Psicologa Organizacional

25 de junho de 2025

 

Psicoterapia:

Aproximando o Eu Real e o Eu Ideal para um Bom Equilíbrio Emocional

 

Resumo

O presente artigo aborda a relação entre o Eu real e o Eu ideal sob a perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), de Carl Rogers, enfocando como a congruência entre essas duas dimensões pode promover um equilíbrio emocional mais saudável. O Eu real diz respeito à autopercepção do indivíduo no momento presente, enquanto o Eu ideal representa suas aspirações e valores mais elevados. A desconexão entre ambos resulta frequentemente em sofrimento psicológico, baixa autoestima e insatisfação consigo mesmo. Por meio de uma revisão bibliográfica, o artigo explora os conceitos fundamentais da ACP, incluindo empatia, aceitação positiva incondicional e congruência, como instrumentos-chave para reduzir essa distância entre os \"eus\". Foram analisados estudos teóricos e evidências empíricas que demonstram o papel da ACP na promoção de autoconhecimento, aceitação e transformação pessoal. Conclui-se que a aproximação entre o Eu real e o Eu ideal é possível ao se cultivar um espaço terapêutico que valorize a autenticidade e o respeito ao ritmo individual de cada cliente.

 

Palavras-chave: Eu real; Eu ideal; psicoterapia; abordagem centrada na pessoa; equilíbrio emocional.

 

Introdução

O equilíbrio emocional e a saúde mental dependem em grande parte do relacionamento do indivíduo com sua própria percepção de quem ele é (Eu real) e de quem ele deseja ser (Eu ideal). Na psicologia humanista, Carl Rogers destaca que uma grande incongruência entre essas duas dimensões gera sofrimento psicológico, manifestado em formas de insatisfação pessoal, baixa autoestima e dificuldade de aceitação.

A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) emerge como uma ferramenta prática e teórica que busca construir pontes entre o Eu real e o Eu ideal, promovendo maior alinhamento e congruência emocional. Essa abordagem terapêutica parte do pressuposto de que o ser humano tem uma tendência inata ao crescimento e à autorrealização, mas que é necessária uma relação terapêutica que ofereça empatia, consideração positiva incondicional e congruência para maximizar seus benefícios (Rogers, 1961).

O presente artigo investiga como a ACP pode atuar no contexto de psicoterapia para ajudar os indivíduos a explorar e reduzir a lacuna entre seus Eus. A relevância do tema está associada à sua aplicabilidade prática em contextos clínicos e ao impacto significativo no bem-estar emocional dos indivíduos.

 

Revisão da Literatura

 

O Eu Real e o Eu Ideal na Psicologia Humanista

Na perspectiva humanista, o Eu real representa a experiência de quem o indivíduo é no presente, incluindo suas percepções, pensamentos e emoções. Por outro lado, o Eu ideal reflete a representação de quem o indivíduo deseja se tornar, frequentemente influenciada por valores sociais, autoprojeções e expectativas externas. A incongruência entre essas duas representações é central no sofrimento emocional, pois implica em uma desconexão entre a identidade percebida e as aspirações pessoais (Rogers, 1951).

Essa incongruência pode levar a sentimentos crônicos de inadequação, vergonha e frustração. Para Maslow (1970), conquistar a congruência entre esses estados é essencial para alcançar a autorrealização, a maior expressão do potencial humano.

 

Princípios da Abordagem Centrada na Pessoa

Na ACP, o terapeuta assume um papel não diretivo, permitindo ao cliente explorar seus sentimentos e percepções sem a imposição de julgamentos. Os principais pilares da ACP são:

1. Empatia: O terapeuta busca compreender profundamente as experiências vividas pelo cliente, promovendo uma conexão emocional que valida a experiência subjetiva da pessoa.

 

2. Aceitação Positiva Incondicional: O cliente é aceito em sua totalidade, independentemente de seus comportamentos ou pensamentos. Essa aceitação cria um ambiente seguro para explorar aspectos dolorosos do Eu.

 

3. Congruência: Trata-se da autenticidade do terapeuta em sua atuação. Essa congruência encoraja o cliente a ser igualmente verdadeiro em sua própria jornada.

