhador. Buscar o sentido de estar ali, fazer respeitar seus direitos já conquistados legalmente e trabalhar essa ideia socialmente faz parte desta mudança.

Cabe aqui o pensamento de Cortella (2011) para quem de que nada adianta o homem ganhar o mundo se perder sua essência, é preciso se preocupar com o importante mais do que com o urgente.

3. Stress no Trabalho


O stress é um estado de tensão física ou psicológica fora do comum, que causa ansiedade no organismo. Trata-se da tensão provocada por situações difíceis de lidar para o indivíduo, as quais precisam de um esforço para a adaptação; geram reações psicossomáticas ou transtornos psicológicos. França e Rodrigues (1996) se referem ao stress como um termo vindo da física, comum grau de deformidade quando uma área sofre um esforço  considerável.

O stress pode ter diferentes causas, que variam de uma pessoa para outra. Dentre os motivos mais recorrentes e prováveis nas organizações de trabalho, podem-se destacar as demandas superiores às condições reais de trabalho ou prestação de serviço de qualidade, pouco ou nenhum reconhecimento profissional, falta de perspectiva e de progresso profissional, reduzida participação nas decisões organizativas de gestão e planejamento, jornadas de trabalho muito extensas, dificuldades de promoção, exposição constante ao risco, pressão do tempo e atuações de urgência, problemas de comunicação, competição no ambiente laboral e excesso de burocracia (ZANELLI, 2010).

O stress relacionado ao trabalho pode ser definido como situações em que o indivíduo percebe como ameaçador em seu ambiente de trabalho. Essa ameaça pode se referir às suas necessidades de realização profissional e pessoal ou sua saúde tanto física como mental, prejudicando o meio de trabalho, de modo que este ambiente contenha demandas excessivas ao indivíduo e que não contenha recursos adequados para enfrentar.

O stress pode ser definido como uma relação particular entre uma pessoa, ambiente  e as circunstâncias as quais está submetido que é avaliada pela pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou recursos e que põe em perigo o seu bem estar (FRANÇA e RODRIGUES, 1996, p. 24).

Esse stress decorrente das exigências do trabalho repercute na vida toda do indivíduo. Então, vivendo em um modelo de vida que se movimenta rumo a um esgotamento, é fundamental o próprio questionamento do indivíduo sobre a mudança de rota (CORTELLA, 2011). A depressão e o esgotamento, os problemas de saúde e a estagnação do indivíduo se dão quando se tem elevadas exigências e baixo controle (ZANELLI, 2010).

Vale lembrar: o que faz a pessoa adoecer não é simplesmente o stress, ainda que em uma alta escala, mas sim a forma inadequada de avaliar e enfrentar a situação estressante. Desta forma, podemos entender também que a nossa saúde está à mercê do nosso modo de vida e condição. Aqui, refere-se ao stress partindo da visão biopsicossocial, em que a  pessoa como um todo sofre e, por vezes, faz sofrer, devido ao nível elevado de stress. “Enfrentamento é um conjunto de esforços que uma pessoa desenvolve para manejar ou lidar com as solicitações externas ou internas, que são avaliadas por ela como excessivas ou acima de suas possibilidades.” (FRANÇA e RODRIGUES, 1996, p.36).

Como visto até aqui, as pessoas adoecem também por medo de lidar com os desafios e questionamentos do ambiente de trabalho, fogem dos relacionamentos difíceis e das perguntas desafiadoras, das situações que exigem mudanças, tudo isso é estressante mesmo, mas no ambiente de trabalho cabe ao empregador proporcionar a segurança e o ambiente sadio do funcionário, onde ele possa desenvolver suas aptidões, gerando equipes funcionais e humanizadas, não ficando esta responsabilidade apenas para o indivíduo que, por vezes, está vulnerável com relação ao ambiente e com sua estabilidade, que dê conta de todo  seu trabalho, cuide das relações e de todas as emoções a que o trabalho o submete.

