Psicologa Organizacional

6 de outubro de 2014

PSICOLOGIA



INTRODUÇÃO A
HISTÓRIA DA PSICOLOGIA


1.1. Definição
Psicologia é a ciência da alma, ou da psique, ou da mente, ou do comportamento. Refere-se, na verdade, a um conjunto de funções  que se distinguem em três grandes vias: a via ativa (movimentos, instintos, hábitos, vontade, liberdade, tendências, e inconsciente); a via afetiva (prazer e dor, emoção, sentimento, paixão, amor); e a via intelectiva (sensação, percepção, imaginação, memória, idéias, associação de idéias).  Estas três vias articulam-se em grandes sínteses mentais, tais como: atenção, linguagem e pensamento, inteligência, julgamento, raciocínio e personalidade (Meynard, 1958). Estas funções também são conhecidas como cognitivas, afetivas e conativas. As cognições são as capacidades do intelecto, as afeições são os sentimentos e emoções, e a conação refere-se as nossas atividades, que são as respostas expressivas ou comportamentais. A conação como uma expressão de si para o outro traz sempre implicações, sejam boas ou más (Tabela 1).





Tabela 1
Manifestações Psicológicas

Via Ativa
Via Afetiva
Via Cognitiva
Movimentos
Instintos
Hábitos
Vontade
Liberdade
Tendências
Inconsciente
Prazer
Dor
Emoção
Sentimento
Paixão
Amor
Ódio
Sensação
Percepção
Imaginação
Memória
Idéias
Grandes Sínteses
Atenção
Consciência
Linguagem
Pensamento
Inteligência
Julgamento
Raciocínio
Personalidade

Sabemos que a nossa história de vida caracteriza-se por um longo desenvolvimento físico e mental. Este desenvolvimento pode encontrar, em sua trajetória, fatores favoráveis e desfavoráveis. Ele recebe influências dos grupos sociais que nos envolvem em diferentes camadas e de diferentes modos. O desenvolvimento psicológico consiste na formação gradativa de sínteses mentais. Estas sínteses expressam-se no nosso modo de ser e de agir que juntamente com nossas características herdadas constituem a personalidade. Pode-se dizer, então, que o estudo da psicologia organiza-se: no interesse do conhecimento das funções psicológicas básicas em suas três vias; no interesse de saber como estas funções se desenvolvem; no interesse de saber o que é facilitador ou impeditivo deste desenvolvimento (Seriam ambientais? Seriam neurofisiológicos? Seriam restrito a área dos afetos? Seriam problemas na formação de hábitos? Seriam existenciais? Seriam comportamentais? Seriam cognitivos? Seriam sócio-econômicos? Seriam ecológicos?); no interesse de saber como propor tratamentos para os fatores impeditivos do desenvolvimento em todas as fases da nossa vida (pré-natal, infância, adolescência, adulto jovem, adulto, envelhecimento e morte). A psicologia interessa-se ainda pelo ambiente em que vivemos, pelo arquitetura de nossa casa, pela organização da nossa cidade (vida comunitária, trânsito, ruídos, violência), por nosso desempenho na escola, pelo modo como os professores desenvolvem suas tarefas, pela nossa escolha profissional, pelo nosso relacionamento com a família e com os amigos, pela nossa adaptação e satisfação profissional, pela escolha de nossos parceiros afetivos (namoro, casamento, divórcio, relacionamento com os filhos) e pelos nossos desapontamentos e frustrações. O melhor modo de obter este conhecimento e de transformá-lo em ferramentas de atuação profissional é motivo de muita polêmica e inspiração para uma grande proliferação de teorias. Em outras palavras, ainda temos muito o que aprender sobre a complexidade deste homo sapiens sapiens.
 O campo da psicologia é muito vasto. Inclui atividades consagradas como a psicologia clínica, escolar, atividades em pesquisas básicas como o estudo dos processos psiconeurológicos e memória, e um enorme conjunto de possibilidades aplicadas e de pesquisa que inclui matemática, física, informática, engenharia, enfermagem, trânsito, ecologia, psicofísica, genética, administração, comunidade, sociologia, antropologia, educação e marketing. Um estudante de psicologia que é naturalmente curioso, que gosta de desafios e que consegue antever os rumos do desenvolvimento social e econômico terá um papel destacado na profissão e muito sucesso.  Na verdade, a psicologia é uma ciência aplicada mas também uma ciência básica de grande importância para qualquer campo de conhecimento. Uma maneira de entender o vasto campo da psicologia é distinguir suas duas grandes tradições. De um lado, o interesse em saber o que é o nosso intelecto, isto é, a nossa capacidade de conhecer (via cognitiva). Do outro, o interesse em saber como e porque somos diferentes uns dos outros e respondemos de modos diferentes as influências ambientais (via afetiva e conativa). Por exemplo, por que de uma mesma família sai um filho altruísta e dedicado às soluções dos grandes problemas da humanidade e um outro delinqüente e criminoso? Por que uma criança vai para a escola e aprende as lições com a maior facilidade e uma outra apresenta uma grande dificuldade no seu aprendizado?
A psicologia que conhecemos hoje é o resultado da confluência de preocupações e métodos oriundos da filosofia e da fisiologia. Todas as funções psicológicas decorrem de processos orgânicos. Avanços nos campos da genética, neurofisiologia e bioquímica trouxeram importantes esclarecimentos sobre processos psicológicos básicos como, por exemplo, hereditariedade, agressividade, depressão e ansiedade. Por outro lado, o modo como formulamos perguntas, encaminhamos modos de resposta e organizamos nosso conhecimento é muito influenciado por toda a história da filosofia. Assim, o objetivo do Curso de História da Psicologia é percorrer, brevemente, alguns dos principais caminhos da psicologia, desde os antigos gregos até a criação dos cursos de psicologia no Brasil.

