Psicologa Organizacional

25 de junho de 2025

 




História, Diagnóstico e Tratamento dos Transtornos de Ansiedade: Uma Revisão Científica.

 

Os Transtornos de Ansiedade são caracterizados como um dos principais problemas de saúde mental do século XXI, com uma prevalência global significativa e impacto multifatorial no bem-estar psicossocial e na funcionalidade do indivíduo. Este artigo apresenta uma análise estruturada sobre a história dos Transtornos de Ansiedade, suas estatísticas no mundo e no Brasil, critérios diagnósticos, aspectos clínicos e etiológicos, bem como abordagens terapêuticas e parcerias interdisciplinares para o manejo dessas condições.

 

A História dos Transtornos de Ansiedade

 

Os Transtornos de Ansiedade foram identificados e descritos de diferentes maneiras ao longo da história. Na Antiguidade, emoções relacionadas à ansiedade eram compreendidas em termos de desordem nos fluidos corporais, sobretudo na explicação da teoria humoral de Hipócrates. Durante o Iluminismo, o conceito de ansiedade passou a ser vinculado a uma alteração dos "nervos". No final do século XIX e início do XX, Freud destacou a ansiedade como um elemento fundamental nos transtornos neuróticos, ampliando seu campo de estudo. A partir do século XX, com o avanço das ciências comportamentais, neurobiológicas e cognitivas, os Transtornos de Ansiedade passaram a ser entendidos como condições psicossociais e neurobiológicas interconectadas.

 

Estatísticas Globais e no Brasil

 

Estatísticas no Mundo

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas vivem com Transtornos de Ansiedade. Isso corresponde a cerca de 4% da população mundial, tornando essa categoria uma das mais prevalentes no campo da saúde mental. Ademais, é responsável por uma significativa carga global de incapacidade (DALYs).

 

Estatísticas no Brasil

O Brasil se destaca como um dos países com maior índice de pessoas diagnosticadas com Transtornos de Ansiedade. De acordo com dados de 2022, aproximadamente 9,3% da população brasileira sofre de algum tipo de transtorno de ansiedade, o que corresponde a quase 19 milhões de pessoas. Esses índices evidenciam a necessidade de políticas públicas voltadas às questões de saúde mental e ao acesso à assistência especializada.

 

Diagnóstico

O diagnóstico dos Transtornos de Ansiedade requer avaliação clínica criteriosa, baseada em sintomas objetivos e subjetivos descritos em manuais.

 

Descrição segundo o DSM-V

De acordo com o DSM-V, os Transtornos de Ansiedade são definidos como uma classe de distúrbios caracterizados por medo excessivo, preocupação exacerbada e respostas comportamentais ou cognitivas desproporcionais ao estímulo ou contexto. O medo é compreendido como uma reação a uma ameaça iminente, enquanto a preocupação refere-se à antecipação de perigos futuros. Os critérios diagnósticos incluem prejuízo significativo nas áreas social, ocupacional ou outras.

 

Descrição segundo o CID-11

O CID-11 define os Transtornos de Ansiedade baseando-se em características de medo ou evitação excessivos, que persistem por um período prolongado e não são proporcionais à realidade objetiva da ameaça. Como o DSM-V, o CID-11 também classifica múltiplos subtipos de Transtornos de Ansiedade com especificações sobre duração e gravidade.

 

Etiologia dos Transtornos de Ansiedade

 

A origem dos Transtornos de Ansiedade é descrita como multifatorial, com influências interativas de fatores biológicos, psicológicos e socioculturais:

 

- Fatores biológicos: Hipersensibilidade na amígdala e disfunções no córtex pré-frontal, juntamente com alterações nos sistemas neurotransmissores de GABA, serotonina e noradrenalina. |

- Fatores genéticos: Estudos de hereditariedade indicam um risco de transmissão familiar, sendo a herdabilidade de até 30% a 50% para certos tipos de ansiedade, como o transtorno do pânico.

- Fatores psicológicos: Experiências traumáticas na infância, padrões de apego inseguros e desenvolvimento de esquemas cognitivos disfuncionais são frequentemente associados aos Transtornos de Ansiedade.

- Fatores socioculturais: Precariedade socioeconômica, ambientes urbanos de alta complexidade e pressões culturais são gatilhos ambientais comuns.

 

Tipos de Transtornos de Ansiedade

Os subtipos descritos nos manuais diagnósticos incluem:

 

1. Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): Caracterizado por preocupação excessiva e persistente, acompanhada de sintomas somáticos. |

 

2. Transtorno do Pânico: Marcado por ataques de pânico recorrentes e imprevisíveis.

3. Fobia Social (Transtorno de Ansiedade Social): Medo irracional de situações de interação ou observação social.

4. Fobias Específicas: Ansiedade intensa direcionada a objetos ou situações específicas, como medo de altura ou de animais.

