Como o transtorno de humor é abordado pela ACP – Abordagem Centrada na
Pessoa
Os transtornos de
humor ou transtornos afetivos se manifestam através de vários sintomas, como
por exemplo:
·
O TAB (Transtorno afetivo Bipolar),
·
Episódio depressivo,
·
Ansiedade,
·
Transtornos relacionados a traumas e
transtornos relacionados a estressores.
O transtorno
afetivo bipolar era conhecido antigamente como psicose maníaco-depressiva, e
apresenta como principal característica a alternância de humor, ou
seja, oscilação dentre dois polos, mania ou euforia e depressão.
No entrando, entre
essas fases de oscilações, as pessoas que sofrem deste transtorno ficam
assintomáticas, com humor estável, o que dificulta muitas vezes o
diagnóstico.
As crises podem
variar entre leve, moderada e grave. Variando também em frequência, podendo se
manifestar uma vez ao ano, uma vez na semana, podendo durar dias, semanas ou
meses.
Tipos
de transtornos bipolar
·
Tipo 1: Apresenta de maneira intensa
sintomas de mania, estado de euforia, que geralmente duram 7 dias, e uma fase
depressiva.
·
Tipo 2: Apresenta de maneira mais
branda alternância entre a hipomania (estado de euforia mais leve) e depressão.
·
Ciclotímico: Oscilação de humor
mais leve do Transtorno Bipolar, apresenta oscilação crônica de humor, podendo
acontecer no mesmo dia, sendo frequentemente confundido com traços de
personalidade forte e responsabilidade.
Tratamento
para transtorno bipolar
Infelizmente o TAB
(transtorno afetivo bipolar) não tem cura, mas a pessoa pode levar a vida
funcional com o acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Os estabilizadores
de humor são medicamentos de primeira linha, como por exemplo o lítio, o ácido
valproico entre outros, sendo receitados em conjunto com a psicoterapia.
Transtorno
de humor e a abordagem centrada na pessoa (ACP)
O pressuposto
fundamental da ACP é que todo indivíduo tem dentre de si uma força que
o impulsiona a desenvolver e atualizar seu potencial em direção ao seu
crescimento de forma positiva e construtiva. Essa
força Carl Rogers,
um dos mais renomados psicólogo do século XX e criador da ACP, chamou de tendência
atualizante.
Independente do
diagnóstico, a pessoa com transtorno de humor também possui essa força, uma
tendência inerente ao organismo para seu crescimento, desenvolvimento e
autorrealização.
Então, essa pessoa,
que apresenta transtorno de humor, é vista pela ACP como um indivíduo que
possui dentro de si mesmo vastos recursos para sua autocompreensão e
para alterar seu autoconceito, suas atitudes básicas e seu
comportamento. Essas mudanças ocorrerão se um clima favorável definido como
atitudes facilitadoras forem oferecidas no processo psicoterápico.
Segundo Rogers, há
atitudes psicológicas que facilitam a tendência atualizante, são eles:
·
Congruência,
·
Consideração positiva incondicional,
·
Compreensão empática ou empatia.
Congruência é
ser genuíno na relação, significa que devo estar consciente de meus próprios
sentimentos, o mais que puder, ao invés de representar alguém que não sou. É
somente ao apresentar a realidade genuína que está em mim, que a outra pessoa
pode procurar pela realidade em si com êxito.
Aceitação
incondicional significa uma aceitação das
atitudes do cliente sem julgamentos, sejam elas positivas ou negativas, gerando
assim uma relação de afeto, segurança e de ser aceito com seus sentimentos,
independentemente de serem contraditórias com outras atitudes que ele sustinha
em seu passado. Essa aceitação de acordo com Rogers é extremamente importante
em uma relação de ajuda.
Empatia é
somente quando percebo e compreendo os sentimentos e pensamentos do cliente,
mesmo sendo bizarros ou terríveis para ele, quando os vejo como ele os vê e
aceito como se fossem meus, o cliente se sente livre para adentrar em sua
experiência interior e quase sempre esquecida, rejeita, e passa a sentir uma
liberdade para explorar a si mesmo em níveis consciente e inconsciente.
Dessa forma, ainda
de acordo com Rogers, a relação considerada útil se constitui de transparência
dos sentimentos reais do terapeuta e por aceitação da outra pessoa, enxergando
seu mundo particular através de seus olhos.
Quando essas
condições são oferecidas, sou companhia para meu cliente na busca de si mesmo,
onde ele se sente livre. A ACP é considerada uma abordagem que parte de uma
visão de homem e de valores expressos pelo respeito e pela dignidade humana,
que confia na capacidade de vivenciar e experienciar um processo de mudança
direcionado ao crescimento.