1.2 A natureza do conhecimento histórico
            Ao iniciar um curso de história da psicologia temos que considerar algumas questões básicas sobre o estudo de história e sobre a veracidade do conhecimento histórico. Neste sentido, vamos examinar quatro perguntas, são elas: 1) o que é um fato histórico? 2) que história da psicologia será apresentada nesta disciplina? 3) como se estabelecem relações entre fatos históricos? e 4) qual a importância do estudo da história da psicologia?
O fato histórico refere-se a um episódio que aconteceu em algum lugar do passado e cuja a verificação é limitada. Esse fato permanece através de efeitos a ele atribuídos que podem ser verdadeiros ou não.  São vestígios e pistas que podem indicar sua ocorrência e ensejar interpretações diversas. O problema é como interpretar estes vestígios para descrevê-los de tal modo que faça sentido e indique sua importância. Assim, a história é sempre parcial pois apóia-se na seletividade de quem reuniu os fatos ditos históricos e organizou a narrativa. O que temos são versões dos fatos que ganham credibilidade de acordo com as evidências apresentadas, como documentos da época ou fontes primárias. 
As relações entre os fatos históricos são sugestões interpretativas baseadas em argumentos que podem ser aceitos ou não. Neste sentido, uma pergunta clássica é: são os fatos históricos encadeados por si mesmos ou somos nós que oferecemos este encadeamento? Na verdade, os encadeamentos históricos são propostas analíticas de historiadores. Alguns impõem-se pelo consenso. Outros, são alvos constante de debates. Outros, sobrevivem como marcos referenciais na forma de consagração de heróis e na exaltação da sua contribuição histórica. Ainda, o relacionamento e contraste de fatos históricos envolve um debate importante sobre a natureza do desenvolvimento do conhecimento. A pergunta é: seria este desenvolvimento contínuo ou descontínuo? O que está relacionado a quê? O que sucede o quê? As respostas são sempre interpretações e conjecturas?
Por fim, diante de tantas limitações, vale a pena estudar história? Apesar de todas estas limitações, a história é o melhor modo de se iniciar em um campo de estudo. É através da história que se identifica a origem dos conceitos e dos equívocos que muitas vezes atrasaram ou anteciparam grandes descobertas. É o melhor caminho para o conhecimento das diferentes tradições, e do desenvolvimento das principais idéias de uma determinada ciência. É bem verdade que o estudo da história de um campo ainda desconhecido é, de certa forma, árido e cansativo. Deve-se também alertar que a escolha da psicologia como objeto de estudo é, muitas vezes, contextualizado em entendimentos equivocados e míticos que causam grande desconforto e desencorajamento ao jovem estudante. No entanto, dê uma chance à história. Uma sugestão talvez caiba neste momento. Por que não colocar em suspensão suas teorias pessoais sobre psicologia? É como guardá-las bem cuidadosamente numa gaveta ou talvez num cofre para que ninguém a roube de você. Então, sem preconceitos, embarque nesta viagem às muitas possíveis origens da psicologia e principalmente aos diferentes modos de estudá-la. Depois, volte lá onde estão guardadas suas teorias, tente localizar suas origens e, porque não, levá-las adiante, sempre acompanhado de muito rigor crítico. Você pode ser o grande teórico da psicologia do próximo século.

