Psicologa Organizacional

4 de janeiro de 2023

 

Como o transtorno de humor é abordado pela ACP – Abordagem Centrada na Pessoa

 




 

Os transtornos de humor ou transtornos afetivos se manifestam através de vários sintomas, como por exemplo:

·         O TAB (Transtorno afetivo Bipolar),

·         Episódio depressivo,

·         Ansiedade,

·         Transtornos relacionados a traumas e transtornos relacionados a estressores.

O transtorno afetivo bipolar era conhecido antigamente como psicose maníaco-depressiva, e apresenta como principal característica a alternância de humor, ou seja, oscilação dentre dois polos, mania ou euforia e depressão.

No entrando, entre essas fases de oscilações, as pessoas que sofrem deste transtorno ficam assintomáticas, com humor estável, o que dificulta muitas vezes o diagnóstico. 

As crises podem variar entre leve, moderada e grave. Variando também em frequência, podendo se manifestar uma vez ao ano, uma vez na semana, podendo durar dias, semanas ou meses.

Tipos de transtornos bipolar

·         Tipo 1: Apresenta de maneira intensa sintomas de mania, estado de euforia, que geralmente duram 7 dias, e uma fase depressiva.

·         Tipo 2: Apresenta de maneira mais branda alternância entre a hipomania (estado de euforia mais leve) e depressão.

·         Ciclotímico: Oscilação de humor mais leve do Transtorno Bipolar, apresenta oscilação crônica de humor, podendo acontecer no mesmo dia, sendo frequentemente confundido com traços de personalidade forte e responsabilidade.

Tratamento para transtorno bipolar 

Infelizmente o TAB (transtorno afetivo bipolar) não tem cura, mas a pessoa pode levar a vida funcional com o acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Os estabilizadores de humor são medicamentos de primeira linha, como por exemplo o lítio, o ácido valproico entre outros, sendo receitados em conjunto com a psicoterapia.

Transtorno de humor e a abordagem centrada na pessoa (ACP)

O pressuposto fundamental da ACP é que todo indivíduo tem dentre de si uma força que o impulsiona a desenvolver e atualizar seu potencial em direção ao seu crescimento de forma positiva e construtiva. Essa força Carl Rogers, um dos mais renomados psicólogo do século XX e criador da ACP, chamou de tendência atualizante

Independente do diagnóstico, a pessoa com transtorno de humor também possui essa força, uma tendência inerente ao organismo para seu crescimento, desenvolvimento e autorrealização.

Então, essa pessoa, que apresenta transtorno de humor, é vista pela ACP como um indivíduo que possui dentro de si mesmo vastos recursos para sua autocompreensão e para alterar seu autoconceito, suas atitudes básicas e seu comportamento. Essas mudanças ocorrerão se um clima favorável definido como atitudes facilitadoras forem oferecidas no processo psicoterápico.

Segundo Rogers, há atitudes psicológicas que facilitam a tendência atualizante, são eles:

·         Congruência,

·         Consideração positiva incondicional,

·         Compreensão empática ou empatia.

Congruência é ser genuíno na relação, significa que devo estar consciente de meus próprios sentimentos, o mais que puder, ao invés de representar alguém que não sou. É somente ao apresentar a realidade genuína que está em mim, que a outra pessoa pode procurar pela realidade em si com êxito.

Aceitação incondicional significa uma aceitação das atitudes do cliente sem julgamentos, sejam elas positivas ou negativas, gerando assim uma relação de afeto, segurança e de ser aceito com seus sentimentos, independentemente de serem contraditórias com outras atitudes que ele sustinha em seu passado. Essa aceitação de acordo com Rogers é extremamente importante em uma relação de ajuda.

Empatia é somente quando percebo e compreendo os sentimentos e pensamentos do cliente, mesmo sendo bizarros ou terríveis para ele, quando os vejo como ele os vê e aceito como se fossem meus, o cliente se sente livre para adentrar em sua experiência interior e quase sempre esquecida, rejeita, e passa a sentir uma liberdade para explorar a si mesmo em níveis consciente e inconsciente. 