As exigências das necessidades básicas de hoje estão fazendo com que o trabalhador volte no tempo, em que as horas de trabalho eram absurdas, não permitindo convívio social. Por vezes, as organizações de trabalho não se preocupam com isso, eles se preocupam em cobrar resultados, na maior parte das vezes financeiras, e como o funcionário está buscando atingir as metas, isto se torna problema dele. Então, com a tecnologia, o trabalho se estende à fronteira do meio físico, podendo o profissional produzir em casa ou em qualquer outro lugar, o que faz na empresa, não se desligando do trabalho nem mesmo quando já cumpridas suas horas do dia e cometendo um de seus maiores erros, o excesso. O fato de poder trabalhar em qualquer lugar significou que se pode trabalhar o tempo todo e, os trabalhadores de diversos campos de atividades “estão levando tarefas para o lar e ocupando suas horas de lazer pensando e resolvendo problemas ou mesmo executando tarefas que antes só eram feitas no local de trabalho.” (ZANELLI, 2010, p.21).

Cabe, também, tamanha responsabilidade ao nosso mundo que é obsessivamente competitivo, além, é claro, do padrão de vida, posições sociais e principalmente de como as pessoas com que se compartilha a vida vivem (CORTELLA, 2011).

Ao longo dos dois últimos séculos, apesar da dedicação dos trabalhadores para  alcançar condições mais dignas, as exigências e condições diárias de trabalho têm agravado o nível de stress e os danos à saúde. O stress do trabalho, quando é diário e não apenas uma situação passageira, gera um sofrimento que atinge toda a vida do indivíduo, não permitindo que esta flua de forma livre e espontânea.

Frente à cobrança contínua pela resolução de problemas e obtenção de produtividade, empregados ou trabalhadores que desenvolvam atividades diversificadas, em diferentes setores da economia, estão tendo dificuldades para perceber, refletir e agir em benefício da própria saúde e do bem-estar coletivo (ZANELLI, 2010, p.13).

A sociedade pós-industrial, em seus processos por constantes ajustamentos sociais, exige comportamentos do sujeito que são capazes de prejudicar a sua racionalidade e capazes de afetar a saúde daqueles que têm dificuldades de lidar e avaliar as pressões da vida. Aparece então, inusitado comportamento, causando consequência na estrutura e funcionamento das organizações de trabalho. Em resposta às mudanças, as pessoas sofrem impactos, sendo obrigadas a readaptações físicas e emocionais, tendo seu custo de energia vital aumentado e podendo trazer complicações à saúde (ZANELLI, 2010).

Para Dejours (1998), o que parece normal, correto do ponto de vista da produtividade, não corresponde, de forma verdadeira, ao funcionamento da economia do corpo, sua energia vital. Os desencontros aos princípios, necessidades e expectativas pessoais abrem espaço para o esgotamento emocional.

A duração do episódio de stress depende de algumas variáveis, mas sabe-se que quando o episódio estressante é muito longo, as consequências sobre o organismo podem ser mais sérias, levando à decadência progressiva e, às vezes, ao esgotamento, o que, obviamente, compromete o desempenho da pessoa. Isto foi descrito por Seyle, quando escreveu a  Síndrome Geral de Adaptação em 1936 (SEYLE, 1965).

O stress é capaz de disparar em nosso organismo uma série imensa de reações via sistema nervoso, sistema límbico, sistema endócrino e sistema imunológico, que são estruturas comprometedoras do sistema nervoso central com relação direta ao funcionamento dos órgãos e regulação das emoções. França e Rodrigues (1996) apontam que somente o  stress não é suficiente para causar uma doença orgânica, o indivíduo precisa estar também com uma vulnerabilidade orgânica ou uma forma inadequada de avaliar e enfrentar a situação estressante.

Diante do stress ou estímulo estressor, podem-se sentir inúmeros sintomas e reações não específicas no organismo, que vão se agravando conforme a permanência do estímulo ou o não cuidado ao indivíduo que sofre com ele (FRANÇA e RODRIGUES, 1996).

