Psicoterapia:
Aproximando
o Eu Real e o Eu Ideal para um Bom Equilíbrio Emocional
Resumo
O presente artigo aborda
a relação entre o Eu real e o Eu ideal sob a perspectiva da Abordagem Centrada
na Pessoa (ACP), de Carl Rogers, enfocando como a congruência entre essas duas
dimensões pode promover um equilíbrio emocional mais saudável. O Eu real diz
respeito à autopercepção do indivíduo no momento presente, enquanto o Eu ideal
representa suas aspirações e valores mais elevados. A desconexão entre ambos
resulta frequentemente em sofrimento psicológico, baixa autoestima e
insatisfação consigo mesmo. Por meio de uma revisão bibliográfica, o artigo
explora os conceitos fundamentais da ACP, incluindo empatia, aceitação positiva
incondicional e congruência, como instrumentos-chave para reduzir essa
distância entre os \"eus\". Foram analisados estudos teóricos e
evidências empíricas que demonstram o papel da ACP na promoção de
autoconhecimento, aceitação e transformação pessoal. Conclui-se que a
aproximação entre o Eu real e o Eu ideal é possível ao se cultivar um espaço
terapêutico que valorize a autenticidade e o respeito ao ritmo individual de
cada cliente.
Palavras-chave: Eu
real; Eu ideal; psicoterapia; abordagem centrada na pessoa; equilíbrio
emocional.
Introdução
O equilíbrio emocional
e a saúde mental dependem em grande parte do relacionamento do indivíduo com
sua própria percepção de quem ele é (Eu real) e de quem ele deseja ser (Eu
ideal). Na psicologia humanista, Carl Rogers destaca que uma grande
incongruência entre essas duas dimensões gera sofrimento psicológico,
manifestado em formas de insatisfação pessoal, baixa autoestima e dificuldade
de aceitação.
A Abordagem Centrada na
Pessoa (ACP) emerge como uma ferramenta prática e teórica que busca construir
pontes entre o Eu real e o Eu ideal, promovendo maior alinhamento e congruência
emocional. Essa abordagem terapêutica parte do pressuposto de que o ser humano
tem uma tendência inata ao crescimento e à autorrealização, mas que é
necessária uma relação terapêutica que ofereça empatia, consideração positiva
incondicional e congruência para maximizar seus benefícios (Rogers, 1961).
O presente artigo
investiga como a ACP pode atuar no contexto de psicoterapia para ajudar os
indivíduos a explorar e reduzir a lacuna entre seus Eus. A relevância do tema
está associada à sua aplicabilidade prática em contextos clínicos e ao impacto
significativo no bem-estar emocional dos indivíduos.
Revisão
da Literatura
O
Eu Real e o Eu Ideal na Psicologia Humanista
Na perspectiva
humanista, o Eu real representa a experiência de quem o indivíduo é no
presente, incluindo suas percepções, pensamentos e emoções. Por outro lado, o
Eu ideal reflete a representação de quem o indivíduo deseja se tornar,
frequentemente influenciada por valores sociais, autoprojeções e expectativas
externas. A incongruência entre essas duas representações é central no
sofrimento emocional, pois implica em uma desconexão entre a identidade
percebida e as aspirações pessoais (Rogers, 1951).
Essa incongruência pode
levar a sentimentos crônicos de inadequação, vergonha e frustração. Para Maslow
(1970), conquistar a congruência entre esses estados é essencial para alcançar
a autorrealização, a maior expressão do potencial humano.
Princípios da Abordagem
Centrada na Pessoa
Na ACP, o terapeuta
assume um papel não diretivo, permitindo ao cliente explorar seus sentimentos e
percepções sem a imposição de julgamentos. Os principais pilares da ACP são:
1. Empatia: O terapeuta
busca compreender profundamente as experiências vividas pelo cliente,
promovendo uma conexão emocional que valida a experiência subjetiva da pessoa.
2. Aceitação Positiva
Incondicional: O cliente é aceito em sua totalidade, independentemente de seus
comportamentos ou pensamentos. Essa aceitação cria um ambiente seguro para explorar
aspectos dolorosos do Eu.
3. Congruência:
Trata-se da autenticidade do terapeuta em sua atuação. Essa congruência
encoraja o cliente a ser igualmente verdadeiro em sua própria jornada.