1.3 Diferentes modos para estudar a história da psicologia
Existem muitos modos de estudar a história da psicologia. Um modo muito usual é a cronologia ou a crônica dos eventos. Trata-se da organização do relato histórico numa certa ordem temporal. É também a imposição do caracter diacrônico da narrativa, isto é, uma coisa atrás da outra na ordem de ocorrência. Dois importantes historiadores em psicologia, que deram aos seus relatos uma ênfase cronológica, foram Boring (1950) e (Murphy) 1949.
O campo da psicologia é conhecido pela sua fragmentação e pelas disputas teóricas. No início deste século, a história da psicologia caracterizou-se por grandes escolas ou sistemas. Estas escolas eram formulações teóricas sobre o que é ou deve ser psicologia. Exemplo destas grandes escolas, algumas ainda persistindo até hoje, são: psicanálise, behaviorismo, Gestalt, e funcionalismo. Autores que organizam suas narrativas históricas em função destas escolas foram Heidbreder (1933), Woodworth e Sheedan, (1964), Wolman (1960), e Marx e Hillix (1963).
Sabe-se que a psicologia não é um campo unitário. Há uma grande diversidade de teorias. Quando se diz que é psicólogo, logo a seguir, além de dizer qual a especialidade, se diz também qual é a abordagem preferida. Alguns autores contemplaram a história da psicologia do ponto de vista das diferentes teorias, como por exemplo as teorias de personalidade (Hall e Lindsey, 1957) e as teorias da aprendizagem (Hilgard, 1956). Estes dois livros são, atualmente, "clássicos" da literatura psicológica.
Outro modo interessante de estudar história da psicologia é através da biografia dos grandes psicólogos. Um exemplo  de um livro organizado em pequenas biografias é a History of Psychology de David Hothersall (1990). Uma antologia de textos clássicos é Herrnstein e Boring (1971).
Existem também compêndios e artigos  de história da psicologia que tratam do desenvolvimento desta ciência em diferentes regiões. Hilgard (1987) escreveu sobre a história da psicologia nos Estados Unidos, e Ardila (1986)  sobre a história da psicologia na América Latina. Quanto ao livro de Hilgard, é interessante notar o modo como foram organizados os capítulos. Uma parte traz a história das grandes áreas de pesquisa básica em psicologia: sensação e ciência sensorial, percepção, aprendizagem e memória, cognição e ciência cognitiva (pensamento, linguagem, inteligência artificial), consciência (incluindo consciência subliminar e estados alterados da consciência), sentimentos e emoções, e ação - motivação - vontade. Outra parte traz a história das grandes subdivisões da psicologia: psicologia comparada enquanto biologia comportamental - evolução e genética; psicologia fisiológica enquanto neurociência; inteligência - medida e controvérsia; personalidade; desenvolvimento; social; clínica; psicologia e educação; e, por fim, psicologia do trabalho e das organizações. O último capítulo do livro de Hilgard contempla o dilema existencial da psicologia: psicologia - ciência natural ou humana?...

Autor:   William B. Gomes

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