Na síndrome geral de adaptação, Seyle (1965) descreveu as três fases. A primeira é a Reação de Alerta caracterizada pelo possível aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, da concentração de glóbulos vermelhos, da concentração de açúcar no sangue, da frequência respiratória, a dilatação dos brônquios, dilatação da pupila e ansiedade. A segunda é a Fase de Resistência quando tende a ocorrer o aumento do córtex da supra-renal, atrofia de algumas estruturas relacionadas à produção de células no sangue, irritabilidade, insônia, mudanças no humor, diminuição do desejo sexual.

A terceira fase e a mais avassaladora é a Fase de Exaustão, a chegada a ela pode ser vista como uma falha de todos os meios de adaptação. Ela se caracteriza pelo retorno parcial e breve à fase de alarme, esgotamento por sobrecarga fisiológica e até mesmo a morte do organismo (SEYLE, 1965).

Do mesmo autor, extrai-se que o desgaste a que os indivíduos estão sujeitos nos ambientes e na relação com o trabalho é determinante nas doenças já que o processo diário de ganhar a vida nem sempre é fácil.

3.1 Mediações do Psicólogo Organizacional


A psicologia organizacional e do trabalho tem como base a motivação para o trabalho, comprometimento, aprendizagem, socialização, a satisfação, stress e qualidade de vida no trabalho, entre outras. E cabe ao psicólogo que detém esta função, conhecer as principais formas de conceber o trabalho (BORGES e YAMAMOTO, 2004, p.25).

De forma mais abrangente, os objetivos e tarefas deste profissional nas organizações são desenvolver, em equipes multiprofissionais, ações relativas a avaliações, reciclagem profissional, aperfeiçoamento, formação de mão de obra, preparo de equipe multiprofissional que consinta a adaptação, alocação e controle da vida funcional do trabalhador, visando à saúde, proteção, satisfação do trabalhador e que promova o seu acesso e de seus dependentes  a bens e serviços básicos. Ainda está no âmbito de atuação do psicólogo organizacional realizar estudos com o intuito de produzir conhecimento e tecnologia a respeito da psicologia organizacional, planejamento ambiental e definição de políticas de RH. Embora possam ter subáreas mais especializadas, a visão global e os seus a fins são indispensáveis (BASTOS, GALVÃO-MARTINS, 1990).

Como visto até aqui, o psicólogo organizacional tem funções importantes a realizar em uma organização, então, é muito importante que este profissional não fique apenas no recrutamento e seleção de pessoal, mas que se responsabilize pelos desafios que a circunstância de trabalho traz aos recursos humanos, ficando evidente a atuação interdisciplinar do RH.

Bastos e Galvão-Martins (1990) descrevem o trabalho do psicólogo organizacional, como profissional capaz de entender os problemas humanos, especialmente nas organizações, onde é mediador direto dos conflitos inter-grupais, de dificuldades com a liderança e da competição entre os trabalhadores. Atuante no incentivo da motivação, no cuidado com a exploração do trabalhador e no controle do nível de stress, assim a função de psicólogo ganha destaque e reconhecimento de forma que atenda às necessidades psicossociais do trabalhador, ajudando tanto no nível de grupos quanto no sistêmico da organização.

Os mesmos autores completam o assunto sobre as tarefas cabíveis ao psicólogo dentro da organização falando sobre o diagnóstico referente à necessidade de treinamentos assim como programar e estar à frente dos treinamentos de adaptação e aperfeiçoamento de pessoal, cuidando desde a divulgação, custos, instrutores, critério de participação, infraestrutura até o cronograma e objetivos, preocupando-se em avaliar o treinamento logo em seguida. Elaborar  o projeto de avaliação de desempenho e ser responsável por todo o processo e exigências, selecionar estagiários e cuidar do percurso na organização também é atribuições do psicólogo organizacional.

Pensando sobre todas estas funções, conforme mencionado acima fica sob responsabilidade do psicólogo, seja ele organizacional ou de qualquer outro setor da  profissão, o cuidado com as pessoas, o olhar humanizado, voltado não apenas para o tratamento, mas também para a prevenção dos problemas tanto de saúde física como mental. Retornando à Psicologia Organizacional, o cuidado do trabalhador se estende à movimentação de pessoal e à promoção dos profissionais externos para a organização e implantação do plano de cargos e salários.

