O
Ciúme: Suas Causas e Consequências nos Relacionamentos Conjugais
O ciúme acompanha o ser humano durante
toda sua vida, seja ciúme de irmãos, seja ciúme de pais ou mais forte e
duradouro o ciúme do parceiro. Ser ciumento muitas vezes é considerado pelas
pessoas como uma demonstração de amor verdadeiro.
O ciúme costuma ser visto pela população
em geral como uma “prova de amor”, um sentimento normal e inseparável para quem
ama de verdade, afinal “quem ama, cuida”. Porém, se levarmos em conta, como
afirma Santos (2002, p.76), que o amor é um sentimento voltado para o outro,
onde se quer o bem de quem se ama acima de tudo, percebemos que o ciúme é na
realidade uma distorção desse zelo, pois é um sentimento autocentrado, onde se
tem medo de perder a exclusividade sobre a pessoa amada.
Deste modo, segundo Santos (2002, p.76) o
ciúme pode existir em três níveis diferentes, que vai do “sentir-se enciumado”,
onde este é visto como algo normal, até sua forma mórbida, que entraria em um
quadro de paranóia, sendo uma forma de delírio obsessivo. Este último, causa um
sofrimento psíquico insuportável para quem sente, e grandes riscos de violência
para quem padece sob o ciumento paranóico.
Assim, devemos procurar compreender o
funcionamento desse sentimento na psique do ciumento, como ele pode se
manifestar nas diversas relações, suas consequências e acima de tudo, ficar
atentos para jamais deixar-se confundir algo que pode ser patológico e
perigoso, como uma maneira de manifestar o amor.
Poucas pesquisas científicas a respeito do
Ciúme Patológico foram encontradas, mas entre as tais pode-se citar o artigo de
Santos, (2002); o livro de Alves, (2001); o artigo de Teixeira, (2009); e outro
artigo de Tiemi, (2005). Como pôde-se assim observar, não há pesquisas recentes
relacionadas ao tema, e a maioria destas focam mais no que diz respeito ao
Ciúme e incidência de Crimes Passionais, deste modo percebe-se a necessidade de
um trabalho de investigação que busque verificar o que a literatura aponta
sobre essa temática e assim fazer com que a população pare de confundir esse
sentimento como algo normal.
2. Método
Trata-se de um artigo de revisão de
literatura com pesquisas em livros, revistas, artigos acadêmicos e em sites de
busca com as palavras chaves “Ciúme; Ciúme Patológico; Relacionamentos
Conjugais; Crimes Passionais”, datados a partir de 2000 à 2013.
3. Desenvolvimento
3.1 O Ciúme
Ciúme é um tema que gera bastante
discussão na população em geral, pois, todos de alguma forma já vivenciaram
esse sentimento, entretanto, diferentemente do que a maioria das pessoas
pensam, o ciúme não é sinal de amor ao
próximo, e sim um sentimento
narcisista em que se tem medo de perder a exclusividade e posse sobre o
parceiro.
Se
analisarmos mais detalhadamente o ciúme, podemos perceber, logo de início, que
não se trata de um sentimento voltado para o outro, mas sim voltado para si
mesmo, para quem o sente, pois é, na verdade, o medo que alguém sente de perder
o outro ou sua exclusividade sobre ele. É um sentimento egocentrado, que pode
muito bem ser associado à terrível sensação de ser excluído de uma relação
(SANTOS, 2002, p.76)
Cientificamente, Alves, (2001, p.10) fala
que o ciúme é a manifestação de um
profundo complexo de inferioridade de certa personalidade, sintoma de
imaturidade afetiva e de um excessivo amor-próprio, pois, o ciumento não se
sente somente incapaz de manter o amor e o domínio sobre a pessoa amada, de
vencer ou de afastar qualquer possível rival, sobretudo, sente-se ferido ou
humilhado em seu amor próprio.
Dessa forma, ao sentir ciúmes, o sujeito
está demonstrando possuir um sentimento de inferioridade, onde acredita ser
impossibilitado de nutrir o amor da parceira e sente-se ameaçado com qualquer
possível rival, além de ao mesmo tempo apresentar um demasiado grau de amor
próprio.
Além disso, para surgir o ciúme é
necessário um terceiro elemento que ameace (do ponto de vista do ciumento) o
relacionamento. Assim é preciso a formação de um triângulo social, e ainda, da
percepção de que o outro – mesmo imaginário – ameace o relacionamento amoroso
julgado como importante. A raiva, o medo e a tristeza o acompanham (HARMON-JONES
et al, 2009, apud Costa, 2010, p. 22).
Acredita-se
que o ciúme seja a demonstração de uma profunda falta de autoestima onde
a pessoa que sente o ciúme não se sinta capaz de cativar o parceiro a ponto
deste não prestar atenção em outros detalhes ou pessoas a sua volta.
Para diversos autores o ciúme é dividido
em três níveis diferentes: o “Normal”, o Neurótico e o
Delirante (Paranoico). “O normal, mais comum, é a pessoa sentir-se enciumada em
situações eventuais nas quais, de alguma forma, se veja excluída ou ameaçada de
exclusão na relação com o outro.” (SANTOS, 2002). Assim, no ciúme normal,
existe um motivo real em que o sujeito enciumado sente-se de certa forma
abandonado pelo parceiro. Segundo Freud, (1976 apud Nicolau, 2003, p. 3) o ciúme
normal é uma situação emocional que pode ser igualado ao luto, onde é
caracterizado por uma aflição causada pelo pensamento de perder o elemento
amado; pela ferida narcísica e também de sentimentos de rancor contra o
concorrente bem sucedido.
Por outro lado, no segundo nível de ciúme,
chamado de neurótico, Santos (2002,
p.76) relata que o sujeito ciumento passa a ter a sensação permanente de
angústia e instabilidade, a insegurança em relação a si mesmo e ao outro, além da fragilidade da relação afetiva, podendo
levar à pessoa a manter um permanente “estado de tensão”, temendo ser traído ou
abandonado. Nesse caso, o ciumento necessita constantemente se assegurar
que o parceiro não está sendo infiel, mesmo que este não tenha lhe dado motivo
aparente para desconfiança. Assim, nesse segundo caso, o ciumento está ciente
de que o nível de ciúme é exagerado, porém não consegue evitar. White e Mullen,
(1989 apud Costa, 2010, p.28) afirmam que o ciúme neurótico mantém a realidade,
porém o indivíduo reage mais facilmente e de forma exagerada a situações nas
quais a infidelidade e o amor do parceiro não tem porque serem questionadas.
Estas reações são acompanhadas de sentimento de culpa e de a própria percepção
do indivíduo de que estas reações são extravagantes.
O terceiro nível de classificação do
ciúme, de acordo com Santos (2002), o paranóico (ou delirante), é considerado o mais perigoso de todos,
pois a desconfiança do ciumento cede lugar a uma certeza infundada de que está
mesmo sendo traído ou abandonado. O pensamento delirante muitas vezes toma
conta de todo o psiquismo e atinge níveis insuportáveis de tensão interna.
Tanto
o ciúme Neurótico quanto o Delirante são considerados patológicos e
prejudiciais para um relacionamento conjugal, trazendo mal-estar tanto para o
sujeito ciumento quanto o parceiro que convive com ele.
Claro que o ciúme não vai desaparecer de
uma hora para outra mas é preciso ter bom senso e saber identificar as causas
que fazem eclodir o sentimento e usar do bom senso em atitudes. No caso do ciúme delirante e
neurótico nem sempre isso é possível, geralmente é necessário que ocorram
terapias e tratamentos para uma convivência saudável com esse sentimento.
3.1.1 Diferença entre Homens e Mulheres
Homens e mulheres diferem em diversos
fatores, tanto no quesito intelectualidade, quanto sentimentalidade, então não
é de se estranhar que quando o assunto é “sentir ciúmes” os dois gêneros também
divergem.
Para os homens é pior se deparar com a
infidelidade sexual da parceira, do que emocional, e, ao contrário, para as
mulheres a infidelidade emocional é mais preocupante do que a sexual. Uma
pesquisa realizada em 1992 por Buss e colaboradores (apud SEO, 2005), comprova
essa afirmação. Nessa investigação estudantes universitários teriam que
escolher o que considerava mais perturbador: a) imaginar o parceiro tendo
diferentes posições sexuais com outra pessoa; ou b) imaginar o parceiro se
apaixonando por outra pessoa. E de fato, os homens se sentiram mais perturbados
com a traição sexual, e as mulheres com a traição emocional.