Podemos considerar
que para aplicar os princípios da Abordagem Centrada na Pessoa, além destas
atitudes facilitadoras, é necessário disponibilidade na relação para formação
do vínculo, ter uma postura ética de não julgamento e sempre
mostrando ao cliente a necessidade da ampliação da consciência. Creio que
somente com essa postura pessoal nas relações será possível despertar no outro
a confiança interna, para se tornar quem verdadeiramente se é sem máscaras ou
fachadas, sendo possível enxergar novas formas de vivências e experiências,
sendo congruente e buscando ser feliz dentro das possibilidades que lhes são
apresentadas, mesmo que algumas sejam contraditórias.
É nesse contexto
que a Abordagem Centrada na Pessoa realiza suas intervenções junto a pessoas
que apresentam algum transtorno de humor, mostrando que a vida é um
processo de fluidez, onde nada está pronto ou fixo e mesmo com as oscilações de
humor impostas pelo transtorno, o cliente pode aprender a reconhecer e validar
suas emoções, tornando-se mais consciente e capaz de abstrair
alguns eventos estressores e ressignificando aquilo que for possível.
A intersecção entre
psiquiatria e psicologia demonstra outra possibilidade de intervenção e
aplicação da Abordagem Centrada na Pessoa, sendo uma proposta de modo
diferente, já que a ACP não realiza diagnóstico, ao contrário, os rótulos não
fazem parte da relação terapêutica.
No entanto, faz-se
necessário que o terapeuta tenha conhecimentos dos quadros nosográficos,
somente através desses conhecimentos é possível realizar um atendimento com uma
equipe interdisciplinar, identificado situações de riscos como ideação
suicida, muitas vezes presente em pessoas com transtorno de humor e
que se faz necessário ajuda familiar nos cuidados de saúde da pessoa
acompanhada.
Em nossa prática
clínica percebemos que pessoas com transtorno de humor, em acompanhamento
conjunto com o psiquiatra, conseguem identificar a proximidade de momentos de
crise assim como os eventos que podem desencadear a mesma. Com essa capacidade
de identificar a chegada da crise a pessoa portadora do transtorno de humor
aprende novas formas que promove o desenvolvimento de recursos de prevenção e
os cuidados necessários para a integridade física e mental do cliente e das
pessoas com as quais se relaciona.
Os terapeutas
rogerianos, como são chamados aqueles que atuam através da Abordagem Centrada
na Pessoa, também utilizam de recursos para ajudar seus clientes a
desenvolverem novos hábitos que contribuíram para uma melhor qualidade de vida
independente de qualquer diagnóstico.
As intervenções
realizadas serão de acordo com o nível cognitivo e educacional de cada cliente,
levando em conta sua subjetividade e singularidade e os dados colhidos na
anamnese, entrevistas com familiares ou colegas de trabalho, visita a escola,
técnicas como a clarificação, que focaliza no que o cliente fala, para que ele
repita o que disse e consiga escutar sua fala ou queixa, no caso de atendimento
com crianças a ludoterapia, que utiliza recursos lúdicos para acessar o mundo
simbólico através do brincar, sendo necessário o conhecimento sobre o
desenvolvimento infantil psicomotor, cognitivo, social e afetivo, permitindo
que o terapeuta consiga acessar a compreensão que a criança tem de si mesma e
de sua realidade a partir dos recursos que sua fase de desenvolvimento oferece.
Na prática a
Abordagem Centrada na Pessoa, busca-se compreender as dificuldades das pessoas
com relação a si mesmas, seus sentimentos, suas relações interpessoais, além de
trabalhar a capacidade de assumirem as responsabilidades inerentes ao seu
momento atual, o hoje, independentemente de serem crianças, adolescentes,
adultos ou idosos, cada período ou ciclo carrega seus desafios e suas
possibilidades, que somente com a ampliação da consciência, o autoconhecimento,
somos impulsionados a fechar ciclos que pedem um fechamento para que novos
ciclos se iniciem, como já foi dito no início: a vida é um processo de fluidez
onde nada está pronto e nada está fixo, é sempre um devir.
Movimento
ininterrupto e atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, que cria e
transforma todas as realidades existentes, sendo válido para todos independente
se têm diagnóstico ou não, esta é uma das possibilidades de atuação da
Abordagem Centrada na Pessoa.
Fonte:
https://blog.psicologiaviva.com.br/transtorno-de-humor-e-acp/