 

Esses elementos facilitam a jornada de autoconhecimento e ressignificação, promovendo a tomada de consciência sobre a disparidade entre o Eu real e o Eu ideal e auxiliando na reconstrução de metas e valores mais realistas.

 

Impacto da ACP na Congruência entre Eu Real e Eu Ideal

Estudos empíricos demonstram que a ACP promove um alinhamento entre o Eu real e o Eu ideal, reduzindo a incongruência e aumentando a autoestima. Segundo Joseph e Murphy (2013), indivíduos que passam por processos terapêuticos baseados na ACP relatam maior aceitação de suas limitações e uma redefinição do Eu ideal, que se torna mais alinhado às suas capacidades e aos seus valores intrínsecos.

Além disso, Neff (2003) destaca que a autocompaixão, reforçada durante o processo terapêutico, é um mediador significativo para reduzir o impacto emocional negativo dessa desconexão.

 

Metodologia

Este artigo baseia-se em uma revisão bibliográfica, utilizando estudos científicos, livros e artigos publicados em bases de dados como PubMed, PsycINFO e Scopus. Foram selecionados trabalhos relacionados à Abordagem Centrada na Pessoa, ao Eu real e ao Eu ideal, bem como estudos específicos sobre psicoterapia humanista.

Os critérios de inclusão consideraram publicações revisadas por especialistas (peer-reviewed), com dados teóricos e empíricos sobre a eficácia da ACP no alinhamento entre esses Eus para promover equilíbrio emocional.

 

Discussão

 A Relação Dinâmica entre Eu Real e Eu Ideal

 

A congruência emocional é um estado em que o Eu real e o Eu ideal se encontram em harmonia, possibilitando ao indivíduo expressar sua autenticidade. A ACP, ao oferecer um ambiente terapêutico acolhedor e seguro, possibilita que o cliente examine as discrepâncias entre essas duas dimensões de forma não ameaçadora.

Uma das contribuições mais importantes da ACP nessa jornada é a ampliação da aceitação do Eu real. Indivíduos frequentemente internalizam críticas externas, idealizando metas irrealistas que aumentam a distância entre o seu Eu percebido e o Eu que desejam alcançar.

Por meio de intervenções baseadas em empatia e aceitação positiva incondicional, a ACP permite que o cliente ressignifique seu Eu ideal de maneira compatível com suas capacidades e experiências atuais, reduzindo a autocrítica e promovendo maior equilíbrio emocional.

 

Limitações e Aplicações Futuras

Embora a ACP tenha forte evidência empírica de eficácia, mais estudos longitudinais são necessários para explorar seu impacto em diferentes populações e contextos culturais. Além disso, seu uso em programas de saúde pública pode ampliar o acesso a intervenções humanistas, sobretudo em populações vulneráveis.

 

Conclusão

A aproximação entre o Eu real e o Eu ideal é uma tarefa central no desenvolvimento emocional e psicológico saudável. A Abordagem Centrada na Pessoa, com seus princípios de empatia, aceitação positiva incondicional e congruência, oferece um modelo eficaz para facilitar essa jornada.

Os resultados explorados sugerem que a ACP é uma das abordagens mais promissoras para ajudar indivíduos a alcançar o equilíbrio emocional, permitindo que eles ressignifiquem suas metas pessoais e vivam de maneira mais autêntica. Pesquisas futuras podem aprofundar o entendimento dessa relação e explorar novos contextos de aplicação.

 

 Referências Bibliográficas

1. Joseph, S., & Murphy, D. (2013). Person-Centered Approach, Positive Psychology, and Relational Depth. *Journal of Humanistic Psychology, 53*(2), 139–163.

2. Maslow, A. H. (1970). *Motivation and Personality*. Harper & Row.

3. Neff, K. D. (2003). Self-compassion: An alternative conceptualization of a healthy attitude toward oneself. *Self and Identity, 2*, 85–101.

4. Rogers, C. R. (1951). *Client-Centered Therapy: Its Current Practice, Implications, and Theory*. Houghton Mifflin.

5. Rogers, C. R. (1961). *On Becoming a Person: A Therapist's View of Psychotherapy*. Houghton Mifflin.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário