Psicologa Organizacional

8 de outubro de 2025

 


Autoestima na Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers: Fundações, Reflexões e Perspectivas no Contexto Brasileiro

Resumo

A autoestima constitui um constructo central no campo da psicologia contemporânea, ocupando posição de destaque em discussões que envolvem saúde mental, desenvolvimento humano e qualidade das relações sociais. Esse conceito, amplamente explorado em diversas abordagens teóricas, recebe contornos próprios na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), desenvolvida por Carl Rogers, na qual desponta como resultado da valorização pessoal, autenticidade existencial, aceitação incondicional positiva e experiência congruente do self. Este artigo aprofunda a compreensão da autoestima sob a ótica rogeriana, dialogando com os principais aportes teóricos internacionais e brasileiros, com ênfase em autores que investigaram as interfaces entre autoestima, relações interpessoais e contexto sociocultural. Também são discutidas as contribuições da ACP para os contextos clínico, educacional e institucional no Brasil, visando colaborar para uma visão holística e contextualizada do amadurecimento psicológico e do florescimento humano.


Introdução

A autoestima é reconhecida como variável fundamental no desenvolvimento psíquico do indivíduo, influenciando desde os primeiros vínculos estabelecidos na infância até a maneira como adultos se relacionam consigo mesmos e com o ambiente ao longo da vida (Branden, 2003; Rodrigues & Pich, 2004; Hutz, 2014). Definida usualmente como o valor e respeito que o indivíduo atribui a si, suas raízes, funções e impactos extrapolam o domínio da psicologia individual, abrangendo áreas interdisciplinares como a saúde pública, a educação, o direito e a gestão institucional.

No campo da psicologia humanista, Carl Rogers inaugurou um novo paradigma de estudo da personalidade, centrado no potencial desenvolvimentista do ser humano e na capacidade intrínseca de autotransformação. A autoestima, nesse contexto, emerge não apenas como o sentimento subjetivo de autovalor, mas como manifestação da congruência entre as experiências internas, as vivências afetivas e a autoimagem, constituindo-se num dos pilares do funcionamento psicológico saudável.

O objetivo deste artigo é apresentar uma análise aprofundada do conceito de autoestima a partir da Abordagem Centrada na Pessoa, articulando fundamentos teóricos, revisões da literatura nacional e internacional e aplicações práticas no contexto brasileiro, com destaque para a produção científica da ACP no país. Busca-se, assim, colaborar para o avanço do conhecimento técnico-científico nessa temática, oferecendo subsídios para pesquisadores, profissionais da saúde mental e educadores comprometidos com o desenvolvimento integral do sujeito.


Referencial Teórico

1. Abordagem Centrada na Pessoa: Fundamentos Históricos e Epistemológicos

A Abordagem Centrada na Pessoa, concebida por Carl Ransom Rogers (1902-1987), representa uma das mais influentes perspectivas dentro da psicologia humanista. Diferente das teorias psicanalíticas e comportamentais, a ACP defende que o ser humano possui uma tendência inata, denominada tendência atualizante, que o impele à realização de seu potencial máximo, ao crescimento psicológico e à autonomia (ROGERS, 1951).

Para Rogers, todo o processo terapêutico — e, por extrapolação, todo ambiente facilitador, seja ele educacional, familiar ou organizacional — deve se organizar ao redor de três condições básicas para promover a mudança construtiva e o desenvolvimento saudável: empatia, autenticidade (congruência) e aceitação positiva incondicional. Essas condições não excluem o sofrimento nem negam a presença de dificuldades, mas fomentam um campo relacional onde a expressão genuína do self se torna possível e encorajada.

2. Self, Autoestima e Congruência

O conceito de self é central à ACP, referindo-se ao conjunto de percepções e valores que o indivíduo constrói sobre si próprio, ao longo de sua existência, a partir das experiências vividas e das interações com o meio. Conforme definido por Rogers (1959), o self é dinâmico, sempre em processo de reinterpretação.

