Psicologa Organizacional

5 de abril de 2025




A Impulsividade na Perspectiva da Psicologia: Contribuições da Neuropsicologia e Intervenções Terapêuticas

Introdução

A impulsividade é um fenômeno psicológico complexo, que pode se manifestar em diferentes contextos e níveis de intensidade. Trata-se de um traço comportamental caracterizado pela dificuldade de inibir respostas imediatas, pela busca por recompensas instantâneas e pela reduzida consideração das consequências futuras. Embora a impulsividade possa estar presente em indivíduos neurotípicos, ela também se configura como sintoma central em diversos transtornos mentais. Nesse sentido, torna-se um objeto de estudo relevante para a psicologia, sobretudo nas áreas da neuropsicologia, da psicopatologia e da psicoterapia.

Do ponto de vista clínico, compreender os mecanismos subjacentes à impulsividade é essencial para o diagnóstico diferencial, a formulação de hipóteses clínicas e a definição de estratégias terapêuticas eficazes. A psicologia contemporânea tem aprofundado sua investigação sobre as bases neurobiológicas da impulsividade, bem como sobre suas implicações para o funcionamento emocional e social dos indivíduos.

Objetivos

Objetivo Geral: Investigar o conceito de impulsividade na psicologia, destacando suas bases neuropsicológicas, associações com transtornos mentais e possibilidades de tratamento com ênfase em abordagens psicoterapêuticas, especialmente a Abordagem Centrada na Pessoa.

Objetivos Específicos:
- Apresentar definições teóricas de impulsividade na literatura psicológica.
- Discutir as contribuições da neuropsicologia na compreensão da impulsividade.
- Identificar os principais transtornos psicológicos associados à impulsividade.
- Descrever as formas de tratamento, incluindo intervenções farmacológicas, terapias cognitivo-comportamentais e a psicoterapia centrada na pessoa.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, com método exploratório e delineamento bibliográfico. Foram utilizados artigos científicos disponíveis em bases como SciELO, PePSIC e PubMed, além de livros de autores reconhecidos na psicologia brasileira, para fundamentação teórica e discussão crítica sobre o tema.

Referencial Teórico

A impulsividade, segundo Barratt (1994), pode ser compreendida a partir de três dimensões principais: impulsividade motora (agir sem pensar), impulsividade atencional (dificuldade de manter o foco) e impulsividade não-planejada (ações sem considerar as consequências). Na psicologia, esse constructo é frequentemente investigado com instrumentos como a Escala de Impulsividade de Barratt (BIS-11).

Do ponto de vista neuropsicológico, a impulsividade está fortemente associada ao funcionamento do córtex pré-frontal, especialmente das regiões orbitofrontal e ventromedial, áreas envolvidas no controle inibitório, na regulação emocional e na tomada de decisão (Aron et al., 2004). Disfunções nessas regiões podem comprometer a capacidade de postergar recompensas ou de avaliar riscos.

Entre os transtornos mentais em que a impulsividade está presente como um sintoma central, destacam-se: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno de Personalidade Borderline, Transtorno Bipolar e Transtorno Explosivo Intermitente. A impulsividade, nesses casos, está geralmente associada a disfunções na dopamina e na serotonina, neurotransmissores envolvidos na regulação do humor e do comportamento (Seo et al., 2008).

Discussão

A compreensão da impulsividade demanda uma abordagem multidisciplinar. A neuropsicologia contribui com modelos explicativos que articulam estruturas cerebrais e circuitos neurais, principalmente o eixo córtex pré-frontal – amígdala – estriado, cuja disfunção está presente em sujeitos impulsivos.

Do ponto de vista da avaliação clínica, é importante diferenciar a impulsividade como traço de personalidade de sua manifestação em quadros psicopatológicos. Testes neuropsicológicos e entrevistas clínicas auxiliam nesse processo. Autores como Miguel Mahfoud (UFMG) e Christian Haag Kristensen (PUCRS) têm contribuído significativamente com estudos sobre neuropsicologia e funções executivas em sujeitos com transtornos impulsivos.

Quanto ao tratamento, diversas abordagens têm se mostrado eficazes. A farmacoterapia pode incluir o uso de estabilizadores de humor, antidepressivos e, em alguns casos, estimulantes. As terapias cognitivo-comportamentais (TCC) são frequentemente indicadas por promoverem reestruturação cognitiva e treinamento em controle inibitório.

Por outro lado, a psicoterapia baseada na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), proposta por Carl Rogers, oferece uma contribuição importante ao considerar o sujeito de forma integral, valorizando sua experiência subjetiva e sua tendência atualizante. Na ACP, o terapeuta oferece um espaço de escuta empática, aceitação incondicional e congruência, favorecendo o autoconhecimento e a autorregulação emocional – aspectos fundamentais para indivíduos impulsivos. No Brasil, psicólogos como Andréa Campos e Maria da Penha Lima têm difundido e adaptado a ACP para contextos clínicos com foco em populações com dificuldade de regulação emocional.

Conclusão

A impulsividade é um fenômeno complexo, multideterminado e com amplas repercussões na vida psíquica e relacional do sujeito. Sua investigação requer articulação entre aspectos cognitivos, neurobiológicos e experienciados. A psicologia, ao integrar a neuropsicologia e as diversas abordagens clínicas, amplia sua capacidade de compreender e intervir nesse fenômeno. A combinação entre farmacologia, intervenções comportamentais e psicoterapias humanistas como a ACP configura-se como uma proposta eficaz e ética de cuidado integral ao sujeito impulsivo.

Referências

ARON, A. R.; ROBBINS, T. W.; POLDRACK, R. A. Inhibition and the right inferior frontal cortex. Trends in Cognitive Sciences, v. 8, n. 4, p. 170–177, 2004.

BARRATT, E. S. Impulsiveness and aggression. In: MONAHAN, J.; STEADMAN, H. J. (Eds.). Violence and mental disorder: Developments in risk assessment. Chicago: University of Chicago Press, 1994. p. 61–79.

KRISTENSEN, C. H. et al. Funções executivas em adultos com diagnóstico de TDAH: relações com impulsividade e sintomas clínicos. Psico, Porto Alegre, v. 43, n. 4, p. 446-453, 2012.

LIMA, M. P. Abordagem Centrada na Pessoa e regulação emocional: um olhar clínico. Revista Brasileira de Psicoterapia Centrada na Pessoa, v. 9, n. 2, p. 45-58, 2017.

MAHFOUD, M. Neuropsicologia das funções executivas. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2014.

ROGERS, C. R. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1977.

SEO, D.; PATRICK, C. J.; KENNEALY, P. J. Role of serotonin and dopamine system interactions in the neurobiology of impulsive aggression and its comorbidity with other clinical disorders. Aggression and Violent Behavior, v. 13, n. 5, p. 383–395, 2008.


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