De acordo com Zanelli (2010), referindo-se ao estágio de agravamento do stress, as intervenções em nível organizacional e grupal adicionadas a intervenções individuais aumentam as chances de êxito no tratamento, sendo o stress no meio profissional passível de identificação e de controle, assim como outros fatores de risco à saúde. Um programa de intervenção com o uso de seminários sobre o stress no ambiente de trabalho é de extrema importância pelo seu caráter preventivo e por poder ser uma boa maneira de desencadear um processo sólido de mudanças efetivas.

Desta forma, cabe ao psicólogo organizacional a execução dos meios de intervenção e tratamento do stress ocupacional, sendo ele o responsável pelo seu diagnóstico e todos os outros fatores relacionados, que possam inviabilizar o adequado fluir da vida do indivíduo.

3. Método


Todos os relatos usados neste trabalho foram colhidos nas sessões de terapia nas quais a autora deste artigo é a Psicóloga. As sessões são transcritas por mim da seguinte forma: logo após os encontros, transcrevo a sessão toda e não apenas a fala do paciente; descrevo minhas impressões do comportamento dos pacientes, seu estado de ânimo, minhas percepções a respeito do progresso da terapia etc.

Este registro tem a finalidade de apresentar relatório para a supervisão e ter anotações do paciente com a melhor exatidão possível. Para serem utilizados neste artigo, retirei as minhas falas e destaquei apenas as dos pacientes. Reiterando: são falas dos pacientes, mas escritas por mim, não houve gravação e nem registro durante as sessões, o sigilo da relação paciente/psicóloga e o anonimato dos pacientes está totalmente garantido.

Os relatos mostram as angústias das pessoas em virtude do excesso de trabalho se repercutindo na vida como um todo. Cada relato equivale a uma sessão. Optei por não mesclar o conteúdo de várias sessões para não correr o risco de perder o foco do tema deste artigo.

4. Resultados


Os resultados obtidos nos sete relatos clínicos serão apresentados na tabela abaixo na qual constarão o local de trabalho dos profissionais, as consequências físicas e emocionais devido ao excesso de trabalho e a pressão que o trabalho exerce sobre o trabalhador.

Local de trabalho
Consequências físicas do excesso e das pressões do trabalho
Consequências emocionais do excesso e das pressões do trabalho
Banco
Cartório de notas
Clube esportivo
Empresa privada
Escola Infantil
Universidade
Desânimo
Cansaço
Dores pelo corpo
Aumento de peso
Visão embaçada
Descontrole do apetite
Sono desregulado
Angústia
Depressão
Stress
Medo
Sensação de insegurança
Estado confuso de pensamento
Raiva
Tristeza
Desejo de desistir do trabalho
Adiamento da maternidade

5. Discussão da Experiência


Serão apresentados relatos que configuram a situação do trabalhador diante das pressões e do excesso do trabalho, situações que podem provocar stress e prejudicar a qualidade de vida pessoal. Os relatos foram transcritos rigorosamente conforme foram recebidos, ou seja, não foram editados os erros de gramática a fim de se manter a veracidade da situação em que se encontravam os profissionais.

Estando o trabalho intimamente ligado ao ser humano, fica fácil deduzir que ele influenciará toda a vida prática da pessoa e, ao longo do tempo, até em suas aspirações.

Como afirma Zanelli (2011) e se apresenta neste relato: “Não sei se vou aguentar ficar sem mexer no computador, trabalho o dia todo com ele, é praticamente a extensão do meu corpo (risos)”... e neste outro trecho “Desde muito jovem sonhei em trabalhar com o que trabalho hoje, mas o que acontece é que não tenho tempo de fazer mais nada além de trabalhar, nem meus namoros vão para frente (risos)”. Esse relato ainda fala das exigências do trabalho que vão ao desencontro das necessidades e expectativas pessoais. Zanelli (2011) diz que essa experiência abre espaço para o esgotamento físico e emocional.