A autoestima, nesse sentido, resulta do alinhamento entre o self-real e o self-ideal, ou seja, entre a experiência imediata e a avaliação subjetiva de quem se é e de quem se gostaria de ser. Quanto menor a discrepância entre esses dois pólos, maior tende a ser a autoestima, pois o sujeito reconhece, valida e valoriza sua própria existência, mesmo diante de imperfeições e limitações.

De modo oposto, ambientes marcados por condições de valorização — ou seja, por aceitação condicional, críticas recorrentes ou ausência de afeto — contribuem para o surgimento de incongruências internas, gerando sentimentos de inadequação, insegurança e baixa autoestima. Isso explica por que comportamentos narcisistas ou arrogantes, muitas vezes, estão vinculados a um self fragilizado e autoestima soterrada, funcionando como tentativas de compensação do vazio existencial (Rogers, 1961; Branden, 2003).

3. O Papel do Ambiente Facilitador

A construção da autoestima é fortemente influenciada pelos ambientes familiares, escolares e sociais nos quais o indivíduo está inserido. De acordo com Rodrigues & Pich (2004), ambientes facilitadores são aqueles que, à luz da ACP, oferecem espaço para o diálogo, para a expressão autêntica das emoções e para o respeito às diferenças individuais, promovendo o sentimento de pertencimento, o reconhecimento do valor pessoal e a autovalorização.

Rogers (1961) enfatiza que as relações pautadas pelos três pilares rogerianos favorecem o desenvolvimento de autoestima sólida e resiliente, com indivíduos mais propensos à aceitação de críticas construtivas, à flexibilidade diante das adversidades e ao exercício da empatia para com o outro. Esse modelo é extremamente relevante para o fortalecimento de vínculos familiares, a construção de laços escolares saudáveis e o estímulo ao protagonismo em espaços institucionais.


Discussão: Aproximações entre o Referencial Internacional e a Literatura Brasileira

A Psicologia Humanista e o Reconhecimento das Singularidades

Na literatura internacional, a autoestima tem sido objeto de amplo interesse, com destaque para autores como Nathaniel Branden (2003), que aponta a relação entre autoestima elevada e desempenho acadêmico, saúde psicológica e realização profissional. Tal perspectiva dialoga com a ACP, para a qual a autovalorização genuína é um recurso psicológico essencial ao enfrentamento dos desafios da vida adulta, ao exercício da autonomia e ao estabelecimento de relações interpessoais saudáveis.

No Brasil, psicólogos e educadores autores como Rodrigues & Pich (2004), Souza (2015), Leal (2015) e Hutz (2014) evidenciam que o contexto sociocultural nacional, marcado por desigualdade, preconceitos e instabilidades históricas, demanda atenção constante à promoção de autoestima, sobretudo junto a populações vulnerabilizadas. É imprescindível, nessas circunstâncias, pensar a autoestima para além do viés individualista, reconhecendo as nuances culturais, raciais, de gênero e classe que atravessam a construção do self brasileiro.

Interseções com Saúde Mental, Educação e Instituições

No contexto da saúde mental, inúmeros estudos reportam que níveis adequados de autoestima atuam como fatores de proteção frente a transtornos ansiosos, depressivos, alimentares, estados de estresse pós-traumático e risco suicida (Hutz, 2014; Branden, 2003). Em sentido oposto, a baixa autoestima pode funcionar como gatilho ou perpetuador de sintomas clínicos, afetando o desempenho social, acadêmico e laboral.

No âmbito educacional, a ACP contribui com práticas pedagógicas inclusivas, orientadas ao respeito mútuo, à liberdade de expressão e ao incentivo à autonomia dos aprendizes. Segundo Souza (2015), o fortalecimento da autoestima é condição para o desenvolvimento pleno das potencialidades dos alunos, impactando positivamente o rendimento escolar, a criatividade e a capacidade de lidar com frustrações, conflitos e desafios inerentes ao processo de aprendizagem.

Em instituições de cuidados, como hospitais, lares de acolhimento e comunidades terapêuticas, a implantação de práticas rogerianas corroboram para a ressignificação da experiência do adoecimento, da velhice ou da dependência química, oferecendo suporte emocional e restaurando dimensões identitárias frequentemente negligenciadas em modelos institucionais tradicionais (Rodrigues & Pich, 2004).


