Psicologa Organizacional

25 de março de 2017

Como escolher o "pastor" ideal


 
 
Como escolher o "pastor" ideal?

 

 

A vida cristã, como bem disse um dos principais autores bíblicos, é uma vida "renovada", uma "nova vida". Os velhos "pré" conceitos deveriam ficar de lado, e darem lugar a novos horizontes, novas maneiras de ver o mundo... e principalmente... as pessoas.

 

Veja a lista de candidatos abaixo, e reflita se eles seriam aceitos, através de seus currículos, para uma possível vaga de pastor em sua igreja... Leia o texto como se a "análise curricular" estivesse acontecendo em alguma reunião de Comissão..

 

O que se segue é um relatório confidencial sobre vários candidatos sendo considerados para o pastorado.

 

Adão: Bom homem, mas com problemas com a esposa. Também houve uma informação de que ele e a esposa se comprazem em caminhar nus pela mata.

 

Noé: Pastorado anterior de 120 anos, sem obter sequer um converso. É muito dedicado a projetos de edificação extravagantes.

 

Abraão: Embora tenhamos informações sobre prática de troca de esposas, os fatos parecem indicar que nunca dormiu com a esposa de outro homem, mas ele ofereceu compartilhar sua própria esposa com outro homem.

 

José: Um grande pensador, mas um tanto convencido que acredita em sonhos, pondo-se a interpretá-los. Temos registro de passagem pela prisão.

 

Moisés: Homem modesto e manso, mas um pobre comunicador, chegando às vezes a gaguejar. Houve ocasiões em que perdeu a paciência e agiu de modo rude. Há quem diga que deixou uma igreja anterior sob acusação de assassinato.

 

Davi: O líder mais promissor de todos, até que descobrimos um caso que teve com a esposa de um dos seus obreiros.

 

Solomão: Grande pregador, mas nossa casa pastoral não teria espaço para aquelas tantas esposas [e sogras] dele.

 

Elias: Dado à depressão. Entra em pânico sob pressão.

 

Oséias: Um pastor terno e amorável, mas nosso pessoal não terá como lidar com a ocupação da esposa.

 

Débora: Forte líder e parece ser ungida, mas é mulher.

 

Jeremias: Emocionalmente instável, alarmista, negativista, sempre lamentando coisas. Relata-se que fez uma longa viagem para sepultar roupas íntimas às margens de um rio.

 

Isaías: Reivindica ter visto anjos na igreja. Tem problemas com a linguagem.

 

Jonas: Recusou o chamado de Deus ao ministério até ser forçado a obedecer, sendo engolido por um grande peixe. Ele nos disse que o peixe mais tarde o vomitou numa praia perto daqui. Deixamos em suspenso.

 

Amós: Muito atrasado e sem polimento. Com alguma instrução no seminário poderia oferecer alguma promessa, mas se encrenca com pessoas ricas. Poderia adequar-se melhor a congregações mais humildes.

 

Melquisedeque: Grandes credenciais no atual local de trabalho, mas de onde procede esse sujeito? Não há informação em seu "Currículo" a respeito de ocupações anteriores. Todos os espaços a respeito de seus pais foram deixados em branco e ele se recusa a fornecer a data de nascimento.

 

João: Diz que é batista, mas definitivamente não se veste como alguém que o seja. Dormia por meses ao ar livre, e emprega um regime alimentar esquisito, além de provocar líderes denominacionais.

 

Pedro: Muito proletário. Tem um mau temperamento, e soube-se que chegou até a xingar. Teve uma discussão "face-a-face" com Paulo, outro candidato a pastor. É agressivo, mas tem um grande coração.

 

Paulo: Líder poderoso, do tipo Alto Executivo, e pregador fascinante. Contudo, tem pouco tato, é implacável com jovens ministros, muito severo e soube-se que prega a noite toda. Também tem problemas nos olhos, o que lhe afeta a visão até para escrever.

 

Tiago e João: Pacote vantajoso de pregador e associado que a princípio parecia bom, mas descobriu-se que tinham um problema de ego com respeito a colegas de trabalho e posições. Ameaçaram uma cidade inteira após um insulto. Também sabe-se que tentaram desanimar obreiros que não se dispunham a acompanhá-los.