O retrocesso da relação trabalhador/empresa no que diz respeito aos direitos obtidos na CLT mostra como as pressões, as cobranças e as condições de trabalho podem causar stress e afetar a saúde do indivíduo. Conforme aponta Dejours (1992) e se mostra neste relato: “não tenho horário de almoço nem de janta (risos), faço as refeições sem sair da frente do computador. [...]. Sinto-me indisposto e estou 8 kg acima do meu peso” e também consta em outro relato: “Eu estou cansado, não estou conseguindo dar conta das minhas metas. [...]. Não faço horário de almoço e sempre passo das seis da tarde”. E “Acho que estou com algum problema, antes não sentia esse cansaço, desânimo, quando não trabalho só quero dormir e quando acordo já penso no meu dia de trabalho e não quero levantar”. Constam os mesmos sintomas em mais outro relato: “Estou tão cansada da minha rotina... Chego em casa acabada, parece que apanhei. Meu marido reclama que não tenho outro assunto”. E em mais outro  relato: “Todos os dias chego em casa com dor de cabeça”. Esses sintomas evidenciam que o ponto de vista da produtividade não corresponde, de forma verdadeira à energia vital (DEJOURS, 1992).

As relações do homem com seu trabalho e com as pessoas com quem trabalha, podem gerar emoções desprazerosas e propiciar várias reações, conforme França e Rodrigues (1997) e reportado nos relatos: “Ultimamente ando muito desatenta no serviço, não estou lendo direito, erro o pedido dos ofícios [...]. O chefe do cartório diz para eu melhorar a cara e passar maquiagem, fala para eu deixar meus problemas na minha casa, que lá é um ambiente de trabalho e não é lugar para afogar as mágoas [...]. Ainda não converso com a Claudia (outra funcionária do cartório) e ter que ver ela toda dia é difícil”. O problema de comunicação é um fator considerável para o stress ocupacional, segundo Zanelli (2011). Essas situações provocam também desarranjos emocionais, uma tensão física e psicológica fora do comum: “Sou muito chamada à ordem, pareço criança. Estou triste e choro sem motivos, quando me olho no espelho estou com os olhos inchados”, confirma-se aqui o que dizem França e Rodrigues (1997). Os fatores negativos vividos nas organizações repercutem fora dela também, afirma Zanelli (2010).

Chego em casa e tenho que encaminhar e-mails para os pais falando as atividades que a salas realizaram naquele dia, e anotar se aconteceu alguma eventualidade com ‘seu filho’ especificamente”... E neste outro relato: “Meu serviço é ficar na portaria, olhar as carteirinhas, marcar os nomes e só, ganho para isso. Todos os dias têm que cobrir os seguranças do clube, conferir os armários, cuidar dos achados e perdidos, fechar o portão da piscina e ainda ouvir ameaças do responsável do RH que me contratou”, essas falas são de fato preocupantes, segundo Zanelli (2011) o excesso de trabalho, quando existem elevadas exigências e baixo controle, pode levar á depressão, esgotamento, estagnação e problemas de saúde.

Conforme Marx (1984), as pessoas buscam, pelo trabalho, reconhecimento mais do que dinheiro e se sentem de fato um ser social por meio dele. No relato seguinte fica evidente esta vontade de ser reconhecido: “Mas ele não vê tudo que me pedem para fazer e tudo que eu faço, tô cansando dessa conversa e com vontade de pedir as contas”. Posteriormente, mas no mesmo relato, o indivíduo se percebe confuso, sendo prejudicado pela pressão no trabalho a ponto de ter dificuldade em reconhecer seu próprio papel tanto na empresa como na sociedade: “Vai entender, não sei mais qual é a minha função de verdade, acho que não estou sabendo nem qual é minha função na sociedade”, corroborando Franco (1991) quando afirma que o trabalho pode também ser dominador, alienar e desconstruir o indivíduo.