5. Transtorno de Ansiedade de Separação: Vivenciado principalmente por crianças, caracterizado pelo medo extremo de afastamento de figuras de apego.

6. Mutismo Seletivo: Incapacidade de falar em situações específicas, apesar de funcionalidade normal em outros contextos.

 

Comorbidades

Os Transtornos de Ansiedade frequentemente coexistem com outras condições, amplificando a gravidade do quadro clínico. As comorbidades mais frequentes incluem:

 

- Transtornos depressivos.

- Transtornos relacionados ao uso de substâncias.

- Transtornos obsessivo-compulsivos.

- Síndromes dolorosas (como cefaleia crônica).

- Doenças cardiovasculares e metabólicas (como hipertensão e diabetes).

 

Sintomas

Os sintomas variam em intensidade, mas podem ser agrupados da seguinte forma:

 

- Cognitivos: Preocupação excessiva, dificuldade de concentração e pensamentos intrusivos.

- Físicos: Palpitações, tensão muscular, sudorese, tremores e desconforto abdominal.

- Comportamentais: Evitação de situações específicas ou fuga emocional.

 

Tratamentos

Os Transtornos de Ansiedade possuem abordagens terapêuticas amplamente validadas, que englobam intervenções farmacológicas, psicoterapêuticas e alternativas complementares.

 

Tratamentos Farmacológicos

Os medicamentos mais utilizados incluem:

- Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS): Como sertralina e escitalopram.

- Inibidores da Recaptação de Serotonina/Noradrenalina (IRSN): Como venlafaxina.

- Benzodiazepínicos: Frequentemente usados a curto prazo para crises agudas.

- Buspirona e antidepressivos tricíclicos também são opções.

 

Atuação no cérebro: Os fármacos restauram o equilíbrio químico no sistema nervoso central, agindo em receptores específicos e aumentando a neurotransmissão de serotonina ou norepinefrina.

 

Tratamentos Psicoterapêuticos

A ação da psicoterapia: A psicoterapia reduz sintomas ao identificar padrões de pensamento distorcidos e promover mudanças cognitivas e comportamentais. Através da ACP, o indivíduo desenvolve autoconhecimento, confiança e resiliência emocional pela validação e pela aceitação incondicional.

 

Terapias Alternativas

Técnicas complementares ganharam popularidade por diminuir níveis de ansiedade de forma natural e integrada:

 

- Exercício físico aeróbico: Promove liberação de endorfinas e redução do estresse.

 

- Yoga e mindfulness: Melhoram a resposta autonômica e a integração mente-corpo.

- Fitoterapia e suplementação (como valeriana e ômega-3): Complementam tratamentos convencionais.

 

 

Prognóstico

Embora os Transtornos de Ansiedade sejam crônicos na maioria dos casos, o prognóstico com tratamento adequado é favorável. A adesão terapêutica, especialmente em casos com comorbidades, é essencial para a remissão dos sintomas e melhora da qualidade de vida.

 

Integração Psiquiatria-Psicologia

A interdisciplinaridade entre psiquiatria e psicologia tem comprovado eficácia para o manejo dos Transtornos de Ansiedade. A psiquiatria foca no controle farmacológico das alterações neuroquímicas, enquanto a psicologia auxilia na reestruturação cognitiva e no desenvolvimento de habilidades de enfrentamento. Essa parceria amplia significativamente os resultados terapêuticos e garante um suporte integral ao paciente.

Considerações Finais

Os Transtornos de Ansiedade continuam a representar um grande desafio para as áreas da saúde mental e pública. Sua compreensão integrada da biologia, psicologia e contexto social do paciente permite diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes.

 

 

Referências Bibliográficas

 

1. American Psychiatric Association. **DSM-5: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders.** 5ª ed., 2013.

2. Organização Mundial da Saúde. **Classificação Internacional de Doenças - CID-11.** 2019.

3. Stein, D. J., & Craske, M. G. (2017). Anxiety Disorders. *The Lancet, 388*(10063), 3048-3059.

4. Organização Mundial da Saúde. **Estatísticas Globais sobre Saúde Mental.** Disponível em [www.who.int](https://www.who.int){target="_blank"}.

5. Ministério da Saúde do Brasil. **Saúde Mental no Brasil.** Disponível em [www.saude.gov.br](http://www.saude.gov.br){target="_blank"}.

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