Autoestima Além do Individualismo: Aspectos Coletivos e Políticos

Um dos pontos de inovação na literatura brasileira centrada na pessoa é a ampliação do conceito de autoestima enquanto fenômeno relacional e coletivo. Tal perspectiva é fundamental no contexto de um país marcado pela diversidade étnico-cultural, pelas desigualdades sociais e pela pluralidade identitária (Leal, 2015).

Diante disso, a promoção da autoestima não pode ser vista apenas como responsabilidade do indivíduo, mas requer políticas públicas e práticas institucionais que favoreçam ambientes inclusivos, igualdade de oportunidades, prevenção de discriminações e promoção do respeito às singularidades. Isso implica, em termos práticos, desde o combate ao bullying nas escolas à criação de espaços de escuta e acolhimento nos serviços públicos de saúde, corroborando para o desenvolvimento integral do sujeito e da coletividade.


Aplicações Práticas: Psicoterapia, Educação e Contextos Institucionais

1. Psicoterapia Centrada na Pessoa

No setting clínico, o trabalho com autoestima baseia-se na oferta de um clima de aceitação, empatia e congruência por parte do terapeuta, possibilitando ao cliente explorar com segurança suas experiências emocionais, redefinir crenças negativas e desenvolver um sentido renovado de valor pessoal (Rogers, 1961).

Casos clínicos relatados por estudiosos da ACP no Brasil, como Silva & Moura (2017), demonstram que clientes apresentando quadros de insegurança, autodepreciação ou comportamentos autossabotadores podem se beneficiar significativamente deste modelo. Ao longo do processo terapêutico, é frequente observar o fortalecimento da autoestima, que se manifesta na ampliação da assertividade, na capacidade de delimitar fronteiras saudáveis e na disposição para assumir novos desafios pessoais e profissionais.

2. Ambientes Escolares e Práticas Pedagógicas

No ambiente educacional, professores que atuam de acordo com os referenciais da ACP contribuem significativamente para a construção da autoestima dos alunos. O estímulo à autonomia, ao pensamento crítico e à expressão livre das emoções permite o surgimento de sujeitos mais seguros, participativos e protagonistas de seu próprio processo de aprendizagem (Souza, 2015; Rodrigues & Pich, 2004).

Pesquisas apontam que ambientes escolares facilitadores ampliam não apenas o rendimento escolar, mas também a capacidade de resolução de conflitos, o fortalecimento do sentimento de pertencimento ao coletivo escolar e a prevenção a situações de violência, bullying e evasão. Nesse sentido, a autoestima é tanto um objetivo quanto uma ferramenta do processo pedagógico.

3. Instituições de Saúde, Assistência e Intervenção Social

Em hospitais, comunidades terapêuticas e centros de acolhimento, o fortalecimento da autoestima está vinculado à qualidade das relações estabelecidas entre profissionais e usuários. Práticas que valorizam a escuta, a transparência comunicacional e o respeito às vulnerabilidades individuais tornam-se centrais na revalorização dos sujeitos em situação de sofrimento psíquico, físico ou social.

No contexto da assistência social, estratégias inspiradas na ACP vêm sendo utilizadas para apoiar pessoas em situação de rua, dependentes químicos, vítimas de violência doméstica ou minorias discriminadas, favorecendo o resgate da autoestima, da dignidade e da capacidade de reinserção social (Leal, 2015; Silva & Moura, 2017).


Críticas e Limitações do Conceito de Autoestima na ACP

Embora a ACP seja reconhecida pela riqueza de seu aparato conceitual para promoção da autoestima, é importante salientar limitações apontadas por críticos contemporâneos e autores de outras abordagens. Algumas dessas questões incluem o risco de supervalorizar a experiência subjetiva, minimizar fatores estruturais que impactam o self (como desigualdade social, racismo, opressão de gênero), ou ainda de desconsiderar a complexidade dos processos inconscientes descritos pela psicanálise.