Dessa forma, ainda de acordo com Rogers, a relação considerada útil se constitui de transparência dos sentimentos reais do terapeuta e por aceitação da outra pessoa, enxergando seu mundo particular através de seus olhos.

Quando essas condições são oferecidas, sou companhia para meu cliente na busca de si mesmo, onde ele se sente livre. A ACP é considerada uma abordagem que parte de uma visão de homem e de valores expressos pelo respeito e pela dignidade humana, que confia na capacidade de vivenciar e experienciar um processo de mudança direcionado ao crescimento.

Podemos considerar que para aplicar os princípios da Abordagem Centrada na Pessoa, além destas atitudes facilitadoras, é necessário disponibilidade na relação para formação do vínculo, ter uma postura ética de não julgamento e sempre mostrando ao cliente a necessidade da ampliação da consciência. Creio que somente com essa postura pessoal nas relações será possível despertar no outro a confiança interna, para se tornar quem verdadeiramente se é sem máscaras ou fachadas, sendo possível enxergar novas formas de vivências e experiências, sendo congruente e buscando ser feliz dentro das possibilidades que lhes são apresentadas, mesmo que algumas sejam contraditórias. 

É nesse contexto que a Abordagem Centrada na Pessoa realiza suas intervenções junto a pessoas que apresentam algum transtorno de humor, mostrando que a vida é um processo de fluidez, onde nada está pronto ou fixo e mesmo com as oscilações de humor impostas pelo transtorno, o cliente pode aprender a reconhecer e validar suas emoções, tornando-se mais consciente e capaz de abstrair alguns eventos estressores e ressignificando aquilo que for possível.

A intersecção entre psiquiatria e psicologia demonstra outra possibilidade de intervenção e aplicação da Abordagem Centrada na Pessoa, sendo uma proposta de modo diferente, já que a ACP não realiza diagnóstico, ao contrário, os rótulos não fazem parte da relação terapêutica.

No entanto, faz-se necessário que o terapeuta tenha conhecimentos dos quadros nosográficos, somente através desses conhecimentos é possível realizar um atendimento com uma equipe interdisciplinar, identificado situações de riscos como ideação suicida, muitas vezes presente em pessoas com transtorno de humor e que se faz necessário ajuda familiar nos cuidados de saúde da pessoa acompanhada.

Em nossa prática clínica percebemos que pessoas com transtorno de humor, em  acompanhamento conjunto com o psiquiatra, conseguem identificar a proximidade de momentos de crise assim como os eventos que podem desencadear a mesma. Com essa capacidade de identificar a chegada da crise a pessoa portadora do transtorno de humor aprende novas formas que promove o desenvolvimento de recursos de prevenção e os cuidados necessários para a integridade física e mental do cliente e das pessoas com as quais se relaciona.

Os terapeutas rogerianos, como são chamados aqueles que atuam através da Abordagem Centrada na Pessoa, também utilizam de recursos para ajudar seus clientes a desenvolverem novos hábitos que contribuíram para uma melhor qualidade de vida independente de qualquer diagnóstico.

As intervenções realizadas serão de acordo com o nível cognitivo e educacional de cada cliente, levando em conta sua subjetividade e singularidade e os dados colhidos na anamnese, entrevistas com familiares ou colegas de trabalho, visita a escola, técnicas como a clarificação, que focaliza no que o cliente fala, para que ele repita o que disse e consiga escutar sua fala ou queixa, no caso de atendimento com crianças a ludoterapia, que utiliza recursos lúdicos para acessar o mundo simbólico através do brincar, sendo necessário o conhecimento sobre o desenvolvimento infantil psicomotor, cognitivo, social e afetivo, permitindo que o terapeuta consiga acessar a compreensão que a criança tem de si mesma e de sua realidade a partir dos recursos que sua fase de desenvolvimento oferece.