 

Timóteo: Muito jovem!

 

Matusalém: Muito velho! Aliás, BEM velho mesmo!

 

Jesus: Tem tido ocasiões de popularidade, mas uma vez Sua igreja alcançou 5.000 e Ele conseguiu ofender essa gente toda. Daí a igreja diminuiu para doze pessoas. Raramente permanece num só lugar por muito tempo. E, logicamente, há o problema de ser solteiro.

 

Judas Iscariotes: Suas referências são sólidas. Um grande planejador. Conservador. Tem boas ligações. Sabe como lidar com finanças. Estamos convidando-o para pregar neste sábado. Vemos possibilidades aqui.

 

"Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração" - 1Sam. 16:7.

 

 

CUIDADO COM OS JULGAMENTOS!

 

QUEM QUER VER SÓ O NEGATIVO SEMPRE VAI ENCONTRAR!

 


 

22 de março de 2017

RACISMO E SAÚDE MENTAL


 

RACISMO E SAÚDE MENTAL
 
O Brasil é o país com o maior contingente de negros e negras fora da África, correspondendo a 52,9% dos brasileiros.I É a segunda maior população de negros e negras de todo mundo - 104,2 milhões de pessoas, atrás apenas da Nigéria.
 
Quando confrontamos os indicadores sociais – saúde, renda, educação, moradia, emprego, justiça ou qualquer outro que queiramos, a população negra está sempre em desvantagem quando comparada à população branca, o que nos permite assinalar a dimensão da desigualdade racial, para além da desigualdade social brasileira.
 
Esses dados aliados a história de escravização dos afrodescendentes determinam não só a ocupação de um lugar social, como também, a ocupação de um lugar simbólico no imaginário da sociedade brasileira que contribui para a perpetuação do racismo, através da discriminação e da exclusão de grande parcela deste segmento.
 
O campo da educação são espaços privilegiados para transformação e mudança de crenças e preconceitos, ao contrário disto, temos constatado como esses espaços têm sido ao longo do tempo, campos privilegiados para o silenciamento do racismo, dificultando as ações para o desenvolvimento de subjetividades coerentes e compatíveis com os pertencimentos raciais da realidade brasileira. Isto ocorre ora com a conivência, ora com a ignorância sobre relações raciais por parte dos profissionais que atuam nas instituições.
 
A identificação desses fatores podem favorecer por um lado, a intervenção na dimensão subjetiva dos indivíduos, necessária para trazer à consciência as representações depositadas no imaginário social, que brancos e negros têm de si e do outro e, por outro, a formulação de ações estratégicas que garantam, conforme os princípios do SUS, a equidade na atenção à saúde dos diferentes grupos que compõem a sociedade brasileira.
 
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra – PNSIPN , em seu processo de construção, passou por todas as instâncias de decisão até sua aprovação e publicação no Diário Oficial em 2009. Assim a PNSIPN “rezou” na cartilha do SUS, cumpriu todos os passos para sua institucionalização.
 
No entanto, o planejamento elaborado para a implantação da política jamais foi colocado efetivamente em prática e sequer foi monitorado e avaliado.
 
O Estatuto da Igualdade RacialII transforma a políticaIII em lei “... O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos.”
 
O Ministério da SaúdeIV assinala que
 
“A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) é uma resposta do Ministério da Saúde às desigualdades em saúde que acometem esta população e o reconhecimento de que as suas condições de vida resultam de injustos processos sociais, culturais e econômicos presentes na história do País. (...) não há como negar que persiste ainda hoje, na nossa sociedade, um racismo silencioso e não declarado. A persistência desta situação ao longo desses anos é facilmente observada na precocidade dos óbitos, nas altas taxas de mortalidade materna e infantil, na maior prevalência de doenças crônicas e infecciosas, bem como nos altos índices de violência urbana que incidem sobre a população negra. (...)”.