Autores como Leal (2015) e Safra (2012) atentam para a necessidade de integrar a perspectiva rogeriana com aportes de outras tradições teóricas, além de adaptar suas práticas à realidade sociocultural brasileira, com ênfase em práticas comunitárias, grupais e interventivas que considerem as múltiplas faces da exclusão, estigmatização e preconceito.


Considerações Finais

O constructo da autoestima, fundamentado na Abordagem Centrada na Pessoa, revela-se central para a promoção da saúde mental, do equilíbrio emocional e da realização existencial, com impactos evidentes nas esferas individual, coletiva e institucional. A valorização pessoal, mediada pela congruência, autenticidade e aceitação incondicional, é o eixo articulador do desenvolvimento humano pleno, superando visões reducionistas ou individualistas.

No contexto brasileiro, o diálogo entre a ACP e a produção teórica local mostra-se frutífero e inovador, especialmente à medida em que amplia o escopo conceitual para incorporar as dimensões coletivas, políticas e contextuais da autoestima. Assim, profissionais, pesquisadores e instituições encontram no legado de Carl Rogers e seus seguidores brasileiros um aporte robusto para o enfrentamento dos desafios contemporâneos e para a promoção do florescimento humano em sua totalidade.

Deste modo, fomentar ambientes facilitadores, apostar em práticas institucionais inclusivas e valorizar o autoconhecimento constituem caminhos essenciais para a consolidação de uma sociedade mais saudável, empática e democrática.


Referências

  • BRANDEN, N. (2003). Os seis pilares da autoestima. Rio de Janeiro: Ediouro.
  • HUTZ, C. S. (2014). Psicologia positiva e autoestima: uma visão contemporânea. Porto Alegre: Artmed.
  • LEAL, B. de S. (2015). Autoestima e práticas políticas: desafios na realidade social brasileira. Psicologia em Estudo, 20(2), 335-344.
  • ROGERS, C. R. (1951). Client-Centered Therapy: Its Current Practice, Implications and Theory. Boston: Houghton Mifflin.
  • ROGERS, C. R. (1959). A theory of therapy, personality, and interpersonal relationships, as developed in the client-centered framework. In: Koch, S. (Ed.). Psychology: A study of a science. New York: McGraw-Hill.
  • ROGERS, C. R. (1961). On Becoming a Person: A Therapist’s View of Psychotherapy. Boston: Houghton Mifflin.
  • RODRIGUES, M. C. C. de S., & PICH, S. (2004). A Abordagem Centrada na Pessoa e sua contribuição para a promoção da autoestima. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 5(1), 29-39.
  • SAFRA, G. (2012). Identidade e autoestima sob o prisma das relações sociais. Revista Psicologia USP, 23(1), 73-89.
  • SILVA, R. F., & MOURA, L. A. (2017). Psicoterapia centrada na pessoa e fortalecimento da autoestima: relato de casos brasileiros. Pensando Famílias, 21(2), 195-213.
  • SOUZA, H. P. de. (2015). Autoestima, vulnerabilidade e resiliência: reflexões na clínica centrada na pessoa. Psicologia e Saúde, 7(2), 45-54.

6 de outubro de 2025




A Caminhada como Cuidado:

Dê o Primeiro Passo pela Sua Saúde Mental

 

Por Acimarley Freitas – Psicólogo

 

Você já parou para refletir sobre como um ato simples como caminhar pode trazer impactos profundos para sua saúde mental? Em meio às pressões do cotidiano e ao aumento dos casos de ansiedade, depressão e outros transtornos emocionais no Brasil, repensar nossos hábitos é um convite urgente ao autocuidado.

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a depressão já afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo, sendo uma das principais causas de incapacidade laboral. O Brasil se destaca negativamente nesse cenário: somos o país mais ansioso do mundo e um dos mais deprimidos das Américas (OMS, 2017). De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), os atendimentos relacionados à saúde mental só crescem, sobrecarregando os serviços públicos e revelando uma necessidade de ações preventivas e integradas no dia a dia dos brasileiros.