Na prática a Abordagem Centrada na Pessoa, busca-se compreender as dificuldades das pessoas com relação a si mesmas, seus sentimentos, suas relações interpessoais, além de trabalhar a capacidade de assumirem as responsabilidades inerentes ao seu momento atual, o hoje, independentemente de serem crianças, adolescentes, adultos ou idosos, cada período ou ciclo carrega seus desafios e suas possibilidades, que somente com a ampliação da consciência, o autoconhecimento, somos impulsionados a fechar ciclos que pedem um fechamento para que novos ciclos se iniciem, como já foi dito no início: a vida é um processo de fluidez onde nada está pronto e nada está fixo, é sempre um devir.

Movimento ininterrupto e atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, que cria e transforma todas as realidades existentes, sendo válido para todos independente se têm diagnóstico ou não, esta é uma das possibilidades de atuação da Abordagem Centrada na Pessoa.

 

 

 

Fonte:

https://blog.psicologiaviva.com.br/transtorno-de-humor-e-acp/

2 de janeiro de 2023

 

A Abordagem Centrada na Pessoa

 




“Se eu deixar de interferir nas pessoas,

elas se encarregam de si mesmas.

Se eu deixar de comandar as pessoas,

elas se comportam por si mesmas.

Se eu deixar de pregar as pessoas,

elas se aperfeiçoam por si mesmas.

Se eu deixar de me impor as pessoas,

elas se tornam elas mesmas”

LAO-TSÉ

(Citação de Carl Rogers resumindo o princípio da Abordagem Centrada na Pessoa)

 

 

A Abordagem Centrada na Pessoa - ACP vai além das psicoterapias, podendo ser utilizada em todas as relações de ajuda e nas relações humanas de uma forma geral.

 

É uma abordagem que se diferencia das demais sob diversos aspectos, mas sobretudo por não haver técnica. Acreditamos que a melhor maneira de se tentar ajudar alguém é confiar no potencial da pessoa e na sua condição natural de pensar, sentir, buscar e se direcionar no caminho de suas necessidades. É a partir desta visão, que a ACP se baseia para tentar facilitar condições ideais à pessoa, para que ela possa buscar em si as suas próprias respostas.

 

Pela visão centrada na pessoa o outro precisa apenas de condições especiais para rever a maneira como ele está se desenvolvendo e para isto o psicoterapeuta (educador, etc…) busca criar essas condições para que a pessoa possa perceber em si própria o seu caminho e as suas respostas.

 

Todo organismo é movido por uma tendência inerente para desenvolver todas as suas potencialidades e para desenvolvê-las de maneira a favorecer o seu enriquecimento”. (ROGERS, 1959).

 

É a partir deste pressuposto, chamado de “Tendência de atualização” que existem alguns princípios que acreditamos serem facilitadores na relação de ajuda.

 

Tendência de atualização

 

Toda pessoa possui uma capacidade natural de se auto dirigir no sentido de buscar suprir as suas necessidades. Existe em todo organismo uma tendência natural de evolução, um movimento natural de atualização a todo o momento.

 

De alguma maneira, por diversos motivos, todos nós somos influenciados por uma série de formas de ser, impostas, que fazem com que, muitas vezes nos distanciemos daquilo que somos ou sentimos.

 

Mesmo assim, a tendência atualizante continua o seu movimento, no intuito de nos levar adiante, mas em função de nos distanciarmos da gente mesmo, acabamos muitas vezes por caminhar de uma maneira distorcida daquilo que realmente seria o melhor pra gente.

 

Quando são proporcionadas condições facilitadoras para que a pessoa se auto dirija, ela tende a ampliar o seu repertório interno e a buscar novas formas de se atualizar ganhando maiores condições de encontrar uma maior harmonia interna e em consequência, uma maior harmonia com o seu meio.

 

Crendo no potencial humano através da tendência atualizante, a Abordagem Centrada na Pessoa entende que a melhor maneira de ajudar o outro é tentar criar condições ideais para que este movimento aconteça levando em consideração novas perspectivas e possibilidades.

 

Cremos que há algumas condições facilitadoras básicas para que isto aconteça.