A Marca da política é o “ reconhecimento do racismo, das desigualdades étnico -raciais e do racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde, com vistas à promoção da equidade em saúde ”, e suas diretrizes gerais preconizam:

 

Inclusão dos temas racismo e Saúde da População negra nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da Saúde e no exercício do controle social na Saúde;

 

Ampliação e fortalecimento da participação do Movimento Social Negro nas instâncias de controle social das políticas de saúde, em consonância com os princípios da gestão participativa do SUS, adotados no Pacto pela Saúde;

 

Incentivo à produção do conhecimento científico e tecnológico em saúde da população negra;

 

Promoção do reconhecimento dos saberes e práticas populares de saúde, incluindo aqueles preservados pelas religiões de matrizes africanas;

 

Implementação do processo de monitoramento e avaliação das ações pertinentes ao combate ao racismo e à redução das desigualdades étnico-raciais no campo da saúde nas distintas esferas de governo;

 

Desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação, que desconstruam estigmas e preconceitos, fortaleçam uma identidade negra positiva e contribuam para a redução das vulnerabilidades.

 

Portanto, é dentro da perspectiva de promoção da saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, a discriminação e o enfrentamento ao racismo e sexismo nas instituições e serviços do SUS, é que esperamos dos gestores e dos trabalhadores da saúde o compromisso com inclusão da temática em todas as ações da Rede de Atenção Psicossocial de Saúde, em particular, nas ações de educação permanente quando se pensa na formação dos servidores frente à nova proposta de reorganização dos serviços.

 

É importante salientar que “O exercício da prática desta política e o aperfeiçoamento da gestão solidária e participativa irão contribuir para a consolidação do Sistema Único de Saúde, objetivo de todos que lutam pelo direito universal à saúde como uma condição para a democracia participativa”.

 


 

 

18 de março de 2017

A Linguagem do corpo e a Comunicação nas Organizações


 
 
 
 
 
A Linguagem do corpo e a Comunicação nas Organizações
 
 
 
 
 
 
Introdução
 
A fala é só mais uma das formas de expressão do humano, porque há muitos outros meios de manifestação além da palavra. No Século XX, pesquisadores como Charcot, Freud e, posteriormente, Reich começaram a valorizar o não dito. Se é não dito, como é possível acessá-lo? Atentando-se ao conteúdo onírico dos sonhos, aos gestos, às expressões faciais, às posturas corporais entre outras formas.
Charcot (1892, apud FREUD, 1973), ao examinar suas pacientes despidas, pretendia verificar a relação da patologia com a anatomia. Embora não encontrasse o que procurava, sua investigação levou-o a perceber que o corpo de suas pacientes expressava sintomas psíquicos.
 
Freud (1996), por sua vez, foi o primeiro a explorar, em 1888, o potencial terapêutico da linguagem corporal. Em um de seus comentários sobre o caso Dora,4 diz: “quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir pode convencer-se de que nenhum mortal pode guardar um segredo. Se seus hábitos permanecem silenciosos ele conversa com a ponta dos dedos; a revelação transpira dele por todos os poros (FREUD, 1996, p. 72)”.
 
É com Reich (2009) que a linguagem corporal ganha força e passa a se constituir em uma importante vertente da psicoterapia. Ele colocou como elemento central de sua análise do caráter a observação dos aspectos não verbais, como o tom de voz, a movimentação do paciente, as posturas adotadas por eles, a expressão do olhar e a mímica corporal.
 
A leitura corporal é o nome que se cunhou no âmbito da psicoterapia para designar o campo de estudos e práticas que tratam da utilização de outros elementos além do que é expresso pelo conteúdo das palavras dos pacientes.
 
O esforço, neste artigo, é mostrar a importância e as potencialidades da linguagem não verbal no processo de comunicação, ou seja, na prática das relações entre os indivíduos no ambiente de trabalho. No âmbito das organizações, que contribuição poderia advir da leitura da linguagem corporal – linguagem não verbal – para o desenvolvimento das relações interpessoais e, como consequência, para a eficácia do trabalho?
 