Segundo Buss, (2000 apud SEO, 2005), essa
diferença entre os eventos que causam o ciúme consiste nas diferenças entre
homens e mulheres nas suas atitudes perante o envolvimento emocional durante o
sexo.
A
maioria das mulheres deseja algum tipo de envolvimento emocional, compromisso,
amor, homens maduros, com status financeiro. Os homens têm desejos de variedade
sexual, priorizando beleza física (corpo atraente) e juventude. Então, para as
mulheres, seria mais perturbadora a infidelidade emocional, enquanto os homens
ficam mais aflitos pela infidelidade sexual de suas parceiras (BUSS, 2000 apud
SEO, 2005).
Além disso, é importante considerar que os
fatores que propiciam as manifestações de ciúme, conforme Buss, (2000 apud Seo,
2005) no sexo feminino são mais voltados a sentimentos de inferioridade, menor
desejo sexual e, consequentemente, medo da infidelidade do parceiro. Contudo,
para os homens, os temores de abandono e de infidelidade, por parte da parceira,
podem se manifestar em situações específicas, como, por exemplo, a saúde em
decadência. Nesse caso, a doença faz com que o homem fique preso à casa e,
assim, a parceira fica livre para sair; por isso, atormenta-a com
questionamentos e acusações.
Mas tanto em homens quanto em mulheres o
sentimento é prejudicial e faz com que ocorram conflitos, desentendimentos e
até mesmo separações e violência.
3.2 Ciúme Patológico
O ciúme se torna patológico quando traz
sofrimento tanto para quem o sente, quanto para seu parceiro, e para estes
casos é necessário que se recorra a Tratamento Psicológico e/ou Psiquiátrico
para uma melhora significativa do quadro. Segundo Alves, (2001, p.14) em
relação a sua espécie patológica, à sua forma mórbida, o ciúme reveste-se de uma
modalidade de paranoia, principalmente como uma sistemática forma de delírio
obsessivo do agente sobre a infidelidade da pessoa amada, especialmente do
cônjuge. Constitui o denominado “delírio de ciúme” de acordo com Tarrier et al,
(1990); Westlake e Westlake, (1999 apud Costa, 2010), como manifestação
paranoica, do mesmo modo que é o “delírio ou mania de grandeza” ou o “delírio
de perseguição”, como ideia fixa, obsessiva falsa que domina ou centraliza toda
a vida psíquica. Assim, subdivide-se o ciúme patológico em neurótico ou
obsessivo (não psicótico), e delirante (Psicótico),
Para exemplificar a diferença entre uma
pessoa com grau de ciúme considerado normal, e pessoas com graus de ciúmes mais
elevados considerados patológicos Santos, (2002 p.77) diz que devemos imaginar
que para a pessoa “supostamente” saudável, o enciumado passa a se questionar
sobre esse sentimento, chega a compartilhar com o parceiro este sentir e pode
tirar daí algumas conclusões importantes sobre sua forma de ser. Já a pessoa com ciúme patológico no estilo
neurótico, permanece em vigília o tempo todo, tenso, aflito, tomando atitudes
sempre procurando uma forma de confirmar suas suspeitas. Isso pode ir de um
soturno ato de vasculhar bolsas e bolsos, checar ligações telefônicas e até seguir
ou mandar seguir o outro pelas ruas em busca de provas de sua infidelidade.
Suas reações no dia-a-dia são geralmente agressivas, acusadoras, desconfiadas,
causando um grande mal-estar na relação.
Comportamentos
tais como examinar bolsos, carteiras, recibos, contas, roupas íntimas e
lençóis, ouvir telefonemas, abrir correspondências, seguir o cônjuge ou mesmo
contratar detetives particulares para fazer isso costumam não aliviar e ainda
agravar sentimentos de remorso e inferioridade das pessoas que padecem de ciúme
excessivo. Um exemplo disso é caso que Wright (1994) descreveu de uma paciente
que chegava a marcar o pênis do marido com caneta para conferir a presença
desse sinal no final do dia (ALMEIDA, 2013, p.2).
