A Impulsividade na
Perspectiva da Psicologia: Contribuições da Neuropsicologia e Intervenções
Terapêuticas
Introdução
A impulsividade é um fenômeno
psicológico complexo, que pode se manifestar em diferentes contextos e níveis
de intensidade. Trata-se de um traço comportamental caracterizado pela
dificuldade de inibir respostas imediatas, pela busca por recompensas
instantâneas e pela reduzida consideração das consequências futuras. Embora a
impulsividade possa estar presente em indivíduos neurotípicos, ela também se
configura como sintoma central em diversos transtornos mentais. Nesse sentido,
torna-se um objeto de estudo relevante para a psicologia, sobretudo nas áreas
da neuropsicologia, da psicopatologia e da psicoterapia.
Do ponto de vista clínico, compreender
os mecanismos subjacentes à impulsividade é essencial para o diagnóstico
diferencial, a formulação de hipóteses clínicas e a definição de estratégias
terapêuticas eficazes. A psicologia contemporânea tem aprofundado sua
investigação sobre as bases neurobiológicas da impulsividade, bem como sobre
suas implicações para o funcionamento emocional e social dos indivíduos.
Objetivos
Objetivo Geral: Investigar o conceito
de impulsividade na psicologia, destacando suas bases neuropsicológicas,
associações com transtornos mentais e possibilidades de tratamento com ênfase
em abordagens psicoterapêuticas, especialmente a Abordagem Centrada na Pessoa.
Objetivos Específicos:
- Apresentar definições teóricas de impulsividade na literatura psicológica.
- Discutir as contribuições da neuropsicologia na compreensão da impulsividade.
- Identificar os principais transtornos psicológicos associados à
impulsividade.
- Descrever as formas de tratamento, incluindo intervenções farmacológicas,
terapias cognitivo-comportamentais e a psicoterapia centrada na pessoa.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de caráter
qualitativo, com método exploratório e delineamento bibliográfico. Foram
utilizados artigos científicos disponíveis em bases como SciELO, PePSIC e
PubMed, além de livros de autores reconhecidos na psicologia brasileira, para
fundamentação teórica e discussão crítica sobre o tema.
Referencial Teórico
A impulsividade, segundo Barratt
(1994), pode ser compreendida a partir de três dimensões principais:
impulsividade motora (agir sem pensar), impulsividade atencional (dificuldade
de manter o foco) e impulsividade não-planejada (ações sem considerar as
consequências). Na psicologia, esse constructo é frequentemente investigado com
instrumentos como a Escala de Impulsividade de Barratt (BIS-11).
Do ponto de vista neuropsicológico, a
impulsividade está fortemente associada ao funcionamento do córtex pré-frontal,
especialmente das regiões orbitofrontal e ventromedial, áreas envolvidas no
controle inibitório, na regulação emocional e na tomada de decisão (Aron et
al., 2004). Disfunções nessas regiões podem comprometer a capacidade de
postergar recompensas ou de avaliar riscos.
Entre os transtornos mentais em que a
impulsividade está presente como um sintoma central, destacam-se: Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno de Personalidade
Borderline, Transtorno Bipolar e Transtorno Explosivo Intermitente. A
impulsividade, nesses casos, está geralmente associada a disfunções na dopamina
e na serotonina, neurotransmissores envolvidos na regulação do humor e do
comportamento (Seo et al., 2008).
Discussão
A compreensão da impulsividade demanda
uma abordagem multidisciplinar. A neuropsicologia contribui com modelos
explicativos que articulam estruturas cerebrais e circuitos neurais,
principalmente o eixo córtex pré-frontal – amígdala – estriado, cuja disfunção
está presente em sujeitos impulsivos.
Do ponto de vista da avaliação clínica,
é importante diferenciar a impulsividade como traço de personalidade de sua manifestação
em quadros psicopatológicos. Testes neuropsicológicos e entrevistas clínicas
auxiliam nesse processo. Autores como Miguel Mahfoud (UFMG) e Christian Haag
Kristensen (PUCRS) têm contribuído significativamente com estudos sobre
neuropsicologia e funções executivas em sujeitos com transtornos impulsivos.
Quanto ao tratamento, diversas
abordagens têm se mostrado eficazes. A farmacoterapia pode incluir o uso de
estabilizadores de humor, antidepressivos e, em alguns casos, estimulantes. As
terapias cognitivo-comportamentais (TCC) são frequentemente indicadas por
promoverem reestruturação cognitiva e treinamento em controle inibitório.
Por outro lado, a psicoterapia baseada
na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), proposta por Carl Rogers, oferece uma
contribuição importante ao considerar o sujeito de forma integral, valorizando
sua experiência subjetiva e sua tendência atualizante. Na ACP, o terapeuta
oferece um espaço de escuta empática, aceitação incondicional e congruência,
favorecendo o autoconhecimento e a autorregulação emocional – aspectos
fundamentais para indivíduos impulsivos. No Brasil, psicólogos como Andréa
Campos e Maria da Penha Lima têm difundido e adaptado a ACP para contextos
clínicos com foco em populações com dificuldade de regulação emocional.
Conclusão
A impulsividade é um fenômeno complexo,
multideterminado e com amplas repercussões na vida psíquica e relacional do
sujeito. Sua investigação requer articulação entre aspectos cognitivos,
neurobiológicos e experienciados. A psicologia, ao integrar a neuropsicologia e
as diversas abordagens clínicas, amplia sua capacidade de compreender e
intervir nesse fenômeno. A combinação entre farmacologia, intervenções
comportamentais e psicoterapias humanistas como a ACP configura-se como uma
proposta eficaz e ética de cuidado integral ao sujeito impulsivo.
Referências
ARON, A. R.; ROBBINS, T. W.; POLDRACK, R. A. Inhibition and the
right inferior frontal cortex. Trends in Cognitive Sciences, v. 8, n. 4, p.
170–177, 2004.
BARRATT, E. S. Impulsiveness and aggression. In: MONAHAN, J.;
STEADMAN, H. J. (Eds.). Violence and mental disorder: Developments in risk
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KRISTENSEN, C. H. et al. Funções executivas em adultos com
diagnóstico de TDAH: relações com impulsividade e sintomas clínicos. Psico,
Porto Alegre, v. 43, n. 4, p. 446-453, 2012.
LIMA, M. P. Abordagem Centrada na Pessoa e regulação emocional: um
olhar clínico. Revista Brasileira de Psicoterapia Centrada na Pessoa, v. 9, n.
2, p. 45-58, 2017.
MAHFOUD, M. Neuropsicologia das funções executivas. Belo Horizonte:
Nescon/UFMG, 2014.
ROGERS, C. R. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
SEO, D.; PATRICK, C. J.; KENNEALY, P. J. Role of serotonin and
dopamine system interactions in the neurobiology of impulsive aggression and
its comorbidity with other clinical disorders. Aggression and Violent Behavior,
v. 13, n. 5, p. 383–395, 2008.