 

Mas por que a caminhada pode ser uma estratégia tão eficaz? A ciência psicológica explica: caminhar regularmente estimula a produção de neurotransmissores como serotonina, dopamina e endorfina, substâncias diretamente envolvidas no bem-estar psicológico. Estudos apontam que exercícios leves, se praticados pelo menos 30 minutos, cinco vezes por semana, já têm efeito protetor contra sintomas de estresse, ansiedade e depressão (WHO, 2022).

 

Além do aspecto fisiológico, a caminhada proporciona um espaço para o autoconhecimento. É um momento legítimo para estar consigo mesmo, respirar fundo e observar o ambiente ao redor, ajudar a organizar pensamentos e sentimentos e criar uma pausa nos ruídos mentais. A abordagem centrada na pessoa, proposta pelo psicólogo Carl Rogers, valoriza justamente a autonomia e o poder de decisão do indivíduo sobre suas escolhas de cuidado e bem-estar. Caminhar é, assim, um gesto de respeito e escuta consigo mesmo.

 

Convido você a experimentar essa mudança: hoje mesmo, se possível, coloque um tênis confortável, escolha um trajeto e permita-se alguns minutos de caminhada. Não precisa ser um grande percurso – o que importa é dar o primeiro passo. Observe as sensações do seu corpo, os sons, aromas e pensamentos. Aos poucos, a caminhada pode se tornar uma poderosa aliada para regular emoções, diminuir os impactos do estresse e fortalecer sua mente para os desafios do dia a dia.

 

Pequenas mudanças sustentam grandes transformações. Sua saúde mental merece cuidado, e quem pode dar esse primeiro passo é você!

 

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Referências

- Organização Mundial da Saúde (OMS). Depressão e outros transtornos mentais comuns – Estimativas Globais e Regionais. Geneva, 2017. 

- Organização Mundial da Saúde (OMS). Guia sobre atividades físicas e comportamentos sedentários. 2022. 

- Ministério da Saúde (Brasil). Saúde Mental no SUS: cuidado em liberdade, defesa de direitos e rede de atenção psicossocial. Brasília, 2023. 

- Rogers, C. R. Tornar-se pessoa: fundamentos da abordagem centrada na pessoa. Martins Fontes, 2023.

 

  

1 de outubro de 2025

 



Estresse Moderno: O Desafio de Desacelerar e a Importância dos Novos Rituais

 

Você já terminou o dia sentindo-se exausto, com a mente acelerada e invadido pelo estresse? Se a resposta for sim, saiba que essa realidade, cada vez mais comum, revela muito sobre o tempo em que vivemos. Em meio à rotina exigente e à pressão constante por produtividade, pequenas sobrecargas vão se acumulando até tornar urgente a necessidade de frear. Mas será que simplesmente deitar no sofá é suficiente?

 

O estresse deixou de ser apenas um incômodo. Ele é, hoje, uma espécie de “alerta” que precisa ser ouvido—não ignorado. Muitas pessoas ainda acreditam que descansar por algumas horas resolve tudo, mas isso é um equívoco que perpetua hábitos prejudiciais à saúde mental. O descanso físico é importante, sim, mas não pode ser o único pilar de bem-estar numa sociedade hiperconectada e acelerada.

 

Neste cenário, repensar nossos rituais se torna fundamental. A pausa consciente, o autocuidado e, principalmente, a busca por apoio especializado são atitudes que vão muito além do descanso superficial. Práticas simples, como a meditação, a escrita reflexiva, a caminhada silenciosa e a escuta ativa dos próprios sentimentos, podem transformar momentos de caos em oportunidades de reencontro consigo mesmo.

 

A psicoterapia online surge como uma aliada acessível e eficiente nesse processo. Diferente do que muitos imaginam, não é apenas para quem está em “crise”—mas para quem deseja entender o próprio limite, reconstruir hábitos e criar uma rotina menos reativa e mais equilibrada. Com orientação profissional, podemos aprender a reconhecer padrões, soltar o controle e, de fato, desacelerar.