E
por fim, uma pessoa com um nível de ciúme psicótico, este também conhecido como
“Síndrome de Otelo”, em referência ao personagem shakespeariano que sofria
desse mal, pode levar a pessoa a cometer atos de extrema agressividade física,
configurando aqueles casos que recheiam as crônicas policiais de suicídios e
homicídios passionais.
Enquanto
os casos mais brandos de ciúme podem ser uma manifestação de má estruturação da
autoestima, os intermediários refletirem estados neuróticos, os casos da
“Síndrome de Otelo” são, indiscutivelmente causados por patologias
psiquiátricas graves, as chamadas psicoses ou, ainda, por problemas
neuropsiquiátricos como os diversos tipos de disritmia cerebral descritos na
Medicina. De qualquer forma, o complexo sentimento de ciúme, longe de ser
aquele “condimento” que torna a relação amorosa mais “apetitosa”, é um
sentimento que leva, via de regra, ao sofrimento de quem o sente e,
principalmente, de quem padece nas mãos de um ciumento desconfiado e agressivo
(SANTOS, 2002, p.78).
Com
uma visão psicanalítica é possível afirmar que o ciúme paranóide (Síndrome de
Otelo) seria na verdade o desejo do próprio ciumento em ser infiel, porém, por
não admitir conscientemente esse desejo, acaba projetando no parceiro, como se
pertencesse a ele a infidelidade ou desejo desta.
A revista Isto É, em Julho de 2012 trouxe
uma reportagem com vários depoimentos de pessoas que sofreram com o Ciúme
Patológico, dentre esses depoimentos o de Vanessa de Oliveira exemplifica o
caso do ciúme como uma projeção da própria infidelidade. Segundo a revista, a
catarinense Vanessa de Oliveira, 37 anos conheceu por meio de uma amiga aquele
que parecia ser o grande amor de sua vida. Durante os primeiros seis meses em
que viveram juntos, tudo correu bem. Até que ele começou a revelar seu lado
ciumento. “Ele me ligava o dia inteiro para saber onde eu estava e passou a me
tratar mal por ciúme dos outros funcionários do shopping onde tínhamos uma
loja”, diz. Um dia, Vanessa descobriu que, apesar de ser extremamente ciumento,
o marido mantinha relacionamentos paralelos com diversas mulheres e até era
casado legalmente nos Estados Unidos com outra brasileira. “Quando o confrontei
com a verdade, ele me agrediu, quebrou minhas coisas, me expulsou de casa e até
me ameaçou de morte.”
O ciúme Paranoico é marcado por não
possuir um motivo real e sim a certeza absoluta de infidelidade do parceiro
baseado na sua imaginação. Ele se torna
perigoso pelo fato do ciumento não perceber o seu problema. Freeman,
(1990); Kingham e Gordon, (2004, apud Costa, 2010, p. 27) assegura que sua
principal característica é a falta de realidade, uma crença irremovível e não
compartilhada com outras pessoas do mesmo contexto sócio cultural, que não é
passível de argumentação ou de convencimento da pessoa que sofre com o
problema, que muitas vezes não acredita que o problema esteja nela e não no
parceiro. Pode acontecer isoladamente, ou com outras experiências
persecutórias, sendo a causa do ciúme desconhecida pelo paciente.
No DSM-IV existe a classe de Transtorno
Delirante – Tipo Ciumento. Características desse diagnostico, segundo Easton et
al, (2008, apud Costa, 2010, p. 28) contêm experiências delirantes sobre a
infidelidade do parceiro, onde a pessoa possui certeza da infidelidade do
parceiro. Em alguns casos ocorre o uso da violência contra o parceiro alvo do
ciúme.
Nesse caso o indivíduo acometido desse mal
acaba vivendo em função de uma fantasia que o projeta como vitima de uma
suposta traição, e que a mesma precisa ser vingada para que consiga voltar a
viver em paz.