A cada dia percebe-se mais o valor dado pelas empresas àqueles indivíduos que têm maior capacidade de relacionamento interpessoal. É comum nas entrevistas de seleção a utilização de dinâmicas e técnicas que envolvam a interação entre os indivíduos. Nessas entrevistas, observa-se que o mais importante não é o que se fala, mas como se fala, ou seja, as expressões não verbais.
 
Para alcançar êxito em seu propósito, o artigo foi estruturado tendo em vista a importância da linguagem não verbal na comunicação interna das organizações. Ao se fazer isto, o olhar da Psicologia adquiriu relevância no entendimento das dificuldades e vantagens dessa modalidade de linguagem. Por fim, são apresentados alguns aspectos acerca do uso da linguagem corporal nas relações internas das organizações.
 
Não se ambicionou neste artigo captar e mostrar todo o universo da comunicação não verbal nas relações, em especial, de trabalho, mas apenas projetar alguns de seus ângulos e algumas de suas facetas, de maneira a tangenciar as necessidades imediatas daqueles que se preocupam com a temática em questão – a linguagem não verbal no interior das organizações.
 
 
A linguagem Não Verbal e Sua Importância na Comunicação
 
 
A linguagem em qualquer uma de suas modalidades é fator essencial nas relações interpessoais e grupais. É a linguagem que viabiliza a transmissão e a recepção de mensagens. No entanto, quando se fala em linguagem, normalmente pensa-se na linguagem verbal, ou seja, nas palavras, sejam elas escritas ou faladas. Comumente, se esquece que há também outra forma de linguagem presente em nossas relações com o outro e com o mundo – a linguagem não verbal, que pode estar expressa nos sons, nos gestos, nas expressões faciais, na motricidade corpórea, na arte, nos símbolos com significação conotativa, entre outras situações.
 
O desenvolvimento de altas tecnologias midiáticas tem facilitado a emissão e recepção de mensagens; no entanto, o contato pessoal tem ficado em segundo plano. Internet, intranet, portais corporativos são instrumentos importantes na comunicação entre as pessoas, mas não suprem a necessidade de encontros presenciais. Ao contrário, ampliam essa necessidade (Wolton, 2010, p. 34).
 
A linguagem não verbal pode ser reveladora das relações de comunicação entre os indivíduos. O corpo fala, expõe “verdades”, reforça ideias, favorece ou dificulta o entendimento; enfim, dá ênfase à comunicação. Assim, a linguagem muitas vezes se constitui como instrumento de poder/controle.
 
O cinema mudo é uma forte demonstração da importância da linguagem corporal. Quem não se lembra de Tempos Modernos, de Carlitos? As relações de poder e controle são explicitadas em cada cena, a insatisfação com o trabalho, a rotina, a automação do sujeito.
As organizações são constituídas de pessoas, e cada vez mais sua efetividade é atravessada pelas relações fortalecidas entre os indivíduos. Assim, a comunicação não verbal pode constituir-se em uma das formas para a construção de relacionamentos mais saudáveis e coesos. Somos de tal maneira marcados por essa linguagem que até hoje a utilizamos em nossas relações pessoais e de trabalho. Poder-se-ia, então, perguntar o que leva à valorização da comunicação verbal em detrimento da gestual?
 
Pode-se arriscar a atribuir essa dicotomia entre linguagem verbal e gestual ao pensamento cartesiano, que separa corpo e alma – res cogitans / res extensa. Na atualidade, parece ser importante resgatar a linguagem gestual porque assim podemos retomar o homem como um ser indivisível, uma totalidade – corpo e alma como parte da mesma realidade.
 
Desta forma, a linguagem não verbal assume papel importante na eficaz relação entre as pessoas. Inclusive, das boas relações entre o público interno de uma organização depende o grau de seu “sucesso” de mercado. O aprimoramento da comunicação interna tem estreita relação com o conhecimento, a compreensão e o cuidado com essa forma de linguagem um pouco esquecida.
 