Esses elementos
facilitam a jornada de autoconhecimento e ressignificação, promovendo a tomada
de consciência sobre a disparidade entre o Eu real e o Eu ideal e auxiliando na
reconstrução de metas e valores mais realistas.
Impacto
da ACP na Congruência entre Eu Real e Eu Ideal
Estudos empíricos
demonstram que a ACP promove um alinhamento entre o Eu real e o Eu ideal,
reduzindo a incongruência e aumentando a autoestima. Segundo Joseph e Murphy
(2013), indivíduos que passam por processos terapêuticos baseados na ACP
relatam maior aceitação de suas limitações e uma redefinição do Eu ideal, que
se torna mais alinhado às suas capacidades e aos seus valores intrínsecos.
Além disso, Neff (2003)
destaca que a autocompaixão, reforçada durante o processo terapêutico, é um
mediador significativo para reduzir o impacto emocional negativo dessa
desconexão.
Metodologia
Este artigo baseia-se
em uma revisão bibliográfica, utilizando estudos científicos, livros e artigos
publicados em bases de dados como PubMed, PsycINFO e Scopus. Foram selecionados
trabalhos relacionados à Abordagem Centrada na Pessoa, ao Eu real e ao Eu ideal,
bem como estudos específicos sobre psicoterapia humanista.
Os critérios de
inclusão consideraram publicações revisadas por especialistas (peer-reviewed),
com dados teóricos e empíricos sobre a eficácia da ACP no alinhamento entre
esses Eus para promover equilíbrio emocional.
Discussão
A Relação Dinâmica entre Eu Real e Eu Ideal
A congruência emocional
é um estado em que o Eu real e o Eu ideal se encontram em harmonia,
possibilitando ao indivíduo expressar sua autenticidade. A ACP, ao oferecer um
ambiente terapêutico acolhedor e seguro, possibilita que o cliente examine as
discrepâncias entre essas duas dimensões de forma não ameaçadora.
Uma das contribuições
mais importantes da ACP nessa jornada é a ampliação da aceitação do Eu real.
Indivíduos frequentemente internalizam críticas externas, idealizando metas
irrealistas que aumentam a distância entre o seu Eu percebido e o Eu que
desejam alcançar.
Por meio de
intervenções baseadas em empatia e aceitação positiva incondicional, a ACP
permite que o cliente ressignifique seu Eu ideal de maneira compatível com suas
capacidades e experiências atuais, reduzindo a autocrítica e promovendo maior
equilíbrio emocional.
Limitações
e Aplicações Futuras
Embora a ACP tenha
forte evidência empírica de eficácia, mais estudos longitudinais são
necessários para explorar seu impacto em diferentes populações e contextos
culturais. Além disso, seu uso em programas de saúde pública pode ampliar o
acesso a intervenções humanistas, sobretudo em populações vulneráveis.
Conclusão
A aproximação entre o
Eu real e o Eu ideal é uma tarefa central no desenvolvimento emocional e
psicológico saudável. A Abordagem Centrada na Pessoa, com seus princípios de
empatia, aceitação positiva incondicional e congruência, oferece um modelo
eficaz para facilitar essa jornada.
Os resultados explorados
sugerem que a ACP é uma das abordagens mais promissoras para ajudar indivíduos
a alcançar o equilíbrio emocional, permitindo que eles ressignifiquem suas
metas pessoais e vivam de maneira mais autêntica. Pesquisas futuras podem
aprofundar o entendimento dessa relação e explorar novos contextos de
aplicação.
Referências Bibliográficas
1. Joseph, S., &
Murphy, D. (2013). Person-Centered Approach, Positive Psychology, and
Relational Depth. *Journal of Humanistic Psychology, 53*(2), 139–163.
2. Maslow, A. H.
(1970). *Motivation and Personality*. Harper & Row.
3. Neff, K. D. (2003).
Self-compassion: An alternative conceptualization of a healthy attitude toward
oneself. *Self and Identity, 2*, 85–101.
4. Rogers, C. R.
(1951). *Client-Centered Therapy: Its Current Practice, Implications, and
Theory*. Houghton Mifflin.
5. Rogers, C. R.
(1961). *On Becoming a Person: A Therapist's View of Psychotherapy*. Houghton
Mifflin.
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