3.3 Causas
As causas do ciúme podem ser diversas, mas
geralmente estão relacionadas a própria pessoa ciumenta. Alves, (2001, p.11),
também declara que o ciúme surge e se mantém das dúvidas e desconfianças que
torturam a mente do sujeito, trazendo um grande sofrimento psíquico. A dúvida e desconfiança podem surgir de
falsas interpretações dos acontecimentos, onde o ciumento julga como certeza
algo que é fruto de sua imaginação.
Se formos pensar do ponto de vista
psicanalítico, as causas do ciúme estão estritamente relacionadas à infância,
como afirma Skoloff, (1954, apud, Alves, 2001, p.18) “o ciúme excessivo das
pessoas adultas, de caráter neurótico, irracional, tem sua real origem nos
traumas ciumentos da primeira infância”.
A
frustração inerente ao Complexo de Édipo, que certamente é o fundamento de
todos os ciúmes, foi sentido por todo o mundo, inclusive as pessoas que mais
tarde não mostram inclinações aos ciúmes. No Complexo de Édipo, o menino ama
sua mãe e deseja tê-la só para ele, se irrita contra o pai que é o principal obstáculo
de seus desejos absolutistas e, como consequência de seu ciúme e de sua
irritação, experimenta em direção ao pai impulsos hostis e agressivos
(FENICHEL, 1966, apud NICOLAU, 200?).
Então, como afirma Fenichel, (1966, apud
Nicolau, 200?) ao se deparar com um obstáculo que possa pôr em risco a relação
com o parceiro, a pessoa com caráter obsessivo do ciúme se lembra de uma
experiência parecida, vivida na infância e que foi reprimida. Assim, manter no
primeiro plano da consciência uma humilhação atual ajuda a manter em segundo
plano a humilhação anterior.
Muitos outros sentimentos abarcam o ciúme,
como inferioridade, baixa autoestima, sentimento de injustiça, e medo
inconsciente da perda. O complexo de inferioridade está conexo ao ciúme,
segundo Alves, (2001, p.33), em circunstâncias de que o ciumento sente-se
incapaz de manter o amor da pessoa amada, ou de afrontar qualquer provável
rival da relação amorosa. O mesmo autor diz ainda que o sentimento de injustiça
relaciona-se com o ciúme pelo fato de que o ciumento crê não receber o real
valor que tem direito, não sendo correspondido. Genú (2013), fala que ao se
sentir muito ameaçada por outras mulheres a pessoa passa a ter um grande temor
de perder seu parceiro, desta forma, sem muita escolha, para diminuir sua dor,
ela começa a exigir coisas que passam a limitar e restringir e a liberdade do
seu parceiro.
As pessoas que costumam mudar muito
frequentemente seus objetos de posse e sentem-se ciumentas até mesmo de
objetos, ou pessoas que não possuem nenhum sentimento especial, são as mais
predispostas a desencadear um ciúme patológico. Se o ciúme fosse apenas uma
penosa reação a uma frustração, Fenichel, (1966, apud NICOLAU, 200?) diz que
podia-se esperar que fosse expulso no possível, mas na realidade apresenta a
característica oposta: uma tendência a interferir e a converter-se em obsessão.
As causas do ciúme também podem estar
associadas a algum quadro psiquiátrico. Costa (2010, p.26), baseado em diversos
autores afirma que o ciúme pode aparecer relacionado a condição orgânica ou
tóxica, como nos casos de alcoolismo (ciúme delirante), ou associado ao uso de
outras substancias psicoativas; pode ainda estar associado a psicoses
funcionais e aos transtornos ansiosos (particularmente ao transtorno
obsessivo-compulsivo), e do humor (ciúme obsessivo). Além disso, o mau uso de
estimulantes, de acordo com Pillai e Kraya, (2000, apud Costa, 2010, p.27) nos
casos de manejos inadequados de Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) também pode estar associado ao ciúme patológico e aos
comportamentos de perseguição.
3.4 Consequências para os Relacionamentos
Conjugais
O ciúme em certa medida pode até aproximar
o casal durante uma relação, porém quando ultrapassa a linha da normalidade
gera consequências negativas, trazendo menor contentamento no relacionamento.
