A Reforma Religiosa
O processo de transição feudo-capitalista teve na Reforma
religiosa do século XVI a grande revolução espiritual que encaminhou o homem à
modernidade. Não podemos considerar a Reforma uma simples manifestação de
descontentamento, pois, ao romper a unidade do cristianismo ocidental, alterou
profundamente a estrutura clerical e a visão sobre vários dogmas, como também
uma revisão na essência da doutrina da salvação.
Em síntese, podemos entender a Reforma como uma tentativa de
restauração do cristianismo primitivo ou verdadeiro que, de um modo geral,
começou a se processar desde a Baixa Idade Média e atingiu sua maior amplitude
com a Reforma protestante e a reação católica representada pela Contra-Reforma.
1. A Conjuntura e os
Fatores da Reforma
Com a crise do modo de vida feudal, o Renascimento
urbano-comercial passou a determinar um novo contexto socioeconô-mico. A Igreja
Católica, no entanto, com sua postura doutrinária acerca do empréstimo de
dinheiro a juros e a busca do lucro em geral (usura), passou a representar um
bloqueio ao espírito de acumulação pré-capitalista. Começou a se fazer sentir
cada vez mais a necessidade de adequar a fé e os princípios religiosos à nova
realidade econômica. Se de um lado tínhamos a burguesia nascente tentando
conciliar a nova mentalidade do lucro e da acumulação de riqueza com sua
consciência religiosa, a crise estrutural, pela qual passava o feudalismo,
gerava uma atmosfera de tensões e conflitos entre os servos e os senhores
feudais. As pressões senhoriais traduziram-se em constantes revoltas
camponesas. Nesse contexto de transformações socioeconômicas, a crise religiosa
passou a ser um elemento de convergência das lutas de classe. De um lado, o
poder senhorial católico (nobreza feudal e alto clero), do outro, a burguesia
ascendente e o campesinato oprimido.
Do ponto de vista político, o processo de fortalecimento e
centralização do poder real, que culminou com a formação das Monarquias
Nacionais, fez surgir um Estado forte e dominador, o que tornou inevitável e
imperioso o controle sobre a Igreja. Por outro lado, era oportuna a convulsão
religiosa que permitiria aos soberanos confiscar os bens e submeter a Igreja à
sua tutela, como veremos na Inglaterra de Henrique VIII ou na Alemanha de
Martinho Lutero.
Nesse contexto de mudanças econômicas, sociais e políticas,
surgiram as condições determinantes para a Reforma, levando em conta, contudo,
que os problemas de ordem religiosa e espiritual tiveram fundamental
importância. Não podemos associar essa verdadeira revolução da cristandade
exclusivamente a fatores materiais, econômicos (capitalismo) ou políticos. A
grande questão estava ligada à crise religiosa criada a partir da inadequação
do clero (Igreja Católica) à qualificação da fé (Renascimento/ Humanismo).
A humanidade, no contexto da transição feudo-capitalista
(século XVI), mantinha uma profunda fé em Deus. As provas de fé foram
constantes ao longo da Idade Média; as Cruzadas, a construção de igrejas e as
heresias nos comprovam uma religiosidade intensa e fervorosa. Ao mesmo tempo, a
partir do Renascimento, com o desenvolvimento técnico e o surgimento da
imprensa, a publicação em série da Bíblia possibilitou a difusão e a conscientização
religiosa dos fiéis, tornando-os mais exigentes e críticos em relação à Igreja
Católica. Os humanistas como Erasmo de Roterdam (Elogio da Loucura) e Thomas
Morus (Utopia) podem ser vistos como elementos dessa nova visão e consciência
crítica, pois, ao condenar a ignorância e a imoralidade do clero, levantaram a
necessidade da mudança.
Fonte: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/2973.htm
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