 
A Comunicação e a Linguagem Corporal
 
Mesmo com o desenvolvimento de todo o seu aparato biológico, o homem mantém alguns gestos que o caracterizam como ser humano, o que ele não deixou de ser. Prova disto é a existência de expressões universais, como a manifestação da tristeza, da alegria, da felicidade, da raiva e do medo através de seus gestos (HOCKENBURY; HOCKENBURY, 2003). Dessa forma, a todo instante o “corpo fala” de forma consciente e inconsciente, e isto tem passado despercebido nos relacionamentos internos das organizações, gerando muitas vezes conflitos.
 
Segundo Weil e Tompakow (1982), pode-se comparar características de animais, que eram símbolos para culturas antigas, a características posturais e gestuais humanas que trazem significados emocionais e psicológicos do homem como sujeito. Esses autores, a partir de suas pesquisas, delimitaram três instâncias representadas no corpo: a vida vegetativa – sono, fome, sexo – localizada no abdômen; a vida emocional, localizada no tórax, e a vida intelectual, localizada na cabeça. Seus estudos mostram que a projeção excessiva ou retração dessas regiões, bem como o posicionamento equilibrado, expressa como o sujeito se sente em determinadas circunstâncias e pode assinalar o modo de ser desse sujeito. Para esses estudiosos, o individuo que mantém o tórax em projeção anterior exacerbada, possui um ego inflamado, ou seja, tende ao egocentrismo.
 
Os autores destacam a necessidade de se observar o olhar, o sorriso e o posicionamento dos membros, das mãos e dos pés, porque essas posturas e expressões corporais estão carregadas de significado. Pode-se depreender daí que essas formas de expressão corporal podem ajudar na realização de uma leitura da comunicação intrapessoal, interpessoal e intergrupal. Os pesquisadores constataram que os gestos ou as posições vistos isoladamente não necessariamente possuem uma significação clara e padronizada. Faz-se necessário avaliar a harmonia dos pequenos gestos e movimentos: dos lábios durante um sorriso; das expressões da região ocular; a direção para onde apontam joelhos; a forma como pés e mãos se posicionam, se estão flexionados ou em movimento, e também a inclinação do tronco.
 
Para o entendimento das relações entre as pessoas, deve-se tentar analisar o que a linguagem corporal está dizendo, considerando-se que cada indivíduo é um ser único diante de situações novas que se apresentam. Isso, de certa forma, ficou um pouco esquecido, porque o uso das palavras fez que a atenção fosse focada na linguagem verbal, ficando despercebido muito do que o corpo diz.
 
Diante dessas ponderações, vê-se que a leitura da linguagem corporal traz informações de como o individuo interage frente aos estímulos oriundos do meio em que se encontra, levando-se em conta que os estímulos partem da situação vivenciada pelas pessoas que estão em interação, e que cada sujeito os interpreta de maneira única.
 
No ambiente de trabalho, além das singularidades pessoais, há situações conflituosas, tensas, em que interesses pessoais podem gerar ansiedade, descontentamento, receio, enfim, um intricado conjunto de fatores difíceis de se identificar somente por meio da palavra. Em uma reunião, em que profissionais dos mais diversos níveis hierárquicos discutem problemáticas comuns, porém conflituosas, é possível identificar, através da linguagem corporal, quem verdadeiramente está aborrecido, contrariado, satisfeito, na defesa ou no ataque.
 
Em uma reunião agitada, um participante que tem o ritmo da respiração aumentado encontra-se tenso e fortemente emocionado, ao passo que um participante que suspira frequentemente, encontra-se ansioso e angustiado. Os olhos brilhantes e elevados vão denotar alegria e satisfação, enquanto que olhos opacos e baixos denotam tristeza e insatisfação; até mesmo, a posição das sobrancelhas se abaixadas ou levantadas, demonstram respectivamente, concentração e surpresa.
 
Através das manifestações corporais também se pode perceber se há interesse em relação a algum assunto ou pessoa. Neste caso, vê-se o corpo inclinar-se e o olhar direcionar-se para o objeto. Nos apertos de mão, tão comuns em nossa cultura, é possível ler a segurança ou a insegurança do individuo. O aperto de mão firme demonstra o quanto a pessoa está segura, sem receios. Nas mãos espalmadas para cima há indicação de abertura e aceitação. Esses são alguns exemplos dentre as infinitas possibilidades de leitura dos significados da linguagem do corpo.
 