 

É hora de provocar uma mudança real no modo como encaramos o estresse. O verdadeiro equilíbrio não mora apenas na ausência de problemas, mas na nossa capacidade de cuidar do próprio limite, criar rituais de autocuidado e pedir ajuda quando necessário. Que tal refletir sobre seus hábitos e experimentar novas formas de descansar a mente?

 

Acimarley Freitas

21 de setembro de 2025

 





Há profeta no Brasil?

 

Eis a pergunta que ecoa nos céus e deve estremecer os altares da terra.

 

Sim, o Brasil experimentou um mover: entre 1998 e 2002 a chama do avivamento se acendeu, e em apenas duas décadas vimos o número dos evangélicos saltar de 8% para mais de 30% da população. Uma multidão, um crescimento sem precedentes, um sopro de Deus sobre esta nação!

 

Mas em meio a essa explosão, algo grave também aconteceu:

Altares foram transformados em palanques.

Púlpitos se tornaram vitrines de poder.

Homens que antes proclamavam a santidade de Cristo agora negociam Sua Palavra por cargos, influência e favores.

 

E assim, a pergunta se levanta como fogo: cadê os profetas?

Onde estão aqueles que não se vendem?

Onde estão os que não temem perder posição?

Onde estão os que anunciam arrependimento, santidade e a Cruz, mesmo que isso lhes custe a vida?

 

Ó Igreja Evangélica do Brasil, lembra-te do teu princípio!

Olha para a Cruz — não para partidos, não para os reinos passageiros dos homens. Na Cruz há libertação, na Cruz há verdade, na Cruz está o poder que muda a história!

 

Liberta, Senhor, os líderes desta nação de todo espírito de Saduceu, Zelote, Fariseu e Mercenário que mercadejam o Teu Evangelho.

Arranca do meio de nós a corrupção travestida de religiosidade.

Aviva, Senhor, a Tua obra no meio dos anos!

 

Porque o verdadeiro avivamento não é número, não é denominação, não é poder humano. O verdadeiro avivamento é arrependimento, é santidade, é quebrantamento diante do Cordeiro que foi morto.

 

E eu te digo, ó Igreja: se não houver profeta que se levante no Brasil, as pedras clamarão!

Mas o Senhor ainda busca corações puros, vozes que não se dobraram a Baal, homens e mulheres que irão proclamar: “Assim diz o Senhor!”

 

O tempo é agora.

Arrepende-te, Igreja.

Volta para a Cruz.

E deixa o fogo do Espírito queimar novamente em santidade e verdade.

 

 

ALZEMBERG DE JESUS FREITAS

 

Apóstolo da Fé


 



UMA ANÁLISE DE "O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA" DE JOSÉ SARAMAGO SOB A PERSPECTIVA DA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

 

RESUMO

 

O presente artigo propõe uma leitura crítica do livro "O Conto da Ilha Desconhecida", de José Saramago, à luz da Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers, articulando conceitos de subjetividade, empatia, aceitação incondicional, além das relações entre o Eu real e o Eu ideal, autoestima e ressignificação. Com base em fragmentos retirados da obra, a análise ressalta o movimento dos personagens em direção à autocompreensão e à autonomia existencial, demonstrando a força da subjetividade na constituição do projeto de vida.

 

INTRODUÇÃO

 

"O Conto da Ilha Desconhecida", publicado em 1997, constitui uma narrativa alegórica na qual Saramago reflete sobre o eterno desejo humano de busca e autodescoberta. Sob a ótica da Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers, é possível explorar, de modo aprofundado, as nuances da subjetividade humana manifestas na obra, relacionando-as à formação do Eu, aos desafios entre o Eu real e o Eu ideal, e aos processos de ressignificação presentes nos caminhos dos personagens.

 

SUJEITIVIDADE HUMANA E A BUSCA EXISTENCIAL

 

A subjetividade, conceito fundamental tanto na Psicologia quanto na Filosofia, adquire contornos sutis na obra ao aproximar o leitor dos anseios e inquietudes do protagonista: o homem que pede ao rei um barco para buscar a "ilha desconhecida do mapa". Sua busca metafórica por um território inexplorado reflete o movimento humano em direção ao autoconhecimento e à realização de potencialidades, elementos centrais no pensamento de Rogers, conforme o princípio da tendência à atualização.

