Psicologia da Educação: uma disciplina em crise
no pós-construtivismo
Atualmente, temos percebido a
existência objetiva de uma crise epistemológica no que se refere à Psicologia
da Educação e à sua relação com a Pedagogia. Não é preciso ir muito longe para
se constatar que essa disciplina aplicada tem ficado à deriva, exercendo,
muitas vezes, uma função decorativa nos cursos de formação de educadores,
quando poderia ser um de seus eixos centrais. Nesses termos, a Psicologia da
Educação acaba sendo reduzida a uma simples exposição linear de escolas e
abordagens psicológicas, de forma a-histórica, descontextualizada e sem a
devida análise dos pressupostos filosóficos e sociológicos de cada uma delas,
como se valessem em si mesmas. A aplicação de princípios psicológicos à
Educação torna-se uma abstração, algo que, no final das contas, pouco interessa
ao educador, como instância formativa. Este deve preocupar-se mais com a
Didática e com as diversas Metodologias, que "ensinam a dar aulas",
"têm utilidade" e revelam uma dimensão mais pragmática do processo
educacional. No limite, os estudos em Psicologia seriam importantes na medida
em que permitissem aos educadores a identificação de eventuais distúrbios de
aprendizagem e algumas receitas para seu "tratamento" em sala de
aula.
Como reação contrária a este
posicionamento simplista, tem-se observado, entre alguns educadores e
pedagogos, certa aversão àquela disciplina, frequentemente acusada de corromper
a Educação com modismos psicologizantes. Essa atitude preconceituosa em relação
à Psicologia Educacional1 tem, entretanto, nos incomodado bastante na qualidade
de pesquisadores de linha vigotskiana, comprometidos com o sucesso da práxis
pedagógica e com a qualidade da formação docente em todos os seus aspectos,
inclusive na dimensão psicológica deste processo. Resolvemos, pois, escrever
este ensaio. O trabalho resulta de estudos bibliográficos, realizados nos
domínios da Psicologia Histórico-Cultural, em suas interseções com a Pedagogia
Histórico-Crítica, bem como de nossas experiências profissionais em escolas de
educação básica e no contexto universitário. O intuito é exteriorizar reflexões
e inquietudes a respeito dessa problemática, haja vista ser relevante, na atual
conjuntura, promover estudos críticos, que busquem entender as raízes da
presente crise na Psicologia da Educação.
A confluência das várias pesquisas
poderá apontar novos rumos a essa disciplina, porquanto não se trata de negá-la
ou considerá-la anacrônica. Antes, é preciso compreender seu verdadeiro papel
nas circunstâncias concretas em que vivemos, devolvendo-lhe seu lugar de
direito no interior da própria Pedagogia. Com certeza, trata-se de uma tarefa
difícil e complexa; mas necessária para repensarmos a permanência de alguns
preconceitos, ainda no século XXI, quanto à legitimidade das contribuições da
ciência psicológica para a ciência pedagógica, conquanto não se imagine que uma
possa ser reduzida à outra. Sendo educadores, e não psicólogos, apropriando-nos
das palavras de Libâneo (1999, p. 83), é conveniente ressaltarmos que "As
ideias expostas aqui não formam um pensamento acabado, pelo contrário, devem
ser consideradas como uma tenta...
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