A prática da leitura da linguagem corporal nas relações interpessoais pode facilitar o entendimento de mensagens transmitidas, pois, através dela, é possível vislumbrarem-se aspectos inconscientes, embutidos e não verbalizados.
 
 
A Linguagem Corporal e a Psicologia
 
A Psicologia, em seu início como disciplina acadêmica, deu importância capital à linguagem corporal. A partir dos trabalhos de Charcot, Freud, em sua obra Histeria, de 1888, descreveu inúmeros sintomas físicos de pacientes neuróticos. Segundo Freud (1996), a neurose caracteriza-se pela apresentação de sintomas físicos e alterações psíquicas, no entanto, sem qualquer alteração orgânica que justifique o aparecimento desses sintomas. Há, ai, uma relação psíquica que leva à formação desses sintomas. E mais, o autor observou, nessa relação, uma ligação entre a neurose e as frustrações sexuais. Alguns dos sintomas físicos descritos são: anestesia da pele, de músculos, nervos, dos órgãos dos sentidos; paralisias, afasias, contraturas musculares, distúrbios de visão e outros sentidos; os distúrbios psíquicos manifestam-se na forma de alterações na “associação de idéias, [...] inibição da atividade da vontade, [...] exagero e repressão dos sentimentos” (FREUD, 1996, p. 85).
 
Reich (2009), discípulo de Freud, em sua obra A Analise do Caráter, traz uma detalhada relação entre o comportamento, as características psíquicas, e os padrões posturais do individuo. Ele acredita que o organismo humano é perpassado por um tipo de energia psicofísica, embora seu mestre defenda a existência dessa energia apenas no nível psíquico. Segundo Reich (apud REIS; MAGALHÃES; GONÇALVES, 1984) essa energia bem direcionada impediria a formação de sintomas neuróticos, evitando a formação da chamada couraça muscular do caráter.
 
Caráter, em Reich, tem sentido objetivo e denota como a pessoa se apresenta frente à vida através de uma estrutura de comportamento recorrente e não percebida por ela mesma. O autor classificou os tipos de caracteres em dois, o caráter genital e o caráter neurótico, e subdividiu o caráter neurótico em alguns tipos.
 
Cruz (1997) nos traz uma diferenciação entre o modo de ser dos dois tipos de caráter no ambiente de trabalho. O individuo com carácter genital tem prazer em exercer sua atividade, centrando-se, sem se preocupar com as atividades alheias, enquanto que o carácter neurótico não deseja muitas responsabilidades, é impaciente e almeja ser chefe rapidamente.
 
 
Alguns Subtipos e Características do Caráter Neurótico
 
O caráter histérico, em mulheres, explicita a sensualidade no modo de falar, olhar e andar; nos homens, observa-se, além dessa sensualidade, também um toque feminino no comportamento e na maneira de tratar. Esse tipo é inconstante em seu posicionamento e muda facilmente de opinião. Já o individuo de carácter compulsivo apresenta um bloqueio afetivo, avareza, autocontrole, preocupação com a ordem e rigidez muscular crônica, sobretudo na região pélvica, na face e no ombro; sua expressão facial é estática, similar a uma “máscara”. O caráter fálico-narcisista apresenta segurança, vigor, mas com agressividade, certa arrogância e é dominador, provocador, demonstrando frieza e reserva; fisicamente é do tipo atlético, atraente e apresenta certa adaptabilidade, o que lhe possibilita o alcance de cargos de comando (REIS, MAGALHÃES e GONÇALVES, 1984).
 