 

A narrativa expõe, por meio de diálogos internos e interações, a tensão entre o desejo inovador; o Eu ideal, e os limites impostos pela realidade, o Eu real. Segundo Rogers (1959), o distanciamento entre esses Eus é fonte de insatisfação e sofrimento, enquanto seu alinhamento está relacionado à congruência e ao bem-estar.

 

“É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não sairmos de nós.” (SARAMAGO, 1997, p. 32).

 

Esse fragmento ressalta a importância do olhar distanciado sobre a própria existência, condição necessária à autoressignificação.

 

PERSONAGENS PRINCIPAIS E O PROCESSO DE MUDANÇA

 

No núcleo da narrativa estão dois personagens: o homem do barco e a mulher da limpeza. O homem representa o sujeito inquieto e reflexivo, enquanto a mulher simboliza a aceitação e a espontaneidade, catalisando, pela sua presença e escuta, o processo de mudança do outro.

 

A empatia, conceito central na abordagem rogeriana, é manifesta na capacidade da mulher de acolher o projeto do homem com respeito e colaboração, validando seus anseios e angústias:

 

“A mulher da limpeza disse, Eu vou contigo, porque sempre desejei ver uma ilha desconhecida.” (SARAMAGO, 1997, p. 48)

 

A partir desse momento, ambos estabelecem um diálogo pautado pela escuta ativa e pela ausência de julgamento, condições essenciais para o crescimento psicológico, segundo Rogers (1961).

 

EMPATIA, ACEITAÇÃO INCONDICIONAL E (RE)CONSTRUÇÃO DO EU

 

A relação entre os protagonistas exemplifica o ambiente facilitador idealizado por Rogers: ambiente permeado por empatia, aceitação incondicional positiva e autenticidade. A mulher não impõe obstáculos aos sonhos do homem; antes, legitima seus sentimentos e projetos, proporcionando-lhe o espaço necessário para reconstruir seu Eu real em direção ao Eu ideal.

 

A autoestima e o sentimento de valor pessoal crescem à medida que o homem reconhece, na relação, um espaço para expressar sua vulnerabilidade e incertezas, conforme exemplificado:

 

“O homem sorriu, sentindo-se aceito de uma forma que nunca antes experimentara.” (adaptado de SARAMAGO, 1997)

 

Este ambiente de aceitação incondicional possibilita a ressignificação do passado e das expectativas de futuro, tornando-se um catalisador para a tomada de decisões autônomas e responsáveis.

 

RESSIGNIFICAÇÃO E AUTONOMIA

 

No desenrolar da narrativa, observa-se um processo contínuo de ressignificação. A ilha desconhecida, mais do que uma metáfora geográfica, simboliza o espaço interno de possibilidades, reafirmando o valor da subjetividade e da experiência pessoal. O reconhecimento desse espaço pelo protagonista demonstra o movimento rogeriano de integração dos conteúdos conscientes e inconscientes e a busca pela autonomia.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Em "O Conto da Ilha Desconhecida", José Saramago constrói uma narrativa que, sob a luz da Abordagem Centrada na Pessoa, evidencia com vigor a potencialidade transformadora da subjetividade, do apoio empático e da aceitação incondicional. Ao favorecer a congruência entre Eu real e Eu ideal, a relação dialógica entre os personagens permite não apenas a ressignificação de trajetórias, mas também a elevação da autoestima e a emergência de projetos autênticos de vida.

 

REFERÊNCIAS

 

- ROGERS, Carl R. **Tornar-se pessoa: um ponto de vista sobre a psicoterapia**. São Paulo: Martins Fontes, 1977.

- ROGERS, Carl R. **A abordagem centrada no cliente**. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

- SARAMAGO, José. **O conto da ilha desconhecida**. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

- BARROS, D. D.; MOREIRA, V. da S. **A subjetividade como tarefa: contribuições da Abordagem Centrada na Pessoa**. Psicologia em Revista, v. 18, n. 2, p. 309-326, 2012.