Uma pesquisa realizada na Universidade
Middle East Technical – EUA, de acordo com Oner, (2001 apud Costa, 2010) feita
com 266 estudantes (136 homens e 90 mulheres) que responderam a questionários e
escalas relacionadas ao ciúme e orientações sobre o futuro nos revela que
indivíduos ciumentos tendem a desejar continuidade no relacionamento, enquanto
indivíduos menos ciumentos veem o relacionamento como passível de termino e
algo que deve ser construído diariamente. Nesta pesquisa foi encontrada
associações entre baixos níveis de orientação para o futuro e satisfação no
relacionamento, concluído assim que, quanto maior a necessidade de continuidade
do relacionamento, maior o nível de ciúme e menor a satisfação no
relacionamento ao longo do tempo.
Em geral, como consequência, o ciúme leva
à insatisfação e término do relacionamento conjugal. Pois a pessoa ciumenta,
movida pelo sentimento de desconfiança, raiva, baixa autoestima, angustia e
insegurança passa a querer privar o parceiro do que considera como propenso a infidelidade.
Em níveis mais graves, o ciúme pode trazer como consequência a violência. De
acordo com a Pesquisa Data Senado, 2011, (ISTOÉ, 2012), em 27% dos casos de
violência doméstica registrados no Brasil a agressão foi motivada pelo ciúme.
No mesmo ano, em um levantamento do Instituto Avon, 48% das entrevistadas que
declararam ter sido vítimas de violência grave disseram que esse sentimento de
posse foi o fator responsável pela agressão.
O que leva uma pessoa a ser agressiva e
cometer até mesmo homicídios pelo simples fato de possuir ciúmes varia muito de
indivíduo a indivíduo, mas pode ser dividida em três perspectivas diferentes:
perspectiva feminista, perspectiva do relacionamento diático e a perspectiva
psicopatológica. Segundo os autores, O’Leary et al, (2007), e Felson &
Outlaw, (2007 apud Costa, 2012, p.46) na perspectiva feminista, é enfatizada a
dominância masculina, onde o homem, que acredita possuir o poder e controle na
relação, deseja obter exclusividade sexual, e assim este se torna mais propenso
a cometer crimes motivados pelo ciúme. Outro autor, também enfatiza essa
teoria:
O
perfil do passional: é homem geralmente de meia, é ególatra, ciumento e
considera a mulher um ser inferior que lhe deve obediência ao mesmo tempo em
que a elegeu o problema mais importante de sua vida. Trata-se de pessoa de
grande preocupação com sua imagem social e sua respeitabilidade de macho.
Emocionalmente é imaturo e descontrolado, presa fácil da ideia fixa. Assimilou
os conceitos da sociedade patriarcal de forma completa e sem crítica (ELUF,
2003 p. 198, apud Figueiredo, 2012).
Em continuidade, na perspectiva do
relacionamento diático, a base é a discórdia nos relacionamentos e
comportamentos. E por fim, a perspectiva psicopatológica, onde faz uma
assimilação dos problemas individuais (como desregulação emocional), e o abuso
de álcool com a violência.
4. Conclusão
O ciúme pode ser tratado com o algo normal
e sem importância até certo ponto. Mas o ciúme é de maneira geral considerado
com o algo ruim e prejudicial num relacionamento, ainda mais quando se torna um
ciúme patológico, ou seja, quando necessita de ajuda profissional.
O
ciúme possui três graus o normal o neurótico e o delirante. O ciúme neurótico e o delirante
fazem parte do grupo que necessita de auxilio psicológico para que o indivíduo
supere este estágio.
Já o ciúme patológico é o tipo de ciúme
que traz sofrimento tanto a pessoa que sofre desse mal bem como do parceiro que
é alvo desse ciúme. Esse tipo de ciúme necessita de acompanhamento pois as
consequências dele podem ser imprevisíveis.
Assim é importante que se tenha
consciência de quando o ciúme já ultrapassou a barreira do normal e precisa ser
avaliado, é preciso que a pessoa
com esse problema tenha noção de que alguns problemas requerem mais que somente
sua boa vontade de mudar e sim a ajuda de profissionais que estão aptos a
tratá-lo e avaliá-lo de forma imparcial e possibilitando uma vida dentro da
normalidade no menor tempo possível.