A partir da analise e das considerações de Reich (2009), pode-se perceber o quanto é vasta a questão do uso da linguagem não verbal e seus possíveis desdobramentos. Esse conhecimento, em especial, pelos psicólogos alocados nos setores de Recursos Humanos, pode ajudar no entendimento das dificuldades de relacionamento interno nas organizações. Inclusive, parece ser importante o desenvolvimento de políticas de desenvolvimento humano a fim de que essas intervenções facilitem e ampliem a compreensão entre as pessoas.
Portanto, em Reich (2009), o elemento central da sua teoria é a observação da linguagem não verbal. Segundo esse autor, deve-se estar atento aos gestos, ao tom da voz, às movimentações corporais, às expressões dos olhos e às alterações na face quando a pessoa fala. Isso não significa que a linguagem verbal deixe de ocupar lugar central nas manifestações humanas, mas que todas as expressões gestuais são determinantes na compreensão da fala a que estão associadas.
 
Assim, entre os fatores a serem observados e avaliados durante um processo de recrutamento e seleção é a expressão não verbal. Durante esse processo, deve-se observar as manifestações não verbais, com o objetivo de avaliar a congruência entre estas e a verbalização. Ocampo e Arzeno (1981) enfatizam a importância de se fazer a leitura do não verbal, para se acessar o conteúdo latente no individuo. Apesar de o processo de recrutamento e seleção ser diferenciado em vários aspectos nos mais diversos tipos de organizações, é possível asseverar que as empresas poderiam tirar melhor proveito e selecionar mais acertadamente seus candidatos, se se utilizassem dos recursos que a Psicologia lhes oferece.
 
São muitos os autores que abordam a temática da linguagem não verbal na Psicologia. Apesar de darem ênfase à Psicodinâmica com objetivos psicoterapêuticos, o conhecimento que eles trazem pode ser utilizado pelas organizações como instrumento útil para melhorar as relações interpessoais.
 
Nas organizações, como mostra Torquato (1992), os colaboradores apresentam diversas personalidades e estilos, não importando o cargo e a atividade que ocupam. Em qualquer situação, ocorrem mudanças comportamentais inesperadas. Por vezes, veem-se chefes coléricos e inseguros, resistentes, assim como colaboradores instáveis, que não se posicionam e mudam de comportamento em diferentes situações. Há em qualquer nível e função aqueles centralizadores por excelência, ou passivos em demasia e muitos outros comportamentos.
 
Tendo em vista as observações aqui efetuadas, nota-se que nas relações de trabalho surgem dificuldades que são percebidas nas peculiaridades do comportamento de cada individuo. As peculiaridades, se assim se pode chamar os comportamentos inadequados às situações, não deixam, por vezes, de impactar o outro e, consequentemente, o grupo. A comunicação não é restrita aos movimentos internos de divulgação de informações, organizados pelos profissionais da área de comunicação ou pelos colaboradores das mais diversas áreas de formação. Ela é inerente ao individuo em suas relações, quer sejam de trabalho ou não. E a linguagem não verbal é uma das muitas formas de expressão das diferenças.
 
Pode-se, então, dizer que a leitura da linguagem corporal constitui um facilitador na compreensão do outro e das mensagens que inconscientemente ele transmite. No entanto, os diversos meios de comunicação virtuais, que agilizam e ampliam a capacidade de transmissão das mensagens, muitas vezes, são usados como únicos meios de comunicação. Ainda, felizmente, a comunicação entre os indivíduos também se dá através da palavra e dos gestos. Assim, as organizações podem ser despertadas por ações que visem à integração entre os colaboradores, que promovam o contato humano e possibilitem a sensibilização necessária ao exercício da leitura da linguagem corporal. Para tal, pode-se utilizar, por exemplo, das práticas clínicas de terapias corporais, de maneira adaptada ao meio organizacional, ou simplesmente promover atividades que promovam o contato humano, para levar aos colaboradores informações a respeito do uso da linguagem não verbal.
 
Gaiarsa (1982), autor brasileiro neoreichiano, destaca que o inconsciente não é invisível e está exposto o tempo todo através da linguagem não verbal. O autor enfatiza que é possível conhecê-lo sem que o indivíduo faça uso da palavra. Segundo Gaiarsa (1982), é necessário exercitar “o ver” o outro através da observação de seus gestos, de seu modo de falar, de sua respiração, de sua postura corporal, de seu olhar, em um esforço interpretativo sobre o observado. O exercício de “ver” não se restringe apenas ao ato de decorar padrões e teorias sobre a linguagem não verbal, mas também abrange o exercício prático do contato humano. "Os olhos conversam tanto quanto as línguas que utilizamos, com a vantagem de que o dialeto ocular, embora não precise de dicionário, é entendido no mundo todo" (Emerson apud REGO; ALBERTINI, 2010, p. 108).
 
