Psicologa Organizacional

8 de fevereiro de 2025

 



Saudade da Inocência


Sento-me no banco da praça, sentindo o vento morno da tarde roçar meu rosto, e deixo que a saudade me abrace devagar, como quem folheia um álbum de memórias amareladas pelo tempo. Fecho os olhos e me permito viajar para um tempo onde a vida era mais simples, onde o coração batia sem a angústia do ceticismo e os sonhos ainda não tinham sido esmagados pelo peso das verdades duras da vida.


Saudade da inocência…


Dos tempos em que meus pais me faziam acreditar que, na noite de Natal, um velhinho de barba branca desceria pela chaminé — mesmo que nossa casa não tivesse uma. Eu dormia ansioso, tentando flagrar a chegada do bom velhinho, sem perceber que o verdadeiro presente não estava embrulhado em papel colorido, mas sim na doçura da fantasia que me permitia sonhar.


Saudade do meu avô, que aparecia em casa com o sorriso cansado e as mãos calejadas, sempre com algumas moedas no bolso, um gesto simples, mas que para mim era um convite à felicidade — um pacote de pipoca, um doce, um refrigerante na vendinha da esquina.


Saudade da pré-escola, aquele mundo encantado de desenhos e pinturas, onde o maior dilema era escolher entre o giz de cera azul ou o vermelho. O cheiro da massinha, as músicas cantadas em coro, a sensação de que a vida era um grande parque de diversões onde bastava estender as mãos para tocar a alegria.


Saudade das brincadeiras de infância: do girar frenético do pião, das bolinhas de gude disputadas com fervor, das pipas colorindo o céu, das corridas desenfreadas no pega-pega. Brincávamos até o sol se esconder, até as mães chamarem com um tom que não admitia mais demora.


Saudade do frio na barriga ao ver a minha primeira paixão. Como era possível que um simples olhar dela fizesse o mundo parar? O coração acelerava, as mãos suavam, e qualquer palavra trocada era um evento grandioso. O amor, naquela época, era puro, sem as complexidades das decepções adultas.


Saudade das viagens… Ah, as viagens! A estrada se desenrolando diante dos olhos, o cheiro da terra molhada nos sítios, o barulho das ondas quebrando na praia, as noites estreladas nos acampamentos. Tudo era descoberta, tudo era aventura, tudo era eterno — pelo menos naquela época, eu acreditava que fosse.


Saudade da fé ingênua da infância. Na missa, eu acreditava que tudo ali era para Deus, que cada gesto, cada oração, era a mais pura manifestação do amor divino. No culto, os cânticos me faziam arrepiar, e eu pensava que os músicos louvavam a Deus com todo o coração. Hoje, percebo quantas vezes o louvor virou competição, quantas vozes se ergueram mais pelo ego do que pela adoração.


Saudade dos sermões que pareciam a própria voz de Deus falando aos nossos corações. Mas hoje vejo quantas palavras eram apenas manipulação disfarçada de verdade, quantos discursos eram construídos para moldar ovelhas obedientes ao invés de espíritos livres. Ainda assim, em meio a tudo isso, havia pureza, havia sinceridade. A ignorância também tem seu encanto.


Saudade do ensino médio, onde tantos professores fingiam ensinar, e nós fingíamos aprender. Naquele tempo, achávamos graça em escapar das aulas, sem perceber que estávamos nos privando de algo que um dia nos faria falta. O tempo não volta, e o que deixamos de aprender nos cobra seu preço silencioso.


E a universidade… Ah, a universidade! Onde nossas mentes foram bombardeadas com ideias, algumas tão bem fundamentadas que nos fizeram enxergar além, outras tão vazias que apenas atiçaram revolta. Entre tantas teorias, quantas nos libertaram? Quantas apenas serviram de vaidade para quem as ensinava?


Agora, aqui estou, sentado no banco da praça, vendo o tempo passar, e pensando nessas coisas.


Triste? Não. Apenas indignado por perceber como a inocência foi usada tantas vezes como moeda de troca para a vaidade alheia.


Mas, ainda assim, não trocaria por nada a doçura daqueles dias. Porque, no fim, é dessa saudade que somos feitos.


Acimarley Freitas