No próximo relato, a fala do profissional deixa claro que ele se reconhece no que faz e que tem o trabalho como fonte de vida, como se refere Cortella (2011) quando diz que é por meio do trabalho que a pessoa se sente útil e se realiza: “Falo com muito orgulho do meu mestrado que paguei com dificuldade e conciliei com o escritório para poder ser professor um dia”. O excesso de trabalho a que este profissional se submete está intimamente ligado à satisfação que ele sente por meio desse, como afirma Cortella (2011). Segue relato: “Estou me sentindo cansado, sobretudo por dar aula após trabalhar o dia inteiro, sinto dores na perna. A hora que está todo mundo indo para casa ficar com sua família, eu estou indo começar uma nova jornada”. Ainda no mesmo relato: “Tenho medo de estar me ausentando muito da minha casa para fazer minhas realizações. Minha mulher diz que sou muito egoísta”.

As exigências e as condições do trabalho podem nos desanimar ainda que gostemos do que realizamos, afirma Zanelli (2010); e isto se demonstra nesse relato: “Na faculdade, o professor não pode ter dúvidas, tem que saber a matéria e, sobretudo, conseguir passá-la aos alunos, com um agravante: ainda vou ser avaliado pelos próprios alunos, muitos deles que não têm interesse nenhum em aprender, então, me sinto pressionado a agradar mesmo a quem não quer aprender. Fico em pé o tempo todo para impor mais respeito”, afirma-se ainda nesta fala: “E também estou cansado das regras das instituições de ensino, me incomodam, me deixa cansado e por vezes faz com que eu pense em parar”.

Neste outro relato, fica evidente a anulação pessoal para a obtenção da realização profissional: “Acho que estou ficando velha para ser mãe, meu marido quer ter um filho, mas agora eu não posso. Quero primeiro ser efetivada como arquiteta, não quero morrer como desenhista, fora que eu não entrei na lista para esse ano. Na empresa, o RH conversa para ver quem vai engravidar no ano”. Frente à pressão do trabalho, as pessoas estão com dificuldades de pensar e agir em favor da sua realização pessoal, como o desejo de ser mãe, em benefício da sua saúde e do bem-estar das pessoas que a cercam (ZANELLI, 2010).

6. Considerações Finais


São as mais variadas as consequências advindas do excesso e das condições de trabalho. Elas vão desde o stress, depressão, angústia, medo, tristeza, insegurança, ao estado confuso de pensamento, raiva, desejo de desistir do trabalho, adiamento dos sonhos. Tudo  isso favorece a somatização que aparece como desânimo, cansaço excessivo, dores pelo  corpo, aumento de peso, visão embaçada, descontrole do apetite, sono desregulado, entre os possíveis e inúmeros sintomas que variam de pessoa para pessoa.

O stress causado pelo excesso de trabalho, pressões diárias, pouca autonomia, horários não respeitados, está levando algumas pessoas a não conseguir pensar e agir em favor de seu bem-estar. O consumo voraz em que vivemos é um dos grandes vilões dos trabalhadores que não conseguem, nem podem parar de trabalhar, muitas vezes sendo sujeitados a situações desrespeitosas e a cobranças excessivas, destruindo sua saúde e anulando seus desejos e prazeres pessoais, tudo por precisar suprir suas necessidades básicas que hoje vão além da alimentação, moradia e vestimentas.

Quando as pessoas falam que dormem e acordam pensando no trabalho, é como se dissessem: não tenho tempo de fazer exercícios, passear, alimentar-me adequadamente, nem mesmo descansar.

Este artigo deixa evidente que a dedicação exagerada ao trabalho pode acarretar stress que repercute na vida pessoal do indivíduo, que se priva dos cuidados com a saúde no dia a dia e dos momentos de descanso e lazer. Na maioria das vezes, essas pessoas não conseguem fazer mais nada além dos afazeres profissionais, mesmo os que trabalham com o que se identificam e gostam, podem sofrer com os males do excesso.

A pesquisa não se esgota por aqui, este artigo serve para ajudar a refletir sobre as consequências do excesso de trabalho, mas outras pesquisas podem ser feitas a partir, por exemplo, dos setores específicos mais estressores.


 

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