O que se vê é tão importante quanto o que se ouve, porque os gestos despertam respostas imediatas dos interlocutores, pois as expressões e os movimentos dos outros exercem grande influencia em nossa vida. Se houvesse o hábito de observar as pessoas enquanto falam e se, enquanto falam, o ouvinte prestasse atenção também no que vê, os diálogos seriam mais interativos (GAIARSA, 1984).
 
Segundo Gaiarsa (1982), quando ocorre a contenção de uma emoção, seja raiva, medo ou amor, ou ainda alguma frustração, o sujeito contrai de maneira ampla os músculos, o que resulta num rebaixamento das sobrancelhas e dos cantos da boca, fechamento da laringe e manutenção constante da tensão. Para tal, o sujeito detém sua    atenção nisso, distraindo-se. A maneira de movimentar-se é contida e reduzida, assim como a respiração. Assim, no ambiente de trabalho, é possível, através do exercício constante de atenção em nosso interlocutor, identificar os pontos fortes e frágeis da relação de comunicação. Esse processo nada mais é do que troca e intercâmbio de ideias, informações, afetos, dentre outros.

 

Conforme Gaiarsa (1982), Reich considera que o exercício de “ver”, a atenção e o interesse no outro é essencial e deve-se avaliar tanto as informações verbais quanto as não verbais. Para Reich, segundo Boadella (1985), a expressão corporal de uma pessoa corresponde a sua atitude mental. Por isso, inter-relacionar expressão corporal e atitude mental se torna importante na comunicação humana.

 Considerações Finais

 

Através das expressões corporais, entra-se em contato com o mundo, na vida cotidiana e, sobretudo, nas relações de trabalho, quando, muitas vezes, se estabelecem diálogos com indivíduos ou com grupos. Se não se sabe usar corretamente a postura como recurso de comunicação, pode-se transmitir o que não se deseja e, ao mesmo tempo, captar reações diferentes das que se gostaria de receber.

 

Ao se dirigir a alguém, pode-se reforçar a comunicação usando-se a postura e os gestos adequados ao conteúdo da mensagem objeto do dialogo que se pretende estabelecer. Ficar com ombros encolhidos, lábios apertados, olhando para outras direções ou mesmo batendo na mesa com os dedos são atitudes que podem denotar falta de interesse. Ao contrário, quando se olha nos olhos do interlocutor e apertar-lhe a mão, demonstra-se, com esses gestos, real interesse.

 

Desta forma, é possível afirmar que gestores e colaboradores não podem se esquivar da importância da linguagem corporal e de seus efeitos sobre as pessoas com as quais se entra em contato. A linguagem do corpo revela muito do que pensamos, do que sentimos, do que idealizamos e de nossas expectativas. Portanto, o corpo é, antes de tudo, um centro de informações. Segundo Gaiarsa (1984, p. 9) “aquilo que de mim eu menos conheço é o meu principal veículo de comunicação”. O autor enfatiza que um “observador atento consegue ver no outro quase tudo aquilo que o outro está escondendo – conscientemente ou não. Assim tudo aquilo que não é dito pela palavra pode ser encontrado no tom de voz, na expressão do rosto, na forma do gesto ou na atitude do indivíduo” (Gaiarsa, 1984, p. 9).

 Portanto, o conhecimento acerca da linguagem do corpo é fundamental na vida profissional. As organizações necessitam valorizar a aplicação dos conhecimentos oriundos dos estudos da comunicação não verbal, o que certamente, se constituirá em um diferencial que pode favorecê-las no enriquecimento das relações interpessoais e trazer, consequentemente, benefícios nas relações entre os indivíduos. Dessa maneira, o conhecimento da linguagem corporal é mais uma abordagem que deve ser explorada para favorecer a qualidade dos serviços e das relações.