 

Essas condições são:

 

1 – Compreensão empática

 

Em primeiro lugar é imprescindível que tanto o facilitador quanto o cliente sintam-se bem e verdadeiramente disponíveis nessa relação.

 

Depois, o facilitador deverá ser capaz de tentar enxergar a pessoa buscando se aproximar da visão dela, tendo desta forma, provavelmente, maior disponibilidade interna em se livrar dos seus princípios e valores e de compreender melhor o outro sob a perspectiva do outro, seus motivos, seus medos e sentimentos e consequentemente mais condições de não julgar ou direcionar a relação de ajuda.

 

2 – Congruência

 

É imprescindível que o facilitador busque ser autêntico quanto aos seus sentimentos e percepções em relação a pessoa que está buscando ajuda.

 

É importante que tudo que o facilitador sinta de forma persistente na relação seja dito. Com empatia, cuidado, respeito, mas principalmente com autenticidade.

 

Para a Abordagem Centrada na Pessoa, é importante que o facilitador diga o que sente, mais é claro que como sendo a sua verdade, e não como verdade do outro.

 

Numa relação de ajuda onde o facilitador assume os seus sentimentos como seus, além de dar ao outro o direito de pensar a respeito, a tendência é que o outro assuma os seus sentimentos também, livre de ameaças, apoiado na aceitação, na autenticidade e no acolhimento.

 

3 – Aceitação Incondicional Positiva

 

É a capacidade do facilitador em aceitar o outro sempre de maneira positiva, entendendo que o outro à sua maneira está sempre, no fundo procurando se sentir bem e se encontrar.

 

Se o facilitador  consegue de fato ser empático e tem a convicção de que o outro busca sempre as alternativas que entende como melhores dentro do seu repertório interno, através da tendência atualizante, fica mais fácil aceitar à pessoa, mesmo não entendendo ou não concordando. Aceitar não significa concordar.

 

Em um ambiente onde a pessoa sinta-se verdadeiramente aceita e acolhida, livre de ameaças, ela tende a ser ela mesma e a entrar em contato consigo própria para buscar aquilo que julga importante para o seu desenvolvimento pessoal.

 

Psicoterapeuta centrado na pessoa

 

Assim como em tudo na Abordagem Centrada na Pessoa, é valorizada além da aceitação e do acolhimento a autenticidade, ou seja, ou o psicoterapeuta dentro da sua autenticidade partilha dos princípios centrados na pessoa, ou não.

 

Não existe meio termo.

 

Isso não significa que um psicoterapeuta centrado na pessoa deverá proceder como Rogers procedia, a Abordagem Centrada na Pessoa tem  uma proposta de ajuda onde, desde que, em sua maneira de ser o psicoterapeuta preserve a empatia, a congruência, a aceitação incondicional, creia no potencial do outro através da tendência atualizante, rejeite a manipulação, a interpretação e o condicionamento, ele estará exercendo ajuda ao cliente de maneira centrada na pessoa.

 

Para a Abordagem Centrada na Pessoa, o conhecimento do psicoterapeuta tem importância, mas a sabedoria tem um peso especial na relação de ajuda. Isso significa que, muitas vezes o psicoterapeuta através  de seu conhecimento cria uma relação vertical, entre si e a pessoa que busca ajuda e naturalmente construa uma barreira perdendo a disponibilidade real em ouvir o outro desprovido de técnica.

 

Para a Abordagem Centrada na Pessoa ou o psicoterapeuta vê sentido nesses pressupostos e nesse jeito de ser, ou não haverá condições de existir ajuda dentro da postura centrada na pessoa, pois caso o psicoterapeuta se utilize das posturas citadas, sem que isso faça sentido para ele, naturalmente ele estará se apropriando delas como técnica e a ACP é a não técnica. É um jeito de ser permeado pela relação autentica por parte do facilitador.

 

Texto de: Marcos Alberto da Silva Pinto-CRP 06/33896

Fonte:

https://encontroacp.com.br/conheca/